Comentário Bíblico
Gênesis 11
A Rebelião Pós-diluviana
Quando Noé e sua família desembarcaram da arca, Deus disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra” (Gênesis 9:1, ARA). Estas palavras sugerem que Deus pretendia que as pessoas se espalhassem por toda a Terra. Quando chegaram a Sinar, ou Mesopotâmia, as pessoas tomaram uma fatídica decisão. Elas decidiram se reunir para construir grandes cidades, contrariando a intenção original de Deus. “Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gênesis 11:4). Esta declaração é reveladora de diversas maneiras. Ela revela que o propósito expresso da construção daquela cidade e torre era evitar uma ampla dispersão populacional.
Esse projeto de construção de uma torre (provavelmente algum tipo de zigurate ou pirâmide) indica que a concentração da população seria alcançada através do planejamento de um governo bem organizado. A história também fornece evidências de uma centralização da autoridade religiosa. E a frase “façamo-nos um nome” é uma expressão idiomática que significa “vamos ter poder sobre os outros”. Além disso, a escolha de uma torre cujo topo alcançaria os céus pode indicar uma descrença deliberada na promessa divina de não enviar outro grande dilúvio, assim chamando Deus de mentiroso. Portanto, vemos a formação de um poder político e religioso central, contrariando a vontade de Deus e empregando tal poder para dominar os outros. E parece que o líder dessa empreitada era Ninrode, que ergueu um império a partir dali (Gênesis 10:8-12).
E o versículo 5 diz que Deus “desceu” para ver a cidade e a torre. Além de seu significado literal, geralmente esse termo, “descer”, significa uma maneira de expressar um julgamento iminente (comparar Gênesis 18:21; Êxodo 3:8; 2 Samuel 22:10; Salmos 144:5; Isaías 31:4 ; Jeremias 21:13-14). Essa é uma forma de expressar a seriedade da ação, bem como o envolvimento pessoal de Deus na punição. Quando Deus viu a obra dos homens, Ele disse: “Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer” (Gênesis 11:6). Mais uma vez, o homem decidiu usar seu intelecto e energia para viver agindo contra Deus.
O século passado testemunhou cabalmente o que os seres humanos podem fazer trabalhando unidos. Porém, sem Deus o mal se alastra — entre os maravilhosos avanços tecnológicos veio também a capacidade de destruir o mundo. Mas Deus nunca fica sem opções. Então, para acabar com essa obra ímpia e cumprir Seu propósito de espalhar os homens sobre a face da Terra e impedir a aceleração do desenvolvimento tecnológico, que traria armas de destruição em massa mais cedo do que Ele permitiria, Deus confundiu a linguagem deles. E assim o nome daquele lugar ficou conhecido como Babel, a primeira Babilônia da história. Por fim, observe que Deus disse que, embora houvesse muitas pessoas, o povo era um — uma pluralidade em unidade, assim como Elohim, a palavra hebraica para Deus, também indica uma pluralidade em unidade.