O Desastre da Dívida dos Estados Unidos da América
Muitos viram o impasse crescente no Congresso dos Estados Unidos entre os republicanos conservadores e democratas liberais.
Esse impasse deplorável ocorrido no final de julho, durante as negociações para elevar o teto da dívida pública federal dos Estados Unidos a partir dos atuais $14,3 trilhões para $16,4 trilhões ou mais. A tradição histórica de compromisso no Congresso evaporou-se quando conservadores e liberais democratas se recusaram a ceder suas posições firmes sobre os esforços para cortar bilhões de dólares em gastos federais na próxima década.
Cada lado mantinha-se irredutível apesar do relógio se aproximar da meia-noite do dia 2 de agosto, quando, supostamente, o governo Federal fecharia as portas se um compromisso de teto da dívida não fosse alcançado.
Faltando menos de um dia para se concretizar a ameça do fecho das portas, o congresso conseguiu chegar a um acordo, que elevaria o teto da dívida em um trilhão imediatamente e outros $1,7 trilhões em quatro meses. O aumento no teto da dívida seria compensado por cortes no orçamento ao longo dos próximos dez anos, uma condição exigida pelos deputados republicanos, deixando o quadro mais amplo para cortes orçamentários significativos sob a supervisão de um "super comitê" do congresso composto por seis deputados democratas e seis republicanos.
Eles têm até o final de novembro para desenvolver um plano aceitável para o congresso, com alternativa sendo cortes automáticos de $1,7 trilhão ao longo da próxima década. Desse montante, cerca de metade viria dos gastos com a defesa do país.
As regras básicas para esse super comitê são poucas―tudo está sobre a mesa, incluindo cortes nos programas sociais, tais como a Segurança Social, o Medicare (programa de ajuda médica aos idosos) e o Medicaid (programa de ajuda médica aos que estão em condições críticas de saúde e financeiras). Do lado da receita, o super comitê poderia extinguir certos benefícios fiscais para empresas e cidadãos ricos, um assunto que os republicanos se recusaram a considerar durante as negociações do teto da dívida.
Então o que isso significa para os Estados Unidos?
O que realmente atingiram os cortes?
Após todo o exagero e drama, logo se tornou evidente que os cortes não foram grande coisa. Os cortes reais para o orçamento federal do ano 2012 se somaram apenas entre $21 a $25 bilhões de um orçamento total de $3,7 trilhões―meramente dois terços de um por cento do orçamento.
Com a idéia do super comitê aprovada, o congresso foi capaz enfrentar a escolhas difíceis no caminho. Mas isso não resolveu a crise da dívida, que tem crescido e se tornado uma ameaça para a própria viabilidade do governo dos Estados Unidos, nem ajudou na criação de empregos extremamente necessários em uma economia mergulhada em uma alta taxa de desemprego que já dura três anos.
No entanto, ao se evitar grandes e imediatos cortes no orçamento, provavelmente, salvou certo número de postos de trabalho na ocasião. E alguns economistas argumentaram que uma economia fraca e em recuperação poderia ser ameaçada por grandes cortes de gastos federais. O primeiro semestre de 2011 marcou os seis meses de pior desempenho da economia, desde quando a grande recessão econômica mundial terminou oficialmente em junho de 2009.
Em todo o mundo, os observadores políticos e econômicos rotularam o acordo como o "desastre do orçamento dos Estados Unidos". O congresso mostrou ao mundo um sistema falido que não poderia resolver a realidade da crise da dívida. E, citando o famoso filme “Questão de Honra” (A Few Good Men), eles não poderiam lidar com a verdade.
Mas a maior agência de classificação de risco, a Standard & Poors, compreendeu precisamente que os Estados Unidos não iriam enfrentar a dura realidade de sua imensa dívida pública. A Standard & Poors prontamente rebaixou sua recomendação sobre títulos do Tesouro dos Estados Unidos de AAA para AA+, o primeiro rebaixamento do rating de créditos da história dos Estados Unidos. A notícia repercutiu nas instituições financeiras de todo o mundo, e o mercado de ações dos Estados Unidos caiu.
Mas, como alguns haviam chamado a atenção, os Estados Unidos fez isso a si mesmo!
Os cortes no orçamento foram verdadeiramente insignificantes, e mesmo assim o acordo foi feito, abrindo caminho para um aumento no teto da dívida dos Estados Unidos a partir de seu limite atual de $14,3 trilhões. O risco de default foi evitado por enquanto, o que provavelmente teria efeitos catastróficos sobre o endividamento dos Estados Unidos. Os futuros compradores de títulos do tesouro norte-americano exigiriam juros mais altos para compensar a percepção de que os Estados Unidos, agora o maior devedor do mundo, já não era o devedor mais confiável do mundo.
Ninguém quer admitir a dura realidade
Assim, voltamos à questão do que significa o acordo para o país.
Lembre-se do quadro referido anteriormente―apenas $21 a $25 bilhões foram cortados de um orçamento $3,7 trilhões. A concessão pode ser comparada a uma pequena lombada na estrada dessa dívida desenfreada. O déficit orçamentário de $1,29 trilhões em 2010 foi o maior da história dos Estados Unidos até agora, mas esse déficit seguiu crescendo e alcançou cerca de $1,7 trilhão no ano fiscal de 2011.
Desde o dia 2 de agosto, não houve desaceleração do endividamento do governo. Com a falta de restrições, a dívida rapidamente saltou para 14,7 trilhões de dólares já em 9 de setembro. A rede de TV CNN informou que a previsão é que essa dívida alcance mais de $23 trilhões no ano fiscal de 2021, e depois continuará a subir.
Os juros sobre essa dívida também aumentarão. Os Estados Unidos pagou mais de $383 bilhões em juros sobre a dívida no ano fiscal de 2009, que aumentou para mais de $413 bilhões no ano fiscal de 2010, e tem uma projeção de pagarem $434 bilhões no ano fiscal de 2011.
Com a faixa atual de aumento, e pelas taxas de juros um pouco maior por causa do rebaixamento do rating de crédito, esses juros anuais poderiam facilmente atingir mais de $700 bilhões até 2019. Então, dentro de alguns anos, somente os juros da dívida poderão se igualar ou superar ao atual orçamento da defesa dos Estados Unidos, que é cerca de $665 bilhões de dólares.
Uma dívida galopante forçarão a escolhas dolorosas
Tudo isto tem implicações importantes para o futuro dos Estados Unidos. Isso significa sobrecarregar as futuras gerações de norte-americanos com o pagamento da dívida em curso que não tem previsão de fim. Até o final desta década a grande maioria das receitas fiscais federais está projetada para ser consumida por juros da dívida e pelos pagamentos ao Medicare, à Medicaid e à Segurança Social. Pouco seria deixado para a tão vital defesa nacional e para centenas de outras áreas do governo federal.
O peso da dívida também reduz a capacidade da nação em fazer futuros investimentos em infra-estrutura energética e outras necessidades físicas cruciais. Os Estados Unidos alcançaram a prosperidade após a Segunda Guerra Mundial, isso ocorreu em parte porque houve investimentos em rodovias interestaduais, aeroportos modernos e uma desenvolvida rede elétrica. Mas esta infra-estrutura está se desintegrando.
Por mais de uma década, a Associação Norte-Americana de Engenheiros Civis tem soado o alarme sobre a deterioração da infra-estrutura do país. Em sua estimativa, são necessários 2,2 trilhões para consertar a infra-estrutura dos Estados Unidos. Mas quaisquer fundos para atender a estas necessidades urgentes teriam de ser emprestados, e isso só pioraria o problema da dívida.
Também está reduzida a capacidade da nação de responder à onda de desastres naturais que têm atingido os Estados Unidos este ano. Como uma praga, desastres como o furacão Irene e uma onda destrutiva de tornados que em abril e maio varreu a terra, levando centenas de vidas e causando prejuízos de centenas de bilhões de dólares. O mês de setembro viu incêndios florestais em todo o Texas, atingido pela pior seca em quase um século. Mas a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) está perto da falência, pois sua reserva em caixa é de menos de $800 milhões ao início de setembro de 2011.
Uma visão profundamente perturbadora do futuro
O crescente temor mundial de calote norte-americano dizimou a confiança de milhões de investidores. O valor das carteiras de ações despencou, com as médias em ambos o Dow Jones e o S&P 500 atingindo os pontos mais baixos em dois anos.
Justamente quando a economia precisa desesperadamente do estímulo natural de gastos dos consumidores, milhões de consumidores estão fechando suas carteiras, com medo de gastar e apreensivos sobre o futuro. A frase "dupla recessão" tem sido-se frequentemente utilizada nos últimos tempos.
Três anos após o colapso das hipotecas no outono de 2008, o mercado imobiliário continua cambaleante e até as construtoras se recusam a construir novas casas em um mercado ainda inundado com hipotecas executadas. Os bancos detêm bilhões em dinheiro, mas estão relutantes para conceder novos empréstimos hipotecários. Com a construção de novas casas em níveis deprimentes, o efeito cascata na economia também tem reduzido a demanda por novos móveis e outros itens domésticos.
Os idosos buscando se aposentar e os “baby boomers” vendo com preocupação sua futura aposentadoria por causa do coro crescente de vozes influentes que advogam pela reforma do direito como parte da solução para a crescente dívida dos Estados Unidos.
A Seguridade Social, promulgada em 1930, é amplamente vista como um plano de aposentadoria por milhões de pessoas que não têm outra fonte de renda, uma vez que deixem de trabalhar. Certamente pode-se argumentar que as pessoas que trabalharam toda a vida e pagaram o sistema da Seguridade Social devem obter o retornos desses benefícios. Mas é cada vez mais unânime a ideia de que grandes ajustes nesses programas são inevitáveis se o governo federal não tomar uma decisão séria sobre a redução da dívida.
Em suma, o acordo da dívida evitou temporariamente um desastre, mas só isso. Mohamed El-Erian, que dirige o gigantesco fundo de títulos Pimco, considerou o acordo como incompleto e falho. "Exceto pela extinção do risco de inadimplência proveniente de uma crise auto-fabricada, não há nada de bom sobre a negociação do teto da dívida da América", escreveu ele (citado por Fareed Zakaria, "Falha no Acordo da Dívida" [The Debt Deal’s Failure], Time, 4 de agosto de 2011).
Nenhuma boa escolha―somente escolhas ruins e péssimas
Os economistas são conhecidos por suas divergências sobre a política econômica, mas quase todos concordam que a nação enfrenta agora um dilema simples. Se reduzir os impostos, muitos funcionários públicos e aqueles que dependem de contratos com o governo ficariam sem trabalho. Se aumentar as despesas de modo keynesiano, estimulando a economia, a dívida nacional crescerá ainda mais. Mas grandes cortes nos gastos federais aumentaria as dificuldades para milhões de pessoas que dependem de programas assistencialistas do governo, possivelmente agravando o problema do desemprego e, potencialmente, levaria a economia de volta à recessão. As escolhas são dolorosas.
Talvez mais preocupante do que estas escolhas rígidas é a diminuição dos Estados Unidos aos olhos do mundo.
Fareed Zakaria, indiano naturalizado norte-americano, trabalhou como chefe de redação da revista Foreign Affairs (Relações Exteriores) e como editor da revista Newsweek International antes de se tornar editor-chefe da revista Time e ser âncora de um programa da CNN cobrindo assuntos nacionais e internacionais. Na coluna citada acima, ele demonstrou os prejuízos sofridos no exterior pelos Estados Unidos no recente circo mascarado como política pública:
"O mundo uma vez olhou para os Estados Unidos da América com admiração, como nós construímos um sistema de rodovias interestaduais, criamos a melhor educação pública do mundo, colocamos um homem na lua e investimos nas fronteiras do conhecimento. Mas não é assim que o mundo vê os Estados Unidos hoje.
"As pessoas assistiram ao que aconteceu no mês passado e não podiam compreender. Pegamos em algo que o mundo nunca duvidou―a credibilidade dos Estados Unidos―e esta foi posta em questão. A partir de agora, toda vez que o teto da dívida tiver que ser debatido, o mundo vai perguntar: O Estados Unidos vão conseguir honrar seus compromissos? Será que vai manter sua palavra? O sistema irá quebrar? Nós pegamos no nosso recurso mais precioso, a confiança do mundo, e apostamos com ele".
"Há algo fundamentalmente errado com o Estados Unidos?"
Em todo os Estados Unidos e ao redor do mundo cada vez mais ecoam vozes como a de Zakaria. No The Post Global, um blog de notícias internacionais, o escritor Phillip Balboni posta a questão: "Há algo fundamentalmente errado com o Estados Unidos?"
E ele continua a dizer: "O Estados Unidos estão a passar por um periodo de profundo mal-estar político. Raramente houve na história do país uma situação onde os dois principais partidos estivessem tão amargamente divididos e fossem tão incapazes de chegar a um consenso pelo interesse nacional. Os norte-americanos comuns estão preocupados e profundamente frustrados. Muitos estão com raiva."
Sua Bíblia, acredite ou não, tem algo a dizer sobre a condição econômica dos Estados Unidos. Dedique alguns minutos e leia Levítico 26 e Deuteronômio 28, conhecido como os capítulos das "bênçãos e maldições". Observe especialmente Deuteronômio 28:43-44 e reflita sobre este fato: O Estados Unidos passou da principal nação credora do mundo para a maior nação devedora da história da humanidade, tudo isso no espaço de menos de vinte anos. Esses versículos aqui não parecem ser exatamente a atual situação dos Estados Unidos?
As advertências nesses capítulos descrevem uma série de maldições que, ao ser lidos, se parecem muito com as manchetes nacionais de hoje―calamidades e fracassos agrícolas, doenças, guerras, secas, falhas militares, doenças mentais, sofrimentos emocionais, desordem social, explosão de dívidas e, finalmente, o colapso nacional. É um vislumbre sóbrio e terrível do futuro se os americanos não se acordarem, se não se arrependerem de seus muitos pecados e se não voltarem para o Deus que nos criou e tão abundantemente tem abençoado essa nação por tantos anos. Mas o mesmo é verdade para todas as nações.
A história mostra que o peso esmagador da dívida do governo pode trazer o declínio nacional e a queda. O livro O Declínio e Queda do Império Romano [The Decline and Fall of the Roman Empire], de Edward Gibbon, por quase dois séculos tem sido a obra clássica sobre o porquê da queda de Roma. Gibbon citou excesso de impostos e a dívida pública como uma das principais causas do colapso do império.
Muito além de desastres, um futuro brilhante
O recente acordo sobre a dívida dos Estados Unidos no Congresso não conseguiu resolver o problema do crescimento dessa dívida do país e tudo o mais que prenuncia. Mas a boa notícia é que há esperança. Apesar de os líderes dos Estados Unidos criarem esses problemas e falharem completamente em resolvê-los, você tem uma escolha nas decisões que você faz em sua vida.
Além disso, por mais inacreditável que possa parecer para quem lê as manchetes de hoje, uma nova ordem econômica mundial está chegando. Mas não é uma em que as pessoas ou nações conseguirão trazer―na verdade, seria impossível para os seres humanos fazer isso acontecer.
Esta revista tem ensinado por anos a verdadeira identidade dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Austrália e outros grandes países de língua Inglesa. Esta é uma chave vital para compreender como as coisas vão piorar antes de finalmente serem resolvidas de maneira positiva. A boa notícia é que uma nova ordem econômica mundial está a caminho, e é como você nunca imaginou. Independentemente dos Estados Unidos conseguir ou não lidar com sua dívida, que resultaria em um mal-estar econômico, você pode garantir seu lugar no mundo emocionante próspero que está por vir! BN