O Futuro Incerto da Europa

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O Futuro Incerto da Europa

Dois dias após Donald Trump se tornar o 45º presidente dos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier (agora presidente da Alemanha), escreveu sobre as incertezas no futuro da Alemanha e da Europa:

"Estamos vivendo entre duas eras — a ordem pós-guerra e o quarto século após a queda do muro de Berlim, que agora fazem parte da história. A ordem do século XXI e a maneira como futuramente o mundo vai olhar para isso não está claro; ainda está completamente em aberto... Eu sei que temos que nos adaptar aos tempos problemáticos, há muita imprevisibilidade e novas incertezas" (May Bulman, "Alemanha alerta que a Presidência de Donald Trump ‘Marca o Fim da Antiga Ordem Mundial’", jornal The Independent, 23 de janeiro de 2017).

E quais são os assuntos principais?

A questão da OTAN quanto às exigências do custeio europeu

Nem todas as incertezas quanto ao futuro da Europa envolvem a nova administração norte-americana, pois as preocupações com a aliança da OTAN são uma delas. "Poderia ter sido pior", esse foi o comentário sucinto da mídia alemã após a visita da chanceler Angela Merkel a Washington em meados de março para se encontrar com o presidente Donald Trump.

Como esperado, a falta de financiamento dos países europeus para honrar seus compromissos com a OTAN foi um dos temas da agenda do presidente Trump nessa reunião. Algumas semanas antes, Merkel concordou que o presidente recém-eleito tinha preocupações válidas sobre os membros da OTAN que não cumpriam seu compromisso anual de aplicar 2% do PIB em gasto com defesa.

Na verdade, em 2016, apenas cinco dos vinte e oito países membros da OTAN cumpriram com esse requisito, e os Estados Unidos representaram cerca de dois terços dos fundos gastos em defesa por todos os membros da OTAN, embora uma parcela considerável dos gastos militares dos EUA envolva compromissos fora da tradicional área de responsabilidade da OTAN.

Refletindo a nova avaliação da administração norte-americana da aliança atlântica, em seu primeiro encontro com seus parceiros da OTAN, o novo secretário de defesa norte-americano, James Mattis, declarou: "Os Estados Unidos cumprirão suas responsabilidades, mas se suas nações [da OTAN] não quiserem ver nosso país [EUA] moderar seu compromisso com essa aliança, então cada uma [das nações da OTAN] deve demonstrar seu apoio à nossa defesa em comum" (Paul Szoldra, "Quem Cumpre e Quem Não Cumpre Sua Parte Com a OTAN", Business Insider Deutschland, 16 de fevereiro de 2017).

Apenas duas semanas depois da visita de Merkel à Casa Branca, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, insistiu, em uma reunião em Bruxelas com os ministros de Relações Exteriores da OTAN, que todos os membros da aliança concordem em atingir o objetivo de investimento de 2% do PIB em defesa até 2024, com "metas anuais e compromissos progressivos" a serem apresentados na cúpula da OTAN de maio de 2017.

A resposta do ministro das Relações Exteriores alemão, Sigmar Gabriel, à proposta de Tillerson, não foi entusiasmada: "Não conheço nenhum político na Alemanha que acredite que esse objetivo seja factível ou desejável para o nosso país... Aumentaremos os gastos militares, mas somente na medida em que o consideremos responsável. Não tenho ideia de onde devemos colocar todos os porta-aviões que teríamos que comprar para investir setenta bilhões de euros em nosso exército anualmente" (Marcus Becker, "Gabriel Se Revolta Contra Tillerson", Spiegel Online, 31 de março, 2017).

Independente do que aconteça com a aliança da OTAN, a Europa aumentará suas despesas militares. Se a aliança tiver que sobreviver, então a Europa precisará gastar mais para satisfazer seu parceiro norte-americano. E, de qualquer maneira, se a OTAN acabar, a Europa será forçada a gastar mais ainda — mas, ao mesmo tempo, se tornará independente do controle norte-americano em relação à estratégia militar.

A crise dos refugiados muçulmanos continua insolúvel

A relação entre a Europa e a administração Trump é apenas uma das preocupações da Europa. Os refugiados muçulmanos da Síria, do Iraque e da Líbia, países imersos na guerra, inundaram a Europa nos últimos dois anos, e a Alemanha aceitou cerca de 1,5 milhão de refugiados em 18 meses. Embora a chamada rota dos Balcãs tenha sido efetivamente interrompida, as pessoas ainda estão tentando chegar à Europa atravessando o Mar Mediterrâneo, principalmente da Líbia, usando barcos que, em muitos casos, não são navegáveis.

O grande fluxo de pessoas de outra cultura tem afetado os recursos sociais, revelado fissuras na unidade europeia e deixado muitas pessoas se perguntando o quanto esses refugiados vão — ou se vão querer — se integrar à sociedade europeia.

Quando milhares de refugiados da Síria chegaram às pequenas ilhas gregas do Mar Egeu em 2015, a impossibilidade absoluta de a Grécia cumprir suas obrigações, por força do Tratado de Schengen (que permite viagens sem passaporte entre grande parte da Europa), ficou muito evidente.

O tratado exige que qualquer pessoa que adentre o território europeu precisa ser autorizada pelo país do ponto de entrada para entrar na União Europeia e nações vizinhas, que fazem parte do grupo. Isso significa que países como a Grécia e a Itália no perímetro externo da área dos Estados participantes são obrigados a assumir mais responsabilidade ao permitir que as pessoas entrem no território europeu do que os países sem litoral, como Hungria e República Tcheca, que são apenas responsáveis por pessoas que chegam a seus aeroportos internacionais, vindo de países não participantes do bloco.

Com uma população de apenas onze milhões de pessoas, a Grécia ficou sobrecarregada em 2015 pelos mais de um milhão de refugiados que afluíram a suas fronteiras, muitos chegando de barco nas ilhas gregas. Em alguns dias, chegaram cerca de dez mil por dia. A polícia de fronteira da Grécia precisou ser reforçada por policiais de outros países da União Europeia e, mesmo assim, muitos refugiados entraram na União Europeia sem documentação e uma investigação adequada.

Realizar a triagem de refugiados em seu perímetro externo não foi o único desafio para cada país membro da União Europeia. Os milhares de refugiados deveriam ser autorizados a ir onde quisessem na União Europeia e nos Estados vizinhos, sendo que a grande maioria deles buscava refúgio na Alemanha? Para lidar com o fluxo de refugiados, a Comissão Europeia propôs um sistema para desencorajar essa tendência, quando viu centenas de milhares de refugiados se instalarem na Alemanha depois de passar por outros países europeus, como a Hungria e a Grécia.

A proposta previa o reassentamento, por meio de cotas, dos cerca de 160 mil refugiados retidos na Grécia e na Itália em 2015. Entretanto, em março de 2017, menos de 10% deles foram reassentados em outros países da União Europeia. O problema da distribuição do restante dos milhares de refugiados expôs uma divisão entre o leste e o oeste na Europa, pois a Hungria e a Polônia se recusavam a participar do plano de reassentamento e outros países ajudaram apenas de forma limitada.

Recentemente, a Comissão Europeia pressionou a Polônia e a Hungria a aceitar refugiados no âmbito do plano de realocação da União Europeia. Se os dois países se recusarem a cooperar, Bruxelas usará "todos os poderes" para responder, afirmava um comunicado.

"Essa é a solidariedade em ação e uma demonstração de responsabilidade. Agora é a hora de nossos Estados membros cumprirem seus compromissos e intensificarem seus esforços”, disse Dimitris Avramopoulos, comissário da Migração, Assuntos Internos e Cidadania da União Europeia, em 12 de abril de 2017, comunicado de imprensa da Comissão Europeia. "Eles têm um dever político, moral e legal para fazerem isso. Exorto os países que ainda não se juntaram a esse esforço comum que o faça”, acrescentou.

Em um comentário a jornais britânicos, um diplomata da União Europeia disse que a Polônia e a Hungria deveriam participar do plano de realocação de refugiados, caso contrário, poderiam ser expulsas do bloco.

Será que os refugiados muçulmanos vão ser assimilados?

Para o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, a crise dos refugiados não é apenas uma questão humanitária. Orban não hesita em expressar suas preocupações sobre o futuro da Europa com a crescente população muçulmana. Orban explicou seu ponto de vista em uma entrevista a uma estação de rádio suíça: "Sempre que falo sobre uma Europa cristã na Comissão Europeia, os outros me olham como se eu fosse da Idade Média". Segundo ele, o influxo de refugiados, eventualmente, vai levar a uma "disputa de culturas" e "os cristãos sairão derrotados nessa competição se forem permitidos muitos muçulmanos na Europa" (Rádio Deutschlandfunk, "Salvador do Mundo Ocidental Cristão?", 20 de junho de 2016).

O líder húngaro acredita que a religião islâmica e sua cultura resultante não podem ser assimiladas em um ambiente cultural que foi completamente modelado pelo cristianismo. Em vez da assimilação, ele acredita, o multiculturalismo resultará em duas entidades sociais distintas. A previsão de Orban não deve causar nenhuma surpresa para qualquer pessoa familiarizada com a Irmandade Muçulmana do Egito, que é conhecida por sua intenção de promover uma "sociedade muçulmana paralela" na Europa.

Desde o início da crise dos refugiados em 2015, a Europa tem visto um aumento notável nos movimentos conservadores — em parte devido ao medo de que a assimilação não funcione e, por outro lado, por causa dos ataques terroristas cometidos por pessoas admitidas como refugiadas. O resultado disso é que os partidos políticos tradicionais tiveram que apelar para a adesão à cultura europeia tradicional em um esforço para conter a insatisfação dos eleitores.

Políticos proeminentes da União Democrata Cristã da Alemanha (CDU, o partido da chanceler Merkel e do ex-chanceler Helmut Kohl) pediram que uma "lei islâmica" seja apresentada ao parlamento antes das próximas eleições nacionais. A vice-presidente do partido da CDU, Julia Klöckner, disse que a lei serviria para regularizar as mesquitas islâmicas na Alemanha, incluindo um dispositivo que proíbe o apoio financeiro de fontes estrangeiras às mesquitas na Alemanha.

Outros membros do partido acreditam que qualquer lei proposta deve refrear claramente todos e quaisquer aspectos da lei islâmica da sharia à Constituição da Alemanha de 1949.

O interesse pelos movimentos conservadores havia aumentado mesmo antes das recentes tensões entre o presidente turco, Recep Erdogan, e os líderes da União Europeia, e antes do referendo turco de abril sobre a reforma constitucional. No entanto, Erdogan não ajudou em nada, exortando seus compatriotas a viverem na Europa Ocidental sendo prolíficos no planejamento familiar.

"Vá viver nos melhores bairros. Dirija os melhores carros. Viva nas melhores casas. Não tenham três, mas cinco filhos. Porque você é o futuro da Europa”, disse Erdogan a seus colegas turcos na Europa em um discurso depois que os Países Baixos e a Alemanha proibiram os comícios em apoio ao referendo turco ("Erdogan Insta os Turcos na Europa a Terem Cinco filhos", Daily Mail, 17 de março de 2017).

Seu ministro das Relações Exteriores ainda advertiu que a Europa estava indo rumo a "guerras de religião" em resposta à decisão do governo holandês de impedir que autoridades turcas promovam o referendo nos Países Baixos. E foi o próprio Erdogan, em um discurso proferido em Colônia em 2011, quem pediu aos seus colegas turcos que vivam na Alemanha, mas não sejam assimilados.

O Brexit dará mais poder à Alemanha

Quando Frank-Walter Steinmeier falou sobre as "novas incertezas" no futuro da Alemanha, seu foco principal era o destino da aliança da OTAN. Mas outra nuvem escura no horizonte futuro da Europa é o iminente Brexit — a saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

Para um observador casual, o principal problema aqui parece ser a futura relação econômica entre Bruxelas e Londres. Será que os milhares de cidadãos da União Europeia que vivem no Reino Unido vão conseguir manter seu direito à residência? O Reino Unido receberá um estatuto especial de "nação favorecida" no comércio com a União Europeia?

A Grã-Bretanha é a segunda maior economia da União Europeia, por isso sua saída do bloco comercial europeu, sem dúvida, terá reflexos duradouros. Um deles não tem nada a ver com a própria Grã-Bretanha, mas sim com o país cuja posição econômica proeminente na União Europeia será fortalecida com a saída da Grã-Bretanha — a Alemanha. O PIB da Alemanha equivale aproximadamente ao de vinte países menores da União Europeia e chegará a ser quase 50% maior do que a economia da França, que assumirá o segundo lugar no ranking nacional do PIB da União Europeia, depois que a Grã-Bretanha sair do bloco.

Durante a recente campanha presidencial francesa, o candidato Emmanuel Macron, ex-ministro da economia da França, repetiu a preocupação dos últimos anos sobre o crescente domínio da economia alemã: "A força econômica da Alemanha, em sua forma atual, não é aceitável".

Em 2011, durante as negociações sobre a aprovação de empréstimos à Grécia para estabilizar o euro, os antigos temores da Europa sobre uma Alemanha forte pareciam estar despertando. Em Atenas, manifestantes irritados chamavam os líderes alemães de "nazistas", enquanto a imprensa britânica afirmava que a Alemanha estava usando a crise do euro para realizar o antigo e acalentado sonho de ter seu próprio império.

O jornal britânico Daily Mail expressou preocupação com o crescente poder alemão no continente europeu. Alegando que a Alemanha estava usando a crise financeira para conquistar a Europa, relatando que um "Quarto Reich" alemão está surgindo no horizonte (sendo o Terceiro Reich a Alemanha de Hitler na Segunda Guerra Mundial — reich significa império):

"Se o euro vai sobreviver — e com ele o projeto europeu — os outros dezesseis países da zona do euro terão que ser como os alemães. Na verdade, eles devem perder a liberdade de não ser como os alemães. Isso significa uma completa união fiscal desejada pela Alemanha, como a economia mais poderosa da União Europeia e principal contribuinte, vai ditar as regras e torná-las infringíveis. Não tenha dúvidas sobre o significado da união fiscal: essa união representa uma só política econômica, um sistema de tributação, um sistema de seguridade social, uma dívida, uma economia e um ministro da economia. E tudo isso seria alemão" ("A Ascensão do Quarto Reich, Como a Alemanha Está Usando a Crise Econômica Para Conquistar a Europa”, 17 de agosto de 2011).

Mais tarde, o jornal alemão Bild citou a descrição dessa conquista no Daily Mail por meio do domínio econômico alemão: "No passado, a conquista militar teria sido necessária para se alcançar o comando em um país europeu. Mas hoje isso acontece através da pressão econômica. Com a ajuda de seus aliados franceses, os alemães provocaram uma mudança de regime em dois dos países mais problemáticos da zona do euro" — a Grécia e a Itália (9 de novembro de 2011).

Predecessor da União Europeia

A saída da Grã-Bretanha da União Europeia somente reforçará ainda mais a posição da Alemanha como o país dominante — dominador, alguns poderiam dizer. Uma União Europeia forte sem a economia alemã seria inconcebível, mas uma Alemanha forte que atua por conta própria também seria inconcebível para muitos europeus, como foi para o homem considerado o pai da Europa de hoje, Robert Schuman, ministro francês das Relações Exteriores do pós-guerra.

Em retrospectiva, Schuman parece ter sido predestinado a seu papel. Quando a Alemanha anexou o território da Alsácia-Lorena em 1871, depois de derrotar a França no campo de batalha, seu pai tornou-se cidadão alemão. Assim, Schuman nasceu como cidadão alemão em 1886. Ele obteve o diploma de direito na Alemanha e então exerceu sua profissão em Metz enquanto era designado para uma unidade alemã da reserva do exército. Quando a Alsácia-Lorena foi devolvida à soberania francesa em 1919, Schuman tornou-se cidadão francês pela primeira vez, mas não guardou nenhum ódio da Alemanha.

Cinco anos depois, as forças armadas alemãs se renderam aos aliados em 1945, Schuman, hoje ministro das Relações Exteriores da França, propôs a criação de uma união europeia de carvão e aço, que foi o primeiro passo para a Europa unida do pós-guerra. A proposta de Schuman suscitou sentimentos.

"O anúncio do plano de Schuman foi uma mensagem bem-vinda para a geração que sofreu durante a Segunda Guerra Mundial e agora tinha esperança de que outra guerra entre os irmãos europeus não ocorreria nunca mais — ou pelo menos demoraria muito. Como afirmado na declaração Schuman, a combinação da indústria pesada — que também era a indústria de armamento — tornaria uma guerra entre a França e a Alemanha materialmente impossível. Um túmulo foi aberto para a inimizade de séculos entre os dois países vizinhos e em sua lápide foi fundada uma base para unificar a Europa" (Franz Herre, A wie Adenauer, 1997, pp. 67-68).

Schuman não tentou disfarçar seu objetivo de integrar o estado nacional alemão em uma parceria internacional europeia, impedindo assim a Alemanha de seguir elaborando planos hostis a seus vizinhos. Apenas cinco meses antes de fazer sua proposta para essa união de carvão e aço, Schuman abordou esse tópico em um discurso pronunciado em Bruxelas:

"O resultado da adesão da Alemanha a uma organização [proposta] europeia — se isso subjugar este país às necessidades de toda a comunidade — será sua reabilitação e uma garantia para todos nós... Isso coloca o potencial intelectual e laboral alemão a serviço da Europa, e a Alemanha se beneficia do potencial intelectual e material que a Europa oferece nessa comunidade... A Alemanha é mais perigosa quando deixada sozinha, divagando em seu temeroso e destrutivo estado de inveja" (18 de dezembro de 1949, grifo nosso).

Quem defenderá a Europa?

O domínio econômico da Alemanha poderá levá-la a ter um papel preponderante também em outras áreas? Por exemplo, qual o papel que a Alemanha desempenharia em uma Europa forçada a se defender militarmente? Dias antes de assumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump afirmou que "a OTAN é obsoleta" e "os países que defendemos têm que pagar por ela. Se não o fizerem, então os Estados Unidos devem estar dispostos a deixá-los se defender sozinhos” — esta afirmação foi bem divulgada pela mídia europeia — e isso deixaram os europeus se perguntando quando é que deveriam seguir sozinhos militarmente.

Se o escudo nuclear norte-americano que protege a Europa for removido, a Europa estaria sujeita às chantagens políticas e militars sem essa defesa nuclear. O prestigiado jornal alemão Die Zeit, recentemente, perguntou se a União Europeia precisaria de suas próprias armas nucleares, independentemente dos Estados Unidos, para se defender de alguma ameaça de agressão russa (Peter Dausend e Michael Thumann, "A União Europeia Precisa da Bomba Nuclear?”, Zeit Online, 16 de fevereiro de 2017).

A Grã-Bretanha e a França têm armas nucleares, mas a Grã-Bretanha está deixando a União Europeia, e a França talvez não esteja disposta a ampliar sua própria capacidade nuclear para defender a Europa. Então, o que o resto do continente deve fazer?

A Alemanha moderna está comprometida com o sucesso do "experimento europeu" e agora está solidamente enraizada em sua estrutura (como desejado por seus vizinhos) e não hesita em expressar sua opinião sobre os assuntos europeus. A criação de uma união política e econômica europeia plena, possibilidade permitida pelo Tratado de Lisboa da União Europeia, é impensável sem a participação alemã.

Os europeus também estão condicentes disso. A quem recorreram para solucionar a crise da dívida pública da zona do euro? De quem eles vão depender ao surgirem outras crises no futuro? Obviamente, dos alemães.

O que o futuro tem reservado para a Europa?

A Europa, que, de forma admirável, tem ficado estável há quase setenta anos, está vendo os fundamentos dessa estabilidade passando por testes severos. Logo em seguida à votação do Brexit na Grã-Bretanha, alguns movimentos e partidos separatistas de várias nações começaram a pedir a saída ou até mesmo a dissolução da União Europeia.

Enquanto isso, a própria identidade da Europa está sendo desafiada por milhões de migrantes e refugiados da África e do Oriente Médio. Muitos deles estão realmente em grandes dificuldades, buscando a paz e a segurança, mas muitos outros vêm simplesmente em busca de uma vida econômica melhor na Europa rica, em comparação com suas terras pobres. E ainda outros vêm para tentar tomar o continente — atendendo aos apelos por conquista dos líderes islâmicos.

A história recente mostra que muitos não têm vontade nem intenção de assimilar a cultura europeia tradicional ou adotar os valores europeus. Não surpreende que historiadores como Bernard Lewis se refiram a isso como um "choque de civilizações" — e, de fato, é!

Muitos europeus também estão preocupados com uma Rússia ressurgente, cujo líder, Vladimir Putin, parece determinado a restaurar o poder e o prestígio russo — ou talvez seu império. A Rússia mostrou grande parte de sua estratégia ao trazer de volta ao seu controle a Ucrânia e a Geórgia, e as antigas nações do bloco soviético da Europa Oriental observam Moscou com um olhar nervoso e alerta.

Em tempos de crise, a Europa tem tido uma história de se voltar para líderes fortes que prometem soluções definitivas para os problemas das pessoas. O fato mais devastador foi cerca de oito décadas atrás, quando uma Alemanha humilde e ferida se voltou para um ex-cabo do exército e artista falido, que prometeu levar a nação à grandeza — e, em vez disso, levou o continente ao mais destrutivo banho de sangue da história humana.

De forma sóbria, a Bíblia prevê o surgimento de uma nova superpotência centrada na Europa, surgindo no tempo que antecede o retorno de Jesus Cristo, seguido de outro, e último, conflito mundial, que levará o mundo à beira da aniquilação da raça humana antes de Deus intervir para nos salvar de nós mesmos.

À medida que vemos as tendências geopolíticas atuais reformulando o nosso mundo, devemos ficar atentos à advertência de Jesus Cristo de "olhar, vigiar e orar" (Marcos 13:33, 35, 37), prestando atenção, diligentemente, a nossa condição espiritual e orando sempre, como Ele nos diz em Mateus 6:10: "Venha o Teu reino"!