Comentário Bíblico: Gênesis 9

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Comentário Bíblico

Gênesis 9

A Aliança Com Noé

Tudo indica que Deus modificou a natureza dos animais que embarcaram na arca para que pudessem viajar com Noé e sua família. Evidentemente, assim que foram desembarcados da arca, Deus devolveu a esses animais sua natureza original. Nessa ocasião, Ele também delegou a administração da pena de morte ao homem. Ao mesmo tempo, Deus permitiu que voltassem a comer carne (versículo 3).

Alguns consideram isso como prova de que os homens eram vegetarianos antes do dilúvio. Contudo, Abel sacrificou um animal e, como mostra Levítico, partes desses sacrifícios serviam de alimento. Além disso, o apóstolo Paulo explicou mais tarde que alguns animais — aqueles que a Bíblia chama de “limpos” (ver Levítico 11; Deuteronômio 14) — foram criados para servirem de alimento (1 Timóteo 4:3-4). Sem dúvida, no sétimo capítulo de Gênesis, antes do dilúvio, já vimos essa distinção entre animais limpos e imundos — isto é, comestíveis e incomestíveis. Por que haveria uma distinção naquele tempo se animais não serviam de alimento? Assim, parece que Deus estava simplesmente dizendo a Noé e sua família que não havia problema em voltar a comer animais — o que provavelmente significa que eles não estavam autorizados a matar e consumir nenhum animal na arca enquanto estivessem a bordo dela. Talvez porque isso teria extinto algumas espécies antes que tivessem a chance de se multiplicar abundantemente após o dilúvio.

E Deus também estabeleceu uma aliança especial com o homem, prometendo nunca mais enviar um dilúvio universal. Como sinal dessa promessa, Deus “colocou” o arco-íris no céu (versículo 13). O termo hebraico traduzido como “tenho posto” é nathan, que significa oferecer. Isso levou alguns a sugerir que o arco-íris nunca tinha sido visto antes. Se essa ideia fosse verdade, isso significaria que Deus ou modificou as leis da física que governam a óptica, pois um arco-íris é apenas o resultado da refração da luz através de gotículas de água no ar, ou alterou a atmosfera da Terra, talvez removendo algum tipo de camada superior de vapor, que antes modificava a caraterística da luz que atingia a superfície terrestre. Esse tipo de dossel de vapor pode ajudar a explicar a chuva de quarenta dias e quarenta noites quando as “janelas dos céus se abriram” (Gênesis 7:11-12). E isso pode ter constituído as “as águas [que estavam] sobre o firmamento” em Gênesis 1:7 (ARA).

A Maldição de Canaã

Algumas décadas após o dilúvio (tempo suficiente para os filhos de Noé gerarem seus próprios filhos e para que esses netos crescessem), Noé tornou-se agricultor, cultivando uvas e fazendo vinho. Um dia Noé bebeu muito vinho, ficou bêbado e se deitou nu dentro da sua barraca e assim, segundo a Bíblia, sua nudez foi descoberta. Essa expressão é usada em Levítico 18 para denotar relações sexuais. E Cam, filho de Noé, viu seu pai nu e contou para seus irmãos, que foram até lá e o cobriram sem olhar para ele. Quando Noé acordou, ele soube do que aconteceu e lançou uma maldição sobre Canaã, o filho mais novo de Cam. Mas, por que Canaã foi amaldiçoado?

O versículo 24 afirma que Noé “soube o que seu filho menor lhe fizera”. Geralmente, isso é interpretado como significando que Noé “soube o que seu filho menor [Cam] lhe fizera”. Entretanto, se Cam fosse culpado de algum erro, poderíamos supor que Noé o teria amaldiçoado ou a sua descendência, o que implicaria todos os seus descendentes ou talvez o filho mais velho e sua família, em vez de apenas o filho mais novo de Cam, Canaã, e aqueles que descenderiam dele. Portanto, o cenário mais provável é que o próprio Canaã tenha cometido esse erro — aparentemente algum pecado sexual contra Noé enquanto este estava embriagado —, que foi descoberto por Cam. Assim, o versículo 24 provavelmente deve ser entendido que Noé “soube o que o filho mais novo de Cam, Canaã, havia feito com ele” — sobretudo se considerarmos atentamente o que ocorreu no versículo 23.