O Custo de Ser Discípulo
Você Próprio!
Talvez você já tenha ouvido a história da galinha que propôs à vaca preparar o café da manhã para o dono da fazenda. Alegremente, a vaca respondeu: "Eu topo! O que vamos dar a ele?" A galinha respondeu: "Eu providencio os ovos e você a carne".
O semblante da vaca mudou ao perceber as implicações desse convite. Ela, com tristeza, respondeu à galinha: "Para você isso seria devoção, mas para mim significaria um sacrifício total." E foi embora.
Esta fábula serve como introdução significativa para mergulharmos nas profundezas da exortação de seguir a Jesus Cristo (João 10:27). Isso nos leva a uma série de conversas que Jesus teve com três possíveis discípulos. Aparentemente, eles também estavam preparados para responder a um convite, mas, como a vaca, se detiveram no caminho quando confrontado com a totalidade da entrega exigida pelo discipulado.
Encontramos essa série de diálogos no Evangelho de Lucas em um momento importante do ministério terreno de Cristo. Lucas 9:51 descreve isso como um "firme propósito de ir a Jerusalém". Agora Seu tempo estava curto. Ele ansiou pelo total comprometimento daqueles que o rodeavam quanto ao restante de Sua jornada terrena. Seria melhor ter poucos com muita determinação em permanecer do que uma grande comitiva de indivíduos inconstantes, que se hesitariam ao primeiro sinal de perigo.
Jesus deixa muito claro aqui que há um custo para se tornar Seu discípulo—você próprio! E que isso vai lhe custar todo o seu ser.
Desculpas para rejeitar o grande convite
Lucas escreveu o seguinte: “E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (versículos 57-58).
À Sua maneira natural, Jesus estava sendo completamente honesto sobre o futuro daquele homem, caso aceitasse o convite de segui-Lo. O pretenso seguidor teria que entregar seu futuro a Cristo em território desconhecido por ele, mas conhecido por Deus. O chamado ocorreu naquele momento. O convite estava lá. Mas nós nunca ouvimos falar do homem novamente nos Evangelhos.
Jesus então convidou outro potencial discípulo, dizendo: "Siga-me". Mas esse homem respondeu: “Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai. Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu, vai e anuncia o Reino de Deus" (versículos 59-60). Esta afirmação pode parecer uma resposta extremamente insensível à luz da natureza generosa e bondosa de Jesus. Porém, o que está acontecendo aqui?
O entendimento geral a respeito desta declaração é que o homem está dizendo a Jesus: "Infelizmente, o momento não é apropriado. Eu tenho um pai idoso. Quando ele estiver morto e enterrado, então depois eu vou ao Seu encontro”.
A resposta contundente de Jesus tem o objetivo de esclarecer um ponto que vital—o momento da decisão é agora. O tempo do seu chamado pessoal e de sua resposta não é amanhã, é agora. Até agora, temos dois pretensos discípulos—um consumido pelo medo do futuro e outro preocupado com o presente.
Entretanto, há mais um discípulo em potencial e mais um aspecto da vida a considerar. O versículo 61 declara: "Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa"—ou seja, ao parafrasear lemos: "Eu não estou pronto. Simplesmente, esse não é o momento de segui-Lo. Eu tenho que cuidar de alguns assuntos antigos e pendentes antes de segui-Lo".
Mas Jesus lhe disse: "Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus" (versículo 62). Isso parece ser uma referência a um exemplo bíblico de discipulado bem conhecido na época—o exemplo de Eliseu, que deixou para trás sua vida de arar a terra e seguiu a Elias. Rapidamente, Eliseu se despediu de seus pais e, em seguida, abateu os bois e queimou seu arado para cozinhar a carne para dar aos outros e partiu para seguir a Elias (1 Reis 19:19-21).
Essa referência de olhar para trás também pode ser uma menção ao destino da esposa de Ló, que rejeitou o convite de Deus do livramento físico, olhando para o que lhe foi dito para deixar para trás (Gênesis 19:15-17, 26).
De qualquer forma, a declaração de Cristo tinha a intenção de abrir os olhos daquele homem quanto ao apego às coisas passadas, quando Cristo estava lhe oferecendo um futuro em Seu reino eterno.
Quais as lições que podemos tirar dessa história fictícia da fazenda e da interação na vida real entre Jesus e os, aparentemente sinceros, aspirantes a discípulos? Vamos nos concentrar em dois pontos específicos.
Arriscar toda a pele no jogo
Em primeiro lugar, o cristianismo não é um caminho de meias-medidas da nossa parte, mas um sacrifício total de todas as partes do nosso ser. Diz respeito a "colocar a nossa pele em jogo", como diz a expressão (como pensou a vaca) e ter fé que Deus suprirá nossas necessidades. Significa entregar o passado e toda a nossa vida a Deus (e não apenas as partes convenientes), e Lhe dizer: “Senhor, sou todo Seu”—cada capítulo e época de toda a minha vida agora e no futuro.
Alguns podem estar segurando partes de suas vidas, pensando que estão sendo honestos com Deus e consigo mesmos. Alguns podem ter deixado de lado o passado através do arrependimento, mas são instáveis diante de novos desafios e da vida cotidiana com receio de pisar em um futuro totalmente entregue a outra pessoa—ou seja, Deus.
Jesus Cristo disse para segui-Lo. Devemos seguir Seu exemplo perfeito para nós. O discipulado nos tempos bíblicos não era apenas uma questão de passar o "conhecimento intelectual" do instrutor para o aluno. Em vez disso, o discípulo tinha que imitar seu mestre e professor em cada aspecto da vida até se tornar como seu mestre. Da mesma forma, nós devemos nos tornar como nosso Mestre, Jesus Cristo.
Então, pondere como Cristo "arriscou totalmente a Sua pele" quando "o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (João 1:14). E esse grande sacrifício de desistir de tudo está definido em Filipenses 2:5-9:
"A atitude de vocês deve ser semelhante àquela que nos foi mostrada por Jesus Cristo, que embora Deus, não exigiu nem tampouco Se apegou a seus direitos como Deus, mas pôs de lado seu imenso poder e sua glória, ocultando-se sob a forma de escravo e tornando-se como os homens. Se humilhou ainda mais, chegando ao ponto de sofrer uma verdadeira morte de criminoso numa cruz. Contudo, foi por causa disso que Deus O elevou até às alturas do céu e Lhe deu um Nome que está acima de qualquer outro nome" (A Bíblia Viva, 1996).
Nosso Pai Celestial e Cristo quiseram nos dar algo de especial—o dom da vida eterna. Esse dom da vida custaria a vida Daquele conhecido como o Verbo. Ele não voltaria atrás, mas cumpriria Sua palavra de "dá a Sua vida pelas ovelhas" (João 10:15).
Vamos compreender totalmente isso: Em essência, ser discípulo de Cristo significa "se entregar plenamente a esse caminho" de fé que Deus vai apresentar a nossas vidas para nos preparar para o Seu Reino eterno. O sacrifício total não é opcional. É uma exigência. Seguir a Cristo deve vir antes de tudo na vida. Esse é o custo do discipulado—o custo que devemos calcular antes de nos submeter a Ele (Lucas 14:25-33).
Devemos nos lembrar de que o sacrifício total é base de seguir um mestre. Podemos ter confiança em Jesus porque Ele nunca vai nos pedir nada que Ele mesmo não tenha feito. Ele se esvaziou da glória divina e poder para nos dar o exemplo de desapego do nosso passado. Se não formos capazes de abandonar esse passado, podemos ficar frustrados pelas dificuldades do presente ou paralisados quanto a um futuro que não planejamos para nós.
Nosso sacrifício contínuo
Em segundo lugar, o cristianismo significa responder ao chamado para seguir a Cristo e depois ser separado para o discipulado. Por favor, entenda: Tornar-se um discípulo não é um acontecimento, mas uma experiência por toda a vida. Isso não acontece por acaso. Com o tempo, vamos sendo ensinados e amoldados—individualmente a cada lição pessoal.
Às vezes a gente pode dizer: "Senhor, por favor, chega de lições!" Mas Deus sabe o que está fazendo a cada passo do caminho. Ao contrário daquelas pessoas mencionadas nos Evangelhos, que não estavam preparadas para responder a esse convite, devemos permanecer abertos, disponíveis e dispostos a participar desse discipulado contínuo de Cristo na sala de aula da vida.
Por quê? É importante salientar o que Cristo, já ressuscitado, disse em Apocalipse 3:20: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, Comigo". Vamos ponderar nesse importante tema aqui. Ele está falando para Sua Igreja (ekklesia—aqueles que já foram "chamados", como denota literalmente essa palavra grega). No entanto, Ele continua batendo à porta do nosso coração em Seu tempo e propósito determinados com um convite ininterrupto para nos tornarmos como Ele.
Esse chamado nem sempre vem em momento conveniente para nós ou em um tempo que possamos entendê-lo completamente. Deus deixa isso muito claro em Isaías 55:8: "Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos, diz o Senhor”.
Então, devemos estar prevenidos e preparados, pois o discipulado vai custar a si mesmo No entanto, o custo de rejeitar a Cristo e ao caminho de vida que Ele oferece é muito maior no final.
Para ajudar a esclarecer esse ponto, vamos analisar uma história sobre um missionário da Índia, chamado Sadhu Sundar Singh, no início do século vinte. Conta-se que Singh e um companheiro estavam viajando através de uma passagem na montanha do Himalaia quando se depararam com um corpo deitado na neve. Singh queria parar e ajudar o homem, mas seu companheiro se recusou, dizendo: "Vamos perder nossas vidas se nos sobrecarregarmos com ele".
No entanto, de acordo com a história, Singh não pensa em deixar o homem morrer. Como seu companheiro despediu-se dele e seguiu em frente, Singh levantou o pobre viajante e o pôs em suas costas. Com grande esforço, ele carregou o homem, então aos poucos o calor do corpo de Singh começou a esquentar o coitado congelado, que recobrou os sentidos. Logo ambos estavam caminhando juntos, lado a lado. Mais tarde, eles encontraram o ex-companheiro de Singh—estava congelado pelo frio.
Alguns questionam a veracidade dessa história, pois não podemos saber com certeza se isso realmente aconteceu. Entretanto, essa história nos transmite uma lição importante.
Nesta história, Singh estava disposto a perder a vida para socorrer ao seu próximo e assim o resgatou, enquanto seu companheiro insensível procurou preservar sua própria vida, mas a perdeu. Esta história ilustra as palavras de Cristo em Mateus 10:39: "Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á". Claro, a conclusão final dessa vida será no futuro Reino de Deus.
E a história ainda nos diz o seguinte: 1) temos de aceitar prontamente o convite e pensar além do momento presente e 2) devemos colocar nossa a pele em jogo, sem pensar em ganho próprio nesta vida.
Então, que parte de sua vida que você ainda não entregou a Deus? Ficar paralisado em nosso passado, aprisionado no presente ou frustrado com o que pode acontecer no futuro vai dificultar a nossa capacidade de estar pronto para aceitar o convite de seguir a Cristo. Ele pode bater insistentemente, mas nós é que temos que estar dispostos a abrir a porta e apresentar nossos “corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).
Talvez seja a hora de considerar o custo. Lembre-se que o custo é alto—todo o ser. E o discipulado vai custar sua entrega total! Mas, quando analisar isso, lembre-se que Jesus nunca disse que seria fácil—mas prometeu que iria valer a pena! BN