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Não. Vamos analisar Mateus 16:13-19. Jesus perguntou a Seus discípulos quem eles achavam que Ele era, e Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (versículos 15-16). Jesus afirmou que essa resposta foi uma revelação divina (versículo 17) e disse a Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja...E Eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (versículos 18-19). Os termos “ligar e desligar” eram frequentemente usados no ensino judaico para expressar a autoridade de tomar decisões que proibiam ou permitiam certas ações ou práticas.

Alguns interpretam isso como se Pedro fosse a rocha sobre a qual a Igreja foi fundada. Entretanto, a palavra grega usada para “pedra” nesse contexto, petra, refere-se a uma grande massa de rocha sólida, enquanto o nome Pedro em grego, Petros, significa uma pedra menor ou um seixo. Por outro lado, há quem defenda que Petros é apenas a forma masculina da palavra petra. Qual dessas interpretações está correta?

É importante considerar o contexto do que Pedro declarou aqui, pois trata-se do reconhecimento da identidade de Jesus como o Cristo (ou Messias) e Filho do Deus vivo. O Deus de Israel era chamado de Rocha (Deuteronômio 32:4; Salmos 42:9). E o apóstolo Paulo se referiu a Cristo como essa Rocha (1 Coríntios 10:4, NVI). Diversas profecias se referiam ao Messias como a pedra ou rocha que se tornaria a principal pedra angular (1 Pedro 2:6-8).

Logo, podemos concluir que Jesus se referia a Pedro como uma pequena pedra e, em seguida, apontou para Si mesmo como a rocha que serviria de fundamento para a edificação de Sua Igreja (1 Coríntios 3:11). Outra interpretação é que a declaração de Pedro sobre a identidade de Jesus seria o fundamento sobre o qual a Igreja seria edificada. Em Mateus 7:24-27, Jesus comparou a construção de uma casa sobre a rocha à obediência aos Seus ensinamentos. Ambos os conceitos podem ser aplicados simultaneamente.

Essa ideia de Pedro como a pedra do fundamento somente faria sentido por sua relação com Cristo. Ainda assim, isso não diz respeito apenas a ele. O apóstolo Paulo afirmou que a Igreja está edificada “sobre o fundamento dos apóstolos [no plural] e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Efésios 2:20).

O foco de Cristo em Mateus 16 não estava em Sua exclusiva autoridade, mas em delegar responsabilidade. O fato de Jesus entregar as “chaves do reino dos céus”, contrastava com Sua repreensão aos líderes religiosos por retirarem a chave do conhecimento, impedindo assim a entrada deles e de outros no Reino de Deus (comparar Lucas 11:52, NVI; Mateus 23:13).

Qual é a “chave do conhecimento” para entrar no Reino de Deus? Paulo disse a Timóteo que as Sagradas Escrituras conduzem à sabedoria que leva à salvação (2 Timóteo 3:15). Jesus também afirmou: “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mateus 19:17). Portanto, a chave para entrar no Reino é obedecer à Palavra de Deus através da Palavra viva, Jesus Cristo!

A autoridade conferida pelas chaves do Reino incluía o poder de ligar e desligar. Essas decisões seriam tomadas por meio da chave do conhecimento, que provém da verdade da Palavra de Deus. A expressão de Jesus sobre o que for ligado na terra “será ligado” (futuro simples) no céu deveria ser traduzida como “terá sido ligado” (futuro perfeito), conforme indicam várias traduções. E o mesmo se aplica ao termo desligar. Portanto, Jesus estava falando sobre a aplicação de princípios já expressos na Palavra de Deus. Assim, as chaves simbolizam o conhecimento e a prática da verdade divina — bem como o ensino dela a outras pessoas.

Embora Jesus tenha se dirigido a Pedro no singular em Mateus 16, isso não significou que o estabeleceu como única autoridade. Na verdade, ele mostrou-se bastante falível. Logo depois, nos versículos 21 a 23, Pedro tenta repreender Jesus, mas é chamado de “Satanás” e de “escândalo”, por ter uma mentalidade humana e não divina. Difícil considerar isso como um apoio à supremacia papal!

Em Mateus 18:15-20, ao falar sobre como lidar com ofensas, Jesus atribui essa autoridade de ligar e desligar a todos os apóstolos, e não somente a Pedro, enfatizando que estaria presente onde dois ou mais se reunissem — participando, assim, das decisões deles. Ao longo dos séculos, essa autoridade compartilhada seria estendida aos sucessores deles no serviço ministerial.

O que levou Jesus a destacar Pedro em Mateus 16? A sua declaração decidida e o papel que desempenharia na obra apostólica. A iniciativa de Pedro em reconhecer a identidade de Jesus demonstrava seu temperamento corajoso e decidido, típico de quem possui dons de liderança. Pedro figura sempre como o primeiro entre os apóstolos. Embora tivesse uma liderança definida, ele não exercia uma autoridade suprema sobre os outros apóstolos, pois essa autoridade pertencia a Cristo (Hebreus 3:1).

Todavia, Pedro desempenharia um papel singular, e a declaração de Cristo a respeito das chaves do Reino pode ter apontado para o papel pioneiro dele no avanço da missão da Igreja. Mais tarde, em Atos 10, Pedro teve um papel fundamental ao abrir a porta para os gentios, batizando a família de Cornélio — depois, justificando essa ação para os membros da Igreja judaica no capítulo 11. (Observe que ele teve que convencê-los e não apenas impor sua autoridade). Assim, Pedro desempenhou um papel fundamental ao facilitar o acesso dos judeus e gentios à Igreja e, eventualmente, ao Reino.

Embora Pedro tenha desempenhado um papel de destaque na pregação ao povo judeu (Gálatas 2:7-9), ele não era um pontífice supremo e infalível. Em certa ocasião, Paulo até o confrontou publicamente por erro e hipocrisia (versículos 11-14).

  Podemos reconhecer a importância especial e o papel pioneiro de Pedro, sem considerá-lo um príncipe entre os apóstolos. O papado não representa a continuidade do verdadeiro ministério apostólico. Por que essa autoridade teria sido transferido de Pedro para outro ancião em Roma após sua morte, se João, um dos doze apóstolos originais, ainda estava vivo? Na verdade, isso não aconteceu. O papado representa uma sucessão de autoridade baseada em uma tradição religiosa falsa. Evitemos cair no erro de atribuir a um servo fiel de Cristo uma identidade que ele jamais teve.