Aviso de Inverno: A Primavera Árabe Que Não Vingou

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Aviso de Inverno

A Primavera Árabe Que Não Vingou

Doce primavera! Os pássaros estão cantando, as plantas estão brotando, tudo é lindo. E assim muitos no Ocidente imaginavam que seria por causa das revoltas contra o regime ditatorial nos países do Oriente Médio, que começou no final de 2010. Os jovens visionários coordenaram tudo através do Google e do Facebook e assim se geraram os protestos que pediam reformas em toda a região. Os governantes despóticos logo foram expulsos. Todos saudaram a Primavera Árabe. Sem dúvida a liberdade e a democracia estavam a caminho.

Como o Ocidente, incluindo o governo dos Estados Unidos, incentivou os levantes e as deposições, algumas vozes interessadas advertiram sobre as revoltas capacitarem as forças islâmicas. Mas isso foi posto de lado, juntamente com o temor islamofóbico. Tudo parecia um céu de brigadeiro.

Assim, após a deposição do presidente Hosni Mubarak no Egito, em fevereiro 2011, tudo veio como uma onda de choque para milhões de pessoas que lotaram a Praça Tahrir, no Cairo, onde os protestos haviam ocorrido; ninguém atentava para o jovem executivo do Google, Wael Ghonim, quem pela mídia ocidental impulsionava os modernistas e progressistas a seguir com os levantes. Ele nem sequer tinha permissão para tomar parte nisso.

Em vez disso, as multidões se apertavam para aplaudir o maior jurista da Irmandade Muçulmana, o xeque Yusuf al-Qaradawi, considerado por muitos como o mais influente clérigo muçulmano sunita do mundo. Apenas dois anos antes, este renomado estudioso inválido havia dito a milhões pela TV al-Jazeera: "A única coisa que eu espero é que, à medida que minha vida se aproxima do fim, Deus me dê uma oportunidade de ir para a terra da jihad e da resistência, mesmo em uma cadeira de rodas. Eu gostaria de atirar nos inimigos de Alá, os judeus, e que eles joguem uma bomba em mim, para assim eu encerrar a minha vida como um mártir".

Mas este, os comentaristas ocidentais asseguram, não era um sentimento generalizado. Mas o que aconteceu é que a Irmandade Muçulmana subiu ao poder no Egito, com um desejo declarado de instituir completamente a sharia (lei e jurisprudência islâmica) e falando em acabar com o tratado de paz com Israel. E os salafistas, que muitos entendem que seguem uma interpretação ainda mais extrema do islamismo, também tiveram uma grande porcentagem de votos. Resultados semelhantes foram vistos em outros países muçulmanos, onde ocorreram as revoltas.

Os líderes militares egípcios tentaram marginalizar o novo presidente do país da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, mas com grande apoio popular, ele conseguiu ludibriar eles, forçar a demissão deles e assumir o controle do processo político. A figura da oposição, Mohamed ElBaradei, reclamou que Morsi "usurpou todos os poderes do Estado e nomeou a si mesmo como o novo faraó do Egito".

Ao fim de 2012 Morsi conseguiu estabelecer uma constituição baseada na lei islâmica, através dum referendo popular. No entanto, personagens ocidentais influentes e governos continuaram insistindo que não havia motivo para alarme — afirmando que os partidos eleitos e a maioria da população nas diversas nações são realmente moderados.

O grande risco do fervor revolucionário se espalhar

Em setembro de 2012, novas erupções de protestos e revoltas eclodiram por todo o mundo árabe e muçulmano — desta vez contra os Estados Unidos, sob o pretexto de defender o Islã contra um filme, obscuro e amador que retratava Maomé, que foi feito nos Estados Unidos.

Enquanto o filme certamente estava sendo usado para inflamar ainda mais as paixões, parece que muitos dos protestos haviam sido planejados com antecedência, sem ter relação com esse incitamento, para coincidirem com o aniversário dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque e Washington. Porém, estes não foram meros protestos porque as embaixadas norte-americanas foram atacadas e o embaixador dos Estados Unidos na Líbia e outros funcionários foram assassinados por terroristas.

Espantosamente, agora parece que foram os Estados Unidos quem armou os terroristas na Líbia e até a Al-Qaeda. O objetivo inicial era depor Muammar Gaddafi, mas os combatentes revolucionários têm usado as armas — e agravado por muitos mais que tinham estado debaixo do controle das forças de Gaddafi — para espalhar um levante armado para outros países. Algumas armas foram distribuídas para os países próximos, Mali e Argélia, possibilitando os recentes ataques terroristas lá, enquanto outras acabaram sendo contrabandeadas para mais longe, para o Hamas em Gaza e, em grandes quantidades, para as forças islâmicas na Síria.

E por falar da Síria, o presidente Bashar al-Assad não se rendeu aos levantes islâmicos e uma guerra civil eclodiu, com mais de 60.000 pessoas mortas e mais de 500.000 refugiados nos países vizinhos. A Síria se tornou um local de reunião para os novos "combatentes da liberdade" islâmicos provenientes de várias nações — inclusive do Iraque, onde préviamente lutavam contra as forças norte-americanas.

Enquanto o governo de Assad representa a tirania, sem dúvida, um governo islâmico provavelmente seria ainda mais totalitário — controlando os pormenores da vida de cada pessoa. E seria pior especialmente para os cristãos sírios, que tinham na maioria, suas práticas religiosas toleradas e até tinham proteção sob o governo de Assad.

Egito — um perigo crescente para minorias não muçulmanas

No Egito, a situação está se deteriorando perigosamente para os cristãos. Dezenas deles foram mortos e centenas feridos quando os soldados abriram fogo contra milhares de cristãos durante um protesto em outubro de 2011. Pouco antes do referendo sobre a nova Constituição de dezembro de 2012, uma figura de longa data da Irmandade Muçulmana e pregador popular, Safwat Hegazy, se pôs perante multidões de muçulmanos advertindo sobre os cristãos coptas do país:

"Uma mensagem para a igreja do Egito, de um muçulmano egípcio: Eu digo à igreja — por Alá, e, novamente, por Alá — se você conspirar e se unir com os restos [da oposição] para derrubar Morsi, aí será outra história... Nós dizemos e eu digo à Igreja: sim, você compartilha esse país conosco; mas existem linhas vermelhas, e nossa linha vermelha é a legitimidade do Dr. Muhammad Morsi. Quem espirrar água nela, nós faremos espirrar sangue nele".

Em resposta, a sua entusiasmada plateia muçulmana repetidamente gritava "Allahu Akbar!" — ditado comum que significa "Alá é grande", mas realmente significando "Alá é o maior" — isto é, maior do que todos os outros deuses e todas as forças que estão contra a propagação do islamismo.

Após a nova Constituição egípcia ter sido assinada em 26 de dezembro, o líder da Igreja copta do país afirmou que "a orientação religiosa desta constituição prepara o caminho para um califado islâmico" — isto é, um império sob o domínio islâmico com intenções de dominar o mundo.

Outros críticos da nova Constituição notaram que ela tinha acabado com a proibição da escravidão — proposta à luz dos fatos de que o rapto, a escravidão, o estupro e o tráfico de meninas cristãs coptas tem sido maior agora do que em qualquer época, sendo permitida aos islamistas tal escravidão. Os salafistas envolvidos na elaboração da Constituição se opuseram a qualquer menção de tráfico de seres humanos, afirmando que esses problemas não existiam no Egito, apesar de todas as evidências. Na realidade, eles são os que estão mais associados a esses problemas.

Quando a oposição pediu que essa nova constituição fosse engavetada, o Secretário Geral da Irmandade Muçulmana, Mahmoud Hussein, disse: "Esse tipo de conversa é punível por lei, porque a Constituição foi aprovada em um processo justo".

Ah, a primavera! Você está sentindo o cheiro das flores?

A triste realidade, como muitos analistas têm reconhecido desde o começo, é que não houve Primavera Árabe — e que o que estamos vendo é um inverno islâmico se estabelecendo em todo o Oriente Médio. E tudo isso tem sido estimulado pelo Ocidente. É importante que entendamos o que está acontecendo na região — e para onde isso se dirige.

O fator chave entre o povo — o islamismo

É claro que os principais beneficiários das revoltas árabes são os partidários da supremacia islâmica — particularmente a Irmandade Muçulmana, mas também outros grupos. Isto é, sobretudo verdadeiro no Egito, "a mãe do mundo árabe" e mais populoso país árabe, que influencia fortemente a direção do resto do mundo islâmico.

Nas eleições parlamentares do Egito, a Irmandade gabou-se de metade dos votos. Alguns tentam mostrar que isso soa como uma vitória magra. Mas o voto islâmico foi dividido com os salafistas, que conseguiram mais de um terço dos votos — o que significa que juntos, eles receberam um voto enorme de 75 por cento. O referendo mais recente de dezembro de 2012 aprovou uma constituição baseada na sharia, com um percentual de aprovação de 64 por cento. Como isso pôde acontecer?

Em seu recente livro A Febre da Primavera: A Ilusão da Democracia Islâmica, Andrew McCarthy, ex-assistente do Procurador dos Estados Unidos, que liderou a acusação dos bombistas do World Trade Center em 1993 e de outros terroristas, explica:

"Para entender a ‘Primavera Árabe’, é preciso antes de tudo entender que o fator chave entre o povo nos países árabes — assim como na Turquia, Irã, Paquistão, Afeganistão e outros territórios vizinhos não árabes — é o islamismo. Não é a pobreza, o analfabetismo, ou a falta de instituições democráticas modernas”.

"Estes aspectos, como o antissemitismo, o antiamericanismo e uma propensão insular para aceitarem teorias da conspiração com seus vilões infiéis, são... consequências do domínio regional islâmico e das suas ambições de supremacia. E isso não faz com que o povo se volte para o Islã. Uma pessoa não precisa ser guiada para o que é parte da sua existência... [E] em sua terra natal, o islamismo de modo algum é 'moderado'" (2013, páginas 4-5, grifo no original).

Isso é especialmente verdade no Egito, de onde Michael Totten escreveu para a revista Assuntos Internacionais: "Quase toda mulher que sai em público usa um lenço na cabeça. Em apenas um único dia, eu tenho visto mais homens com machucados nas testas, por bater a cabeça no chão durante a oração, do que já vi em todos os outros países de maioria muçulmana juntos em quase uma década.

"O país é, como posso dizer, o lugar mais islamizado do mundo, depois da Arábia Saudita. Tinha tido uma orientação para o Mediterrâneo...  mas isso era mais do que metade dum século atrás" ("Primavera Árabe ou Inverno Islâmico?" Janeiro-Fevereiro de 2012).

Outro analista assinala: "Muitos egípcios votaram segundo a orientação dos líderes das mesquitas locais, selecionando os pictogramas das cédulas (aproximadamente trinta por cento dos egípcios são analfabetos)" (James Phillips, "A Primavera Árabe Descamba Para O Inverno Islâmico", A Fundação Herança, 20 de dezembro de 2012). É claro que até mesmo as pessoas cultas também seguiram os imãs.

Os grupos islâmicos aproveitam o momento

A repressão da dissidência pela ditadura árabe tem contribuído para o problema. Enquanto que qualquer tipo de reformista secular fosse esmagado, como foi o pensamento livre na educação, os ditadores ainda tinham que prestar homenagem insincera ao islamismo e permitiam que prosperasse. E os islâmicos estavam muito envolvidos nas mesquitas e nas instituições de caridade — proporcionado-lhes uma estrutura organizacional onde pudessem agir.

Quando as revoltas aconteceram, os islâmicos aproveitaram o momento e rapidamente partiram para a ação. Os secularistas, por outro lado, não estavam prontos para mobilizarem a opinião pública em ação política e logo foram postos de lado.

Então, por que a vitória islamita nas eleições democráticas seria alguma surpresa? Esta região não é um ambiente propício à liberdade orientada por um governo autônomo. McCarthy observa: "O Ocidente moderno é obcecado por política e direito. Estamos hipnotizados, em particular, por seus aspectos processuais: as eleições populares, a constituição escrita e coisas semelhantes” (p. 3).

No entanto, ele assinala, que foi uma cultura orientada à liberdade nos primórdios dos Estados Unidos, que deu origem ao nosso governo limitado — e não ao contrário. Precisamos olhar para além dos processos para considerar o tipo de pessoas que os processos vão estabelecer em posições de poder.

Devemos considerar especialmente o principal beneficiário da Primavera Árabe, a Irmandade Muçulmana, que muitos tentam retratar como moderada. (Por mais detalhes, não deixe de ler "Um olhar mais atento Para a Irmandade Muçulmana" na página XXXXX).

Certamente ela não é moderada, apesar do jogo de palavras

Alguns tentam fazer uma distinção entre a popular Irmandade Muçulmana e os salafistas (que obtiveram um quarto dos votos na eleição egípcia) como um contraste entre inovadores moderados e fundamentalistas estritos.

Em um artigo na revista National Review, McCarthy diz: "Bobagem! A Irmandade Muçulmana é salafistas... A Irmandade segue rigorosamente a ideologia salafista de seu fundador, Hassan al-Banna... que busca trazer de volta o islamismo de Maomé e as primeiras gerações de muçulmanos — os Salafiyyah (um termo derivado de al-Salaf al-Salih, os Companheiros Justos: Maomé e os primeiros califas 'bem orientados’).

"Este é o islamismo que a Irmandade pretende impor ao mundo, através da implantação de um sistema jurídico e político islâmico, a sharia. O objetivo dos salafistas é ‘compartilhado’ com a Irmandade precisamente porque ela e os salafistas são um só, como sugere seu pacto eleitoral recém-anunciado" ("Uma Estação Doente", 14 de Maio de 2011).

Até certo ponto, isso é parte da estratégia de proliferação de organizações para camuflar as intenções comuns. Isso faz parecer que há muitos grupos concorrentes para escolher, mas que não é verdade, e dão a impressão de apoiar determinadas questões através de um espectro amplo e diversificado.

Esse mesmo tipo de propagação de organizações tem sido uma estratégia de partidos de esquerda — grupos com diferentes nomes, mas todos trabalhando e, muitas vezes cooperando, para os mesmos objetivos. Então, por outro lado, é possível que exista alguma diferença entre os salafistas em termos táticos. Geralmente, a Irmandade tem sido mais cautelosa em suas declarações e ações do que outros — trabalhando para se infiltrar completamente na sociedade antes de recorrer muito rapidamente à violência, o que poderia causar uma reação adversa.

No entanto, não devemos imaginar que a Irmandade renunciou à violência. Afinal, o braço palestino da organização é o grupo terrorista Hamas, que está por trás de milhares de ataques contra Israel.

Nem tem a Irmandade, moderado suas metas de supremacia islâmica, nos últimos anos. Ainda proclama abertamente seu lema que remonta há mais de oitenta anos: "Alá é nosso objetivo. O Profeta [Maomé] é o nosso líder. O Corão é a nossa lei. A jihad é o nosso método. A morte no caminho para Alá é a nossa maior esperança. Allahu Akbar! Allahu Akbar!".

A duplicidade em renunciar ao terrorismo

Mas a irmandade não condena o terrorismo? Sim, mas geralmente é quando criticam Israel e o Ocidente. Precisamos entender o uso desses termos.

McCarthy afirma em A Febre da Primavera: "Para um islamita, o ‘terrorismo’ envolve a injustificável (sob a sharia) matança de muçulmanos. Porém, matar a inimigos não muçulmanos nunca é terrorismo, isso é ‘resistência’. Para agradar aos crédulos líderes ocidentais, os Islâmicos enganosos relutantemente... condenam os ataques terroristas contra alvos civis (por exemplo, contra o World Trade Center) no Ocidente. Mas isso é porque eles arrazoam que a violência indiscriminada também pode matar cidadãos muçulmanos [e poderia causar graves retrocessos na difusão do islamismo]...

"A Irmandade não tem nenhum problema em afirmar que condena o ‘terrorismo’. O problema é que isso não significa o que você pensa que ouviu. Mais uma vez, eles não se julgam por seus padrões. Eles agem de acordo com os conceitos islâmicos da taqiyya (estratégia de mentir para os infiéis) e seu derivado próximo, a tawriya... [ou] ‘mentira criativa’: uma verdade literal pela qual o orador engana um ouvinte que ele sabe ser ignorante dos fatos básicos e dos pressupostos" (páginas 57-58).

Assim é até mesmo com a nomeação dos partidos políticos da Irmandade. No Egito, o Partido da Liberdade e Justiça vem seguido do Partido da Justiça e do Desenvolvimento da Turquia. Enquanto tais nomes são bem vistos pelos defensores ocidentais da democracia, eles significam algo diferente para os islâmicos.

Para eles, a “liberdade” se encontra na submissão à autoridade do islamismo. E “justiça” significa todo o sistema da sharia. Um dos mais famosos tratos de Sayyid Qutb, um dos primeiros líderes da Irmandade, é a Justiça Social no islamismo. Da mesma forma, o partido da Irmandade Muçulmana na Tunísia se chama Ennahda ou ‘Renascimento’ — referindo-se à sociedade sendo guiada pelo islamismo.

Os sentimentos do novo presidente do Egito

As declarações e ações do novo presidente do Egito, Mohamed Morsi, deve deixar claro que a agenda da Irmandade Muçulmana não foi enfraquecida. Ele prometeu que a nova Constituição do Egito seria representada sob esta orientação: "A sharia, depois a sharia, e, finalmente, a sharia". E ele fez disso uma promessa.

Além de seguir com seu compromisso de pressionar os Estados Unidos para libertar o Xeique Cego (Omar Abdel-Rahman, o líder espiritual por trás dos atentados ao World Trade Center, em 1993) e outros terroristas, Morsi libertou centenas de presos políticos no Egito, inclusive dezenas de líderes terroristas.

Além disso, tem a questão de Israel. Antes de se tornar presidente, em 23 de setembro de 2010, numa entrevista em vídeo postado no Blog Ikhwan da Irmandade, Morsi chamou as negociações israelo-palestinas um desperdício de tempo, afirmando: "Ou [você aceita] os sionistas e tudo o que eles querem, ou então a guerra. Isto é o que esses invasores da terra da Palestina conhecem — esses sanguessugas, que atacam os palestinos, estes senhores da guerra, esses descendentes de macacos e porcos... Devemos empregar todas as formas de resistência contra eles.

"Deveria haver resistência militar dentro da Palestina contra os criminosos sionistas... [E] isto deveria ser a prática comum dos muçulmanos e árabes fora da Palestina. Eles devem apoiar os combatentes da resistência e sitiar os sionistas, onde quer que estejam... Todos nós devemos entender que a resistência é a única maneira de libertar a terra da Palestina" (postada em MEMRI, 4 de janeiro de 2013).

Quando ele estava concorrendo para presidente, Morsi e os líderes da Irmandade assentiram com a cabeça concordando em um comício com o que Safwat Hegazy, o mesmo pregador que ameaçou os cristãos coptas, disse a milhares de pessoas:

"Nós vemos que o sonho do califado islâmico está sendo realizado pelo Dr. Mohamed Morsi, se [Alá] quiser... A capital do califado — a capital dos Estados Unidos dos Árabes — será Jerusalém, se [Alá] quiser". Quando subiu ao palanque, Morsi afirmou: "Sim, Jerusalém é a nossa meta. Vamos orar em Jerusalém ou morrer como mártires em seu limiar" ("Egito islâmico Promete Um Califado Global em Jerusalém", The Jerusalem Post, 8 de maio de 2012).

Apesar de tudo isso, alguns ainda sustentam que Morsi governará como um moderado. Mas por que deveríamos esperar isso? Eric Trager escreve no jornal A Nova República: "A biografia política de Morsi sugere que ele não é um conciliador. Antes da revolta [em 2011] e seu surgimento posterior como o primeiro presidente civil do Egito, Morsi era o executor-chefe interno da Irmandade Muçulmana no Escritório de Orientação, direcionando a organização em um sentido ideologicamente mais radical enquanto expulsou indivíduos da Irmandade que não concordavam com sua abordagem” ("Por que Morsi Não Vai Voltar Atrás? Veja Seu Currículo", 30 de novembro de 2012).

Como a Bíblia pergunta retoricamente em Jeremias 13:23: “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas?” Não devemos esperar que as pessoas mudem radicalmente o que são — certamente não sem nenhuma conversão clara.

Previsão sombria para o futuro

Então, onde está o calor da primavera em tudo isso? Sim, muitos milhões na região certamente estão entusiasmados com o que aconteceu — principalmente aqueles que querem ver o mundo dominado pelo islamismo e subserviente à sharia. E quanto àqueles que realmente defendem verdadeira liberdade na região? Esses não estão assim tanto.

Mais uma vez, como deve ser absolutamente claro, nunca houve uma Primavera Árabe — somente um inverno rigoroso que está ficando cada vez mais frio. O Egito é o barômetro do mundo árabe. E a grandiosa evidência mostra que agora está numa direção decisivamente islâmica. Na verdade, ele e os países muçulmanos em toda a região parecem estar em uma marcha inexorável para reviver o califado islâmico.

É claro, há muito mais a dizer sobre o que vem ocorrendo. O Egito está seguindo o caminho que também foi trilhado por outros países. O que isso indica sobre o futuro iminente do Egito? O califado realmente está em ascensão? E o que a Bíblia diz que vai acontecer? Para continuar examinando, certifique-se de ler o artigo anexo "Será Que O Mundo Verá Um Novo Califado?" que começa na página XXXXX.

Saiba mais

O Oriente Médio é uma região crucial do mundo. O berço das três maiores religiões monoteístas — o cristianismo, o judaísmo e o islamismo — e também é a fonte de grande parte do sangue da economia mundial, o petróleo. Porque há tanta confusão nessa esta região? Aonde isso vai levar? Não deixe de ler o nosso livro gratuito O Oriente Médio na Profecia Bíblica.

Quadro lateral: Um Olhar Mais Atento Sobre A Irmandade Muçulmana

É importante prestar atenção à organização, que tem avançado significativamente por causa das revoltas árabes —  al-Ikhwan al-Muslimun, a Irmandade Muçulmana, o padrinho de todos os grupos de supremacia islâmica. Com partidos políticos e organizações sociais representadas em todas as nações muçulmanas e muitos canais de divulgação em vários países ocidentais, a Irmandade é vista por muitos no Ocidente como uma associação moderada e pacífica.

"No entanto", observa Steven Simpson no jornal Imprensa Livre do Canadá, "se procurarmos a realidade e a clareza (ao contrário da atual administração norte-americana, que insensatamente se envolve com a Irmandade e a vê como ‘moderada’), veremos que a Irmandade é um violento movimento fascista que busca a dominação islâmica global. Na verdade, é a falange e a égide de todos os grupos islâmicos que surgiram em todo o mundo muçulmano. Sem dúvida, não é nada mais que uma hidra islâmica e um inimigo implacável do Ocidente, de Israel e de todos os não muçulmanos" ("Por que a Primavera Árabe Descambará para a Era do Gelo Islâmico",16 de abril de 2012).

A Irmandade Muçulmana foi fundada no Egito em 1928 por um professor e imã chamado, Hassan al-Banna, que desejava o renascimento do califado islâmico. O califado — a comunidade internacional de fiéis muçulmanos liderados por um califa, um sucessor de Maomé — tinha sucumbido com a derrota do Império Otomano no final da Primeira Guerra Mundial e com a influência modernizadora de Kemal Ataturk, que com grande dificuldade transformou a Turquia num Estado secular.

Al-Banna foi morto em 1949 e a Irmandade foi banida do Egito, pouco antes de tudo isso, mas que continuaria operando — guiado pelo principal discípulo de al-Banna, Sayyid Qutb, que tinha sido um burocrata do Ministério de Educação do Egito.

Nas palavras do ex-Procurador Geral dos Estados Unidos, Michael Mukasey: "Qutb causou problemas suficientes no Egito para ser premiado com uma bolsa de estudo no estrangeiro em 1948... Infelizmente para nós, Qutb escolheu viajar para Greeley, Colorado. E embora seja difícil imaginar um lugar pós-Segunda Guerra Mundial mais inofensivo do que Greeley, Colorado, mas para um homem como Qutb era como Sodoma e Gomorra. Ele odiava tudo o que via: o corte de cabelo dos norte-americanos, o entusiasmo pelo esporte, o jazz, e a isso ele chamou de ‘mistura animal de sexos', e até mesmo a igreja.

"Sua conclusão foi de que os norte-americanos estavam ‘entorpecidos pela fé na arte, na religião e em todos os valores espirituais", e que os muçulmanos devem considerar ‘o homem branco, europeu ou norte-norte-americano... [como] o nosso primeiro inimigo’... [Mais tarde] continuou escrevendo e agitando o Islamismo contra a civilização ocidental, particularmente contra os judeus, a quem culpou pelo materialismo ateu e considerando-os como os piores inimigos dos muçulmanos” ("O Poder Executivo em Tempo de Guerra", Imprimis, outubro de 2011).

Depois, Qutb se tornou um membro líder da Irmandade Muçulmana e acabou enforcado no Egito, em 1966. Mas seu irmão Muhammad Qutb fugiu com outros membros da Irmandade para a Arábia Saudita e, eventualmente, ensinava a ideologia Sayyid a personagens, que eram nessa altura obscuras, como Osama bin Laden e seu braço direito Ayman al-Zawahiri, o líder da Al-Qaeda desde a morte de bin Laden. Muitas vezes, esses personagens da Al-Qaeda e seus seguidores são referidos como Qutbistos.

Outro seguidor dos escritos de Sayyid Qutb foi Omar Abdel-Rahman, geralmente chamado de o "Xeique Cego", conselheiro espiritual dos terroristas do atentado ao World Trade Center, em 1993, que está cumprindo uma sentença de prisão perpétua nos Estados Unidos. Bin Laden e al-Zawahiri pediram a sua libertação antes do ataque da Al-Qaeda ao encouraçado USS Cole no Iêmen, em 2000. E eles confiaram na chamada fatwa de Abdel-Rahman para o assassinato em massa de norte-norte-americanos para perpetrar no ano seguinte o horror do atentado de onze de setembro.

O Xeique Cego continua sendo um herói entre os islâmicos, por isso talvez não seja nenhuma surpresa que os maiores pedidos para sua libertação não tenham vindo da Al-Qaeda, mas da atual liderança egípcia, a Irmandade Muçulmana — os chamados moderados.