Os pecados de Sodoma, Gomorra e outras cidades daquela planície eram grandes, e o clamor contra elas chegou aos ouvidos de Deus. Então, Deus “desce” para tratar do assunto. A história da visita de Deus a Abraão também revela muito sobre o caráter de Abraão.

Abraão estava sentado à sombra de sua tenda e viu três homens se aproximando. Os eventos seguintes mostram que aqueles eram Cristo pré-encarnado e dois anjos. Naquela época, era costume, e também obrigação, tratar bem qualquer visitante que chegasse aos acampamentos. E até hoje esse costume existe entre os beduínos nômades do Oriente Médio e isso era muito evidente nas primeiras décadas do século vinte. Deixar de receber e ajudar um visitante era considerado um grande insulto e um sinal de falta de caráter da pessoa. Assim, quando Abraão, um homem de noventa e nove anos de idade, viu os homens, “correu da porta da tenda ao seu encontro, e inclinou-se à terra” (Gênesis 18:2).

Segundo esse comentário bíblico, “o escritor de Hebreus usou esse relato para encorajar a hospitalidade para com estranhos, ‘porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos’ (Hebreus 13:2). O fato de Abraão usar a expressão “Meu Senhor” sugere que ele suspeitava da identidade dos visitantes, mas talvez somente mais tarde ele tivesse toda certeza do significado daquele evento” (Nelson Study Bible [Bíblia de Estudo de Nelson, em tradução livre], nota sobre Gênesis 18:2-3).

Embora ele tenha ido além do cumprimento de seu dever social, talvez por ter reconhecido seus convidados, é interessante notar o que Abraão disse em comparação ao que ele realmente fez. Ele disse: “Traga-se, agora, um pouco de água; e lavai os vossos pés e recostai-vos debaixo desta árvore; e trarei um bocado de pão” (versículos 4-5). Mas, na verdade, Abraão disse para Sara preparar não apenas um pouco de água e um pedaço de pão, mas também três medidas de farinha para fazer bolos, um bezerro novo, manteiga e leite. Era uma quantidade considerável de comida — ou seja, um verdadeiro banquete! E disso, os rabinos tiraram uma lição simples: Prometa pouco, mas entregue muito.

A Argumentação de Abraão Deus

O relato de Abraão argumentando com Deus sobre o destino de Sodoma e Gomorra revela muita coisa sobre ambos. Como mencionado anteriormente, a frase "descer" muitas vezes indica a natureza séria de uma intervenção divina pessoal, geralmente isso ocorre em julgamentos. O fato de o próprio Deus deixar o céu e vir pessoalmente averiguar a situação demonstra Sua diligência em administrar a justiça e também Seu envolvimento próximo com os assuntos do homem. E o fato de Ele estar disposto a revogar a sentença se encontrasse ali apenas dez habitantes justos demonstra Sua grande misericórdia. Além disso, a atitude de revelar Suas intenções a Abraão demonstra que Deus deseja interagir com Seu povo. Deus está interessado em nossas opiniões e disposto a argumentar conosco. Nós também podemos falar com Deus em oração. Jesus disse: "Pedi, e dar-se-vos-á " (Mateus 7:7). Deus ouve e responde nossas orações. E, às vezes, Ele até muda Seus planos em resposta às nossas orações. Curiosamente, o fato de Deus revelar Seus planos a Abraão, que mais tarde seria chamado de profeta (Gênesis 20:7), nos lembra o que está escrito em Amós 3:7: "Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (ARA).

Nesse relato também vemos refletido algo da natureza e do caráter de Abraão — ou seja, que ele poderia ser audacioso com Deus, generoso com seus convidados e misericordioso até mesmo com os habitantes pecadores de Sodoma e Gomorra.