Comentário Bíblico: Gênesis 32

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Comentário Bíblico

Gênesis 32

Enquanto continuava sua viagem com a família em direção ao rio Jaboque, atualmente chamado de Wadi Zerqa, Jacó foi recebido por anjos e ali montou um acampamento, chamando o lugar de Maanaim. Na verdade, eram “dois acampamentos”, pois os anjos estavam acampados ali ao lado dele. Deus estava com Jacó e o levava de volta a Canaã, exatamente como havia prometido (Gênesis 28).

A expectativa de rever Esaú era algo assustador para Jacó, pois sabia que seu irmão mais velho era um homem impetuoso e que agia por impulso. Será que por causa de sua natureza precipitada ele explodiria em ira? Será que Esaú mataria Jacó e toda a sua família por vingança? Mas, se Esaú ainda tivesse pensamentos de vingança, Jacó tentaria apaziguá-lo com presentes. Talvez sua ira se aplacaria caso Jacó demonstrasse reverência e humildade diante de Esaú, dirigindo-se a ele como “senhor” e enviando-lhe presentes.

Jacó enviou mensageiros para informar respeitosamente a Esaú sobre sua aproximação. Esses mensageiros regressaram e avisaram a Jacó que Esaú estava vindo até ele — com quatrocentos homens! Então, Jacó se preparou para o pior, dividindo sua família e suas posses em tropas para enviar uma após a outra com ele à frente (Gênesis 33:3), esperando assim preservar o máximo possível de sua família caso Esaú atacasse. À frente de todos, ele enviou alguns servos com presentes, esperando que isso acalmasse Esaú. Porém, Jacó ainda permaneceu no vau de Jaboque.

O que acontece a seguir em Jaboque é de profunda importância para a compreensão do desenvolvimento do caráter de Jacó. Porém, antes de examinar os detalhes da história precisamos prestar atenção na oração de Jacó.

Ao estudar sobre a vida de Jacó, vemos que ele evoluiu de um jovem culto e fisicamente imponente — que confiava em sua própria astúcia e habilidade para obter o que desejava, manipulando aqueles ao seu redor — para um homem que aprendeu que a verdadeira prosperidade, segurança e paz de qualquer pessoa depende de sua retidão diante de Deus. Isso realmente denota um grande evolução de caráter. Mas quando Jacó chega a Jaboque, após anos servindo a Labão, ele apresentava um avanço significativo no desenvolvimento de seu caráter.

A oração relatada nos versículos 9-12 mostra que agora Jacó entendia que mesmo sendo justo diante de Deus ninguém merecia Sua bondade. “Não sou digno de toda a bondade e lealdade com que trataste o Teu servo” (versículo 10, NVI). Nesse momento, Jacó reconheceu quem ele realmente é — um homem indigno e totalmente dependente da misericórdia e da graça imerecida de Deus. E para aperfeiçoar o caráter de Jacó à maturidade, enquanto ele estava sozinho em Jaboque, ocorre a luta mais estranha da história, que foi travada na escuridão e sem nenhum espectador.

Então, no meio da noite, um Ser sobrenatural desce e luta com Jacó. Esse Ser, identificado como Deus, provavelmente era Jesus Cristo pré-encarnado, que era o “Verbo” que estava com Deus Pai no princípio, e também era Deus (João 1:1-3, João 1:14). Esse Ser não poderia ser Deus Pai, pois foi visto por Jacó e o apóstolo João declarou que “Deus nunca foi visto por alguém” (João 1:18) — esta passagem está claramente se referindo ao Pai. (Para saber mais sobre a natureza de Deus Pai e de Jesus Cristo, peça ou baixe nosso guia de estudo bíblico gratuito Quem é Deus?).

A princípio, pode ser que Jacó não sabia quem era seu oponente, mas antes do fim daquela luta, ele discerniu Sua identidade, pois mais tarde O chama de Deus (versículo 30). Mas, por que Deus queria lutar com Jacó? Talvez fosse melhor fazer as seguintes indagações: Por que Jacó continuou a lutar quando descobriu que estava lutando com Deus? Qual seria o sentido de lutar com Deus? Sem dúvida, Deus poderia vencer facilmente Seu oponente ou, se quisesse, também poderia simplesmente empatar ou entregar a luta. Mas, de qualquer forma, continuar aquela luta parecia ser algo em vão. Então, por que Jacó continuou lutando? Na verdade, não temos como saber ao certo.

Talvez simplesmente fosse porque Deus queria lutar com ele — como um teste da perseverança e da atitude de Jacó. Essa luta livre, vista nesse contexto, parece ter sido um teste de submissão: Será que Jacó se submeteria e continuaria lutando, mesmo sendo em vão, apenas porque Deus queria assim? Além disso, pela conclusão da história, também fica evidente que Jacó queria muito aquela bênção de Deus. E ao que parece, Deus queria saber o quanto ele desejava isso. No final, Jacó demonstrou seu profundo sentimento de inteira confiança na bênção de Deus. E ele mostrou que se agarraria a tudo o que Deus tivesse planejado para sua vida por essa bênção. Ao confrontar Esaú e quaisquer outros obstáculos que enfrentasse mais tarde, ele não mais se apoiaria em sua própria astúcia e engenhosidade. Ele sabia que tinha que confiar somente em Deus.

À medida que a luta avançava, Cristo percebeu que não está prevalecendo contra Jacó. Contudo, isso não significa que Jacó estava ganhando a luta, mas simplesmente que ele ainda não tinha desistido e continuava lutando. Então, Cristo torna a continuidade da luta muito mais difícil para Jacó ao golpear seu quadril. E mesmo assim, sentindo dor e chorando (Oséias 12:3-4), Jacó não desistiu da luta. Finalmente, ao raiar do dia, Cristo diz a Jacó para deixá-Lo ir. Mas Jacó Lhe diz que não O deixará ir até receber Sua bênção. Certamente, isso não poderia ser caracterizado como desobediência, apesar de parecer isso. Na verdade, tudo indica que Jacó compreendeu que o propósito de Deus envolvê-lo naquela luta tinha a ver com essa bênção.

Por isso, precisamos ter fé nas promessas Deus até Ele nos abençoar — pois é exatamente isso que Deus nos diz para fazer. E ao fazer isso, Jacó prevaleceu com Deus e recebeu o nome de Israel, que significa “'príncipe que prevalece com Deus”. Mas isso não significa que Jacó ganhou aquela luta. Na verdade, a luta terminou antes que qualquer um deles fosse derrotado. Evidentemente, Cristo poderia ter derrotado Jacó a qualquer momento. Mas esse não era o Seu desejo — nem o objetivo. A ideia era ver se Jacó poderia perseverar com Deus diante de adversidades. E ele conseguiu fazer isso. Então, quem ganhou a luta, Jacó ou Cristo? A verdade é que ambos ganharam. Mas, Deus sempre prevalece. E agora Jacó prevaleceu com Ele. E isso precisa acontecer também conosco.