O Jubileu de Diamante da Rainha — Um olhar num passado de sessenta anos

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O Jubileu de Diamante da Rainha — Um olhar num passado de sessenta anos

Estou escrevendo este artigo da África do Sul, onde tudo começou em 21 de abril de 1947. Os membros da família real britânica estavam numa viagem de “agradecimento” pela África do Sul e Rodésia do Sul (atual Zimbábue), dois países que faziam parte do Império Britânico, os quais haviam contribuído grandemente como reforço militar na Segunda Guerra Mundial. A princesa Elizabeth fez 21 anos durante essa viagem enquanto visitava Cape Town, de onde se dirigiu aos cidadãos do império e Comunidade Britânica — ainda permanecendo parte da Comunidade após os seis anos de guerra:

"Eu declaro diante de todos vocês que em toda a minha vida, seja longa ou curta, me dedicarei a servi-los e a servir a nossa grande família imperial, a qual todos nós pertencemos" (citado por Sally Bedell Smith, A Rainha Elizabeth: A Vida de uma Monarca Moderna, 2012, págs. 37-38). Uma mulher profundamente religiosa, Elizabete buscaria seguir a admoestação de Cristo: "Todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal" (Mateus 20:26).

Cinco anos depois, o rei George VI, pai de Elizabeth, morreu e ela se tornou rainha, ironicamente, enquanto fazia outra visita à África. Na época, ela reinava sobre o maior império da história. Agora, sessenta anos depois, a monarquia permanece, e os súditos da rainha Elizabeth estão celebrando seu Jubileu de Diamante em várias partes do mundo.

No entanto, o império não existe mais — isto é uma das grandes mudanças durante o seu reinado, e é muito importante compreender seu verdadeiro contexto.

Uma surpreendente estabilidade num mundo turbulento

A revista Time publicou uma edição especial comemorativa da família real, na qual faz a seguinte observação: "Os governos e as instituições caem, mas a monarquia constitucional da Grã-Bretanha mantém tranquilamente sua popularidade. Quando a incansável Rainha comemora sessenta anos de trono, a Casa de Windsor parece continuar segura, assim surpreendentemente".

A duração da monarquia britânica é incrível, mais de mil anos da monarquia! O sistema político atual está em vigor desde 1689, uma estabilidade e continuidade que nenhuma outra grande potência chegou perto de alcançar. Essa estabilidade também foi compartilhada por quinze outros reinos sobre os quais a rainha é a chefe de estado, principalmente o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia. Ela também é chefe da Comunidade Britânica, um grupo 54 países que foram colônias britânicas.

Outros países percebem essa estabilidade, especialmente nações que se veem numa grande turbulência.

Em 1908, o bisavô da rainha, o rei Edward VII, reuniu-se com o último czar da Rússia, Nicolau II, um parente próximo, no iate do czar em águas russas. Depois de 86 anos da visita de outro monarca britânico a Rússia. Nesse ínterim, a Rússia teve três revoluções, uma prolongada guerra civil, fome, a época do Grande Terror e sete décadas de regime comunista.

O jornal russo Izvestia, antes da histórica visita da rainha à Rússia em 1994, fez o seguinte comentário perspicaz: "A monarquia é inabalável. Não importa o que aconteça no país, os britânicos sabem que existe uma instituição que vai sobreviver a qualquer dificuldade" (citado por Smith, págs. 382-383).

O grande respeito à rainha

Na Grã-Bretanha se tem pouco respeito por aqueles que estão no governo. Em contrapartida há um imenso sentimento de respeito pela rainha, que dedicou sua vida a serviço do povo — e continua fazendo isso aos 86 anos!

"Os argumentos contra a monarquia, que a tacham de antidemocrática e retrógrada, têm sido pulverizados pela presença segura e consistente da rainha — o que David Airlie, seu ex-lorde Chamberlain, chama-a de ‘a âncora central que as pessoas se seguram em tempos de turbulência’" (Smith, pág. 502).

Hoje, a Grã-Bretanha tem diminuído sua posição como país desde quando a rainha Elizabeth subiu ao trono durante a administração de Winston Churchill, em tempo de paz. Mas a monarquia proporciona uma influência internacional ao país, que não teria de outra forma.

 “A Comunidade Britânica é o seu grande legado", disse Brian Mulroney [ex-primeiro-ministro canadense]. ‘Para ela é uma grande conquista e plataforma’. Sem a liderança e o exemplo da Rainha, ‘muitos de nós já teria desistido’, disse Kenneth Kaunda, ex-presidente da Zâmbia... Através de suas próprias fontes de informação, ela veio a conhecer muito mais sobre as questões e preocupações dos países da Comunidade Britânica, particularmente na África, do que os altos funcionários de seu governo” (Smith, pág. 495).

Ela também tem o crédito de incentivar os países membros a restaurar a democracia quando se desviavam para um regime militar ou ditatorial.

Comentando sobre o G-20, a cúpula dos líderes mais importantes do mundo, Mulroney fez esta observação: "A rainha sabe que quando entra na sala, ela é a chefe de estado mais poderosa daquele lugar. Ela é a número um, embora seu país não seja o número um" (citado por Smith, pág. 491).

A resistência da monarquia britânica é incrível. Um século atrás, quase todos os países da Europa tiveram um monarca. Hoje, poucos têm. Por que a monarquia britânica não apenas sobreviveu, mas também prosperou nesses últimos cem anos? A resposta pode ser encontrada na Bíblia.

As origens bíblicas do império e da monarquia britânica

Como explicado em nosso livro gratuito, The United States and Britain in Bible Prophecy [correntemente só disponível em Inglês] a origem do povo britânico remonta à antiga nação de Israel. Por mais chocante que possa parecer, a monarquia do Reino Unido é de fato uma continuação da dinastia do rei Davi de Israel — uma dinastia que Deus disse que reinaria em todas as gerações (Salmo 89:3-4). Para saber mais dessa história incrível, acesse a publicação inglesa gratuita on-line The Throne of Britain: Its Biblical Origin and Future (ambos disponíveis em www.ucg.org/booklets).

O Império Britânico foi um cumprimento de uma antiga profecia em Gênesis 48, que os dois filhos do patriarca bíblico José, Efraim e Manassés, se tornariam uma multidão de nações e uma única grande nação:

"Abençoe estes rapazes; e seja chamado neles o meu nome [Israel]" (versículo 16). "Ele [Manassés] será um povo e também ele será grande; contudo, o seu irmão menor [Efraim] será maior que ele, e a sua semente será uma multidão de nações" (versículo 19).

A multidão de nações profetizada era para ser cumprida pela Grã-Bretanha e suas colônias dispersas, todos unidos pela lealdade comum à coroa. A grande nação, Manassés, rompeu com a coroa e se tornou os Estados Unidos da América, eventualmente, a nação mais poderosa da história mundial.

"E pôs a Efraim diante de Manassés" (versículo 20). O Império Britânico era para ser poderoso antes de os Estados Unidos chegarem a sua ascendência.

E quão grande foi esse império em seu auge! Hoje é a segunda vez na história britânica que um monarca celebra um jubileu de diamante. A primeira vez foi em 1897 quando a Rainha Victoria, bisavó da rainha Elizabeth, comemorou o dela. Como era o império nessa época?

"Era o maior império da história do mundo, que compreendia quase um quarto da massa da Terra, e um quarto de sua população... O sexagésimo aniversário da sua ascensão ao trono estava sendo celebrado como uma festa da força, do esplendor e da unidade imperial — uma demonstração gigantesca de poder, numa capital que amava ter coisas colossais... O século XIX tinha sido preeminentemente o século da Grã-Bretanha, e os britânicos ainda se sentiam os donos do jogo" (James Morris, Pax Britannica, 1968, págs. 21-22).

Muitos britânicos estavam cientes de sua identidade profética na era vitoriana, e era uma crença comum nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

A estabilidade esconde as profundas mudanças

Grandes mudanças têm ocorrido desde então. Cinquenta e cinco anos depois do jubileu de Victoria, quando Elizabeth se tornou rainha, a maior parte do império ainda era governada a partir de Londres. Agora, sessenta anos depois, quase tudo passou, diminuiu-se consideravelmente o poder e a influência da Grã-Bretanha. Ao mesmo tempo, a posição econômica da Grã-Bretanha caiu significativamente. O declínio nacional tem sido uma constante sob o reinado de Elizabeth.

Uma segunda e muito significativa mudança, seguiu-se à perda do império e o contínuo declínio econômico. Em 1971, o parlamento do Reino Unido votou pela adesão à Comunidade Europeia (atual União Europeia). Em primeiro de janeiro de 2013, será o quadragésimo aniversário da adesão da Grã-Bretanha.

Na época da adesão, os britânicos estavam certos de que a Comunidade era puramente uma união econômica que aumentaria os negócios com as empresas britânicas. Isso foi muito decepcionante, como o Tratado de Roma, assinado pelos seis membros originais em 1957, todos os países membros se comprometeram a formar "uma união cada vez mais próxima". A associação mudou substancialmente a Grã-Bretanha e ameaça fazer isso ainda mais no futuro. Muitos britânicos se ressentem disso e querem sair da União Europeia. Há pouco apoio ao euro, os britânicos preferem manter a sua própria moeda, a libra britânica.

A terceira mudança, inevitavelmente, seguiu a união da Grã-Bretanha à Europa — o enfraquecimento dos laços da Comunidade Britânica, inclusive laços militares que ajudaram a Grã-Bretanha a vencer duas guerras mundiais. Sessenta anos atrás, com exceção do Canadá, nas outras nações do império a maior parte do comércio era feito com a Grã-Bretanha; suas moedas também estavam ligadas à libra esterlina. A profecia sobre a força da Grã-Bretanha era que ela seria "uma multidão de nações". Agora que a Inglaterra não tem nenhum império e a Comunidade Britânica está muito reduzida, esta força se foi.

A quarta mudança significativa nos últimos sessenta anos é inversão dos papéis da Grã-Bretanha e da Alemanha. Depois de perder duas guerras mundiais para a Grã-Bretanha e seus aliados democráticos, a Alemanha é hoje a maior potência econômica da Europa, uma posição ocupada pela Grã-Bretanha há sessenta anos. Durante séculos a política externa britânica baseou-se em se eximir dos assuntos europeus, a menos que um líder continental, juntamente com sua nação, viesse a se tornar muito poderoso (como Napoleão, Kaiser Wilhelm e Adolf Hitler). Ao contrário, a Grã-Bretanha se concentraria em seu império. Hoje, a Grã-Bretanha é uma nação diminuída numa união continental dominada pela Alemanha.

A quinta mudança importante é a composição da população britânica. Durante o reinado da rainha, a Grã-Bretanha tornou-se uma nação multiétnica, com milhões de pessoas que entram no país, a maioria das ex-colônias. É muito cedo para dizer se esta experiência multicultural vai funcionar, mas é certo que tem alterado nitidamente a Grã-Bretanha. O verdadeiro teste poderá vir dessa atual crise econômica, que aflige o país.

Outra grande mudança pode estar à frente — quando a Escócia votará sobre a independência em 2014. Se os escoceses votarem por romper com a Inglaterra, isso pode enfraquecer ambos os países.

A mudança mais importante de todas

Mas a sétima e grande mudança tem sido o declínio nas crenças religiosas e a divisão subsequente dos valores tradicionais britânicos, uma vez já exemplificados.

O escritor britânico Peter Hitchens escreveu isso no ano 2000, em seu livro A Abolição da Grã-Bretanha: Desde Winston Churchill Até a princesa Diana, no qual ele comparou o país na ocasião do funeral de Churchill, em 1965, com o país, trinta e dois anos depois, no momento do funeral de Diana.

Em 1965, os britânicos estavam orgulhosos de sua história e realizações. A maioria se considerava cristãos e a educação religiosa era obrigatória nas escolas. O divórcio era raro e a vida familiar era sagrada. Os jovens davam seus lugares nos ônibus para os idosos se sentarem. Os membros da família real eram reverenciados e os homens tiraram os chapéus respeitosamente quando passavam Churchill e sua comitiva, gratos por ele liderar vitoriosamente o país na Segunda Guerra Mundial.

Na época do funeral de Diana, em 1997, já havia uma rejeição geral dos valores bíblicos tradicionais e morais. Pior ainda, não havia sequer consciência deles!

Mas não era assim até bem recentemente. Os anos sessenta foram a década da grande reforma.

Ao mesmo tempo e por centenas de anos a Grã-Bretanha era uma nação que tinha conhecimento bíblico. O historiador Benson Bobrick escreveu sobre isso em 2010, no seu livro Extensa Como as Águas: A História da Bíblia Inglesa e a Revolução que Inspirou, seu título foi extraído de um poema sobre John Wycliffe, o primeiro homem a traduzir a Bíblia para o inglês nativo, há mais de seis séculos.

"Somente na Inglaterra a Bíblia era, em todos os sentidos, um bem nacional... os ingleses levavam sua Bíblia consigo — como a rocha e o fundamento de suas vidas — além-mar... Além das margens do Albion [um nome poético para Grã-Bretanha] ela fortalecia o espírito dos pioneiros da Nova Inglaterra, ajudando-os a moldar a psique norte-americana, e, eventualmente, seu impacto sobre o pensamento e a cultura se espalhou por todo o mundo ‘tanto quanto a extensão das águas’" (pág. 12).

"Ao liminar real, o Pai Nosso e os Dez Mandamentos deveriam ser ensinados frase por frase, aos domingos e dias santos ao longo do ano, e pelo menos um sermão sobre o Evangelho deveria ser pregado a cada trimestre... E cada igreja paroquial, na Inglaterra tinha ‘reservado em algum lugar conveniente’ uma cópia da Bíblia inglesa acessível a todos como ‘a Palavra viva de Deus’" (pág. 151).

Um escritor da época descreveu o entusiasmo das pessoas pela disponibilidade da Bíblia: "Era maravilhoso ver com que alegria o livro de Deus era recebido... Todos que podiam compravam o livro e se ocupavam com sua leitura, ou tinham outras pessoas para ler-lhes, se não podiam, procuravam os idosos para aprender a ler com esse propósito. Até mesmo os adolescentes se reuniam entre os demais para ouvir a leitura de trechos das Sagradas Escrituras" (págs. 151-152).

Do amor ao ódio à Palavra de Deus

Quando aconteceu toda essa mudança? O historiador Jacques Barzun escreveu: "Isso durou durante 350 anos: O ano 1900 foi o primeiro ano em que as obras religiosas (pelo menos na Inglaterra) não superaram todas as outras publicações" (Do Amanhecer à Decadência: 500 Anos da Vida Cultural Ocidental, do Ano 1500 ao Presente, 2003, pág. 10). Em janeiro do ano seguinte seria o fim da era vitoriana.

A frequência à igreja veio caindo desde então. Ironicamente, para a nação que já liderou o mundo no envio de missionários a terras pagãs, hoje a Grã-Bretanha é o berço de mais sites dedicados ao ateísmo que qualquer outro país!

O resultado é a queda do casamento e da vida familiar e a anarquia crescente que levou a graves tumultos no verão de 2011. O país também tem um grande problema com o alcoolismo: o consumo de álcool (e drogas) vem refletindo o vazio de vidas desprovidas de crença religiosa e propósito.

Tudo isso tem contribuído enormemente para os problemas financeiros do país, já que o governo usa todos os programas sociais necessários para tentar limpar a bagunça. (Na verdade, esses problemas são endêmicos em todo o mundo ocidental, pelas mesmas razões).

O livro bíblico de Deuteronômio contém uma profecia, no capítulo 28, que se aplica aqui. Aos descendentes de Israel (que hoje inclui os britânicos, australianos, canadenses e norte-americanos) foram prometidas grandes bênçãos pela obediência, mas sérias consequências negativas pela desobediência. Algumas dessas consequências estão começando a surgir. A menos que haja um arrependimento sincero, sem dúvida outras certamente virão.

Por outro lado, em 2 de junho de 1953, a rainha Elizabeth foi coroada numa cerimônia profundamente religiosa refletindo a herança cristã do país. Na cerimônia "ela prometeu honrar as leis da Grã-Bretanha, seus reinos, territórios e possessões, e ‘guardar as leis de Deus’" (Smith, pág. 84).

 “‘O verdadeiro significado da coroação para ela era unção, não coroação’, disse John Canon Andrew, um amigo da família real e capelão sênior do centésimo Arcebispado de Canterbury. ‘Ela foi consagrada, e isso fazia dela a rainha. É a coisa mais solene que já aconteceu em sua vida. Ela não pode abdicar. Ela estará lá até a morte’” (Smith, pág. 85).

Mais mudanças à frente para a Grã-Bretanha

Eventualmente, quando ela morrer, haverá mais mudanças, refletindo a diminuição do papel da Grã-Bretanha. É improvável que o príncipe Charles venha suceder a sua mãe como chefe da Comunidade Britânica. Se os membros da Comunidade Britânica escolherem um ditador Africano para preencher esse papel, o compromisso da Comunidade à democracia chegará ao fim. Também é provável que a Grã-Bretanha, que enfrenta graves problemas financeiros, não estará mais disposta a financiar a organização. Ao mesmo tempo, alguns dos reinos da Comunidade Britânica podem optar por substituir a rainha pela figura de um presidente designado por seus respectivos parlamentos.

No momento da sua coroação, houve muita conversa sobre uma "segunda era elisabetana", a primeira teria sido na época da ascensão da Inglaterra à grandeza após a Reforma Protestante.

Elizabeth I (1558-1603) estabeleceu uma base sólida para o país se edificar. Por não ter se casado e não ter deixado herdeiros, seu parente mais próximo, James VI, da Escócia, herdou o trono da Inglaterra, unindo os dois reinos sob um monarca. Ela também ajudou a assegurar a independência da Inglaterra como um país protestante separado de Roma. Além disso, aquela foi uma época de crescente prosperidade.

O reinado de Elizabeth II será visto encarado como a época em que tudo isso foi revertido. Isso não quer dizer que seja culpa dela, já que ela, ao contrário de sua homônima, é uma monarca constitucional com um poder muito limitado. Mas o fato é que o país tem regredido muito durante as seis décadas do reinado de Elizabeth.

Sem ela, é improvável que o país teria tido todo esse êxito unido, como assim foi. Durante todo o longo período de declínio, o povo britânico sempre teve a rainha para admirar, como uma figura reverenciada e que tem colocado o país consistentemente em primeiro lugar, sempre cumprindo seu dever de forma humilde e graciosa. Ela fará muita falta quando chegar a hora. BN