Quando os Estados Unidos Saírem de Cena, um Mundo Perigoso Vai Surgir
Os últimos capítulos da Segunda Guerra Mundial ocorreram na primavera e no verão de 1945 com a derrota da Alemanha nazista e do Japão imperial. Os Estados Unidos tornaram-se a potência mundial dominante, sendo a maior economia do mundo, produzindo um total de cinquenta por cento da produção econômica mundial na época. Seu exército e o Exército Vermelho da União Soviética eram os dois maiores do mundo.
No entanto, como único detentor da bomba atômica, os Estados Unidos estavam no topo. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que obteve a bomba depois de muitos anos, conseguiu fazer frente à hegemonia norte-americana.
Por meio século depois, os Estados Unidos desempenharam o papel de polícia do mundo, intervindo na Coréia, no Vietnã, na África, no Oriente Médio e até no Caribe, para frustrar as insurgências comunistas, as ditaduras arrogantes e outras ameaças à paz e ao equilíbrio da ordem mundial. Evidentemente, os Estados Unidos não desempenharam esse papel de forma perfeita, mas o mundo livre passou a contar com os Estados Unidos como a única potência com a vontade e o poder de abraçar a causa da justiça internacional.
No entanto, os acontecimentos recentes mostram que os Estados Unidos estão saindo de cena, recuando, retirando-se e, em geral, se colocando na defensiva. O que aconteceu com a nação que a maioria dos países buscava por sua liderança em tempos perigosos? E o que isso vem a significar para o mundo?
"Liderar atrás dos bastidores" leva a futuros realinhamentos caóticos
Ao longo da última década, comentaristas de todo o mundo têm notado essa mudança. Alguns artigos de edições anteriores da revista A Boa Nova citaram fontes respeitadas, como a revista britânica The Economist e Financial Times, a alemã Der Spiegel e o The Wall Street Journal, que notaram a repentina mudança na vontade dos Estados Unidos em se envolver nos assuntos mundiais.
Ao assumir o cargo em 2009, o presidente recém-eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, não perdeu tempo em deixar claro sua nova visão para o papel dos Estados Unidos no mundo.
Os Estados Unidos já não vão mais insistir em sua autoridade no exterior, ele prometeu. Os Estados Unidos não iriam mais ditar as regras entre as nações, não iriam mais se envolver em seus interesses, e que isso iria depender cada vez mais de outras nações carregarem o fardo de manter a ordem internacional. O novo papel dos Estados Unidos no cenário mundial seria o de "liderar nos bastidores".
O ex-Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Zbigniew Brzezinski, é um dos muitos que estão soando o alarme da retirada dos Estados Unidos e suas implicações. Em seu livro lançado em 2013, Visão Estratégica: A América e a Crise do Poder Global, Brzezinski argumenta que o eventual fim dos Estados Unidos como única superpotência mundial deixaria um mundo fragmentado e ainda mais perigoso do que vemos atualmente.
Se isso acontecer, disse ele, até 2025, "nenhum nação estará pronta para então exercer o papel que o mundo . . . tem esperado os Estados Unidos desempenhar. O mais provável de acontecer seria uma longa fase de realinhamentos bastante inconclusiva e um tanto caótica entre potências globais e regionais, sem evidentes vencedores e perdedores, gerando um ambiente de muita incerteza internacional e até mesmo de riscos potencialmente fatais para o bem-estar global" (p. 75).
Crises sucessivas no Egito, na Síria e no Irã
Depois de mais de cinco anos dessas atitudes e ações—ou inércia—surgiram as consequências decorrentes.
Quase dois anos atrás, num artigo de setembro de 2012, o Wall Street Journal se concentrava na incapacidade norte-americana de orientar e influenciar os acontecimentos mundiais: "A gestão de Obama tem sido uma era de construir lentamente a tensão e a desordem, que parece tendente a incendiar e a aumentar os problemas e talvez até mesmo a chegar a um conflito militar" ("A Nova Desordem Mundial", 13 de setembro de 2012).
O artigo observou que os Estados Unidos têm sido quase incapazes de influenciar os acontecimentos da Primavera Árabe, sendo que sua abordagem passiva na turbulência daquele ano no Egito resultou na derrocada de Hosni Mubarak, um antigo aliado dos Estados Unidos, e seu substituto, o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi. Desde a época que Morsi foi deposto pelos militares, o Egito continua sendo um caldeirão efervescente de agitação e instabilidade.
Lamentavelmente, nos últimos dois anos, temos visto a situação piorando cada vez mais.
Depois que o presidente sírio, Bashar al-Assad, usou gás venenoso para matar centenas de civis sírios, uma clara violação do direito internacional, o presidente Barack Obama traçou uma "linha na areia", ameaçando intervir se essas armas fossem usadas novamente. Da Rússia, Vladimir Putin, astutamente interveio para acalmar a crise e Obama recuou. Agora Assad voltou a usar gás venenoso contra seu próprio povo e o mundo assiste passivamente.
Mais de cento e sessenta mil pessoas, a maioria civis, já morreram nessa guerra civil da Síria, e o mundo parece impotente diante desse massacre.
Evitando a intervenção militar armada, a administração de Obama tem lançado cada vez mais a mão de sanções econômicas, a qual ele chama de "uso da força do século XXI". Nenhuma nação tem sentido a pressão dessas sanções mais do que o Irã, pois os Estados Unidos e o mundo têm procurado impedir que obtenham autossuficiência de poder nuclear. Essas sanções estão em vigor há anos, mas elas têm surtido efeito?
No início de maio, o veterano jornalista da CBS, Steve Croft, passou oito dias no Irã, observando a vida nas áreas urbanas e rurais. "Apesar de vermos que as sanções estavam incomodando consideravelmente, não vimos nenhuma evidência de que a economia estava à beira do colapso", disse Croft em seu relatório.
Entre aqueles que foram entrevistados estavam dois empresários iranianos, pioneiros da promissora indústria iraniana da Internet. Questionados sobre os efeitos das sanções mundiais sobre sua nação, ambos afirmaram que, embora as sanções estivessem incomodadas, isso iria apenas atrasar, mas não parar o avanço nuclear iraniano.
No início deste ano o Irã novamente bateu de frente com os Estados Unidos e outras nações ocidentais no jogo internacional de "mostrar as armas". Sobrepujando e manipulando os negociadores norte-americanos, os líderes linha-dura do Irã praticamente não desistiram de nada, mas conseguiram a suspensão de algumas sanções relevantes contra eles, inclusive o descongelamento de bilhões de dólares em ativos iranianos.
O ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, não escondia que os governantes iranianos desprezam os Estados Unidos e a União Europeia e que têm planos para destruí-los no futuro.
Apesar de o novo presidente do Irã, Hassan Rouhani, ser visto como moderado, o poder de fato encontra-se com os clérigos religiosos, e o principal deles recentemente expressou novamente o desejo de eliminar os Estados Unidos ("A Jihad Só Vai Acabar Quando A Sociedade Se Livrar dos Estados Unidos: Aiatolá Khamenei, líder supremo do Irã, Ameaça Exterminar os Estados Unidos", jornal britânico Daily Mail, 26 de Maio de 2014).
No entanto, os iranianos desejam livrar-se primeiramente de Israel, considerado por eles como o posto avançado do Oriente Médio de seus odiados inimigos norte-americanos.
Entendendo as negociações de paz entre Israel e a Autoridade palestina
Os Estados Unidos sempre apoiaram Israel, visto ser a única verdadeira democracia e aliado confiável nessa região. Mas ao longo de décadas, vários governantes dos Estados Unidos têm pressionado para Israel fazer a paz com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e a Autoridade Palestina (AP).
Até recentemente, esses esforços parecia estar progredindo. Mahmoud Abbas, visto como um moderado, mas que não reconhece o Holocausto, tornou-se presidente da Autoridade Palestina, em 2004, substituindo o terrorista radical Yasser Arafat. Anos de negociações cuidadosas pareciam estar produzindo um avanço no início deste ano, no qual a Autoridade Palestina assinou quinze acordos internacionais que, entre outras coisas, exigindo que a Autoridade Palestina respeitasse os direitos humanos e que punisse criminosos de guerra. Então, a nação de Israel começou a respirar aliviada—talvez a paz enfim estivesse chegando.
Mas no fim de abril Abbas causou uma reviravolta completa, ao assinar um acordo de união com dois grupos terroristas genocidas, o Hamas e a Jihad Islâmica, que sempre têm prometido destruir e exterminar a nação judaica. Durante décadas, ambos os grupos realizaram ataques terroristas contra Israel, incluindo disparos implacáveis de foguetes a partir da Faixa de Gaza. A comunidade internacional considera os líderes de ambos os grupos como criminosos de guerra.
E onde estava a liderança dos Estados Unidos quando tudo isso aconteceu? Escrevendo para o jornal The Jerusalem Post, a experiente observadora do Oriente Médio, Caroline Glick, comentou: "Abbas só assinou as Convenções de Genebra e o acordo de união com os terroristas criminosos de guerra porque ele está total-mente convencido de que nem os Estados Unidos nem a União Europeia são capazes de responsabilizá-lo por suas ações. Ele também tem certeza de que nem os norte-americanos nem os europeus levam a sério o compromisso de defesa do direito internacional.
"Abbas está certo de que tanto para a administração Obama como para a União Europeia, o desejo de manterem o apoio da OLP é muito maior do que a preocupação deles cumprirem as lei das nações. Ele acredita nisso porque tem visto ambos a darem desculpas à OLP e seus líderes durante as duas últimas décadas" ("Tempo Para Consequências", 24 de abril de 2014).
Ela continou explicando: "O processo de paz está baseada na ideia de que . . . se Israel entregar Jerusalém, a Judéia e Samaria aos palestinos, então . . . todo o mundo muçulmano vai deixar de lado o seu apoio à jihad e ao terrorismo, e tudo vai ficar bem. Pelo menos é assim que Abbas analisa a situação. E, até agora, os Estados Unidos não o tem decepcionado".
China exercita seus músculos
Como se as preocupações sobre o Oriente Médio não bastasse, a Ásia e os países da Orla do Pacífico continuam dando mais dores de cabeça aos assessores de política externa de Washington.
A China surpreendeu o mundo nos últimos trinta anos, com seu imenso crescimento econômico, aparentemente ininterrupto. Os líderes chineses estão usando sua nova força para construir seu poderio militar—para o desespero de Japão e Taiwan. Durante décadas, a China já deixou claro que pretende unificar a China Nacionalista—a ilha de Taiwan—com o continente, usando a força, caso seja necessário. Os líderes de Taiwan se preocupam com a firmeza do compromisso dos Estados Unidos com a sua segurança em caso de um ataque militar por parte da República Popular da China.
A China elevou o nível de tensão com o Japão, recentemente reivindicando um espaço aéreo amplamente estendido. Sua nova "zona de identificação de defesa aérea" alegada cobre a maior parte do Mar do Japão e inclui várias pequenas ilhas, que o Japão há muito tempo havia reivindicado como de sua propriedade. Quando os Estados Unidos protestaram em favor do Japão, um porta-voz da defesa chinês disse sem rodeios aos Estados Unidos: "Não se intrometa".
A crítica norte-americana sobre a zona aérea anunciada é "completamente irracional", disse o coronel Yang Yujun, porta-voz do Ministério da Defesa Nacional Chinesa, respondendo, no fim de 2013, a um protesto apresentado pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry. Essa disputa, como tantas outras no mundo, continua sem solução, e a Casa Branca percebeu que pouco pode fazer para influenciar os chineses.
A Rússia irredutível
Nos últimos meses assistimos a um acontecimento na Europa, que não era visto pelo mundo desde o fim dos anos trinta—a cínica anexação da parte de uma nação europeia pela Rússia.
Ao passar pela recente rejeição de sua marionete, Victor Yanukovich, presidente da Ucrânia, a Rússia fomentou abertamente o descontentamento entre a maioria dos cidadãos pró-Rússia na província ucraniana da Crimeia, e, então, simplesmente anexou a região.
As nações europeias que fazem fronteira com a Rússia estão se sentindo ameaçadas, nada menos do que os três ex-repúblicas soviéticas, Letônia, Estônia e Lituânia, que ganharam a sua independência da Rússia após o colapso do império soviético no início da década de noventa.
A Estônia, que tem uma grande popul-ação de língua russa, está visivelmente preocupada. Conforme relatado pela Reuters no final de março, a Rússia sinalizou "preocupação" sobre supostos maus-tratos do segmento de língua russa lá, como fez anteriormente com os cidadãos de língua russa da Criméia. A história lembra que Adolf Hitler também usou a preocupação com os tchecos de língua alemã para justificar sua anexação da região dos Sudetos da República Checa, em 1938.
Em meados do mês de maio a crise ucraniana tem piorado, com simpatizantes russos no controle de muitos prédios do governo no leste da Ucrânia. O aumento sanções econômicas dos Estados Unidos e da Europa tem surtido pouco efeito no intuito de deter as ações russas.
De fato, em 21 de maio de 2014, a Rússia anunciou que, após anos de negociações, tinha assinado um acordo de quarenta bilhões de dólares por trinta anos para abastecer a China com gás natural. O acordo provê a Rússia de um enorme fluxo de caixa vindo de um gigante econômico e militar emergente e fornece uma reserva estratégica contra perdas de qualquer um dos mercados da Europa ocidental pela Rússia, proporcionando China com os recursos energéticos necessários para ajudar a alimentar a sua economia.
A alienação da Rússia por parte do Ocidente, com ameaças de sanções econômicas, só tem conseguido empurrá-la mais para abraçar o totalitarismo, um regime antiocidental do mundo. Ao mesmo tempo, parte da frota russa no Pacífico tem realizado exercícios navais conjuntos com a marinha chinesa e ambos os governos anunciaram mútua colaboração financeira.
A Volta da Guerra Fria?
Ultimamente se tem ouvido falar de um retorno à Guerra Fria de décadas atrás. Um recente artigo do New York Times desse ano, citando Stephen Hadley, Conselheiro de Segurança Nacional do ex-presidente George W. Bush, afirmando que hoje seria mais difícil se recuperar dessa crise do que no passado porque Putin tem rejeitado veementemente a ordem internacional estabelecida após o colapso da União Soviética.
"Ele quer reescrever a história, que surgiu no final da Guerra Fria", disse Hadley. "Temos abordagens fundamentalmente diferentes quanto ao destino da Europa" (citado por Peter Baker, "Guerra Fria ou a Volta da Rivalidade Gelada", 18 de março, 2014).
Muitos séculos atrás, Deus estrondeou uma advertência profética para os Estados Unidos e outras nações descendentes da antiga Israel: "Quebrantarei a soberba da vossa força . . . E debalde se gastará a vossa força" (Levítico 26:19-20, grifo do autor).
Em nenhum outro lugar isso é mais visível do que na recente e atual intervenção dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão. Apesar de mais de uma década de guerra e mais de um trilhão de dólares gastos, o Iraque está se desintegrando numa guerra civil. No Afeganistão, as forças norte-americanas anunciaram um cronograma de retirada, enquanto o presidente afegão, Hamid Karzai ignora os Estados Unidos e até chegou a recusar um encontro com o presidente Barack Obama, quando ele voou para o Afeganistão em 26 de maio de 2014.
Os historiadores concordam que a razão para os Estados Unidos terem "vencido" a Guerra Fria no início da década de noventa foi a sua força militar e econômica. No entanto, hoje vemos que essa força está se esvaindo. Embora os Estados Unidos ainda sejam a maior potência militar e a maior economia do mundo, seus inimigos estão ganhando terreno. Constantemente, a nação tem perdido suas vantagens e capacidade de influenciar os acontecimentos mundiais.
A quem devemos recorrer?
A história tem uma maneira de se repetir. Mas qual deve ser nossa atitude em relação a esses eventos? Nesse cenário mundial, para onde devemos nos virar?
O mesmo Deus que disse: "Quebrantarei a soberba da vossa força" também ordena a Seu povo a permanecer vigilantes em um tempo de crescente crise mundial. "Vigiai, pois", disse Jesus Cristo aos Seus seguidores, quando lhe perguntaram sobre o futuro (Mateus 24:42).
Essa mesmo advertência serve para nós hoje em dia. O declínio dos Estados Unidos no cenário mundial terá consequências trágicas. É tempo de abrir nossos olhos para o que está acontecendo no mundo ao nosso redor, quando antigas profecias começarem a se cumprir nas manchetes da atualidade. BN