A Parábola do Semeador (Primeira parte)
Posso dizer que eu sou um agricultor de quintal. O cultivo de hortas faz parte da minha vida. Meus pais cresceram em famílias que dependiam de hortas para a alimentação diária, portanto eu aprendi o que é preciso para produzir comida suficiente de uma colheita à outra. É preciso ter um bom solo, uma boa semente e um ser bem cuidadoso e atento. Sem isso, não podemos esperar que uma horta se desenvolva e produza frutos abundantemente.
E isso é exatamente o que Jesus Cristo afirma em uma de Suas parábolas mais longas e importantes. Mateus 13 começa com uma grande multidão se reunindo em torno dEle, que estava em um barco para que todas as pessoas ali presentes pudessem ouvi-Lo (versículo 2).
Em Suas primeiras parábolas, Ele usou um exemplo da vida cotidiana, ensinando verdades fundamentais sobre o chamado para o Reino de Deus. Ele contou-lhes sobre um homem que foi ao campo semear. Vamos ler o que Ele disse.
"Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça" (versículos 3-9).
Agora, vamos analisar alguns pontos.
As condições do solo afetam o crescimento
A maneira como um agricultor semeava um campo nessa época é bem conhecida. Ele preparava a terra e depois ia semeá-la, com um saco de sementes nos ombros, andando para cima e para baixo espalhando as sementes na terra.
As estradas entre as cidades e as fazendas passavam pelos campos. Eram estradas de terra batida, pois a passagem de pessoas, cavalos e carroças tornavam-nas impróprias para ser semeada.
Mas porque o campo do agricultor era ao lado da estrada, inevitavelmente um pouco de sementes caía à beira dela. As sementes que caíam nessa estrada de solo infértil não iam criar raízes. Portanto, os pássaros daqueles dias eram tão espertos quanto os de hoje e sabiam onde conseguir comida fácil. Eles atacavam e rapidamente comiam todas aquelas sementes. Esta é a semente que "caiu à beira do caminho".
Jesus continuou com a explicação, falando sobre a semente que caiu em "pedregais, onde não havia terra bastante". As pessoas que já visitaram a Terra Santa sabem muito bem o que é, literalmente, um solo pedregoso. Embora os agricultores tentem manter seus campos livres de pedras, inevitavelmente, algumas áreas permanecem cheias delas. Devido à forma como foi semeada aquelas sementes, inevitavelmente, com a ajuda do vento, algumas delas cairiam nesses locais.
O solo pedregoso tem terra, mas não é bom o suficiente para as sementes germinarem e criarem raízes profundas. As pedras atrapalham o crescimento da raiz, evitando que as plantas criem raízes grandes para produzir muito fruto. Assim, como Cristo disse, qualquer coisa que comece a crescer em solo pedregoso não tem um sistema radicular profundo e rapidamente definha e morre com o calor. Ou seja, não produz fruto.
Cristo continuou Sua lição, falando sobre as sementes que foram semeadas entre os espinhos. Os espinhos podem crescer em qualquer lugar—até em um solo pobre e rochoso. Nos dias de Jesus as pessoas não tinham esses modernos agrotóxicos. Hoje em dia, podemos pulverizar esses herbicidas no solo e, praticamente, eliminar toda erva daninha. Sem espinhos ou ervas daninhas, as sementes enraízam e crescem sem serem impedidas por plantas improdutivas. Assim, nada vai atrapalhar nem "sufocar" a vida dessa boa semente.
A última categoria que Ele mencionou foi a da semente que cai em terra boa e produz muito fruto. A variação de quantidade que Cristo se referiu pode ser devido às intempéries—pouca ou muita chuva e temperatura muito quente ou muito fria. Mas por haver uma boa terra, devidamente adubada e equilibrada com a quantidade certa de nutrientes, as sementes podem germinar e criar raízes profundas, produzindo excelentes frutos.
Aprendendo com a vida
Quando terminou esta parábola, Cristo disse: "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" É evidente que estamos prestando muita atenção ao que Ele está dizendo. Mas não basta só isso. Temos que ir mais longe e captar os significados dessas experiências da vida e entender como aplicá-los. Temos que fazer mais do que apenas ouvir—Ele espera que aprendamos valiosas lições de vida.
Isso me traz à memoria algumas lições das hortas que plantei ao longo dos anos.
Todo ano, meus pais faziam uma grande horta. Pois, eles cresceram durante a Grande Depressão e aprenderam o valor de uma horta produtiva. Eles não podiam se dar ao luxo de comprar tudo em um supermercado; a maior parte das refeições vinha da horta deles. Durante a minha juventude, meu pai cultivava um grande terreno em nosso quintal. Todos os anos ele espalhava esterco e cultivava o solo, preparando muito bem o solo para plantas e sementes de legumes.
Ele chegava do trabalho à noite e ia ver a horta. Ele a mantinha limpa e livre de ervas daninhas. Se a chuva não vinha, ele regava bem a horta para manter o crescimento das plantas. E, em todo verão, éramos recompensados com tomate, milho e feijão. Havia o suficiente para comer e ainda sobrava para guardar para o inverno. Meus pais viam como quase um pecado mortal comprar feijão ou milho enlatado no supermercado para colocar em nossa mesa!
Mas nós tivemos tudo isso porque eles sabiam a importância da "boa terra". Eles sabiam que não podiam deixar o solo ficar duro. Também que não podiam deixar as ervas daninhas e os espinhos crescerem entre as plantas. E sabiam que os espinhos podem crescer em qualquer lugar. Tanto em solo bom quanto em solo ruim. Pois, eles resistem à seca e se desenvolvem quando chove. O clima quente ou frio não afeta os espinhos.
Nos anos que antecederam a morte de meus pais, eles já não podiam plantar nem cultivar uma horta. Certa vez, visitei-os e fui ver a horta. E o que eu vi não era nada bonito. As ervas daninhas, os espinhos, os abrolhos e o capim tomaram conta de tudo. Aquilo parecia só mato. Isso acontece até mesmo em terra boa quando não é cultivada e cuidada adequadamente. Nada de útil pode crescer ali até ela ser limpa e tratada.
Minhas hortas
Através dos anos eu fiz muitas hortas. Em particular, duas se destacaram.
Uma delas estava cheia de pedras. Eu dediquei muitas horas de trabalho na primavera para remover essas pedras. Quanto mais eu cavava mais pedras apareciam. Cheguei a um ponto em que eu tinha de plantar ou perderia a estação das chuvas. Então, eu fui em frente e plantei naquele solo pedregoso. Fiquei surpreso ao ver que as plantas tinham crescido e isso me deu esperança de que elas se desenvolveriam e dariam muitos frutos.
À medida que se passavam as semanas, o crescimento diminuía gradativamente. Até que um dia elas pararam de crescer. O verão começou quente e a maioria das plantas começou a murchar. Eventualmente, algumas cresceram, e, em seguida, deram poucos frutos. Mas eu não me lembro de tirar mais de que alguns litros de feijão. O milho cresceu em talos doentes e eu não consegui batatas suficientes para encher um pequeno saco. Qual a lição aqui? Uma semente pode até começar a crescer em solo pedregoso, de forma insuficiente, mas no calor da estação vai definhar e morrer.
E, realmente, eu também vi minha semente sendo devorada pelos pássaros. Se você não a plantarem com profundidade suficiente e não cobri-la bem com terra, as aves são bastante espertas para bicar ao redor do lugar e desenterrá-la. Até mesmo outros animais, como guaxinins e esquilos, vão desenterrar e comer as sementes antes que elas consigam germinar, acabando com qualquer esperança de uma boa colheita.
Vinte e dois anos foi o maior tempo que cultivei uma horta particular. Ano após ano, ela produziu legumes. Eu tinha aprendido as lições de meu pai e a mantinha bem cuidada. Eu controlava as ervas daninhas e capinava entre as plantas. Eu a regava muito durante as semanas quentes do verão. Era um terreno pequeno e por isso eu não precisava usar nenhuma máquina agrícola, então quando eu ia plantar tudo o que tinha que fazer era revirar a terra com uma enxada. E abria facilmente os sulcos e a terra ficava pronta para o plantio. Passei muitas horas agradáveis naquela horta e foi prazeroso ver, em todo entardecer, o quanto as plantas tinham crescido.
Essa horta tornou-se uma ferramenta terapêutica em muitos acontecimentos de minha vida. Ela me proporcionou muitas ideias para sermões e outras mensagens. Assim, eu podia recorrer a outras declarações de Jesus sobre o fruto da terra para obter lições espirituais. Através dos anos eu aprendi por que Jesus usou a terra para tirar alguns dos Seus ensinamentos mais profundos e perspicazes.
Lições vitais para todos nós
Entre as parábolas de Cristo sobre a terra, esta sobre o semeador se destaca como a mais perspicaz e profunda por ensinar sobre como a semente do evangelho do Reino é semeada e age no campo da vida. Nenhuma outra parábola nos mostra como o diabo, o fascínio do mundo e as preocupações da vida conspiram para erradicar de nossas vidas as verdades eternas do Reino de Deus. Nosso mundo moderno está cheio de distrações—as rochas, os espinhos e os pássaros que conspiram para impedir que a Palavra de Deus e Seu chamado lancem raiz e deem frutos. E compreender isso é vital para todos nós.
Como ministro do evangelho, eu testemunhei esta parábola em ação na vida de inúmeras pessoas. As lições dessa história ainda se aplicam hoje em dia, como a "semente" do evangelho de Jesus Cristo e do Reino de Deus que está sendo semeada por esta revista, pelo programa de televisão Beyond Today (somente em inglês) e os outros esforços de pregação.
Agora você está segurando um "bornal de sementes" em sua mão, enquanto você lê estas palavras. A palavra do Reino de Deus está sendo semeada em sua vida. Segundo a parábola, a questão agora é esta: Qual tipo de "solo" é a sua vida? Ela é um solo cheio de pedras? Ela já se tornou uma estrada de terra batida? Será que Satanás vai conseguir arrancar facilmente essa valiosíssima verdade divina de sua vida?
Alcançar o sucesso espiritual, a confiança e a esperança da eternidade em sua vida dependem de suas respostas a essas perguntas. Diante de você estão espalhadas as sementes do evangelho de Deus e Seu Reino eterno. Faça bom uso delas!
Na próxima edição, vamos olhar mais detidamente para a interpretação de Cristo quanto a essa parábola e o significado de fazer parte do Reino de Deus. Não perca! BN