O Declínio e a Queda das Nações
Uma Perspectiva Profética
O historiador de Harvard, Niall Ferguson, escreveu na edição de março-abril de 2010 da revista Foreign Affairs [Relações exteriores], uma apresentação analítica de como os impérios podem, rapidamente, colapsar e mergulhar no caos. Ao invés de um lento declínio ao longo dos séculos, Ferguson mostra que muitas nações grandes do passado foram destruídas em poucos anos. Embora aparentemente fortes e vibrantes, elas praticamente desapareceram da noite para o dia.
O conhecimento convencional presume que os desafios econômicos para o domínio global dos Estados Unidos são uma ameaça de longo prazo. Destaca-se, por exemplo, que sua própria demografia ao longo do tempo fará aumentar a dívida em proporções incontroláveis.
Ferguson cita previsões de que, a longo prazo, a economia da China ultrapassará em tamanho a dos Estados Unidos até 2027 ou 2040, e levanta a seguinte questão: "O que fazer se a história não for cíclica e lenta, mas arrítmica — às vezes quase parada, porém também sendo capaz de acelerar repentinamente, como um carro esportivo? E se o colapso não levar vários séculos, mas vir de repente, como um ladrão na noite?" ("Complexidade e Colapso", pág. 22).
Mudanças súbitas como um ladrão na noite
Um ladrão na noite? Soa bíblico! O Novo Testamento nos diz: "Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva; porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão" (1 Tessalonicenses 5:1-3, ênfase adicionada).
O que a Bíblia diz sobre os eventos do fim dos tempos culminando no Dia do Senhor se aplica ao colapso repentino das nações e dos impérios poderosos ao longo da história.
Ferguson observa que o colapso da União Soviética se deu em um curto período de cinco anos, a partir do momento que Mikhail Gorbachev se tornou o secretário-geral do Partido Comunista Soviético. Embora a CIA superestimasse o tamanho da economia soviética, pois, os soviéticos tinham superioridade nuclear sobre os Estados Unidos. Parecia que a União Soviética continuaria a desafiar os Estados Unidos ainda por muitos anos.
"No entanto, em menos de cinco anos, após Gorbachev assumir o poder, o império soviético na Europa Central e Oriental havia caído, seguido pela própria União Soviética em 1991. Se alguma vez na história algum império despencou de um penhasco, em vez de declinar paulatinamente, esse foi o fundado por Lenin" (pág. 30).
A tese de Ferguson é que impérios são sistemas grandes e complexos que podem ser virados de cabeça para baixo em um breve espaço de tempo através da inserção de um único evento que está além da capacidade máxima que o sistema pode suportar. A falta de confiança no futuro de uma nação, mesmo sendo forte, pode ser esse evento. Quando as outras nações perdem a confiança na sustentabilidade de um modelo econômico, rapidamente os eventos podem ser postos em movimento para mudar o equilíbrio de poder.
Outros menores, e aparentemente insignificantes, acontecimentos podem desatar uma reação em cadeia levando à convulsão maciça. O assassinato do arquiduque austríaco Franz Ferdinand, em Junho de 1914 foi o estopim que acendeu o barril de pólvora da Primeira Guerra Mundial. Ninguém viu isso na época, mas rapidamente os eventos ficaram fora de controle e resultou em um conflito mundial.
Um exemplo da recente crise econômica
Temos o exemplo recente de como a complexa economia mundial passou por altos e baixos quando muitos americanos começaram a deixar de pagar, o que comumente são chamados de "empréstimos subprime". Porque milhares de grandes instituições financeiras dependem do desempenho desses empréstimos, eles, de repente, se viram falidos ou muito perto da falência. E a onda derrubou grandes casas financeiras de Wall Street e teve repercussões em toda a Europa e Ásia.
O sistema financeiro mundial se aproximou do colapso em uma semana de setembro de 2008. A economia global ainda está se recuperando. É uma lição sobre a rapidez com que os eventos, mesmo os relativamente pequenos, podem virar o mundo de cabeça para baixo.
Ferguson conclui observando que "os impérios se comportam como todos os complexos sistemas adaptativos. Eles funcionam em equilíbrio aparente por algum período desconhecido. E então, de forma brusca, entram em colapso... subitamente" (pág. 32).
O que Ferguson e outros historiadores normalmente deixam de fora da discussão é o que pode ser chamado de dimensão perdida nos assuntos mundiais. Essa dimensão perdida é a mão de Deus na ascensão e queda das grandes nações e impérios.
A Bíblia é uma crônica de antigas nações que ascenderam e descenderam conforme o plano e o propósito de Deus. O Egito, a Assíria, a Babilônia, a Pérsia, a Grécia e Roma — todas são mencionadas na narrativa. Todas desempenharam papéis centrais na interação com a nação de Israel e com a Igreja fundada por Jesus Cristo. Ainda hoje, as lições dos impérios contidos na Bíblia podem ser aplicadas quando observamos que o mundo moderno caminha para o que Cristo disse que seria o fim da era dos governos humanos.
A lição da antiga Babilônia
O livro profético de Daniel lista a Babilônia como o primeiro de uma sucessão de impérios que impactaria o mundo desde o tempo da queda de Jerusalém, nos dias de Daniel, até o fim da era atual de desgoverno humano. Daniel encontrava-se na sede do império lidando com sucessivos governantes, começando com Nabucodonosor. Ao explicar ao rei o significado do seu sonho, o profeta lhe disse que Deus "remove os reis e estabelece os reis" (Daniel 2:21).
Aqui está um crucial e primeiro princípio para se entender os assuntos mundiais. Deus determina o rumo das nações. Ele pode estabelecer ou remover um líder quando quiser. Isso não significa que Ele está envolvido nos assuntos cada pequena nação, quando estas não afetam o curso de seu plano. Mas, é evidente que Ele está envolvido em muitas coisas — as quais incluiem tudo que necessite atenção para que todas as profecias que Ele deu sobre várias nações e o mundo em geral sejam cumpridas. Muitas dessas profecias são advertências de julgamento.
A Babilônia encontrou-se diante da advertência profética de Deus na noite em que um subsequente governante, Belsazar, "deu um grande banquete" (Daniel 5:1). Este evento ocorreu quando os exércitos persas estavam reunidos fora dos portões da cidade. Durante o banquete dedos de uma mão de homem apareceram e escreveram na parede do palácio do rei (versículo 5). O rei Belsazar perturbou-se ao ver aquilo e ordenou que interpretassem o que estava escrito. A ordem chegou a Daniel, o único que poderia interpretar a escrita, então ele foi levado para a sala de banquete.
Daniel relatou algumas das coisas que o antigo governante, Nabucodonosor, tinha aprendido através de sua experiência com Deus, incluindo o fato de que "Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre os reinos dos homens e a quem quer constitui sobre eles" (Daniel 5:21).
A interpretação de Daniel da escrita destaca outra dimensão fundamental nos assuntos mundiais. A mensagem na parede foi: "Contou Deus o teu reino e o acabou... e foste achado em falta... Dividido foi o teu reino e deu-se aos medos e aos persas" (Daniel 5:26-27).
É Deus quem decide quanto tempo um império pode permanecer e quando deve acabar. A chave é quando a nação e seu povo são "achados em falta" — não estando à altura. Em outras palavras, isso se refere ao pecado, à transgressão das leis de Deus e ao não reconhecimento do Deus da criação.
Os babilônios adoravam deuses falsos que não viam nem ouviam, nem sabiam de nada. Eles não reconheciam o "Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos" (vers. 23). Praticamente, o problema deles era o mesmo que todas as outras grandes nações que surgiram e desapareceram ao longo da história: Eles não adoravam ao verdadeiro Deus. Eles praticavam o que a Bíblia chama de idolatria, adorando como Deus o que não é Deus. Até hoje temos o mesmo problema.
Naquela mesma noite os persas conquistaram a Babilônia e Belsazar foi morto. Como potência, a Babilônia acabou — absorvida pelo reino persa. A transição foi extremamente rápida, como um ladrão na noite.
A ascensão e queda da "Babilônia" moderna
Na Bíblia, "Babilônia" tem um significado que vai além de uma antiga cidade. A palavra também é usada para descrever um sistema religioso e político que tem raízes pagãs na Babilônia. Quando vamos ao livro de Apocalipse, vemos uma versão moderna desse antigo sistema dominando o cenário mundial. Apocalipse 17 mostra uma mulher sentada sobre uma besta escarlate com um nome em sua testa que diz: "MISTÉRIO, A GRANDE BABILÔNIA, A MÃE DAS PROSTITUIÇÕES E ABOMINAÇÕES DA TERRA" (versículo 5).
Esse sistema controla o mundo por um breve e significante tempo antes da vinda de Jesus Cristo. O mundo vai se iludir com uma sensação de paz e segurança provido por este sistema unido sob o disfarce de proteção e segurança.
Apesar de este sistema causar impacto no mundo inteiro, há sinais de que será fraco na sua fundação. Seu tamanho o tornará um sistema complexo. Muitas nações, etnias, culturas e línguas estarão em jogo. A tecnologia, por si só uma estrutura complicada e tênue, vai ajuntar a diversidade do mundo. Será uma mistura instável que, depois de uma breve supremacia, rapidamente vai se desemaranhar.
Apocalipse 17:16 mostra que o poder econômico e militar alinhado com essa Babilônia do fim dos tempos, profeticamente chamado de "besta", vai se transformar neste sistema simbolizado por uma mulher caída. E Apocalipse 18:8 nos diz: "Portanto, num dia virão as suas pragas: a morte, e o pranto, e a fome; e será queimada no fogo, porque é forte o Senhor Deus, que a julga... Pois numa hora veio o seu juízo" (Apocalipse 18:8-10).
Mais uma vez, o juízo vem rápido e inesperadamente. Se se trata de dias ou meses não está claro, mas provavelmente não será por muito mais tempo, dado o tempo da profecia neste período. Como a antiga Babilônia caiu em uma noite, vemos que a mudança repentina pode vir a uma nação mesmo quando a vida parece estar normal.
A advertência de Cristo para não sermos surpreendidos
Jesus Cristo disse que as pessoas estariam vivendo uma vida normal e seriam surpreendidas pelo acontecimento de importantes mudanças: "E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra" (Lucas 21:34-35).
Mais uma vez, vemos a advertência de que os eventos vão ocorrer de repente, como um ladrão na noite. O que Niall Ferguson observou em seu artigo sobre o declínio e a queda das nações encontra respaldo na história e na profecia bíblica. Mas, há uma diferença. Ferguson e a maioria dos historiadores modernos enfocaram em dados demográficos e fatores econômicos. Como já salientado, eles geralmente deixam de fora a dimensão espiritual da intervenção de Deus.
Ignorar e negar a mão de Deus na história é perder o verdadeiro significado da história e dos acontecimentos do mundo atual. E negar a Deus é a cerne de todo declínio e queda.
O problema da idolatria
Nabucodonosor teve que aprender esta lição da maneira mais difícil. Ele olhou para o reino que governava e pensou que tudo tinha sido estabelecido e construído por sua sabedoria e astúcia. Como qualquer déspota da história, ele tinha muito orgulhoso de si mesmo, e quando estava examinando arrogantemente o esplendor da Babilônia, viu-se obrigado a encarar a realidade.
A Escritura diz que Ele enlouqueceu por sete anos. Seu estado mental fez dele um prisioneiro no seu próprio corpo, sem capacidade de agir ou de pensar racionalmente. E então, de repente, ele voltou ao normal e retomou sua posição no reino. Ele aprendeu uma lição — que o controle de Deus sobre os líderes e nações é um fator crítico nos assuntos mundiais. Os últimos versículos de Daniel 4, onde esta parte da história é contada, formam uma palavra final sobre o reinado de Nabucodonosor.
As palavras dos profetas, incluindo Jesus Cristo, ensina-nos a lição fundamental de que precisamos entender porque as nações podem, subitamente, entrar em colapso mesmo quando os sinais normais dizem o contrário. Que seja Israel, o povo escolhido de Deus, ou outro império, quando um povo falha em não reconhecer a Deus e cai em idolatria, colocando-se em primeiro lugar, se encontram em uma estrada a caminho do colapso.
Esse colapso pode levar várias gerações, mas é inevitável, exceto se ocorrer um arrependimento nacional. A queda pode levar algumas décadas ou apenas alguns anos. Mas, quando o tempo de Deus tiver chegado, o que Ele predisse acontecerá.
É por isso que a situação atual das coisas no Estados Unidos e seu papel no mundo é tão crítico. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o Estados Unidos tem sido o defensor do chamado "mundo livre". Seu escudo nuclear protegia a Europa durante a Guerra Fria, permitindo a recuperação das economias europeias. A Marinha do Estados Unidos manteve as rotas marítimas do mundo abertas ao comércio. Seus exércitos têm lutado contra o terrorismo, reagindo ao genocídio e dissuadindo a nações párias, como a Coréia do Norte e o Irã.
O aumento da dívida estadunidense, um dia — talvez muito em breve — fará com que ele abandone o papel histórico que tem desempenhado como um protetor global. Quando esse dia chegar, será um sinal de mudança, talvez um colapso, no papel dos Estados Unidos como uma superpotência. O que se seguirá, provavelmente, será rápido e repentino, "como um ladrão na noite".
Quando chegar o dia que o Estados Unidos e os países de língua inglesa renunciem ao seu papel histórico e biblicamente predito no mundo moderno, o mundo se tornará um lugar muito diferente. BN