O Despertar do Urso Russo

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O Despertar do Urso Russo

Na última eleição presidencial nos Estados Unidos, muitos zombaram do candidato Mitt Romney quando ele citou a Rússia como a maior ameaça estrangeira à política de seu país. Não foi isso história do passado com o final da Guerra Fria da década de 1990? Mas agora não são muitos os que zombavam dessa ideia.

Para o espanto e preocupação de muitos, a Rússia, sob a liderança do presidente Vladimir Putin, assumiu seu antigo papel de provocar de desestabilização, fornecendo armas avançadas aos chamados "separatistas" em uma guerra contra a Ucrânia. Aparentemente, declarações evasivas, enganações, troca de acusações e até mesmo uma guerra aberta têm aumentado drasticamente essas tensões.

Eu, que tenho fortes laços e experiência atual na Rússia, na Ucrânia, e no antigo território da União Soviética, tenho mantido um olhar atento sobre as tempestuosas nuvens de guerra, que reúne a Europa Oriental e a Ásia. Evidentemente, todos nós devemos estar atentos a essa situação.

No momento, as tensões têm aumentado e diminuído durante as frenéticas e conturbadas negociações e acordos descumpridos. Qual é o resultado disso tudo para a Ucrânia até agora? Já morreram milhares de pessoas, inclusive muitos civis, entre eles muitas crianças. Mais de um milhão de pessoas viram as suas vidas se desmoronar e se tornaram refugiados anônimos.

Forças pró-russas ocuparam a Crimeia e tomaram os navios de guerra da era soviética. Com esse assédio e anexação ilegal dessa península do Mar Negro em 2014, a Mãe Rússia recupera um porto marítimo em água quente—livre do mar congelado—do qual pode lançar seus novos submarinos e cruzadores nucleares a qualquer estação do ano.

A paz práticamente desapareceu dessa região—a fervorosa esperança do povo da Ucrânia continuar como uma nação independente após o colapso da União Soviética, quase vinte e quatro anos atrás, praticamente está se desvanecendo.

Será que esse conflito entre a Rússia e a Ucrânia simplesmente desaperecerá? Ou será que vai se espalhar aos países bálticos e mais além? Que rumo isso vai tomar e qual a importância disso para você e para mim?

O aumento nas tensões pode resultar numa possível ação nuclear?

Hoje, o mundo é muito diferente dos tempos da Guerra Fria que drenavam os recursos das nações Ocidentais, entre 1950 e 1960. Naquela época, a doutrina da destruição mútua parecia manter os protagonistas nucleares em controle, embora os Estados Unidos e a União Soviética trocavam farpas e se envolviam em conflitos em todo lugar.

Mas, depois disso, há vinte e quatro anos, o mundo foi surpreendido ao ver a bandeira soviética ser retirada do Kremlin e a bandeira tricolor russa ser hasteada em seu lugar. O impensável aconteceu. A outrora temida e poderosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tinha acabado. A União Soviética não existia mais, a Guerra Fria chegava ao fim.

Porém, hoje, os novos ventos de um futuro perigoso agora sopram cruelmente em nossos rostos como uma nova Guerra Fria. Os sentimentos patrióticos hostis estão retornando. Pelo fato de Putin estar avançando, aparentemente sem controle, será que estamos entrando numa situação semelhante à da Segunda Guerra Mundial? Naquela época, enquanto Hitler invadia os países vizinhos, o povo alemão o aplaudia e ninguém estava disposto a impedi-lo. Todos nós sabemos o final dessa história—uma conflagração mundial, com sessenta milhões de mortos.

Então, o que devemos estar a observar agora? Os riscos ainda são maiores com a Rússia, mesmo endividada, renovando e atualizando seu stratégico e tático arsenal nuclear. Em 2014, Putin autorizou a instalação de mísseis de curto alcance Iskander-M, com capacidade nuclear, e bombardeiros Tu-22, também com capacidade nuclear, na Crimeia. As espadas nucleares russas foram desembainhadas abertamente com essa nova geração de armas táticas sendo posicionadas perto das fronteiras das nações bálticas e europeias orientais.

Será que vão usar essas armas? O último líder soviético e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1990, Mikhail Gorbachev, fez um comentário recente sobre isso. No início de janeiro de 2015, Gorbachev advertiu em uma entrevista à revista alemã Der Spiegel, que as crescentes tensões entre a Rússia e as potências europeias por causa da crise na Ucrânia poderiam irromper em um grande conflito, até mesmo com uso inimaginável de armas nucleares.

Não devemos esquecer que a Federação Russa mantém (por tratado) mais de 1.600 ogivas nucleares estratégicas implantadas em mais de 500 mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), mísseis balísticos lançados por submarinos (SLBMs) e bombardeiros estratégicos. Além disso, a Rússia tem duas mil ogivas nucleares táticas, algumas das quais foram recentemente posicionadas ao longo das fronteiras europeias. Além disso, há 3.700 ogivas nucleares que ainda estão para ser desmontadas.

Foi recentemente estimado que até mesmo um “pequeno" conflito nuclear regional—limitado, digamos, a um embate entre a Rússia e a Ucrânia, Irã e Israel ou Índia e Paquistão—poderia tornar todo o mundo potencialmente inabitável para a vida humana. Agora, veja bem, hoje em dia, existem mais de dezessete mil armas nucleares conhecidas. A Bíblia fala deste tempo em que estamos vivendo e falaremos disso em breve.

Enquanto, muitas pessoas em países como no Brasil se mantêm totalmente despreocupadas com o aumento dessas tensões nucleares, você deve ter lido recentemente que o infame Relógio do Juízo Final foi ajustado "três minutos para meia-noite"— a meia-noite aqui denota a destruição do mundo e a total extinção da humanidade! Esse mais recente cenário foi anunciado oficialmente em 22 de janeiro de 2015, devido às alterações climáticas e à modernização das armas nucleares da Rússia e dos Estados Unidos.

A queda do império soviético

Em dezembro de 1991, o mundo assistiu espantado ao esfacelamento da União Soviética. Da noite para o dia, surgiram quinze países distintos quase sem derramamento de sangue. As repúblicas bálticas e a Ucrânia, em particular, não perderam tempo para se libertar do jugo da URSS.

Como essa superpotência mundial, que já chegou a liderar a corrida espacial, foi dissolvida tão rapidamente?

Desde 1967, eu tenho viajado muito para as regiões da antiga União Soviética, e fiz uma visita lá como fotojornalista e tradutor para cobrir o quinquagésimo aniversário da Revolução de Outubro 1917, que estabeleceu o comunismo na Rússia—que, consequentemente, havia lançado as raízes para a União Soviética. Eu tive a oportunidade de ver, em primeira mão, a vida cotidiana em quase todos os países do Leste (nações sob o domínio soviético) antes e depois do colapso do comunismo.

Antes de sua queda, parecia que nunca teria fim o que o presidente norte-americano Ronald Reagan chamava de o "império do mal". Mas, depois de setenta anos, o regime comunista ruiu sob a sua podridão ateística, corrupta, opressora e seu sistema econômico falho.

Em seguida, bilhões de pessoas respiraram aliviadas. Quase todo mundo pensava que as tempestades haviam passado. O Dia do Juízo Final tinha sido evitado! As alianças políticas, econômicas e militares foram rapidamente reconstruídas. Todos se alegravam com essa esperança. Em 1991, ninguém queria pensar muito sobre a possibilidade de outras ameaças globais desse tipo. A extinção por meio de armas nucleares tornava-se coisa do passado.

Mas isso foi naquela época. Quase dois bilhões de pessoas já nasceram desde que o urso russo entrou em hibernação, em 1991. E elas não têm memória do que ficou registrado em minha mente e nas mentes de milhares de milhões de pessoas que vivenciaram aquela época. E agora que o temível urso russo está se despertando, muitos não conseguem enxergar o perigo.

O desejo de restaurar o império russo

Na Rússia, a perda repentina desse império soviético da noite para o dia não foi esquecida. Para muitos anciões russos— ex-cidadãos soviéticos—essa foi uma perda humilhante. Hoje, muitos russos, inclusive os mais jovens, querem seu império de volta e a grandeza lendária de seu país restaurada. O presidente Vladimir Putin acredita que a sua missão é conduzir a Rússia em direção ao restabelecimento de sua glória passada como uma superpotência global.

Isso é grande parte do que está acontecendo na Ucrânia. O fato de uma antiga nação soviética inclinar-se ao ocidente, em direção a OTAN, reacende velhos temores quanto à segurança na Rússia. Recentemente, meus amigos na Ucrânia me contaram que, quando a Rússia anexou a Crimeia, uma das mensagens de propaganda dizia que o resultado de não se render à ocupação russa era ter mísseis dos Estados Unidos na Crimeia apontados para a Rússia!

A agressiva postura russa fez aumentar a popularidade do presidente Putin na Rússia, apesar da crescente dificuldade econômica. As pessoas aplaudem sua bravata e arrogância. A restauração do antigo império está no ar, mas ninguém quer declarar isso. Ao mesmo tempo, o sentimento negativo sobre os Estados Unidos tem aumentado, dando origem a velhos medos e ressentimentos.

Como você pode ler ou ver por si mesmo, tudo isso está sendo feito abertamente. Longe de Deus e de Sua verdade revelada, o que o mundo pode fazer? Como o Ocidente vai responder às invasões de Putin? Haverá “outras Ucrânias” em nosso futuro?

As nações pequenas como Estônia, Letônia e Lituânia se encontram à beira do Mar Báltico, o qual a Rússia cobiça. Em tempos soviéticos os russos mantiveram bases militares de alta segurança nesses países bálticos, e muitas dessas áreas eram terminantemente proibidas a visitantes. Uma delas estava na cidade de Tartu, na Estônia, que era a maior base de bombardeiros do Urso Russo no Mar Báltico. Agora, os visitantes podem viajar livremente por Tartu. A Igreja de Deus Unida, que publica esta revista A Boa Nova, realiza serviços religiosos e tem um escritório lá. A base de bombardeiros está abandonada.

Mas o que o futuro nos reserva? Algum tempo atrás, alguns dos meus amigos russos vieram de São Petersburgo para visitar a Estônia. Eles estavam visivelmente infelizes por causa da nova exigência de visto para os russos entrarem na Estônia, uma área que há alguns anos fazia parte da Rússia e naquele tempo a passagem era livre para eles. "Por enquanto, deixe-os bater as asinhas", assim eles zombaram quando expressaram seus sentimentos sobre a liberdade da Estônia. Esta opinião é compartilhada por muitos.

Séculos sob o poder de regimes autoritários

A posição sem costa marítima da Rússia tem desempenhado um papel significativo na formação do caráter nacional russo e da inclinação imperialista de seus dirigentes (ver "Uma Visão Geográfica da Rússia" na página 8). E outro fator importante na psique nacional é o fato de ter havido séculos de alguma forma de governo autocrático.

Entre os anos 1240 e 1480, os russos estavam sujeitos aos governantes mongóis do Extremo Oriente. E esses quase 250 anos de domínio estrangeiro ainda estão gravados na mente dos russos e, de certa forma, essa reação xenófoba se estende ao seu vizinho nuclear chinês—que compartilham 4.345 quilômetros de fronteira, onde confrontos militares têm ocorrido em algumas ocasiões em décadas passadas.

Após o domínio mongol, os regimes dos czares ou tzares (termo derivado do título "césar") dominou a Rússia por quase quatro séculos—de 1547 a 1917.

Esse governo déspota teve o auxílio e incentivo da Igreja Ortodoxa Russa, e as pessoas foram oprimidas com base na singular aplicação do capítulo 13 de Romanos, onde se lê: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação" (versículos 1-2, versão Almeida Revista e Atualizada).

Enquanto a Europa passava pela Reforma Protestante, pelo Renascimento e pelo Iluminismo, a Rússia se manteve presa a um passado medieval, os czares continuavam tratando com crueldade os dissidentes. A subserviência à opressão totalitária era uma característica marcante da Rússia.

A Revolução Comunista e suas consequências

Após o começo da Primeira Guerra Mundial, a Rússia sofreu dolorosas perdas e derrotas por incompetência de liderança, juntamente com milhões de vítimas. Esses povos oprimidos poderiam finalmente ficar livres de outros governos corruptos, e então uma revolta popular, liderada por mulheres, em St. Petersburg foi a faísca para um golpe de Estado. O último czar, Nicolau II, foi destronado na revolução de fevereiro de 1917. Ele e sua família foram então executados em julho de 1918.

O novo governo provisório foi de curta duração, derrubado mais tarde no mesmo ano, em outubro na revolução dos bolcheviques, surgindo assim o Estado comunista. A prolongada guerra civil entre os "vermelhos" (bolcheviques) e os "brancos" (facções antissocialistas) terminou com a vitória bolchevique e a criação da União Soviética, em 1922. O seu primeiro líder, Vladimir Lenin, morreu pouco depois, em 1924.

Lenin foi sucedido por um dos líderes mais brutais de todos os tempos, pelo menos em termos de violência, Josef Stalin. Minha mãe nasceu na Ucrânia de Stalin. Stalin governou a União Soviética por vinte e nove anos de forma extremamente brutal, sendo que em todo o país havia muitas atrocidades, expurgos, banimentos, deslocamentos forçados, prisões em campos de trabalho, fome provocada, tortura e atos de assassinato em massa e massacres. O número total de vítimas de Stalin ainda é debatido, mas estima-se em dezenas de milhões, além dos mortos por causa da Segunda Guerra Mundial.

Minha mãe tinha oito anos de idade, em 1933, quando sobreviveu à fome na Ucrânia de Stalin. Seis milhões de pessoas morreram naquele ano. Numa ocasião, ela me disse que se lembrava dos cadáveres que eram colocados fora das casas e recolhidos diariamente em sua cidade.

Pouco depois de eu nascer, em 1949, meus pais vieram para os Estados Unidos como refugiados. Lembro-me de como as pessoas se alegraram com o anúncio da morte de Stalin, em 1953. Esse ditador perverso, psicopata e imoral não tinha respeito pela vida humana e eliminava qualquer um que ele achasse que representava uma ameaça ao seu poder.

A devastação da Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial, conhecida na URSS como a Grande Guerra Patriótica, foi um conflito selvagem para combater a Operação Barbarossa da Alemanha, que começou em junho de 1941. O povo que vivia sob o domínio russo já havia sofrido a morte de milhões de pessoas na Primeira Guerra Mundial, na Revolução Bolchevique e na Guerra Civil e pelos sucessivos expurgos de Stalin, e agora iriam passar pela perda de vinte a quarenta milhões de militares e civis. Estes números são assombrosos—até inimagináveis para nós!

Quando viajei para a União Soviética, em 1967, como tradutor de um professor universitário, de trinta e oito anos de idade, e editor de uma revista, eu ouvi sua observação quanto à absoluta falta de homens de sua idade. Ele estava certo. Eles não existiam. Na União Soviética, de todos que entraram no exército aos dezenove anos, para lutar na Segunda Guerra Mundial, apenas um em cada cem pessoas retornou.

Ao visitar um cemitério militar em Kharkov, Ucrânia, vi muitas, mesmo muitas lápides apenas com inscrições e perguntei o que representavam. Disseram-me que cada lápide representava quatorze mil mortos!

Os cemitérios e memoriais soviéticos são enormes. Eu estive em Stalingrado (atual Volgogrado) logo após o lançamento da impressionante estátua Mãe Pátria, com 85 metros de altura, na colina Mamayev, em homenagem aos milhões de mortos numa batalha naquele lugar. Os generais alemães foram surpreendidos pelos comandantes militares russos, que tinham tão pouco respeito pelos seus homens que os enviavam ao front em grande número, servindo como bucha de canhão. Os memoriais de guerra em Kiev e Moscou são igualmente impressionantes, pois demonstram muita honra e respeito àqueles mortos. Entretanto, seria muito melhor se essa grandiosa demonstração de respeito fosse feita enquanto eles estavam vivos!

O desaparecimento do comunismo e a renovação da esperança estão agora abaladas

A história da União Soviética é realmente miserável, como também é o fracasso de sua economia e sociedade. A ideologia do comunismo, que o governo soviético lutou para incutir nos corações e mentes de sua população, na verdade, nunca teve raízes profundas.

Quando viajamos pela URSS, em 1967, ficamos surpresos com a baixa produtividade das enormes fazendas estatais coletivas. Em contrapartida, as pequenas propriedades privadas de algumas pessoas, que tinham autorização, produziam bastante—parte considerável dessa produção nacional provinha desses pequenos sítios.

O comunismo tinha ideais de igualdade e justiça, mas os seus propagadores não entendiam absolutamente nada da natureza humana. As pessoas ouviam que estavam em um "paraíso dos trabalhadores", mas todas sabiam que aquilo não era verdade. E isso se tornou uma piada nacional, pois a piada dizia que toda a gente se tinha realmente tornado iguais—igualmente pobres.

Em 1985, Gorbachev chegou ao poder depois de quase sete décadas de tragédia nacional e fracasso econômico sob uma ditadura socialista opressiva. O país estava sofrendo com uma grave estagnação e com profundos problemas econômicos. Gorbachev tentou ser revolucionário e introduziu duas novas abordagens para revitalizar a nação. Ele iniciou a glasnost ou "vocalização" para o público—isto é, a publicidade ou transparência nas ações do governo, que invocava o aumento da liberdade de expressão. Na outra ponta estava perestroika, que significa reconstrução ou reestruturação.

Enquanto eu viajava pela URSS nessa época, sempre ouvi que levaria cinco anos ou dez anos ou talvez uma geração até se tornarem realidade as mudanças que todos desejavam.

No entanto, ao permitir a liberdade de expressão, Gorbachev liberou os sentimentos e as ideias políticas antes reprimidas, que irromperam numa inesperada corrida. A reforma econômica foi lenta e ineficaz. Os resultados que as pessoas esperavam não se materializaram. Com essa nova liberdade o povo soviético se voltou contra Gorbachev, e tornou-se sua ruína.

Isso conduziu diretamente à dissolução da União Soviética, em 26 de dezembro de 1991—vários países dessa união se tornaram independentes. Então, Boris Yeltsin assumiu como o primeiro presidente da Federação Russa. Depois, ele foi sucedido por Vladimir Putin, em 31 de dezembro de 1999.

O sonho de um mundo melhor continua pendente

No princípio, parecia de íamos ver uma nova Rússia civilizada reformada do seu passado tradicional de beligerância e intimidação. Infelizmente, isso não era para ser assim. O mesmo espírito que impulsionou os czares e os ditadores soviéticos está bem vivo hoje.

Por mais esperança que tivemos quanto à mudança na natureza das nações e dos povos, as palavras do profeta Isaías ainda soam como um alerta: "Desconhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos" (Isaías 59:8, versão Almeida Rivista e Atualizada).

Em uma dessas viagens à Rússia, eu tive uma longa conversa com uma maquinista em um trem. Ela me perguntou: "Por que vocês querem guerra, enquanto nós queremos paz?" Fiquei surpreso por ela pensar desse jeito! O que haviam lhe ensinado? Como conseguiram manipular tanto a sua mente?

A nossa experiência humana é uma tragédia de guerras e mais guerras. E isso é o que agora está no horizonte dessa região e que, sem dúvida, irá levar a mais miséria, guerras, morte e a um governo opressivo. Isso me impacta profundamente, pois tenho trabalhado muito nessa região e amo essa parte do mundo. Aqui estão minhas raízes ancestrais.

O povo da Rússia são as pessoas mais generosas, hospitaleiras, amáveis e carinhosas que talvez você vá encontrar na vida. O mesmo vale para os ucranianos. Eu sei disso não apenas em viajar por esses países, mas por trabalhar com eles em obras humanitárias e projetos da igreja.

No entanto, pelo fato de o povo russo ser tão complacente e humilde em relação à autoridade, ele, sem querer, se entrega a líderes oportunistas que, astuciosamente, preenchem lacunas de poder e, em seguida, mudam e passam a abusar, oprimir e destruir as pessoas, como foi evidenciado por uma série de líderes beligerantes da Rússia e da União Soviética. E, simplesmente, Putin é a mais recente manifestação desse tipo.

O que Putin tem em mente? Ele parece imperturbável quanto aos esforços do Ocidente e continua decidido recuperar o que foi perdido na dissolução da União Soviética. Ele quer os recursos e os quarenta e cinco milhões de pessoas da Ucrânia. Será que ele vai parar por aí? O Ocidente continua cordial ao falar com a Rússia, apesar do estilo soviético de mentir e negar veementemente suas ações. Mas com poder e pouca resistência você pode fazer o que quiser.

(Um aspecto a considerar nisso é que a profecia bíblica prediz para os últimos dias o surgimento de um Império Romano revivido, baseado na Europa. E as recentes ações da Rússia provocaram uma séria discussão entre as nações europeias sobre a dependência dos Estados Unidos quanto à sua segurança e a falta de uma força de segurança própria, como por exemplo, a criação de uma força militar europeia).

Esperando a solução apropriada

Todos aqueles que têm fortes laços com as pessoas nessas áreas desejam de todo coração que eles desfrutem de paz e de uma vida normal. E, independente de laços, todos devem sentir compaixão por aqueles que sofrem tais males. No entanto, como seres humanos, nos sentimos desamparados por nãos saber o que podemos fazer. Então, qual seria a resposta para tudo isso?

Em um resumo profético sobre os eventos do fim dos tempos, Jesus Cristo declarou que nos últimos dias, antes de Seu retorno, "haverá, então, grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora" (Mateus 24:21). Essa época será tão ruim que Ele continua dizendo: "Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria" (versículo 22, grifo do autor). Infelizmente, a extinção da humanidade por meio de armas de destruição em massa agora é uma realidade.

Mas aqui está a boa nova para este mundo que enfrenta o espectro da guerra nuclear e da devastação catastrófica. Então, Jesus disse: "Mas, por causa dos escolhidos [o povo de Deus], serão abreviados aqueles dias" (NVI). A humanidade vai sobreviver!

Esse período de grande calamidade do fim dos tempos é anunciado em diversas profecias bíblicas. O resultado, no entanto, é sempre a intervenção e a salvação. Aí se encontra nossa garantia, confiança e esperança. Não precisamos viver com medo ou fugindo da realidade. Nossa fé precisa estar nas palavras de conforto e na autoridade de Jesus Cristo, nosso Salvador.

Um tempo de restauração—para russos, ucranianos e para todas as pessoas—está chegando e logo estará aqui. Viveremos uma época crítica pouco antes disso. Essa restauração é nosso maior desejo, mas sabemos que temos de esperar um pouco mais.

Enquanto nos aproximamos desses terríveis dias de luta pela sobrevivência, o estilo de vida e comportamento do mundo tem sido cada vez mais abjeto e devasso. Apesar disso, a Bíblia nos ensina claramente a abraçar, o mais rapidamente possível, a esperança e os caminhos de Deus, pois estamos perto do fim desta era.

Vale a pena esperar pelo cumprimento das promessas do mundo vindouro. E para todos aqueles que alcançarem esse tempo, Deus diz: "E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo" (Ezequiel 36:26). Na verdade, Deus diz: "Derramarei o Meu Espírito sobre toda a carne" (Joel 2:28)—sobre todos os povos, russos, ucranianos e todos os demais. Deus vai mudar a nossa natureza para Sua própria natureza amorosa!

No entanto, o que dizer do presente? Tempos difíceis e desafiadores estão à frente, mas Deus dá a todo aquele que deseja segui-Lo agora, o poder e orientação para sobreviver e vencer! Ele nos ordena a mudar a nossa forma de pensar, de aceitar e abraçar o novo coração que Ele quer nos dar hoje.

Como o próprio Jesus nos diz: "Chegou a hora . . . O reino de Deus está perto. Arrependam-se dos seus pecados e creiam no evangelho" (Marcos 1:15, BLH). A palavra traduzida como "arrependimento" aqui significa mudar de ideia ou propósito—mudar nossa própria maneira de buscar a Deus e Seus caminhos.

Qual a orientação que Deus nos dá hoje? "Salvai-vos desta geração perversa" (Atos 2:40).

Não precisamos nos sentir impotentes e desesperançados com a crescente escuridão que está se aproximando deste mundo. Apesar de o mundo estar prestes a ser afetado por uma terrível devastação, aparentemente por meio de uma guerra nuclear, este não será o fim da raça humana—ou do plano de Deus para a humanidade. Sempre é mais escuro antes do amanhecer, e um novo e glorioso alvorecer está chegando—talvez não esteja tão longe quanto pensamos. Então, finalmente, teremos uma paz mundial. Que ela venha logo! BN

 

Uma Visão Geográfica da Rússia

Muitas vezes, a Rússia não tem sentido para o Ocidente. Em 1939, durante a guerra, o primeiro-ministro da Inglaterra Winston Churchill disse a famosa frase: "A Rússia é uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma". Mas, considerando o poder nas mãos dessa nação, devemos procurar entender o que os russos chamam de Mat Rodina ou Mãe Pátria.

A Rússia é enorme, contendo onze fusos horários que, portanto, que se estende até o outro lado do mundo. É uma terra rica, não só na agricultura, mas em minerais, com enormes reservas de petróleo e gás na Sibéria. A descoberta do petróleo siberiano impulsionou a economia russa, mas com a recente queda do preço do petróleo, a moeda russa, o rublo, se desvalorizou muitíssimo.

Apesar de seu admirável tamanho, a Rússia tem restrito acesso aos mares abertos e passagens naturais para o resto do mundo. Isso tem desempenhado um papel fundamental na formação da mentalidade russa. Em seu livro de Pedro, o Grande: Sua Vida e Seu Mundo, do autor Robert Massie, descreve assim a Rússia do século dezessete: "Como um gigante trancado em uma caverna, com apenas um orifício para luz e ar, a grande massa de terra do império moscovita possui um único porto marítimo: (Arkangelsk) Arcanjo, no Mar Branco. Esse único e afastado porto do interior da Rússia, fica apenas a 130 quilômetros ao sul do Círculo Polar Ártico. Mas, seis meses por ano ele fica totalmente congelado".

Pedro, o Grande travou uma guerra contra os suecos para conseguir outra saída para o mundo—aproveitando a terra pantanosa deles com acesso ao mar Báltico e fundando ali São Petersburgo em 1703. No entanto, ainda hoje, os navios de São Petersburgo precisam navegar passando pela Finlândia, Estônia e Polônia, sob uma ponte que liga a Dinamarca à Suécia, em seguida, passam pela Noruega e Reino Unido até chegar ao Oceano Atlântico.

Ao sul, os turcos otomanos controlavam o Mar Negro. E quando os russos finalmente conseguiram acesso a ele, seus navios ainda tinham que passar pelo Estreito de Bósforo, navegando sob duas pontes turcas e seguir através do estreito de Dardanelos e ao longo do Mar Mediterrâneo antes de passar pelo Estreito de Gibraltar para chegar a mar aberto.

Alguns dos maiores rios da Rússia fluem a lugar nenhum. O Volga desemboca no Mar Cáspio, que não tem litoral. Os grandes rios siberianos fluem para o norte congelado do Ártico. É uma geografia muito estranha, que tem contribuído para a frustração e agressividade dos governantes russos com ambições de grandeza no cenário mundial. (Em contraste, a geografia dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha é muito diferente, pois tem rios caudalosos e portos de águas quentes e docas com o controle total de passagens de navios).

Essas lacunas geográficas ajudaram a moldar a psique nacional russa, promovendo uma visão xenófoba—uma grande aversão ou medo irracional às pessoas de outros países.