O Que Quer Dizer Ser Justificado?
Têm sido escritos inumeráveis livros e ensaios teológicos sobre o tema da justificação.
O que é que isso quer dizer? Porque é que a justificação é tão importante para Deus? Como nos podemos justificar?
O que é a Justificação?
As palavras justificação, justificar, justificado e justo encontram-se numerosas vezes quer no Velho querem no Novo Testamentos. Tanto o Hebreu tsadag, como o Grego dikaiosis se referem a justificação querendo dizer “fazer-se reto.”
Justificação, pois, quer dizer fazer-se reto aos olhos de Deus.
Ter-se retidão, é ser como Deus, ter-se o mesmo carácter como o nosso santo e justo Deus.
Porque é a justificação tão importante aos olhos de Deus?
Paulo encorajou-nos a compreender a importância de se ser justificado ou tornar-se reto perante Deus, porque isso tem muito a ver com a nossa preciosa chamada e ser parte da Sua família.
“E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” (Romanos 8:30-32, ênfase adicionada).
Vê-se a partir das Escrituras que ser-se justificado, ou feito reto, é uma parte importante da nossa salvação pessoal.
Confusão Acerca da Justificação
Há muitos pontos de vista sobre o que é a justificação aos olhos de Deus.
O ponto de vista Católico foi formulado no Concílio de Trento em 1547, principalmente para contrapor divergentes pontos de vista de Martinho Lutero e outros Protestantes acerca da justificação ser “graça ou obras.”
“Se alguém diz que a fé justificante é nada mais que confiança na misericórdia divina…, a qual remete os pecados ao amor de Cristo, ou que é esta confiança o único que nos justifica, pois que [essa pessoa] seja anátema” (Cânon 12, Concílio de Trento).
Os Católicos crêem que o que justifica as pessoas não é só a fé em Deus, mas também as obras. Eles crêem que é necessário para a salvação que o crente obedeça a versão Católica dos mandamentos, assim como que participe nos sacramentos católicos, vá à igreja, faça penitência, dê esmolas, reze orações com o rosário, e por aí fora. A Igreja Católica ensina que a fé é importante, mas também insiste na necessidade de boas obras para se merecer a vida eterna.
A maior parte dos Protestantes têm um ponto de vista diferente e baseiam a sua crença nos fundadores protestantes, tal como Lutero, que cria que somos justificados somente pela fé em Cristo e que não necessitamos das obras dos crentes Católicos, antes ou depois da fé se exercer.
De acordo com Lutero, Deus justifica-nos pela fé, pela salvação de Cristo, e jamais atribui a nós os nossos pecados. Se continuamos em fé, Ele tratar-nos-á como justos e santos, mesmo que continuemos a ser os mesmos pecadores como antes.
Os Católicos criticavam Lutero citando afirmações feitas por ele numa carta escrita a Melanchthon em 1521: “Se és um pecador e pecas audaciosamente, creia e alegra-te em Cristo ainda mais audaciosamente, que triunfou sobre o pecado, a morte e o mundo; enquanto estamos aqui neste mundo eis de pecar.” Também o criticavam por dizer: “Se o adultério pudesse ser cometido na fé, ele não seria pecado” (“Justificação,” Enciclopédia Católica).
É claro que Martinho Lutero também criticava as ideias Católicas relativas à justificação e às obras:
“Como enganam as pessoas com as suas boas obras! Chamam boas obras ao que Deus não ordenou, como: peregrinações, jejuns, construção e decoração de igrejas em honra de santos, celebrar a missa, pagar por vigílias, rezar terços, falar muito santimoniosamente e chorar alto nas igrejas, tornar-se freira, frade, ou padre, usando comida, vestuário ou habitação especial — quem pode enumerar todas as horríveis abominações e decepções? Este é o governo e a santidade do papa” (Sermões de Martinho Lutero, www.trinitylutheranms.org/MartinLuther/MLSermons/Mathew21ConcerningGoodWorks.html, secção 42).
Paulo Lidou com a Confusão
O problema das pessoas estarem confusas como podiam ser justificadas — tornar-se justas perante Deus — foi coisa com que Paulo teve de lidar.
Por um lado ele tinha alguns Judeus na Igreja orgulhosos de ostentarem o guardar da lei. Aparentemente eles sentiam que por isso Deus tinha uma obrigação de lhes dar a salvação, assim abusando o emprego racional da lei. “Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus” (Romanos 2:17). “Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não! Mas pela lei da fé” (Romanos 3:27).
Por outro lado, ele tinha de corrigir os gentios na Igreja que também se sentiam orgulhosos por terem descoberto um conhecimento e dom espiritual novos e se sentirem que Deus de certo modo estava em débito para com eles para recompensá-los com a salvação: “E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias como se não o houveras recebido?” (1 Coríntios 4:7).
Paulo respondeu ao extremismo de ambos os campos quando disse: “Quem pode conhecer a mente do Senhor? Quem é capaz de lhe dar conselhos? Quem já deu alguma coisa a Deus para receber dele algum pagamento?” (Romanos 11:34-35, BLH).
É uma falta comum em nós, como seres humanos, pensarmos que pelas boas coisas que fazemos Deus nos deve a salvação.
Como Podemos Ser Justificados aos Olhos de Deus?
É importante compreender que não ganhamos retidão por pedantemente guardarmos as leis de Deus e depois declararmos que somos retos perante Deus.
Paulo explicou que precisamos de compreender “que o homem não é justificado [ou feito reto] pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gálatas 2:16).
Por outras palavras, há uma certa sequência para se tornar reto aos olhos de Deus.
Essa sequência começa quando começamos a crer e a ter fé no “verdadeiro Deus” (1 João 5:20).
Segundo, quando crescemos em fé, vemos os nossos pecados, os nossos maus pensamentos, as nossas más palavras, as nossas más acções e a nossa necessidade em nos arrependermos.
A nossa fé em Jesus Cristo leva-nos ao arrependimento dos nossos pecados e ao batismo. A este ponto somos perdoados pela graça de Deus (perdão gratuito e imerecido) e somos considerados justos perante Deus, pela fé de Cristo.
Terçeiro, continuamos a permanecer retos aos olhos de Deus, quando com todo o carinho e amor obedecemos e vivemos de acordo com as Suas leis, e não praticamos mais pecados, deixando para trás os falsos caminhos do mundo (1 João 3:3-4).
Nós então embarcamos-nos, com a ajuda do Espírito de Deus, no processo de convertermos a nossa maneira de pensar e viver, para a maneira de pensar e viver de Cristo (Filipenses 2:5), “até que Cristo seja formado em vós” (Gálatas 4:19), “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4:13). [Para mais detalhes acerca deste processo de conversão leia o nosso livro Transformando a Sua Vida — O Processo de Conversão, que está disponível no nosso site www.revistaboanova.org].
O apóstolo Tiago clarifica este ponto ao dizer: “Vedes, então, que o homem é justificado [considerado reto] pelas obras, e não somente pela fé” (Tiago 2:24). Uma vez que definimos a nossa rota no caminho de Deus, pela fé em Deus e por um arrependimento completo dos nossos pecados, nós devemos de O seguir e viver pelas Suas Leis assim como pela correta maneira de viver, não segundo os nossos próprios costumes nem cerimónias religiosas.
Se tropeçamos, devemos imediatamente exercer fé e arrependimento e seguir as leis de Deus.
Todos os anos, quando observamos o lava-pés, comemos o pão ázimo e bebemos o cálice de vinho durante a noite da Páscoa, isto é uma recordação anual do nosso arrependimento, do nosso batismo, da nossa lavagem dos nossos pecados, do perdão gratuito que recebemos, e da justificação gratuita pela fé de Cristo, fazendo-nos retos aos olhos de Deus. Esta cerimónia também é uma lembrança do nosso compromisso a vivermos uma vida nova com Cristo a guiar-nos nas nossas ações e pensamentos continuamente.
Nas nossas orações diárias devemos despojar o nosso velho ser, tal como Paulo nos admoesta, e renovar o nosso espírito com o Espírito Santo de Deus pelo dom de Deus, para nos revestirmos de um novo homem ou de uma nova mulher (Efésios 4:22-24).
É, pois, através da fé diária, arrependimento e terna obediência, que seremos considerados justificados ou retos aos olhos de Deus. BN