Dê somente uma ordem
Quando olhou pela porta e viu seu servo paralisado, o mestre sabia o que o confrontava. Ele já tinha visto muitas vezes esse tipo de situação. E isso vinha em muitos tons, mas ele não estava confundido pela morte iminente. Pois, tal inimigo não era estranho para esse homem, pois ele era um centurião romano.
Os centuriões eram oficiais especiais da principal força mundial de combate. Eles não eram nomeados por meios políticos, mas eram veteranos provados em anos de serviço honrado. E comandava mais de cem homens — uma “centúria” — um bloco importante de uma legião romana de seis mil homens. Eles eram elementos-chaves que mantinham juntas suas unidades.
Políbio, um comentarista grego da sociedade romana que viveu no segundo século a.C., escreveu: "Eles não deviam se aventurar em muitos perigo, como homens que comandam, devem estar prontos a manter-se firmes em ações militares, fidedignos,não devem estar ansiosos para entrar numa batalha, mas quando pressionados, eles tinham que estar prontos para o ataque e para morrer em seus postos".
Os centuriões romanos sempre lideravam a partir da frente com bravura e honra estampada em suas ações. Eles recebiam e davam ordens sem questionar. Muitos morreram na batalha, mais do que outros oficiais, porque estavam preparados para serem os pilares quando outros necessitavam de apoio.
Mas agora para esse homem em pé à porta, não havia soluções imediatas para esta corrida contra a morte. Este centurião que tinha servido durante anos nas forças imperiais de César estava prestes a realizar a missão mais importante de sua vida. E não era uma ordem escrita trazida pelo correio ou pela boca de um tribuno, mas por um chamado interior para avançar em um território desconhecido.
Cada passo, prestes a ser tomado, era impensável na sociedade contemporânea. Seria preciso força e honra baseada na humildade. Quem sabe agora você e eu podemos estar em pé diante de uma porta semelhante na vida, onde se exige respostas para situações aparentemente insolúveis e, talvez, continuemos frustrados porque todas as antigas respostas simplesmente não estão funcionando. Vamos acompanhar esse centurião e ver como ele responde ao maior de todos os governantes, que está dizendo: "Siga-me".
A dramática inversão de papéis
Mateus 8:5-13 e Lucas 7:1-10 nos dão detalhes deste encontro de mútuo respeito entre dois homens de mundos totalmente diferentes. O relato de Mateus diz: "E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico e violentamente atormentado”.
A força motriz por trás da busca do centurião era o amor por seu servo, "quem este muito estimava" (Lucas 7:2). Era raro na sociedade romana, um mestre ter tamanha preocupação. Os escravos e servos eram considerados ferramentas vivas. E o que os separava de quaisquer outras mulas de carga ou ferramentas era basicamente o raciocínio e a capacidade de falar.
Os antigos filósofos, como Aristóteles, tinham advertido que o mestre não devia ter relacionamento próximo com seus servos. No entanto, aqui o centurião jogou seu orgulho fora porque se atreveu a importar-se.
A Escritura nos mostra que ele não pediu um encontro secreto em algum lugar afastado, mas que, abertamente, procurou a ajuda dos anciãos judeus próximos para falar em seu nome (versículo 3). Afinal, ele era um centurião cujo núcleo de valores era a força e a honra.
Ele não tinha dúvida que havia conquistado seu status, mas agora estava pedindo algo que não se baseava em mérito humano. Em uma inversão de papéis, ele iria apelar, como membro do poder conquistador, para uma pessoa dentre os conquistados — pois ele tinha ouvido falar sobre este Homem de Nazaré e como a própria morte havia se rendido ao Seu toque e comando.
Atravessando uma ponte sem retorno
Da mesma forma Jesus, o judeu, atravessou uma vala profunda e imensa da discriminação criada por homens, sob o pretexto de religiosidade. Ele, confiantemente, respondeu ao pedido: "Eu irei e lhe darei saúde" (Mateus 8:7).
Entenda isto: Naquele dia, era considerado cerimonialmente ilegal para um judeu entrar na casa de um gentio (um não judeu). Qualquer pessoa que fez isso seria "impura” porque a maioria dos judeus considerava que todos os gentios impuros deviam ser evitados.
E, no entanto, este mesmo homem a quem os religiosos daquele dia teriam classificado como impuros também era conhecido por ter sido bondoso com os moradores dali e tinha dado ajuda financeira para a construção de uma sinagoga (Lucas 7:5).
Assim, os dois homens não apenas se encontraram no meio de uma ponte proverbial. Pelo contrário, eles atravessaram essa ponte sem retorno. Não havia mais volta para qualquer um deles, pois ambos desafiaram as normas sociais da época em benefício de um servo sofredor.
Enquanto Cristo estava caminhando em direção à casa do centurião (que era aparentemente próxima, pois arqueólogos descobriram os restos de uma base militar romana a leste da cidade de Cafarnaum), o centurião, não querendo impor-se ou deixar o Mestre Judeu em uma posição difícil, enviou outros intermediários com esta mensagem:
"Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; e, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize, porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: vai; e ele vai; e a outro: vem; e ele vem; e ao meu servo: faze isto; e ele o faz" (versículos 6-8).
E aqui o amor do centurião pelo próximo deu passagem para a humildade. A humildade é a morte de orgulho.
Seu apelo sincero a esse Mestre Judeu poderia causar danos irreparáveis à sua carreira de oficial romano, mas ele estava disposto a sacrificar a sua carreira e futuro se isso significasse a cura de seu servo.
Marchando com fé pelo caminho
As próximas palavras do centurião refletiriam uma marcha diferente nesse chamado caminho de fé. "Mas dize somente uma palavra, e o meu criado sarará", disse o centurião (Mateus 8:8). A Tradução na Linguagem de Hoje traduz assim: "Dê somente uma ordem..." Eu gosto desta — curta, simples e direta!
O centurião sabia o que significava dar ordens em um campo de batalha e, sensatamente, respondeu: "Eu relatei o serviço. Eu perguntei e recebi a minha resposta. Missão cumprida". Ele declarou antecipadamente sua crença de que a vitória já era certa.
A humildade e a fidelidade do soldado romano deixou Jesus Cristo admirado: "Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé" (Versículo 10).
Jesus tomou a coragem repleta atitudes de fé de um homem, que teve humildade, amor e fé para sair da sua zona de conforto para enfrentar uma zona desconfortável, a qual conhecia muito bem. Isso soa familiar?
Ele, então, disse ao centurião: “Vai, e como creste te seja feito. E, naquela mesma hora, o seu criado sarou" (Mateus 8:13).
As considerações finais de Jesus ao dizer: "Vai, e como creste te seja feito" ressoa até aos nossos dias. Seu alcance em nossas vidas e em nosso bem-estar seja lá onde estivermos, e não está preso em uma determinada época ou lugar geográfico. Ele era verdadeiramente Deus em carne e osso em Seu ministério terreno e continua sendo o Filho Deus em Seu ministério celestial em prol de cada um de nós. Simplificando: Deus vê as coisas como se elas já tivessem acontecido! (ver Romanos 4:17).
Suas conclusões a respeito desse centurião nos dão uma lição de como responder ao Seu chamado para "Segui-Lo" por entender que, muitas vezes, Deus já respondeu a nossas orações e temos apenas que nos ajoelhar e buscar conhecer as soluções antecipadas de Deus com fé!
Ainda liderando a partir da frente
O que fez com que esse soldado romano fosse um exemplo de fé viva para Jesus Cristo? E o que podemos aprender dele, considerando que nos foi oferecido o incrível convite para "Segui-Lo" e mudar de vida? O que é que nos impede de responder a Deus Pai e a Jesus Cristo exclamando: “Dê somente uma ordem”, como fez o centurião?
O exemplo do centurião mostra como ele derrubou três barreiras que realmente nos impedem de seguir a Cristo. Essas três barreiras são as mesmas para nós hoje como eram para ele há dois mil anos. E elas são as seguintes:
1) O medo de abalar o status quo humano de que "essa é a forma como as coisas sempre têm sido".
2) O orgulho pessoal atormentado pelos pensamentos de "O que as pessoas vão pensar? Eu poderia perder tudo!"
3) Acreditar apenas no que vemos no momento.
Então, onde está o caminho a seguir? O centurião marchou para o princípio bíblico que diz que "no amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo" (1 João 4:18, ARA). Além disso, ele colocou em prática o que o Homem da Galileia diria mais tarde — "Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (João 15:13). Note que o amor é o tema que permeia esse encontro bíblico e que abre todas as outras qualidades que vêm a seguir.
Mesmo assim, o centurião estava em uma luta diferente de qualquer uma que já enfrentou em sua carreira militar. Pois, foi a sua humildade fundada no amor que lhe permitiu receber a promessa de Deus — "Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes" (Tiago 4:6).
Como modernos centuriões espirituais, nós também temos que estar dispostos a, interiormente, "matar nosso eu" antes que Deus lute por nós e nos conceda Sua vitória para superar todas as nossas estagnadas soluções humanas.
Ainda assim, é um passo humanamente assustador. Mas lembre-se que Cristo nos diz em João 12:25-26: "Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna. Quem me serve precisa seguir-me; e, onde estou, o meu servo também estará. Aquele que me serve, meu Pai o honrará" (NVI).
Em última análise, o poder e a honra pertencem a Deus, para nos ajudar em momentos de necessidade. De fato, as circunstâncias da vida demandam corações com olhos que veem além do agora e que se mantenha firme, lembrando Seu encorajamento de que "sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam" (Hebreus 11:6).
É hora de você e eu sermos centuriões espirituais modernos junto com o Príncipe de nossa salvação, que nos guia (Hebreus 2:10) e diz: "Siga-me". Ao fazer isso, lembre-se sempre de que Cristo nunca prometeu que seria fácil, mas que valeria a pena.
O tempo e o momento propício é agora — está na hora de você sair de sua porta pessoal de desespero, como aquele antigo centurião — para vir diante do próprio Senhor e fielmente exclamar: "Dê somente uma ordem". BN