Trump Venceu — E agora?
Em oito de novembro de 2016, os Estados Unidos e o mundo assistiram ao fim da pavorosa campanha presidencial norte-americana. As surpresas e revelações continuaram até a última noite da campanha eleitoral, quando o bilionário Donald Trump chocou o mundo ao vencer a eleição.
Talvez desde a eleição de Abraão Lincoln em 1860, os Estados Unidos não têm uma eleição que demonstrasse as profundas divisões entre o povo norte-americano. Mais do que qualquer outra eleição recente, essa acabou se tornando uma disputa entre duas visões dos Estados Unidos. Os apoiadores de Trump o viam como um político estranho no ninho e não sujeito às poderosas elites, um candidato com uma nova visão para os Estados Unidos, que rejeita a agenda ultraliberal exagerada que ataca os valores judaico-cristãos tradicionais.
Hillary Clinton, que é uma ativista social desde o fim dos anos 1960, fez campanha em prol da continuidade da visão de Obama como a solução do governo federal para a maioria dos problemas internos dos Estados Unidos e a subordinação dos interesses dos Estados Unidos no exterior como uma receita para a paz e a estabilidade, enquanto continuando os programas de saúde pública, o apoio aos direitos dos homossexuais e as políticas migratórias de porta aberta.
O choque de valores aumentou as tensões entre os valores tradicionais e a visão popular progressista em todo o país. Até mesmo os progressistas liberais têm admitido isso. “Temos duas culturas nesta nação”, disse a analista política da MSNBC Nicole Wallace. “Milhões de norte-americanos sentem-se alienados pelas elites culturais em ambas as regiões costeiras. Eles estão cansados de serem relegados ao segundo plano”.
Donald Trump aproveitou a raiva e a frustração de milhões de norte-americanos cansados desse caminho progressista-socialista, com um governo cada vez maior e maior, e da crescente hostilidade do governo contra os valores tradicionais americanos.
Análise pós-eleição
Para muitos, a campanha de Trump não pareceu muito “presidencial”. E seus contínuos ataques à filosofia predominante dos progressistas culturais enfureceram a grande mídia, que apesar de reivindicar objetividade não perdiam nenhuma oportunidade de atacar o candidato republicano.
Muitos eleitores prestavam atenção nas coisas que a grande mídia dizia de Trump, algumas das quais eram de fato atrozes, enquanto ignorava grande parte dos erros de Hillary. Posteriormente, alguns jornalistas da grande mídia admitiram isso. “Nós, da mídia, consideramos as observações dele como piores, mas é óbvio que o eleitor médio não viu dessa maneira. Eles viram como sendo grave o escândalo acerca dos e-mails dela”, admitiu Wallace da MSNBC na noite seguinte à eleição.
Em uma análise pós-eleição, alguns observadores disseram que o Partido Democrata, que sempre foi visto como amigo da classe trabalhadora, parece ter atingido sua base eleitoral ao promover políticas econômicas e regulamentos que levaram ao fechamento de fábricas no país, criando milhões de empregos no exterior e importando milhões de imigrantes para competir por escassos empregos com trabalhadores norte-americanos. Trump fez campanha prometendo construir um muro ao longo da fronteira com o México e trazer de volta os empregos para o país.
Com uma fortuna avaliada em mais de três bilhões de dólares, Trump conseguiu autofinanciar sua campanha primária e grande parte de sua campanha presidencial. Sua negação de fidelidade financeira a qualquer partido político ou grupo de interesse provou ser inebriante para milhões de eleitores, que repugnavam as enormes e interesseiras contribuições tradicionais de campanha tanto de democratas como de republicanos.
Como ele governará? Qual será a sua agenda?
Esse pleito terá o controle republicano em ambas as casas, congresso e senado, assim Trump tem uma janela de oportunidade de pelo menos dois anos para fazer as mudanças que propôs. Os conservadores norte-americanos estão incentivando-o a agir rápido.
“A oportunidade histórica que ele e o Partido Republicano receberam nessa impressionante vitória de oito de novembro não vai durar muito tempo”, escreveu o comentarista conservador Pat Buchanan. “Seus adversários e inimigos políticos e a imprensa estão temporariamente atordoados e confusos. Portanto, agora é a hora de aproveitar essa grande abertura”.
Haverá um revigoramento da economia?
Como tem sido o caso nas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos, os problemas na economia voltaram a ser a principal preocupação da maioria dos eleitores.
Retomar fortemente o crescimento econômico é o centro do plano econômico de Trump. Através de um programa de cortes de impostos sobre empresas e contribuintes, uma reforma regulatória e outros incentivos econômicos, ademais ele quer aumentar a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto da nação para 3,5% a.a., atualmente é de 1,5% a.a., e criar vinte e cinco milhões de novos empregos nos Estados Unidos na próxima década.
Seu plano de corte de impostos, ilustrado em seu site, concentraria em trabalhadores de renda média. De acordo com seu plano, um casal com dois filhos que ganha setenta e cinco mil dólares por ano teria uma redução de 30% nos impostos anuais. Sua abordagem de punição e incentivo para empresas baixaria de 35% (uma das taxas mais elevadas do mundo) para 15% os impostos (para incentivar as empresas a voltarem para o país), porém as empresas norte-americanas que operam no exterior vão pagar um imposto de 10% sobre os rendimentos repatriados—um forte incentivo para voltarem ao país.
Trump também colocou a culpa pela perda de postos de trabalho norte-americanos nas políticas de globalização que, segundo ele, “empurraram os empregos norte-americanos para fora do país”. Ele prometeu proteger os empregos no país e criar novos com políticas que estimulem a criação de novos negócios, incentivando as empresas a manter sua força de trabalho nos Estados Unidos. Seus planos também incluem reverter regulações desnecessárias que custam bilhões de dólares às corporações e aos seus clientes.
Em discursos de campanha em cada polo industrial, ele criticou severamente o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e seu primo ideológico, o Tratado Transpacífico (TPP), como assassinos de emprego. Ele prometeu renegociar acordos comerciais em condições mais favoráveis para o país e, ao mesmo tempo, ameaçou tarifar rigidamente as empresas que levam empregos para o exterior e trazem seus produtos de volta para os Estados Unidos.
Será que esses planos poderiam revigorar a combalida economia dos Estados Unidos? Alguns conservadores advogam contra as medidas protecionistas. Outros dizem que a situação tem ficado muito difícil diante do crescimento econômico mediano de 1,55% nos últimos oito anos e do desemprego ou subemprego que atinge dezenas de milhões de norte-americanos.
Os valores tradicionais vão ressurgir?
Em sua campanha presidencial, Trump falou sobre a preocupação de milhões de norte-americanos que sentem que seus valores tradicionais foram arrastados por uma onda de pensamento progressista nas últimas décadas. Muitos o veem como moralmente questionável, mas acabaram votando nele por considerá-lo a melhor alternativa.
Segundo todos os relatos, os juízes de esquerda e a Suprema Corte dos Estados Unidos foram aliados ideológicos do movimento progressista. A administração do presidente eleito Trump terá a oportunidade de mudar isso com a nomeação imediata de um conservador para substituir o juiz Antonin Scalia, falecido em fevereiro de 2016. Trump pode ter a chance de aumentar o nível conservador desse tribunal ao substituir três outros juízes da Suprema Corte do país, que já têm mais de oitenta anos de idade, dentre estes, dois têm posições liberais. Mas resta saber o que ele vai fazer.
No debate nacional sobre o aborto, os ativistas pró-vida estão esperançosos por uma eventual reviravolta na decisão do caso Roe vs. Wade de 1973, que levou ao assassinato de cerca de sessenta milhões de crianças nascituras nos Estados Unidos. Os defensores dos valores tradicionais vão trabalhar para encontrarem o caso certo para que ocorra um novo julgamento da questão perante um tribunal que esperam que seja mais conservador e pró-vida.
“Vamos nomear grandes juízes para a Suprema Corte... e serão juízes de grande intelecto... E vão ser pró-vida”, disse Trump em um encontro de cristãos conservadores em junho de 2016. Durante a campanha, ele divulgou uma lista de vinte e um juízes conservadores que ele poderia nomear para o tribunal.
Trump expressou um forte compromisso com o direito de portar armas, previsto na Segunda Emenda. Sua plataforma de campanha pede “o direito nacional de porte de arma”—assim legalizando o porte legal em todo o território nacional. Usando uma linguagem que lhe é peculiar, Trump disse em seu site: “Os agentes fazem um excelente trabalho ao aplicar a lei, mas eles não podem estar em todo lugar o tempo todo”.
Reconstrução da defesa nacional
Em sua campanha, Trump prometeu colocar os interesses do país em primeiro lugar, uma posição defendida por milhões de norte-americanos, mas um anátema para a esquerda e para aqueles que pensam que os Estados Unidos devem simplesmente “jogar bem o jogo político do grande tabuleiro de xadrez das nações”.
Sua plataforma pede um ressurgimento do exército norte-americano, revertendo uma tendência de redução gradual das forças de defesa dos Estados Unidos, que tinham um contingente de cerca de 550 mil soldados, quando Barack Obama assumiu o cargo em 2008, com previsão de diminuição para 460 mil soldados até 2017. Ele propõe um aumento imediato de 85 mil tropas para o Exército, a reconstrução da Marinha dos EUA para 350 navios e o crescimento do Corpo de Fuzileiros Navais para 36 batalhões de força total. Ele planeja pagar por isso eliminando desperdício de práticas de compras de defesa e programas federais desnecessários.
Quanto à política externa, Trump disse que seu governo vai acabar com as atuais políticas de mudança de regime e de construção de nação, enquanto atua com aliados árabes no Oriente Médio para exterminar a ameaça do Estado Islâmico. Ele quer uma nova abordagem para a Rússia, e acredita que pode trabalhar com o presidente russo, Vladimir Putin, para aliviar essas tensões. (No entanto, alguns estão bastante perturbados com a ideia de uma amizade entre os dois).
Trump fez da imigração ilegal um tema central da campanha, focalizando especialmente nos imigrantes ilegais do México e da América Central. Enquanto muitos observadores estão céticos quanto a seu plano de construir um muro na fronteira com o México para evitar a imigração ilegal, a maioria vê que seu apelo por uma análise mais rigorosa dos imigrantes será levado a sério em sua administração.
A sua posição sobre a imigração de muçulmanos para os Estados Unidos é um ponto nevrálgico. Em face aos recentes ataques terroristas, perpetrados por muçulmanos na Europa e nos Estados Unidos, Trump pediu uma verificação mais rigorosa dos antecedentes de imigrantes de nações predominantemente muçulmanas. Trump disse que seu papel de comandante-em-chefe é o de fazer o que for preciso para manter a segurança nacional, tanto internamente como em todo o mundo.
Fortalecimento da Europa?
Embora não seja tão amplamente divulgado, Trump argumentou que os aliados europeus dos Estados Unidos na OTAN, e também os aliados asiáticos como o Japão e a Coréia do Sul, vão ter que assumir mais responsabilidade por sua própria defesa, inclusive pagar o que ele chama de parte justa dos custos militares.
Sua retórica tem preocupado os líderes europeus. Logo após o fim da votação de junho de 2016 para a saída do Reino Unido da União Europeia (ver “O Que o Brexit Significa Para o Seu Mundo?”, em nossa edição de setembro-outubro de 2016), os líderes europeus intensificaram os seus apelos para a formação de uma força de defesa europeia, composta por soldados de todas, ou a maioria, das nações da União Europeia.
Isso tem implicações proféticas. Por quase meio século, A Boa Nova e suas publicações predecessoras vêm antecipando o surgimento de uma grande força na Europa, formada como consequência da atual União Europeia.
Com uma população de mais de 450 milhões de habitantes e uma economia conjunta maior do que a dos Estados Unidos, essa superpotência poderia atuar como um leão feroz no cenário mundial, exercendo poder e influência em todo o mundo. A profecia bíblica revela, em Apocalipse 17, que tal poder seria controlado principalmente por dez líderes nacionais que “darão seu poder e autoridade” a um grande ditador, que a Bíblia se refere como “a besta”.
Tempos interessantes à frente
Uma coisa é certa: tempos interessantes nos esperam no futuro, enquanto os Estados Unidos lutam pela sua identidade e pelo futuro duma população dividida entre visões extremamente opostas e contraditórias. O novo presidente vai cumprir suas promessas? A nação fará mudanças reais para melhor ou continuará seu padrão de declínio?
Todas as nações estarão observando o novo governo de Trump. Por sua vez, você também precisa estar observando a Europa e o mundo, particularmente em como o povo norte-americano e as outras nações e líderes vão reagir a potenciais e importantes mudanças na política norte-americana. O futuro de todas as nações, incluindo nós de língua portuguesa—assim como seu próprio futuro—pode depender disso! BN