Além de Nossa Ilha de Patmos Particular
A maioria de nós está familiarizado com a frase inicial da Oração do Pai Nosso: “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mateus 6:9-10). Estas palavras, ensinadas por Jesus Cristo durante Sermão da Montanha, podem coincidir com os nossos desejos sinceros, mas, muitas vezes, a simples seriedade das circunstâncias aqui embaixo pode desviar nossa atenção para longe dessa admoestação de Jesus, que diz respeito ao foco de nossa atenção.
Já se foi dito algumas vezes o seguinte: “A vida é o que lhe acontece, enquanto você está ocupado fazendo outros planos”. O fato de nossa vida parecer estar cheia de dificuldades tende a dificultar que enxerguemos a Deus sentado em Seu trono, transcendental, acima do nosso mundinho abarrotado de pessoas. É muito fácil para os nossos corações se afastarem das promessas de Deus, que se destina ao nosso bem-estar espiritual.
O último livro da Bíblia mostra que devemos manter nosso foco no lugar certo para conseguir suportar as dificuldades da vida e, finalmente, experimentar as maravilhosas bênçãos que Deus tem reservado para nós.
Exílio e revelação
O apóstolo João estava presente no Sermão da Montanha quando Cristo ensinou a orar, e ele foi buscar o poder das palavras de Jesus em tempo de necessidade quase sessenta anos mais tarde. Perto do fim de sua vida, ele escreveu em Apocalipse 1:9: “Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo”.
A maioria das fontes confiáveis indica que João estava exilado nessa pequena ilha do mar Egeu, ao largo da costa ocidental da Turquia moderna, durante a turbulenta perseguição aos cristãos desencadeada pelo cruel imperador romano Domiciano.
Meditemos por um momento no que pode ter passado por sua cabeça enquanto ele olhava, de cima de um penhasco escarpado, as águas agitadas batendo nas rochas abaixo. Ali estava ele, isolado nesta ilha remota, incapaz de exercer as funções incumbidas a ele, décadas atrás, por Seu amado Senhor e Mestre.
Quais eram os pensamentos de João diante dessa situação? Será que ele se perguntava onde estava Deus, se teria sido abandonado e terminaria seus dias no exílio depois de dedicar tanto sua vida a serviço de Seu mestre e pregar o evangelho?
Talvez você tenha tido perguntas semelhantes que, às vezes, o atormenta. Em certos momentos da vida, pode parecer que também estamos isolados e sozinhos, exilados em nossa própria ilha de Patmos particular!
Se tais perguntas estavam na mente de João ou estão na sua agora, devemos ponderar que João recebeu a garantia de um futuro—garantia que também foi dada a nós: “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus [o Pai] lhe deu [a Cristo] para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer” (Apocalipse 1:1).
Cristo estava compartilhando com João a gama de eventos que o mundo e Sua Igreja iriam experimentar nos próximos tempos, culminando com o surgimento de “um novo céu e uma nova terra” (Apocalipse 21:1).
Grande parte dessa visão celestial seria extremamente alegre, enquanto outras partes podiam ser muito tristes quando Cristo revela o que aconteceria com os verdadeiros servos de Deus nesta era. Por isso, Ele afirma a esperança para que essa revelação surpreendente não seja devastadora para João e para os outros que receberiam essa mensagem.
Primeiro obtenha uma perspectiva celestial
Cristo sabia a melhor forma de revelar a João como a vontade do Pai será feita “tanto na terra como no céu”. Antes de revelar o futuro, Ele dá a João um vislumbre do “céu”, abrindo uma janela para algo maravilhoso que remete à nossa existência aqui embaixo.
Isto seria o fundamento de toda a revelação que viria a seguir. Isto é, “as primeiras coisas”. Era como se Jesus, o Cristo ressuscitado, estivesse dizendo “siga-me”, não apenas nos ensinando como orar, mas como experimentar com todo o nosso ser a presença próxima de “nosso Pai no céu”.
Deus convida João a ter uma perspectiva celestial do que é eterno além da nossa existência humana passageira e dos nossos sofrimentos (comparar Colossenses 3:2; 2 Coríntios 4:17-18; Romanos 8:18-23). Vamos acompanhar e entender como podemos ir além de nossa “Patmos pessoal”, que pode nos isolar não apenas dos outros, mas também de Deus.
A revelação começa com o som de “uma grande voz, como de trombeta”, declarando: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” (Apocalipse 1:8-11).
Jesus Cristo começa a revelar o que o Pai Lhe deu para comunicar pessoalmente acerca de Sua eterna existência— abrangendo tudo o que aconteceu e ainda acontecerá. Ele e o Pai não tiveram origem, mas simplesmente sempre existiram, além dos limites do tempo e do espaço, sendo a fonte de todas as outras vidas.
Nesta visão, Jesus aparece no meio de sete candelabros (versículo 13) que simbolizam as igrejas que estavam enfrentando desafios no primeiro século, assim como todo o povo de Deus ao longo dos séculos até nosso tempo. Ele não é um salvador ausente ou um espectador cósmico, mas, como o Bom Pastor, Ele está no meio de Seu rebanho espiritual, mesmo quando não temos consciência de Sua presença.
Um resumo dos papéis de Cristo
Aqui nos é dado um breve resumo do trono celestial de Deus, com uma descrição de Jesus como Aquele “semelhante ao Filho do Homem” vestindo uma roupa que ía até os pés, e com uma faixa dourada ao redor de Seu peito (Apocalipse 1:13).
É aqui que Deus quer que nós acompanhemos João e nos aproximemos do Seu trono com a gravura mental dAquele que foi carne como nós somos (o Filho do Homem), mas que agora está vestido com uma túnica brilhante que retrata o Seu papel como nosso Rei e Sumo Sacerdote e irrevogável Mensageiro celestial de Deus.
Esta gravura do trono de Deus descreve Cristo como Aquele que tem “na Sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece” (versículo 16 ). As estrelas significam anjos ou mensageiros do povo de Deus (versículo 20), a espada é a Palavra de Deus (ver Hebreus 4:12), e o brilho resplandecente é o resplendor da glória divina (ver Hebreus 1:3).
Aqui João se vê—e nós nos vemos— diante da realidade de que Deus colocou Cristo no controle absoluto do universo. Ele tem um completo entendimento de tudo e tem o poder de realizar o julgamento divino, em nome de Seu Pai.
Observe também que as primeiras palavras mencionadas por Cristo, após revelar-se a Si mesmo, são palavras que nunca podemos ouvir o suficiente: “Não temas” (versículo 17). Ele diz isso colocando Sua mão direita sobre João, mostrando Seu cuidado pessoal e Sua profunda amizade.
Por que não devemos ter medo? Porque, novamente, Ele declara: “Não temas; eu sou o Primeiro e o Último e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre . . . E tenho as chaves da morte e do inferno [da sepultura]” (versículos 17-18).
É uma afirmação de que somente Ele pode fazer, tendo existido em ambos os mundos da vida e da morte e agora Ele possui as chaves de ambas! Ele não desconhece a seriedade das atrações do mundo nem o isolamento e o abandono.
Esta afirmação se remete ao que Ele havia declarado, como o Deus de Israel no Antigo Testamento (ver João 1:1-3, 14; 1 Coríntios 10:4), quando afirmou: “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade. . . porque assim o disse, e assim acontecerá; eu o determinei e também o farei” (Isaías 46:9-11).
Aproximando-se do inacessível
O grande Revelador, Jesus Cristo, segue em frente, em Apocalipse 4, para abrir a sala do trono de Deus para João e para nós. João descreve a visão: “Eis que um trono estava posto no céu, e Um assentado sobre o trono. E O que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra de jaspe e de sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono e era semelhante à esmeralda” (versículo 2-3).
Aqui, o poder, a glória e a santidade de natureza e dos atributos de Deus são revelados em um cenário de joias preciosas que deslumbram e brilham tão intensamente que chegam a quase cegar—descrito em outras passagens como “luz inacessível” (1 Timóteo 6:16).
Este é o mesmo trono revelado na oração de Davi quando ele disse a Deus: “Senhor! Senhor, Deus meu, tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de majestade. Ele cobre-se de luz como de uma veste, estende os céus como uma cortina” (Salmo 104:1-2).
Veja que a visão de João do cenário “no céu” é retratada com um arco-íris ao redor do trono, o que pode remeter ao arco-íris após o dilúvio de Noé (Gênesis 9:11-17), talvez significando a promessa de moderar os Seus julgamentos nas angustiantes profecias que estão sendo reveladas a João (ver também Ezequiel 1:28).
Apocalipse termina com o estabelecimento de “um novo céu e uma nova terra”, em que “o mar não mais existe”—o fim da barreira que mantinha João confinado na ilha de Patmos—e Deus Pai e a Nova Jerusalém descem para o nova Terra (Apocalipse 21:1-3).
Enfim, não haverá barreiras entre Deus e aqueles que realmente O buscam como seu Pai Celestial, que santificam o Seu nome pelo que fazem e não apenas pelo que ouvem, pois estes anseiam para que Sua vontade seja feita tanto na Terra como no céu.
Esta mesma passagem retrata Deus Pai declarando, de forma semelhante à de Cristo na abertura de Apocalipse: “Está cumprido; Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida” (Apocalipse 21:6). De fato, Deus vê coisas que Ele tem planejado como se já tivessem acontecido (comparar Romanos 4:17), e Ele Se vê nesse cenário.
O convite tanto é para você quanto para o apóstolo João. Cristo afirma claramente: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20).
A chave para manter a porta aberta se encontra nas palavras de Jesus, que abrem o livro de Apocalipse, que revelam que quando atendemos o Seu chamado de “segui-Lo”, focando primeiro nossa atenção em “nosso Pai nos céus” antes de olhar para as coisas aqui ao nosso redor. Esta é a chave que abre o livro de Apocalipse. É a chave que nos ajuda, nas palavras de Hebreus 4:16, a nos aproximar “com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno”. BN