"Há um só Deus, o Pai: e um só Senhor, Jesus Cristo"

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"Há um só Deus, o Pai

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Em uma discussão sobre se os cristãos podiam comer carne sacrificada aos ídolos, Paulo concordou que os ídolos eram impotentes e representavam falsos deuses, afirmando: “assim que, quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1 Coríntios 8:4-6).

O fato de que “para nós há um só Deus, o Pai”, significa que Jesus também não pode ser Deus? Inicialmente pode parecer isso. Mas observe uma questão paralela baseada na mesma passagem: Será que o fato de que “para nós há . . . um só Senhor, Jesus Cristo”, significa que o Pai não pode também ser Senhor?

Isto obviamente não é o caso, pois o Pai é, certamente, Senhor ―que significa Mestre e Governante. Assim Jesus orou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra” (Mateus 11:25). E Apocalipse 11:15 menciona o Reino “de nosso Senhor e do Seu Cristo”. Sem dúvida, Jesus é Senhor, mas, evidentemente, o Pai é Senhor acima dEle. Isso não contradiz a afirmação de Paulo. E nem outros versículos que proclamam a divindade de Cristo.

Em vez de exclui-Lo de ser Deus, uma leitura cuidadosa de 1 Coríntios 8:4-6 deve nos ajudar a ver que Jesus está incluído na identidade divina. Paulo está afirmando brevemente o contraste entre o politeísmo pagão (a crença em muitos deuses) e verdadeiro monoteísmo (a crença em um só Deus). Mas por que ele não limita a sua afirmação que “não há outro Deus, senão um só” afirmando simplesmente que “há um só Deus, o Pai”? Por que ele neste contexto igualmente menciona “um só Senhor, Jesus Cristo”?

Certamente é porque Jesus é uma parte importante do que é Deus. Como em outros lugares, Paulo mostra aqui que, enquanto “todas as coisas”―todo o mundo e domínios criados, tanto físicos como espirituais―no fim das contas, provêem de Deus Pai, tudo foi realmente criado através de Jesus Cristo. E Jesus governa sobre tudo como Senhor em sujeição ao Pai.

“Senhor” significa uma divindade designada?

Alguns afirmam que dos termos “Deus” e “Senhor” usados aqui, apenas “Deus” designa a divindade no contexto. É verdade que o termo Senhor nem sempre denota divindade. Pode se referir a qualquer mestre―divino, humano ou outro. No entanto, devemos observar o paralelismo em que Paulo escreveu. Ele se refere aos “que se chamam deuses” dos pagãos tanto como “muitos deuses e muitos senhores”. Assim, ele inclui o último termo ‘senhores’ designando deidade ―como se os deuses imaginários dos pagãos ou governantes humanos fossem divinos. Em paralelo, Paulo se refere ao verdadeiro Deus tanto como “um só Deus” e “um só Senhor”. Então, ‘Senhor’ neste contexto também designa a divindade.

Na verdade, a passagem aqui reconhece muito mais o poder e o governo pertencendo ao Senhor Jesus Cristo do que os sistemas pagãos atribuiem aos seus inúmeros deuses. Este ponto é vital para a compreensão do assunto em questão. Paulo admite o rótulo de “deuses” aos objetos de adoração pagã, os quais tinham individualmente, de acordo com a crença deles, uma esfera de poder limitado. No entanto, ele realça que Jesus, “pelo qual são todas as coisas”, é o Criador de tudo o que existe, inclusive nós mesmos!

Pela própria terminologia que Paulo emprega aqui, Jesus tem que ser classificado como divino. Pois como pode, por exemplo, a deusa imaginária Afrodite ou Vênus, deusa do amor, aparecendo como a estrela da noite, ser classificada como divindade, enquanto Jesus, Criador de todas as estrelas, do homem, da mulher e do amor humano―que tem maior poder e senhorio do que esses supostos deuses e deusas pagãos juntos―não ser classificado como divindade?

Com isto em mente, alguns designam Jesus como um deus ―mas isso implicaria ter poder sobre uma esfera limitada. Todavia Jesus tem domínio sobre tudo o que existe com apenas uma exceção―o Pai, que é superior a Ele. Jesus está, portanto, subordinado ao Pai, mas o Pai Lhe confiou “toda a autoridade” e “todas as coisas” (Mateus 28:18, 1 Coríntios 15:27-28). E, como explicado, Jesus está em perfeito e total acordo com o Pai.

Ambos são cruciais para definir Deus

Então, se ambos, Pai e Filho, são Deus e ambos são Senhor, por que Paulo Os dividiu como “um só Deus, o Pai” e “um só Senhor, Jesus Cristo”? Não nos é dito explicitamente, mas a classificação é usada em outro lugar nas Escrituras. No Salmo 110:1, o rei de Israel Davi se refere a um intermediário entre Deus e si mesmo como Senhor. O versículo começa: “Disse o senhor [YHWH] ao meu Senhor . . .” Assim como o Novo Testamento deixa claro, YHWH (o Deus Eterno), neste caso, designa o Pai, que está falando com Aquele que se tornou Jesus Cristo, Senhor imediato de Davi, governando em nome do Pai.

Temos também a oração de Jesus ao Pai na noite antes de Sua morte, em que Ele afirmou: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17: 3). Alguns consideram este versículo também como uma negação à divindade de Cristo, mas certamente não é. Além do fato de que Jesus disse isso enquanto seu poder estava limitado em carne humana, quando somente o Pai poderia agir em todo o universo como Deus (João 5:30; 14:10), a intenção óbvia é que Ele estava apontando para o Pai, como o verdadeiro foco de nossa adoração, em que Ele próprio é o representante do Pai, servindo de intermediário.

É evidente que esse último fato era o que Paulo também tinha em mente. Ao declarar o Pai como o “um só Deus”, ele estava se referindo a exclusividade da posição, e não a exclusividade da natureza divina. Assim como o próprio Cristo disse, Paulo estava reconhecendo o Pai como o Ser Supremo sobre todos, o foco da nossa adoração. Enquanto que “todos devem honrar o Filho como honram o Pai” (João 5:23), torna-se claro que honrar ao Filho é relativo a honrar ao Pai. Nós honramos o Filho desta forma, porque o Pai assim ordenou. Assim, o Filho não é o “um só Deus”, no sentido do Ser Supremo, e Paulo, portanto, não O inclui nessa designação.

Mas isso não exclui o Filho de ser Deus no sentido de compartilhar o mesmo nível de existência e o governo com o Pai sobre tudo ―e de agir como Deus, em nome do Pai por toda a eternidade, passado e futuro. Porque o Filho é Deus de fato, neste sentido estrito. Assim, se Paulo tivesse referido a Jesus como Deus, neste contexto particular em que ele negava o politeísmo e qualificava o Pai como “um só Deus”, isso poderia resultar em confusão para muitas pessoas. Então, ele escolheu usar uma distinção diferente, Senhor―o mesmo título que Paulo normalmente usava para Jesus em seus escritos.

A designação de Jesus como “um só Senhor”, enfatiza Seu papel como Aquele que exerce o governo de Deus sobre a criação ―o ponto é que o Pai não atua diretamente, mas atua por meio de Jesus Cristo. Este fato é um aspecto crucial da definição de Deus. E particularmente para nós, assim como Davi reconheceu, Jesus é nosso Senhor e Mestre imediato―e o Pai sendo o Senhor e Mestre supremo. Mas não há uma divisão de lealdade, pois a devoção a Cristo é o caminho de dedicação ao Pai. E assim novamente o fato de que o Pai seja Senhor não contradiz a Jesus ser o “um só Senhor”. Isto é, porque o domínio do Pai e do Filho, não está dividido. Pelo contrário, o Pai governa através do Filho.

Então, isso, em contraste com as divindades pagãs concorrentes do politeísmo, é uma breve explicação de Paulo sobre o verdadeiro monoteísmo―Deus, o Pai, que é supremo, trabalhando por meio do Filho, que realiza perfeitamente a Sua vontade, e estes dois sendo um em perfeita união. E é, através de Jesus, que nós adoramos e servimos ao Pai. Assim, seremos capazes de ver que Paulo em 1 Coríntios 8 não estava negando a divindade de Cristo, mas sim, afirmando-a através de palavras cuidadosamente escolhidas.