Comentário Bíblico
Gênesis 3
As Duas Árvores
O terceiro capítulo de Gênesis pode ser uma das passagens mais importantes de toda a Escritura. A importância dela para a compreensão de nossa natureza, nossa carência e nossa condição não pode ser subestimada.
O capítulo começa com o aparecimento da serpente, identificada em Apocalipse 12:9 como Satanás. A interação de Satanás com Eva contém uma lição muito instrutiva sobre como ele nos induz ao pecado. Primeiro, observe a pergunta dele: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim?” (Gênesis 3:1, NVI) Sem dúvida, não foi isso que Deus havia dito. Ele havia dito: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gênesis 2:16-17, NVI). Deus havia colocado apenas uma restrição sobre Adão e Eva. Nada mais lhes foi negado. A pergunta de Satanás foi idealizada com o intuito de ampliar essa restrição além de sua verdadeira proporção e também para distorcer a percepção de Eva sobre os limites corretos e, assim, incutir nele uma sensação de estar sendo injustiçada.
Ela respondeu que apenas uma árvore estava proibida. Mas com a dúvida já plantada, sua percepção alterada, suas emoções estimuladas e uma premissa errônea em mente, Satanás então deu-lhe uma explicação muito diferente da situação: “Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gênesis 3:4-5). As palavras de Satanás eram uma mistura de mentira e engano. A afirmação de que Eva não morreria era uma mentira descarada. E a afirmação de que Eva conheceria o bem e o mal era um engano, pois a verdadeira natureza de “conhecer” o bem e o mal não havia sido revelada a ela. Essa atraente asseveração de Satanás teria efeito sobre a mente pouco esclarecida de Eva.
Conforme afirmado em Gênesis 3:22, Adão e Eva realmente se tornaram como Deus no sentido de “conhecer” o bem e o mal. Mas o que isso significa exatamente? Para responder isso precisamos entender de que maneira Deus “conhece” o bem e o mal. E uma maneira muito importante é saber que Deus é Quem determina isso — ou seja, Ele decide o que constitui o bem e o mal. E, naquele momento, foi exatamente isso que Adão e Eva fizeram — eles determinaram por si mesmos o que significa o bem e o mal. Em Gênesis 3:6, Eva viu “que aquela árvore [proibida] era boa para se comer”. Mas, de acordo com o padrão de Deus, isso não era verdade. Mas, segundo o novo padrão deles, era sim. Na realidade, ela determinou isso em sua mente, embora com a influência de Satanás. E, desde então, a humanidade tem seguido esse exemplo. Pois “há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Provérbios 14:12; Provérbios 16:25). Esse é o amargo resultado de confiarmos em nós mesmos para determinar o bem e o mal — o certo e o errado — em vez de confiar no que Deus revela sobre o assunto.
Também é preciso destacar que, embora Eva tenha sido vítima do engano de Satanás, Adão teve mais culpa nisso, pois ele deveria estar ali “com” Eva durante essa conversa com Satanás (comparar Gênesis 3:6). Como o apóstolo Paulo explicou mais tarde: “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.” (1 Timóteo 2:14). Adão decidiu voluntariamente juntar-se à sua esposa naquela transgressão — talvez para evitar a dor de ter que separar-se dela. Em todo caso, Paulo nos diz que foi “por um homem [que] entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Romanos 5:12) — e esse homem é Adão.
O episódio com as duas árvores ajuda a explicar a civilização humana desde então. Para todos nós, essas duas árvores continuam sendo uma representação da escolha que temos — aceitar o que Deus tem a dizer sobre o certo e o errado e ser abençoado com vida ou decidir por conta própria e ser amaldiçoado com sofrimento e morte (comparar Deuteronômio 30:19). Desde Adão e Eva, o ser humano perdeu o acesso à árvore da vida. Na verdade, o homem perdeu o acesso ao verdadeiro conhecimento divino — por isso, aproximar-se de Deus para obter vida e direção espiritual requer que Ele mesmo nos chame para fora deste mundo mau (comparar com João 6:44). Por esta razão, até mesmo aqueles que acreditam seguir a orientação de Deus acerca do que é certo e do que é errado, na verdade, estão seguindo o que os outros lhes disseram, em vez do que realmente diz a Palavra de Deus. Em certo sentido, até as próprias Escrituras, as “palavras da vida eterna” (João 6:63, 68), podem ser comparadas à árvore da vida. Mas, a humanidade afastada de Deus não é realmente capaz de entender essas palavras, a menos que Deus a capacite para isso.
Infelizmente, o homem continua escolhendo a árvore do conhecimento do bem e do mal. É verdade que isso também trouxe alguns resultados positivos — pelo fato de o ser humano ter adotado algumas coisas realmente boas (já que a experiência e a razão podem levar a conclusões corretas, desde que o homem retenha elementos da verdade outrora revelada por Deus). Isso explica por que encontramos bondade e outras virtudes corretas entre as religiões falsas — ou até mesmo entre pessoas irreligiosas. Mas porque a humanidade rejeita outras coisas boas e essenciais, achando que são erradas ou desnecessárias, e, ao mesmo tempo, adota tantas coisas ruins e prejudiciais como boas e aceitáveis, o efeito geral dessa sucessiva escolha da humanidade é toda essa dor e sofrimento que vemos no mundo. Felizmente, Jesus Cristo está voltando em breve a esta Terra para tornar o conhecimento de Deus disponível para todas as nações (comparar Isaías 11:9).