Então, O Que Você Vê?
Quando se deseja aceitar plenamente o convite de seguir a Jesus Cristo é importante ver as pessoas da mesma maneira que Ele viu, para podermos continuar a crescer espiritualmente.
Eu estou falando mais do que manter nossos olhos físicos abertos. Devemos ter certeza de que a lente do nosso coração continua aberta para capturar continuamente a essência do que Cristo vê nas pessoas.
É muito típico do ser humano fazer julgamentos precipitados sobre os outros em uma única olhada e classificar as pessoas a esmo. Também é igualmente humano julgar as pessoas com base em suas ações, que podem parecer aparentemente corretas, em vez de apreciar o que está acontecendo no interior delas.
Cristo entendeu o quanto é importante para nós confrontarmos continuamente esta realidade humana e, portanto, em certa ocasião, aceitou um convite para um jantar em Cafarnaum para nos ajudar a aprender a ver os outros através de Seus olhos e para que também examinemos a nós mesmos.
Interrupção no jantar com Jesus
Entramos com Cristo no jantar preparado por Simão, o fariseu (Lucas 7:36). Jesus tinha passado recentemente por Samaria e Galileia, Seus ensinamentos, milagres e reputação O precediam—incluindo uma ressurreição dos mortos realizada na aldeia vizinha de Naim (Lucas 7:11-17).
Também corria boatos de que Ele gostava de festejar com pecadores e cobradores de impostos (versículos 33-34). Para muitas pessoas, essas histórias contrastantes tanto eram maravilhosas como também um enigma intrigante. Jesus de Nazaré não parecia ser um simples rabino. Assim, Simão Lhe fez esse convite para conhecê-Lo melhor.
Era costume convidar um rabino à casa para que compartilhasse mais de seus ensinamentos, e, muitas vezes, os vizinhos se aglomeravam na porta para ouvi-lo. Não se tem conhecimento dos motivos de Simão convidar Cristo para sua casa, mas sua inospitalidade, registrada neste relato, oferece evidências de um possível desdém para com o seu convidado.
Simão, Jesus e os outros presentes ao jantar provavelmente estavam comendo e conversando à maneira daquela época—ao redor de uma mesa em forma de ferradura.
De repente, todos os olhares se viram para outro lugar. Todas as atenções se voltam para o centro da sala, de onde surge um convidado inesperado. Todos ficam espantados.
À sua maneira, Lucas descreve vividamente a cena: “E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora . . .” (Lucas 7:37). A Bíblia na Linguagem de Hoje se refere a ela como uma “mulher de má fama”.
Há pouca margem para a imaginação. Quem ela pensa que é aparecendo sem convite a um jantar da fina sociedade? Mas ela está ali somente por um motivo: Ela sabia que Jesus estaria ali e é só isso que ela precisava—nada mais importa!
Um ato chocante
E agora todos passam a olhar mais atentamente para algo que está acontecendo. O que ela está fazendo? Ela carrega um vaso de alabastro com óleo perfumado. Em seguida, ela se ajoelha aos pés do rabino e começa a chorar, suas lágrimas úmidas caem sobre Seus pés.
Então ela faz o impensável para uma mulher judia adulta. Ela usa seus longos cabelos como toalha para secar carinhosamente os pés dEle. Então, ela beija afetuosamente Seus pés depois de lavá-los.
Falando sobre esse momento como se expressa hoje em dia: Ela estava “intimamente próxima”.
Em seguida, ela usa mais óleo refrescante e relaxante para esfregar Seus pés (versículos 37-38). Esta mulher ofereceu cada fibra do seu ser e era como se nada estivesse entre ela e aquele a quem ela servia.
Ela não se importava com quem estava lá ou o que pensavam. É como se nada mais no mundo importasse ou existisse. Houve essa incrível conexão para que todos que tivessem olhos espirituais pudessem ver. Ela estava derramando-se em sacrifício grato a quem ela servia.
No entanto, Simão, o fariseu estava chocado. Como essa pessoa intocável pode ir até à sua casa e fazer uma coisa dessas, enquanto as pessoas honradas olhavam?
Certamente essa cena respondeu à sua pergunta sobre se Jesus era um homem de Deus. Pois, pensou ele, um verdadeiro profeta de Deus jamais permitiria que um pecador pudesse tocá-Lo (versículo 39).
Sua conclusão estava conforme os conceitos da seita farisaica da qual fazia parte, pois fariseu significa aqueles que foram “separados” de qualquer coisa considerada ímpia.
“Simão, uma coisa tenho a dizer-te”
Então, Jesus fixa os olhos em Seu anfitrião e o chama pelo nome: “Simão, uma coisa tenho a dizer-te” (versículo 40). Imagine aqueles olhos e aquela voz falando diretamente para você!
Ele passou a compartilhar um conto de dois homens que estavam endividados, mas que tinha diferentes níveis sociais, porém ambos eram incapazes de pagar o que deviam, mas o credor perdoou suas dívidas. Jesus concluiu, perguntando qual deles amaria mais a seu credor (versículos 41-42).
Com sensatez, Simão respondeu: “Tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou”. E Jesus respondeu: “Exatamente!” (versículo 43). A lição para Simão era a seguinte: Pense bem—você entende por que esta mulher demonstra tamanho apreço por Ele?
Simão ainda não tinha entendido completamente. Jesus, então, audaciosamente, perguntou-lhe: “Vês tu esta mulher?” (versículo 44).
Ou seja, dê uma boa olhada nela! Abra sua mente! Abra seu coração cego! Ela fez o que você devia ter feito e não fez por causa de suas dúvidas hipócritas sobre Mim. Ela fez tudo o que você deveria fazer como anfitrião, mas suas dúvidas e medos fizeram-no recuar. Eu era seu convidado. Você nem sequer recebeu-Me adequadamente, sendo esse o seu papel, com um beijo pacífico de boas-vindas, com água para lavar os Meus pés após um longo dia nas estradas poeirentas ou com um toque refrescante de um óleo suave (versículos 44-46). Esta mulher derramou tudo isso sobre mim com profunda humildade e gratidão.
Essa acusação contrastante foi surpreendente. Jesus concluiu Sua lição para Simão com esta declaração: “Por isso, te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado [isso é você, Simão, e aqueles que são como você], pouco ama” (versículo 47).
Ele, então, voltou o Seu olhar para a mulher e disse: “Os teus pecados te são perdoados” (versículo 48).
Ele assustou todos na sala, que comentavam entre si e perguntavam: “Quem é este, que até perdoa pecados?” (versículo 49). Só havia uma resposta possível para aceitar ou rejeitar : Jesus era Deus na carne! Ele era o Emanuel profetizado, que significa “Deus conosco” (ver Isaías 7:14; Mateus 1:23). Ele mais uma vez voltou Seu olhar para a mulher e lhe afirmou: “A tua fé te salvou; vai-te em paz” (Lucas 7:50).
Nesse relato comovente temos um ambiente com muitos personagens a quem possamos dirigir nossos olhares. O que lhe chamou a atenção? O que você viu?
Vamos considerar o campo de visão dado pela história: Cristo a entrar pela porta da casa de Simão; Cristo divertindo-se com as conversas animadas à mesa do banquete; a mulher secando os pés de Cristo com os seus cabelos; a expresso de descrença no rosto de Simão; o sorriso no rosto da mulher quando escuta que “seus pecados estão perdoados!”.
Precisamos de uma visão introspectiva
Gostaria de sugerir que onde os nossos olhos precisam de estar fixados é precisamente sobre nós mesmos! O poder desta história é para nos ajudar a reconhecer a nossa incapacidade sem a obra redentora e restauradora contínua de Deus Pai através de Jesus Cristo.
Provérbios 14:12 diz: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. Isso é ainda mais trágico quando diz respeito àqueles que pensam que são verdadeiramente submissos a Deus e que pensem que seguem Seus caminhos, mas que na verdade não estão a segui-Lo.
Há algo na natureza humana e até mesmo nas pessoas religiosas sinceras, como Simão, o fariseu, que não compreende totalmente o que o apóstolo Paulo categoricamente afirmou: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Romanos 7:18).
Lamentavelmente, através de nossos pensamentos, palavras e ações, podemos enviar uma mensagem alta e clara para Deus e para os outros que, nas profundezas de nosso coração, achamos que Deus enviou o Seu Filho para morrer por todos, mas não por nós. Por nossa falta de humildade como Simão, o fariseu, estamos afirmando: “Eu não preciso disso!”.
Mas, na verdade, precisamos muitíssimo! A realidade do cristianismo é que Deus enviou Seu Filho aqui na terra não para simplesmente tornar os homens melhores, mas para permitir que “pessoas que andam por aí mas que estão mortas espiritualmente” possam viver pela primeira vez.
A “mulher . . . que era uma pecadora” sabia exatamente quem ela era, ou seja, ela não era nada, mas uma pessoa morta sem ter o que Cristo oferecia. Era por isso que ela estava expressando amor e gratidão da melhor maneira que sabia. Por outro lado, o coração orgulhoso de Simão estava morto desde o início.
Aprenda a lição desta história. Em primeiro lugar, sempre precisamos nos lembrar de onde Deus nos encontrou e como permitiu que nos aproximássemos tão intimamente, assim como a mulher dessa história.
Cristo veio buscar e salvar o perdido
Esta poderosa lição não passou despercebida pelo autor do Evangelho, Lucas, quando escreveu o que tinha ouvido falar sobre este encontro em Cafarnaum. Em outro lugar, ele pela orientação do Espírito Santo de Deus, registrou as parábolas de Jesus sobre o desejo de Deus em recuperar aquele que está perdido (Lucas 15).
E, em Lucas 19:10, ele citou esta declaração de Jesus para todos nós, para fixarmos nossos olhos nisso para o nosso bem-estar espiritual: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Somos nós! Fomos resgatados de nós mesmos e Ele recebeu a pena.
Na verdade, o relato do Evangelho de Lucas contém muito sobre os gentios, as mulheres, os leprosos e outros que estavam marginalizados por aqueles que achavam que estavam muito bem diante de Deus, pois pensavam que eram importantes e o que faziam estava aparentemente correto.
Claro, todos nós temos que enxergar que precisamos de nos reconciliar com Deus —e devemos procurar ajudar os outros a verem isso.
Há muito tempo, Cristo entrou por aquela porta em Cafarnaum para nos ensinar uma importante lição de como responder àqueles que, hoje em dia, convivem conosco. Simplificando, como diz o velho ditado: “Não julgue um livro pela capa”. Ele nos mostrou o exemplo de que não devemos julgar as pessoas por sua origem, mas como estão decidindo seguir o chamado de nosso Pai Celestial.
Devemos concluir com três perguntas simples:
1. Será que são as opiniões dos outros, seus olhares desdenhosos e seus corações frios que estão nos impedindo de servir a Cristo de todo o coração?
2. Alguns pensamentos, inclusive os nossos mesmos, têm nos distanciado de nosso Mestre quando Ele deseja que nos aproximemos o máximo próximo possível em pensamento, motivação e ação para experimentar total e completamente Sua presença?
3. Nos próximos dias, com que olhos você estará interagindo com as pessoas que convivem ao seu redor—com os de Simão, o fariseu, ou os de Jesus Cristo? Saiba, com certeza, que essa lição diz respeito a seu modo de vida! BN