A Ligação com a Ressurreição

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A Ligação com a Ressurreição

Como é que o culto de antigos deuses e deusas chegou a ser associado com a morte e ressurreição de Jesus Cristo? Embora os detalhes se percam no tempo, um olhar mais atento para a antiga mitologia que cerca tal culto nos ajudará a entender como as práticas pagãs sobreviveram nos costumes populares do Domingo de Páscoa.

Dois desses primeiros deuses registrados foram o deus babilônico da fertilidade, Tamuz, e a deusa Ishtar. Acreditava-se que todos os anos Tamuz “morria, afastando-se da alegria da terra para o sombrio mundo subterrâneo” (Sir James Frazer, O Ramo Dourado, 1993, pág. 326).

O ciclo sazonal veio a ser ligado à suposta morte e ressurreição anual de Tamuz. “Sob os nomes de Osíris, Tamuz, Adonis e Attis, os povos do Egito e Ásia Ocidental representavam o declínio e renascimento anual da vida . . . que era personificada por um deus que anualmente morria e ressuscitava dentre os mortos. Em seus nomes e detalhes os ritos variavam de lugar para outro: mas essencialmente, eram os mesmos” (pág. 325).

Muitos desses rituais giravam em torno do ato de induzir o retorno de Tamuz dentre os mortos. Uma dessas cerimônias está registrada em Ezequiel 8:14, onde Ezequiel teve a visão de uma cena abominável: Mulheres “chorando por Tamuz” no próprio templo de Deus.

O Comentário Bíblico Expositivo diz o seguinte sobre este versículo: “Tamuz, que mais tarde foi ligado pelo nome a Adonis e Afrodite, era um deus da fertilidade e da chuva . . . No ciclo sazonal mitológico, ele morria no início do outono, quando a vegetação secava. Seu renascimento, através do pranto de Ishtar, era marcado pelo desabrochar da primavera e pela fertilidade da terra. Tal renovação era impulsionada e comemorada pelos festivais licenciosos da fertilidade . . . As mulheres ficavam lamentando a morte de Tamuz. Provavelmente, também seguiam o ritual de Ishtar, pranteando pelo renascimento de Tamuz” (Ralph Alexander, vol.6, 1986, págs.783-784).

À medida que o culto a Tamuz e Ishtar se espalhava pela região do Mediterrâneo, incluindo o território bíblico de Israel, a dupla de deuses passou a ser adorada sob outros nomes: Baal e Astarte (Astarote), Átis e Cibele e Adônis e Afrodite. Deus condenou veementemente esse culto sensual e pervertido a Baal e Astarte, a “Rainha do Céu” (Juízes 2:11-15; 3:7-8; 10:6-7; 1 Reis 11:4-6, 31,33; 16:30-33; 22:51-53; 2 Reis 23:13; Jeremias 7:18).

Os costumes pré-cristãos ligados a Cristo

No culto da antiguidade encontramos a mitologia que acabaria por vincular esses costumes antigos à morte e ressurreição de Cristo. Diz Alan Watts: “Seria enfadonho descrever em detalhes tudo o que tem sido transmitido até nós sobre os vários rituais de Tamuz, Adonis . . . e muitos outros deuses . . . Mas o seu tema universal—o drama da morte e ressurreição—torna-os precursores do Domingo de Páscoa cristão e, portanto, dos primeiros ‘ritos do Domingo de Páscoa’. À medida que passamos a descrever a cerimônia cristã do Domingo de Páscoa vamos ver como muitos de seus costumes e cerimônias lembram esses antigos rituais” (O Domingo de Páscoa: Sua História e Significado, 1950 , pág. 58).

Watts descreve algumas das semelhanças e paralelos: “Pouco antes do equinócio vernal [primavera] . . . os membros desta seita [de Tamuz e Ishtar, Átis e Cibele ou Adônis e Afrodite] começavam um jejum—como também jejuam os cristãos na Quaresma, a partir de quarenta dias antes do Domingo de Páscoa”.

Ele conta que alguns adoradores cortavam uma árvore e, em seguida, era levada “como reverência e cerimonial ao templo de Cibele e a fixava no centro do santuário”. Então, “em sua haste central [tronco] era pendurada a imagem do jovem deus” (pág. 59).

“Aqui, no restante dos dias de jejum, os fiéis se reuniam para cantar hinos de luto pelo falecido Átis . . . E até hoje, na sexta-feira na Adoração da Cruz, os cristãos cantam seu hino de luto por outro ser grandioso que morreu numa árvore . . .” (pág. 59).

Quando o jejum chega ao fim, um ritual extraordinário tomava lugar: “A imagem de Átis morto era retirada da árvore e enterrada sob o céu crepuscular. Até tarde da noite seus devotos ficavam ao redor da sepultura e cantavam hinos de luto. Mas, quando se aproximava o amanhecer, uma grande luz se acendia, como a luz do Círio Pascal, dos cristãos de hoje em dia, acendida na véspera do Domingo de Páscoa como um símbolo de Cristo ressuscitado” (págs. 61-62).

Sir James Frazer descreve a adoração idólatra desta maneira: “A tristeza dos adoradores se tornava em alegria . . . O túmulo era aberto: o deus tinha ressuscitado dos mortos, e o sacerdote tocava os lábios das carpideiras com bálsamo e sussurrava suavemente em seus ouvidos as boas novas da salvação. A ressurreição do deus era saudada por seus discípulos como uma promessa de que eles também ressurgiriam triunfantes da corrupção do sepulcro. No dia seguinte . . . a ressurreição divina era comemorada com uma explosão selvagem de alegria. Em Roma, e provavelmente em outros lugares, a festa tomou a forma de um carnaval” (pág. 350).

A adoção de uma antiga celebração

Em suas várias formas, o culto a Tamuz, Adônis ou Átis se espalhou pelo Império Romano, incluindo a própria Roma. E, à medida que o cristianismo se propagava pelo império, os líderes religiosos aparentemente juntaram os costumes e práticas associadas com esse deus “ressurreto” e aplicou-as ao Filho de Deus ressuscitado.

Frazer diz: “Quando refletimos como frequentemente a Igreja, com sutileza, tem planejado enxertar a semente da nova fé no velho tronco do paganismo, podemos supor que a celebração do Domingo de Páscoa de Cristo morto e ressuscitado foi enxertada sobre uma celebração similar de Adonis morto e ressuscitado” (pág. 345).

A este respeito, o Domingo de Páscoa seguiu o padrão do Natal, ao ser oficialmente sancionado e ordenado pela a igreja. Como Frazer continua a dizer: “Os mesmos motivos podem ter levado as autoridades eclesiásticas a assimilar a festa pascal da morte e ressurreição do seu Senhor com o festival da morte e ressurreição de outro deus asiático, que caía na mesma época. Hoje em dia, os rituais do Domingo de Páscoa ainda observados na Grécia, Sicília e sul da Itália têm em alguns aspectos, uma notável semelhança com os rituais de Adonis, e eu acredito que a Igreja possa ter, conscientemente, adaptado esse novo festival ao seu antecessor pagão para ganhar almas para Cristo” (pág. 359).

Para descobrir o que Deus pensa dessa mescla de costumes associados ao culto de outros deuses com Sua adoração, não deixe de ler “Isto é Importante para Deus?”