Comentário Bíblico: Gênesis 25

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Comentário Bíblico

Gênesis 25

Esse capítulo apresenta uma célere transição de Abraão para Isaque, cuja vida é apresentada muito rapidamente e com poucos detalhes. A narrativa de Gênesis é dominada por Abraão, Jacó e José, com a história de Isaque servindo como um breve interlúdio entre as vidas de Abraão e Jacó. Na verdade, a maior parte da narrativa sobre Isaque serve sobretudo como um prelúdio para a vida de Jacó. Por esta razão, alguns chamaram Isaque de figura obscura.

O capítulo começa com uma lista dos filhos e descendentes de Abraão com sua outra esposa, Quetura. Ao que tudo indica, os descendentes de muitos desses filhos se tornaram povos da Europa Oriental e do Oriente Médio. Em seguida, vem a lista dos descendentes de Ismael; a maioria desses povos vive em vários países do Oriente Médio. A lista dos descendentes de Isaque começa no versículo 19 e logo muda para uma narrativa sobre o nascimento de Esaú e Jacó, filhos de Isaque. Como pode ser visto, o propósito do capítulo é distinguir entre os filhos de Abraão, com a história sendo passada através de Isaque para Jacó, o pai dos israelitas. Ao comparar as eras patriarcais, é interessante notar que, apesar da ordem dos versículos, o período de vida de Abraão abrangeu o tempo de Esaú e Jacó por cerca de quatorze anos (comparar Hebreus 11:9).

A narrativa do capítulo vinte e cinco de Gênesis continua relatando os eventos que cercaram os nascimentos de Esaú e Jacó. O tema fundamental na narrativa sobre esses dois filhos é o da competição pela preeminência. Esaú e Jacó lutaram até mesmo no ventre da mãe deles — e continuaria sendo assim ao longo de suas vidas e na história das nações que descenderam deles.

Também é interessante notar que Esaú foi descrito como um “perito na caça, homem do campo”, enquanto Jacó foi chamado de “homem simples, habitando em tendas” (versículo 27, ACF). Essas descrições pretendem traçar um grande contraste entre os dois irmãos. A menção de Jacó morando em tendas tem o intuito de mostrar que ele era uma pessoa civilizada e mais requintada do que seu irmão mais velho. O fato de Jacó morar em tendas, enquanto seu irmão era caçador no campo, também parece implicar que ele demonstrava mais interesse nos negócios mercantil e pastoril da família. Além disso, a palavra traduzida como “simples” (versículo 27) vem do hebraico tam, que geralmente é traduzido como “irrepreensível”. E Jacó era um homem irrepreensível — ou seja, sem culpa quanto ao que diz à letra da lei. Mas Jacó também foi um homem astuto, que manipulava pessoas e eventos para obter o que queria. Esse traço de seu caráter lhe traria muitos anos de sofrimento antes de ele conseguir mudá-lo — na verdade, antes de se tornar verdadeiramente irrepreensível em caráter e motivação.

Esse tipo de negociação para adquirir um direito de primogenitura foi documentado em diversos contratos do antigo povo hurrita, portanto, as ações de Jacó podem ser observadas à luz de um precedente cultural. O fato de Esaú não prezar tanto seu direito de primogenitura é apenas mais um elemento da história para mostrar o grande contraste entre esses dois irmãos. Mas, Jacó dava muito valor à primogenitura — e a maneira de ele lidar com Esaú também demonstrava que era mais experiente do que seu irmão. Acerca dessa venda da primogenitura, a Escritura nos diz que Esaú era uma pessoa profana (Hebreus 12:16), além disso, Paulo usa a frase “o deus deles é o ventre” (Filipenses 3:19) para descrever aqueles que colocam seus corações e mentes nas coisas terrenas — uma frase interessante dada a cobiça de Esaú por uma mera tigela de guisado.

A intenção desse relato é nos fazer entender que, muitas vezes, o homem perde a realidade espiritual pelos prazeres temporários de coisas físicas, e que essas prioridades e atitudes distorcidas tornam qualquer pessoa profana e revelam quem é o deus dela. O resultado disso é a perda da realidade espiritual, que, consequentemente, atrai maldições em vez de bênçãos.