Esperança Além do Hoje

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Esperança Além do Hoje

Multidões tinham escutado atentamente as palavras daquele homem. E foram atraídas pelo magnetismo de suas palavras. Mas de repente tudo se acabou. O silêncio era ensurdecedor. Restaram apenas olhares e rostos espantados e olhos lacrimejantes brilhando à luz do sol da manhã. Assim descreveu uma testemunha a Lucas, o autor deste relato, que os ouvintes estavam "compungidos de coração" (Atos 2:37).

Suas palavras causavam impactos na vida deles. Mas algo saiu muito errado algumas semanas antes e eles eram os responsáveis. Era como um acidente trânsito, do qual você se evadiu, mas acabou se dando conta de que também era responsável por aquilo.

"Que faremos, varões irmãos?"

Repentinamente, alguém expressou o que todos estavam sentindo: "Que faremos, varões irmãos?" (Versículo 37). O que o apóstolo Pedro disse naquela manhã de Pentecostes em Jerusalém (versículo 1), que lhes surpreendeu e lhes mostrou a dura realidade?

Ele, corajosamente, repreendeu-os, dizendo o seguinte: "Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a Este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-O vós, O crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela" (versículos 22-24, grifo do autor).

Ele ainda vinculou Jesus às palavras de Davi acerca do Messias ou Cristo (que significa "Ungido")—Libertador prometido por Deus (versículos 25-35). As palavras incisivas de Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, ecoaram como mais um lembrete assustador: "Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo" (versículo 36).

Eles tinham matado o Messias—o Salvador profetizado por Deus para Seu povo escolhido! No sentido mais amplo, eles perceberam que suas vidas estavam perdidas nas mãos de Deus.

Diante desse desespero estarrecedor é que Deus entra por meio da enunciação de Pedro, dando esperança futura àqueles desesperados. Nessa breve transição entre a angústia sentida pela multidão e o que Pedro iria compartilhar a seguir é que descobrimos um poderoso exemplo de como responder a admoestação de seguir a Jesus.

É aqui, nesse espaço entre os versículos 37 e 38, que precisamos relaxar e aprender algo sobre nós mesmos antes de compartilhar o evangelho com outras pessoas. A voz de Deus, através de Pedro, apresentou uma escolha naquele dia, oferecendo algo inesperado. E essa mesma escolha está diante de todos nós hoje.

O presente inesperado

A realidade contundente era que aquelas pessoas não mereciam nada de Deus, e elas agora sabiam disso. Juntamente com os romanos, todos eram culpados pela morte do filho de Deus—que foi enviado não apenas para Israel, mas enfim, para toda a humanidade.

A antiga escritura falava de "olho por olho" e vida por vida. Mas ao invés de abrir a terra para tragá-los ou fazer descer fogo do céu para consumi-los, como antigamente, Deus inspira a Pedro para dizer o seguinte: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (versículo 38).

Pedro disse-lhes que Deus estava oferecendo um presente. O quê? Sim, um presente! Essas palavras eram como um suave sussurro aos seus ouvidos. Eles não esperavam receber tal oferta.

E o preço desse presente especial? Incalculável! Eles não podiam pagá-lo nem que vivessem incontáveis vidas. Não havia nenhuma maneira de pagar ou merecer por nada realizado aqui na Terra. Mas eles poderiam mostrar seu apreço, arrependendo-se, que significa render-se incondicionalmente à vontade soberana de Deus e dedicar-se a mudar o curso de suas vidas, seguindo os passos e o exemplo de Cristo.

Aquele Pentecostes tornou-se um dia memorável, pois três mil pessoas foram batizadas (versículo 41) no nome (Mateus 28:19) de Quem eles foram responsáveis pela morte. Esse foi mais do que o dia designado para o nascimento da Igreja. Esse dia marcou o surgimento da revelação de que Deus tem um presente para cada um de nós.

Basicamente, o cristianismo diz res-peito a um presente—algo que chegou inesperadamente em nossas vidas, no tempo e na maneira de Deus, que, quando totalmente compreendido, nos deixa sem fôlego. Simplesmente pelo fato de se tratar de remover nosso coração e substitui-lo por outro novo e diferente (Ezequiel 36:26).

O próprio Pedro hesitou

Novamente, a festa anual de Pentecostes é mais do que o nascimento da Igreja. É sobre o nascimento de uma abordagem fundamental e de cunho íntimo para todos nós, que apresenta o motivo pelo qual as pessoas devem corresponder à mensagem de Deus, dada através de Pedro.

Eu não estou falando sobre o que ele disse (você mesmo pode ler em Atos 2), mas como ele disse isso. Não falo do que saiu de sua boca, mas do que foi dito do fundo de seu coração, que era completamente franco e convincente para a multidão. Pedro falou aos homens sobre ser "mortos-vivos" como ele mesmo havia sido. Você não pode simplesmente falar isso da boca para fora! Isso tem que vir do íntimo da pessoa. Isso é você—cheio de defeitos e qualidades.

Algumas semanas antes, Pedro esteve em apuros por causa de suas próprias palavras dirigidas a Cristo. Jesus o havia avisado: "Eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos" (Lucas 22:31-32).

Naquele momento, Pedro ainda não havia entendido, pois ele contestou, dizendo: "Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte" (versículo 33). Será que Pedro foi sincero? Absolutamente. Mas ele não estava pronto para o que Cristo lhe tinha reservado a partir daquele Pentecostes. Jesus respondeu: "Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces" (versículo 34).

Horas mais tarde, após a prisão de Jesus, o olhar desses dois homens iriam se cruzar brevemente no pátio externo da residência do sumo sacerdote. Lucas registra o que aconteceu quando Pedro negou Cristo pela terceira vez e o galo cantou: "E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe tinha dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes" (versículo 61).

Esse breve contato visual de olhos, atingindo diretamente seu coração, deve ter parecido uma eternidade para Pedro. Ele sabia o que tinha feito e agora também sabia realmente quem ele era. Lucas conclui, "E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente" (versículo 62).

Pedro estava aprendendo na prática e começando a entender que Deus não enviou o Seu Filho para melhorar o caráter das pessoas boas, mas para permitir, pela primeira vez, que "mortos-vivos" vivessem de verdade (ver Romanos 6:11, 13). Ele entendeu que não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores! Jesus sabia que sua criação havia se corrompido e mesmo assim nos amou profundamente. Jesus enxergava muito além das bravatas de Pedro, assim como sua fraqueza moral, e ofereceu-lhe um futuro—“quando você se converter", Ele lhe disse!

Daqui adiante lembrar onde estávamos

Pedro, companheiro do apóstolo Paulo, explicou que há esperança além de nosso tempo como seres humanos para os cristãos compreenderem, abraçarem e compartilharem com os outros, afirmando:

"De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente haverá alguém que morra por um justo, embora pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer. Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por meio dele, seremos salvos da ira de Deus!" (Romanos 5:6-9, NVI).

Como Pedro e Paulo, aqueles que seguem a Cristo hoje sempre valorizam o fato de seus pecados terem sido perdoados, mas eles nunca se lembram do ponto onde Deus os encontrou, no fundo de um poço escuro, obra de suas próprias decisões.

Isso nos ajuda a permanecer humilde, aproximando outras pessoas, para que também sigam a Deus, ao invés de afastá-las com uma atitude de "santidade".

Jesus falou de diferentes atitudes ao narrar a seguinte história: "Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo”.

"O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado" (Lucas 18:10-14).

Quando um homem enxerga a si mesmo

Qual dos dois homens você acha que Pedro representou no dia de Pentecostes? O homem que elogiava tudo o que tinha feito ou o homem que percebeu que era um "morto-vivo" sem a graça de Deus?

Talvez naquela ocasião Pedro tenha lembrado com carinho de uma história contada por Cristo, quando os fariseus e os escribas reclamaram dEle, dizendo: "Este recebe pecadores e come com eles" (Lucas 15:1-2).

O povo religioso daquela sociedade (não pagãos ou ateus) tinha dado uma olhada para a multidão ao redor de Jesus e deve ter sentido aversão e indignação: "O que eles estão fazendo aqui?" Jesus respondia com uma trilogia de parábolas edificantes e, finalmente, falou sobre o filho pródigo, o jovem que caiu teve aquele momento de despertar e disse: "Oh não, o que foi que eu fiz?" e "caiu em si" (versículo 17).

Agora, Pedro era o centro das atenções, e os pecadores estavam ao seu redor. Ele os conhecia porque tinha sido um deles e recebeu o privilégio de "converter-se", mesmo depois de sua falha moral.

Uma vez, Shakespeare escreveu: "Só se ri das cicatrizes aquele que nunca sentiu uma ferida" (Romeu e Julieta, Ato 2, Cena 2), ou seja, quem nunca foi ferido não entende o sofrimento dos outros. Pedro havia sido ferido por suas próprias ações, portanto entendia os que estavam ao seu redor.

Agora era a sua vez de atender ao chamado inicial de seguir Jesus—e não apenas falar sobre isso, mas transmitir isso com um coração transformado e humilde. Agora ele estava pronto para descrever esse presente e desembrulhá-lo como uma entrega pessoal cheia de fé.

Tal mensagem e seu conteúdo subjacente são mais necessários atualmente do que nunca. Hoje e todos os dias tem alguém fazendo essa mesma pergunta: "O que devemos fazer?" A resposta de Pedro, em nome de Deus, em Atos 2:38, é a mesma para qualquer época.

Vamos considerar a pausa entre a pergunta e a nossa resposta. O que você vai responder deve soar mais alto do que o que você realmente quer dizer, mas ambos os sentidos devem ser usados ​​juntos para a glória de Deus e oferecer esperança além de hoje! BN