Comentário Bíblico: Gênesis 6

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Comentário Bíblico

Gênesis 6

Os Filhos de Deus, as Filhas dos Homens e os Gigantes

Alguns têm ensinado que o sexto capítulo de Gênesis descreve anjos caídos tendo relações sexuais com mulheres e gerando gigantes meio-demônios. Mas, na verdade, há uma explicação mais racional sobre isso.

O Manual Bíblico de Halley afirma que “os 'filhos de Deus' (Gênesis 6:2) pensa-se terem sido ou anjos decaídos... ou pessoas de evidência das famílias setitas que se misturaram pelo casamento com os ímpios, descendentes de Caim” (Editora Vida Nova, 4ª edição, p. 72) . A primeira possibilidade oferecida aqui não é realmente possível, embora os anjos sejam referidos como “filhos de Deus” em Jó 38:7 porque Deus é o “Pai” deles através da criação. Os anjos são seres espirituais (Hebreus 1:7), e não criaturas físicas. Eles não se casam nem se reproduzem sexualmente (comparar Lucas 20:34-36). Além disso, essa explicação violaria o princípio esclarecido no primeiro capítulo de Gênesis de que cada espécie se reproduz apenas “conforme a sua espécie”. Além disso, Jesus, já ressuscitado, explicou que “anjos caídos”, ou demônios, não são capazes de se manifestar fisicamente como Ele e os anjos justos (Lucas 24:39; comparar os versículos 40-43; Gênesis 18:1-8, 16; Gênesis 19:1). Em vez disso, nas Escrituras vemos que os demônios são capazes apenas de possuir pessoas ou se manifestar como aparições fantasmagóricas.

A segunda explicação do Manual Bíblico de Halley é muito mais razoável e se encaixa melhor no contexto dessa passagem. O quarto capítulo de Gênesis conta a história de Caim e Abel e segue com a descendência genealógica de Caim. O quinto capítulo Gênesis é chamado de “o livro das gerações de Adão” (versículo 1). Ele começa com Deus criando Adão e com a sequência da linhagem de Adão até Sete. Assim como os anjos, Adão era um “filho de Deus” pela criação (comparar Lucas 3:38) — embora Adão era ainda mais que isso porque foi feito à imagem de Deus (Gênesis 1:26; Gênesis 5:1-3). Sobre essa linhagem de família, através de Sete, declara-se: “Então, se começou a invocar o nome do SENHOR” (Gênesis 4:26) — que também poderia ser traduzido como “chamado pelo nome do SENHOR”. Em seguida, no sexto capítulo de Gênesis, vemos “os filhos de Deus” (homens da linhagem piedosa de Sete, de acordo com essa explicação) se casando com “as filhas dos homens” (mulheres da linhagem ímpia de Caim).

Ainda há até uma terceira possibilidade, a de que o termo “filhos de Deus” deveria ser traduzido como “filhos dos deuses”, pois ali a palavra hebraica elohim, plural na forma, às vezes pode se referir a falsos deuses em vez do verdadeiro Deus. Nessa explicação, homens maus, chamados de filhos dos deuses (ou adoradores pagãos ou talvez homens que se diziam semideuses), “tomaram” à força mulheres inocentes como esposas — talvez um exemplo do comportamento perverso daquela época.

Em todo caso, fica claro que o problema aqui eram os seres humanos — e não os anjos. Deus disse: “Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem” (Gênesis 6:3) e “destruirei, de sobre a face da terra, o homem que criei” (versículo 7). Assim, os gigantes mencionados devem ter sido seres humanos também — descendentes de Adão e Eva (comparar Atos 17:26). Essas pessoas de grande estatura foram destruídas no dilúvio. Contudo, mesmo após o dilúvio, ainda restavam seus descendentes, assim como os de todos os outros no mundo pós-diluviano de Noé — novamente, não eram anjos (comparar Deuteronômio 2:20-21; 3:11). Como no caso de Golias, a quem Davi matou. Ele tinha quase três metros de altura (1 Samuel 17:4). Mesmo assim, ele ainda era apenas um homem (versículos 24-25, 33) — e não um ser híbrido, humano-demônio.

O Mundo Antediluviano

O mundo antediluviano deve ser um assunto de interesse para todos os cristãos que vivem no fim dos tempos, pois Jesus conectou explicitamente as condições do tempo do fim com aquela época que antecedeu o dilúvio (Mateus 24:38).

O sexto capítulo de Gênesis apresenta o panorama de um mundo pré-diluviano repleto de violência, que era a consequência natural de um coração humano completamente motivado por propósitos malignos. Como diz o versículo 5: “E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente”. Todas as motivações do homem eram inclinadas ao mal. A intenção contínua do homem era a busca de propósitos ímpios. Assim como é dito em Provérbios 23:7: “Porque, como imaginou na sua alma, assim é”. E, do mesmo modo, Jesus foi bem claro: “Porque do coração procedem os maus pensamentos” (Mateus 15:19). Entretanto, Jesus também nos diz que, apesar dos males aterradores e da evidente degeneração social, as pessoas da época de Noé continuaram vivendo normalmente sua vida cotidiana, “comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento”, aparentemente alheios ao estado miserável de seu mundo. E é justamente isso o que o pecado faz — aos poucos, ele vai tornando a pessoa insensível em relação à situação degradante do mundo ao seu redor.

Em muitos aspectos, nosso mundo moderno, frenético e pulsante do século vinte e um já se encontra ou está próximo dessa mesma condição do mundo antigo de Noé. Isso é perceptível ao analisarmos nossa atual sociedade. A violência e a depravação estão por toda parte — e até são consideradas muito lucrativas e divertidas. Por exemplo, os esportes e o entretenimento mais populares estão repletos de conflitos, brutalidade, violência e assassinato. As notícias diárias informam constantemente sobre crimes. As ruas de nossas cidades são áreas de derramamento de sangue e de assaltos. O sexo e a sensualidade, além de estarem sempre presentes em nosso cotidiano, têm sido impostos a nós por meio das celebridades deste mundo, que se envolvem e promovem um erotismo aberto e um estilo de vida “alternativo” e perverso. Além disso,  mulheres seminuas são usadas para vender de tudo, de veículos a assistência médica. Hoje em dia, tornou-se comum casais não casados viverem juntos e, estatisticamente, cerca de metade de todos os casamentos terminam em divórcio. Apesar dessa prometida “liberdade” da revolução sexual, a violência contra as mulheres e a pobreza das famílias chefiadas por mulheres solteiras estão em níveis recordes. As crianças estão sendo abusadas e exploradas em uma escala realmente chocante. À medida que essas condições pioram, cada vez mais se tornam visíveis os sinais que Jesus disse que marcariam os últimos dias.