As Outras Vítimas do Aborto
Enquanto trabalhava em um Centro de Referência de Defesa da Vida, muitas vezes me pediam para falar a grupos em igrejas e compartilhar a missão de nosso centro e fazer um apelo por voluntários. Em um Dia das Mães, pediram-me para falar a um desses grupos. Sempre aproveitei essas oportunidades para compartilhar minha própria história, porque queria colocar um rosto nas outras vítimas do aborto. Precisamos não apenas nos concentrar nos bebês que esperamos salvar, mas também nos milhões de mulheres que já passaram por um aborto.
Vivendo com um penoso segredo
Naquela manhã, eu disse àquela congregação que, quando fiquei grávida aos dezesseis anos, minha família planejou entregar a criança para adoção. Uma vez que a adoção foi concluída, nunca mais se falou nisso. E ninguém nunca procurou saber a respeito do turbilhão de emoções que eu estava sentindo. Eu continuei agindo de forma muito irresponsável e autodestrutiva, e logo fiquei grávida novamente aos dezoito anos.
E não havia nenhuma maneira na Terra de eu confessar isso para meus pais, meus irmãos ou qualquer outra pessoa. Tive uma breve esperança de o pai do bebê ficar comigo e assumir a paternidade, mas foi um sonho infrutífero. O pai do meu bebê me levou a uma clínica de aborto e eu sacrifiquei meu filho no altar da autopreservação.
Também contei à congregação naquela manhã que passei trinta anos sofrendo em silêncio por causa daquele aborto, cheia de vergonha e ódio de mim mesma. Eu disse a eles como culpei a Deus pela dor em meu coração que, enfim, me levou a essa instituição onde eu arrumei trabalho. Nessa instituição, eu consegui finalmente admitir para outro ser humano o que havia feito. As comportas foram abertas e o processo de cura começou. Por fim, fui capaz de orar a Deus especificamente sobre meu pecado, arrepender-me desse pecado e buscar o Seu perdão.
Ao falar naquela manhã do Dia das Mães, eu disse que quem precisasse de ajuda para lidar com sua própria experiência com o aborto poderia me ligar. Mas, como costumava acontecer, ninguém pediu ajuda — isto é, até um ano depois. E foi quando recebi uma carta de Amy, que estava na congregação naquela manhã.
Em seu bilhete, ela me disse que estava muito chocada com o que eu havia compartilhado naquele dia. E disse que parecia que eu estava falando diretamente para ela. Ela pediu para me encontrar e começar aquele trabalho de recuperação do aborto. A história de Amy era diferente da minha, mas nossos anos de vergonha e silêncio eram muito semelhantes.
Normalmente, quando essas mulheres procuram ajuda, elas já passaram meses ou anos sofrendo com a vergonha, o arrependimento, a negação, a raiva, a culpa e a autoaversão. Elas só procuram nossa instituição quando a dor já é insuportável e quando não podem mais viver carregando esse horrível segredo. Então, passei a acreditar que nenhuma mulher pode escapar da dor de um aborto. Algum dia, todas as que passaram por isso devem enfrentar essa dura realidade do aborto. Independentemente de estarem cientes disso, uma das leis mais sagradas de Deus foi violada. “Contra Ti, contra Ti somente pequei, e fiz o que a Teus olhos é mal” (Salmo 51:4).
Alguns homens e mulheres compartilharam comigo a experiência de passarem anos tentando justificar o aborto, punindo-se e aos outros, tendo as emoções abaladas, bebendo em excesso ou usando drogas, tendo pesadelos, arruinando um relacionamento após o outro, sufocando emocionalmente os filhos que tiveram ou rejeitando-os, recusando-se a perdoar os outros e, talvez o mais surpreendente de tudo isso, cometendo cada vez mais abortos. O mundo disse a essas pessoas que o aborto era legal, rápido, seguro e que era a única maneira de elas continuarem desfrutando da vida que mereciam. Elas acreditaram nessas mentiras e se tornaram parte das milhões de pessoas que sofrem após fazer um aborto.
O estresse debilitante
O que essas pessoas experimentam é uma reação de estresse ao trauma e à perda que mudam suas vidas. Isso foi descrito como Estresse Pós-Traumático ou Síndrome Pós-Aborto (SPA). O início da SPA pode ocorrer a qualquer momento, desde imediatamente após o aborto ou até alguns anos depois. E envolve a incapacidade de expressar sentimentos sobre a gravidez e o aborto subsequente. Elas são incapazes de resolver essas perdas por causa do aborto e alcançar qualquer tipo de paz interior.
A Síndrome Pós-Aborto não discrimina ninguém, pois ela afeta mulheres e homens e pode acometer aqueles que fizeram essa escolha conscientemente ou aqueles que foram forçados ou coagidos a realizar o aborto.
As vítimas da Síndrome Pós-Aborto compreendem esta mensagem: “Não fale sobre isso. Não pense nisso. Supere isso e siga sua vida!”. Uma mulher cristã pode acreditar que nunca encontrará o perdão pelo pecado do aborto e, logo, ela esconde isso da família, dos amigos e de sua igreja. Ela vive com medo de que alguém descubra e luta sozinha com todas as consequências do aborto (tanto emocionais quanto físicas).
Os defensores pró-escolha enfatizam a importância da decisão da mulher, dizendo: "Seu corpo, sua escolha". Eles insistem que o aborto é a melhor decisão em certas circunstâncias. E negam a existência da Síndrome Pós-Aborto e de qualquer sentimento de perda, porque reconhecer que houve uma perda seria admitir que algo de valor foi destruído. Esse é um problema que os defensores pró-escolha não conseguem enfrentar.
Até que haja uma brecha no muro da negação ou até que ela encontre ajuda segura, a mulher permanecerá presa nesse dilema. E semelhante a um câncer deixado sem tratamento, essa Síndrome Pós-Aborto continuará evoluindo. Por isso, para que seja curada, essa síndrome precisa ser tratada.
Trocando as mentiras pela verdade
Eu resumiria o processo de recuperação do aborto desta forma: Trocar as mentiras pela verdade. A instituição onde trabalhei utilizava um estudo baseado na Bíblia que focava primeiro em Deus, em Sua Palavra, em Sua lei e depois em como a lei divina foi violada por essas decisões. E cada mentira em que se acreditava seria cuidadosamente exposta à luz da Palavra de Deus e substituída pela verdade. Em vez da vergonha e do menosprezo, Deus passa a ser nossa fonte de coragem. Tudo isso era feito com sigilo absoluto e com muito amor e carinho. E assim desaparecia a tristeza solitária.
Amy, a mulher que mencionei acima, tinha essa história para contar. Ela engravidou aos quatorze anos. Ela foi totalmente ingênua e ignorou os sinais de seu corpo. Por fim, sua mãe percebeu que ela estava grávida e foi implacável em busca de alguém que "se livrasse daquilo". Então, ela a levou de carro até Wichita, Kansas, para visitar o aborteiro George Tiller, um dos poucos que realizava abortos tardios na época (que, mais tarde, foi baleado e morto por causa dessa prática).
Ele realizou um aborto tardio em Amy, que tinha quatorze anos na época. Após um calvário de dois dias, a mãe de Amy deixou claro que nunca mais falaria sobre o assunto. Então, era de se admirar que Amy continuasse tendo vários relacionamentos casuais e subsequentes abortos?
Mas esse não é o fim dessa história. Amy concluiu nosso plano de recuperação do aborto, que durava várias semanas, e encontrou a verdadeira cura para sua dor e perda. Ela foi capaz de perdoar a sua mãe e a si mesma e a todos aqueles que estiveram envolvidos em seus abortos. E tornou-se uma defensora de pessoas que precisavam se recuperar de um aborto.
Neste artigo, eu falei principalmente sobre as mulheres, mas a verdade é que muitos homens também são afetados por isso. Certa vez, um homem compartilhou comigo como ele ficou arrasado quando sua namorada, que estava grávida há várias semanas, lhe disse que havia decidido abortar. E ele, covardemente, havia dito que apoiaria a decisão dela.
Ele me disse que depois disso passou décadas longe de qualquer relacionamento feminino e vivia assombrado pelo fato de não saber se realmente a criança existiu. Ele acabou encontrando um grupo de recuperação do aborto para homens, onde começou seu processo de cura e desde então está envolvido no movimento de apoio à recuperação do aborto.
Você não está sozinha
Ninguém precisa enfrentar isso sozinho. Se você estiver sofrendo por ter cometido um aborto ou porque um ente querido fez isso, procure a ajuda de alguém. Estou muito alegre de ver tantas organizações verdadeiramente atenciosas e que oferecem ajuda e cura para homens e mulheres que sofrem por causa do aborto. Você pode entrar em contato hoje mesmo com essas instituições.
Brasil Sem Aborto – Movimento Nacional de Cidadania Pela Vida – Brasília (DF)
Foca na mobilização social e no acompanhamento das ações do Congresso, da Justiça e do Governo, no que diz respeito à defesa da vida, desde a concepção. Site www.brasilsemaborto.org. E-mail: brsemaborto@gmail.com. Telefones: (61) 99618-4985 e Telegram (61) 99302-8428.
Casa Luz – Fortaleza (CE)
A finalidade da associação é dar apoio a qualquer mulher que se encontre em situação de vulnerabilidade diante de uma gravidez não planejada que pode levá-la a pensar na sua interrupção. Site www.casaluz.org.br. E-mail: contato@casaluz.org.br, Telefones: (85) 3016-2500, (85) 99940-0727 e (85) 98944-9865.
Casa da Gestante Pró-Vida São Frei Galvão – Nilópolis (RJ)
O trabalho da associação já salvou mais de três mil bebês. Site www.casadagestanteprovida.com. E-mail: contatocasadagestanteprovida@gmail.com, Telefones: (21) 3762-1873, (21) 99470-1917 e (21) 98666-3579
Comunidade Santos Inocentes – Brasília (DF)
Desde 2002, a comunidade oferece apoio psicológico, espiritual e material a gestantes que pensam em realizar um aborto. Site www.santosinocentes.com.br. E-mails: arifrancainocentes@gmail.com, santosinocentessaojose@gmail.com, Telefones: (61) 3359-2867, (61) 3359-3652 e (61) 99436-7321.
Movida – Fortaleza (CE)
O Movida atua na conscientização e no aconselhamento com o intuito de evitar práticas como o suicídio, a eutanásia e, especialmente, o aborto. Site www.movida.org.br. E-mail: contato@movida.org.br. Telefone: (85) 3244-1094.
Missão Fiat – Campinas (SP)
O grupo orienta e acolhe gestantes desamparadas, dando acompanhamento médico, psicológico, jurídico e espiritual, e promove formação sobre aborto, afetividade, sexualidade e família. Site www.missaofiat.com.br. E-mail: contato@missaofiat.com.br. Telefones: (19) 98278-3300, (19) 98278-1234 e (19) 98825-4968.