A Importância do Nome Leão na História do Papado
A escolha do nome Leão não era feita por um pontífice há mais de um século. “Em seu discurso ao Colégio dos Cardeais, no dia 10 de maio, o papa Leão XIV explicou que tinha ‘diversas razões’ para escolher esse nome, mas que sua principal inspiração veio do mais recente entre seus homônimos — o papa Leão XIII, que dedicou grande parte de seu pontificado à defesa dos direitos dos trabalhadores durante a Primeira Revolução Industrial” (“Why Did the Pope Pick Leo? Here’s Why the Name Is So Important in the Catholic Church” [O papa escolheu um nome muito relevante para a Igreja Católica, em tradução livre], Melissa Sartore, National Geographic, 16 de maio de 2025).
Um porta-voz do Vaticano disse que essa escolha envolvia aplicar a doutrina social moderna, introduzida pelo papa Leão anterior, “aos trabalhadores em uma era de inteligência artificial”, comparando o ritmo das mudanças atuais com o daquele período anterior (“What’s in a Name? The History of the Papal Name Leo” [O significado histórico do nome papal Leão, em tradução livre], Christian Edwards, CNN, 8 de maio).
Mas note que o novo papa também tinha outros motivos. Talvez ele tenha escolhido o nome Leão por seu significado de força, coragem, realeza, dignidade e liderança e pela possível restauração dessas virtudes. Há uma célebre linhagem de papas chamados Leão ao longo da história.
Isso começou com Leão I, no século V, o primeiro de três papas na história chamados de “o Grande.” O escritor Adrian Hilton observou: “A intervenção do papa Leão XIII para persuadir Átila, o Huno, a não invadir Roma foi crucial para aumentar o poder da Igreja Romana e estabelecer as bases do poder temporal dos papas. Assim, foi afirmada a primazia do Bispo de Roma sobre todos os outros bispos” (“The Principality and Power of Europe” [O principado e o poder da Europa, em tradução livre], 1997, p. 27). Aliás, Leão I invocou a primazia do apóstolo Pedro, supostamente estabelecida em Mateus 16 (ver nossa seção Perguntas & Respostas para mais detalhes), juntamente com a lei hereditária romana, para elevar o Bispo de Roma à posição de herdeiro legal de Pedro. Hilton continuou explicando: “Como declarou o Concílio de Calcedônia em 451: ‘Pedro falou por meio de Leão; seja anátema quem acreditar de outra forma’. A partir de então, começou a se enraizar firmemente a doutrina de que o poder papal havia sido concedido por Cristo a Pedro, e que esse poder havia sido transmitido por Pedro aos seus sucessores”.
Um importante personagem posterior, Leão III, liderou um período formativo como o papa que coroou Carlos Magno no ano 800 como o primeiro Imperador do Sacro Império Romano. Isso levou a uma união entre Igreja e Estado que perdurou por toda a Idade Média e além. (Não deixe de ler nossa matéria de capa).
O papa Leão IX foi a figura central no processo que culminou no Grande Cisma de 1054, a separação definitiva entre os católicos latinos ocidentais e os ortodoxos gregos orientais. O patriarca de Constantinopla se considerava igual ao Bispo de Roma, o que gerou uma crescente tensão entre as duas autoridades religiosas. O papa enviou uma delegação para resolver a disputa, mas a situação culminou na excomunhão do patriarca (o papa faleceu pouco antes de seu delegado efetivar essa excomunhão).
Séculos depois, o papa Leão X, da família italiana Médici, presidiu outra grande divisão ao excomungar o reformador protestante Martinho Lutero no século XVI, quando este se recusou a retratar-se de suas convicções.
Nas últimas décadas, houve esforços para sanar essas divisões do passado, e Leão XIV declarou que a unidade cristã é uma de suas prioridades. Ainda este ano, ele terá um encontro com o patriarca ortodoxo Bartolomeu em Niceia, em comemoração aos 1700 anos do histórico concílio realizado ali. Entretanto, esse esforço ecumênico para restaurar a unidade eclesiástica não incluirá discussões sobre a liderança papal.