Entrevista Com o Dr. Jay Richards: Proponente do Design Inteligente
A Boa Nova: Dr. Richards, você está envolvido na controvérsia do Design Inteligente e da evolução darwiniana há mais de vinte anos. Você poderia resumir o progresso feito pelos teóricos do Design Inteligente nesses últimos vinte anos?
Jay Richards: Eu acho que muito do que aconteceu na comunidade do Design Inteligente vem preenchendo os detalhes da argumentação.
Quando me envolvi no projeto nos anos noventa, Bill Dembski [hoje Dr. William Dembski, autor de vários livros sobre Design Inteligente, evolução e criação] e eu estávamos juntos numa pós-graduação. E foi assim que fui atraído para o argumento do ajuste fino. Em seguida, desenvolvemos um conjunto importante de concepções sobre como você deduz o design. O que acontece quando você detecta o design e o que é um indicador confiável de inteligência, tanto no mundo humano quanto na natureza. Mas ainda há muito trabalho a ser feito.
O Design Inteligente, de várias formas, é essencialmente um programa de pesquisa. Então, o que você viu aqui nesta conferência, e o que Steve Meyer [Dr. Stephen C. Meyer, diretor do Centro de Ciência e Cultura do Instituto Discovery] vem fazendo ao longo dos anos, está preenchendo as evidências para o design — incluindo a descoberta de coisas que não sabíamos antes. Vinte anos atrás, poderíamos ter falado sobre as informações no DNA, mas não falamos sobre informações epigenéticas e informações em outras partes da célula e de um organismo.
Em vários aspectos, esse programa de pesquisa é semelhante aos de paleontologistas de uma escavação que detectaram a ponta de um fóssil de dinossauro T-Rex. Então agora você sabe que há algo e que esse não é o lado normal de uma montanha. Esse é um artefato de alguma coisa, mas ainda resta um fóssil de dinossauro inteiro para descobrir. Acho que agora estamos, nesse sentido, no meio da cauda.
Se você notou, no passado, as conferências de Design Inteligente tendiam inicialmente a tratar de coisas como o importante livro do biólogo molecular Michael Behe sobre máquinas moleculares ou sobre o desenvolvimento da pesquisa de Steve Meyer acerca das evidências do DNA ao longo dos anos. Mas agora, se você observar, essas pessoas envolvidas estão presentes em todas as disciplinas científicas. De fato, agora passo mais tempo trabalhando com inteligência artificial e mente — e muitas pessoas estão fazendo a mesma coisa.
Então, começamos com um conjunto de intuições confiáveis que foram provadas ao longo do tempo. Agora, nos últimos vinte anos, começamos a completar esse programa de pesquisa. Ainda assim, eu diria que a colheita é abundante, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, entre os cientistas que são vítimas de ataques pessoais, que é uma das dificuldades desse esforço, seria melhor se houvesse mais protagonistas envolvidos.
Muitos estudantes de pós-graduação e jovens cientistas trabalham nessa questão e percebem que precisam atuar nos bastidores e em silêncio. Obviamente, você pode envolver alguém como James Tour, um cientista muito importante, e ele pode dizer o que quiser (consulte “O Problema da Evolução e o Retorno de Deus”). Mas também existem outras centenas de professores e pesquisadores juniores que ainda não podem falar sobre esse assunto. Então, eu diria que aumentou a pressão para se conformar e não falar sobre isso, apesar de as evidências estarem mais fortes.
BN: Eu ouvi seu colega, Dr. Jonathan Wells, dizer, em uma conferência sobre Design Inteligente há mais de dez anos, que a evolução darwiniana passaria por uma grave crise de convicções e que sua popularidade começaria a declinar a partir de 2025. Você acredita que ainda esse é o caso ou levará mais tempo?
JR: Eu acho que isso é uma daquelas coisas quase impossíveis de se prever, mas não tenho dúvidas de que isso acontecerá — porque acho que, no fim das contas, a verdade já saindo à tona. Se você observar a história da ciência, verá que as teorias ou paradigmas predominantes podem se sustentar muito tempo depois que as evidências desaparecem e até muito tempo depois da consolidação de todas as anomalias. Mas isso não pode continuar assim para sempre, pois não condiz com a realidade.
Ainda assim, acho que esses fenômenos são imprevisíveis e caóticos, podendo haver até um ponto de inflexão — uma pessoa renomada pode falar a coisa certa e, de repente, tudo muda. Há um famoso aforismo que diz que quando você apresenta uma nova ideia, primeiro eles o ignoram, depois dizem que você é louco e, finalmente, dizem que sabiam que você estava certo o tempo todo. Então, estamos na fase do louco e passando por ela.
O que está acontecendo agora é semelhante ao que ocorreu na Conferência da Real Sociedade em 2016, onde havia muitos biólogos e cientistas brilhantes que buscavam algo além da síntese neodarwiniana. Mas eles também se preocupam, porque sabem qual é a principal alternativa ao darwinismo — o argumento do Design. O objetivo principal do darwinismo era expulsar o Design da biologia. Portanto, de muitas formas, a preocupação com o projeto os impede de saltar do barco depois de, provavelmente, já saberem muito bem disso há muito tempo e, portanto, já deveriam ter feito isso.
BN: Isso me lembra da famosa fala de um paleontólogo chinês sobre estar em negação.
JR: Sim, a citação de J.Y. Chen, que disse: “Na China, podemos criticar Darwin, mas não o governo. Nos Estados Unidos, você pode criticar o governo, mas não Darwin”. Isso é realmente verdade. Infelizmente, hoje tem havido mais fanatismo e dogmatismo do que nunca. Quando comecei a falar sobre essas coisas, eu estava um pouco mais seguro como um filósofo que fala sobre o ajuste fino, e era possível ter uma conversa racional sobre isso. Mas agora chegou ao ponto de não ser mais possível debater publicamente o assunto.
BN: Por milhares de anos, o pensamento predominante foi a crença em um Criador. E isso mudou recentemente. Você acha que estamos longe de voltar ao conceito original?
JR: Eu penso exatamente isso. Pelo menos se você olhar para a história ocidental e até mesmo para os filósofos pré-socráticos, o debate consistia em se o universo era resultado de um Criador ou, pelo menos, era orientado a um propósito. E Platão em seu livro Timeu argumenta contra esses sofistas e materialistas pré-socráticos. Pelo menos no Ocidente, esse tem sido o ponto de vista majoritário.
Portanto, estamos numa época estranha em que o criacionismo, segundo as pesquisas de opinião, ainda é um conceito majoritário no mundo, mas não na cultura dominante e nas instituições influentes. Então, eu acho que a evidência predominante da natureza vai tão fortemente contra o materialismo que, em algum momento, vamos vê-la retroceder. Mas os materialistas ainda estão se segurando tenazmente — infelizmente.
BN: Em junho de 2018, um artigo da revista Human Evolution apontou que, após examinar as sequências genéticas do DNA mitocondrial em cem mil espécies, as centenas de cientistas envolvidos concluíram que o evento — o aparecimento simultâneo de humanos e a maioria dos animais ou um choque populacional — ocorreu entre cem e duzentos mil anos atrás. O que você pode comentar sobre esta descoberta?
JR: Isso sugere duvidar da ideia de que todas as informações da genética populacional já foram plantadas. Primeiramente, isso mostra que todos os seres humanos não poderiam ter descendido de um único par de seres humanos no passado recente. Contudo, a maioria dessas previsões da genética populacional está repleta de teorias. Pressupõe-se que o relato darwiniano seja verdadeiro e, então, simplesmente conectam-se os dados.
Um fato interessante dessa descoberta é que ela mostra somente que todas essas afirmações são incertas e como a teoria darwiniana é aplicada nos dados e depois tratada como se fosse uma evidência desta teoria — quando, na verdade, é a teoria que está descrevendo os dados. Logo, esse é o problema de muitas dessas comparações. Costumo dizer às pessoas para não aceitarem essa alegação de que a genética populacional tem mostrado que todos nós compartilhamos um ancestral comum ou que não poderíamos descender de um único casal de seres humanos.
BN: Outro resultado inesperado desse grande estudo genético, de acordo com David Thaler, um dos coautores do relatório, foi que “as espécies têm limites genéticos muito claros e não há muito entre elas. Se os indivíduos são estrelas, então as espécies são galáxias. Eles estão aglomerados e compactos na vastidão do espaço vazio sequencial. A ausência de espécies "intermediárias" é algo que também deixou Darwin perplexo". Você poderia comentar sobre essas descobertas?
JR: Sinceramente, acho que isso somente confirma tudo o que aprendemos desde que Darwin escreveu A Origem das Espécies em 1859. Se o darwinismo fosse verdadeiro, você esperaria, através da infinita plasticidade entre as espécies e diferentes tipos de organismos, obter grandes quantidades de variação. Todavia, o que descobrimos, por exemplo, sobre cães domesticados, que são muitíssimo diversificados geneticamente — mas podemos rastrear todos, desde um Chihuahua até um Buldogue Alemão — confirmando que eles são da mesma espécie! Eles atingem uma barreira genética e não avançam mais.
Os melhores exemplos que temos da [suposta] evolução darwiniana em ação seriam a resistência a antibióticos e bactérias, mas isso nunca vai além das bactérias. Eu penso que essa é uma maneira honesta de olhar para as evidências biológicas. O que está acontecendo na biologia, seja qual for o poder da seleção natural e da mutação genética aleatória, é uma mudança de posição e não uma explicação das complexidades ou da diversidade da vida.
Na verdade, o novo livro de Michael Behe, Darwin Devolves: The New Science About DNA That Challenges Evolution, realmente detalha isso. E mostra que... a capacidade de variação já está fixada e, em algum momento, você atingirá uma barreira, então as mutações aleatórias simplesmente não farão mais nada por você.
BN: Há mais alguma coisa que você gostaria de dizer, especialmente aos jovens de hoje, acerca do debate sobre o Design Inteligente versus a evolução darwiniana?
JR: Eu encorajaria os jovens e qualquer pessoa que ouvir as palavras “design inteligente” a não acreditar que sabem o que significa e, especialmente, a não crer que os críticos do Design Inteligente estejam explicando o tema com precisão. Se tiver curiosidade, reserve um tempo para ler alguns dos livros dos defensores do Design Inteligente para compreender seus argumentos. Atente para o que eles realmente estão dizendo e não para o que seus críticos dizem que estão dizendo. Não há nada de errado em fazer isso, e eles ainda podem aprender muito sobre algo que nunca teriam aprendido de outra maneira.
O doutor Jay Richards é membro sênior do Centro de Ciência e Cultura do Instituto Discovery, professor assistente de pesquisa da School of Business and Economics at the Catholic University of America e editor executivo do site de notícias The Stream. Ele é autor de muitos livros e editor e coautor da premiada antologia God and Evolution: Protestants, Catholics and Jews Explore Darwin’s Challenge to Faith. Ele também é coautor do livro El Planeta Privilegiado: Cómo Nuestro Lugar En El Cosmos Está Diseñado Para El Descubrimiento do astrônomo Guillermo Gonzales.
Os artigos e ensaios do doutor Richards foram publicados na The Harvard Business Review, The Wall Street Journal, revista Barron's, The Washington Post, Forbes, National Review Online, Investor's Business Daily, The Washington Times, The Philadelphia Inquirer e ainda em muitas outras publicações. Ele participou de muitos programas nacionais de rádio e TV e deu palestras em todo o mundo sobre diversos assuntos.
Ele participou dos documentários The Case for a Creator, The Wonder of Soil, The Privileged Planet e The Call of the Entrepreneur. O doutor Richards tem PhD em filosofia e teologia pelo Seminário Teológico de Princeton. Ele mora com sua família em Washington, D.C.