Comentário Bíblico
Gênesis 24
Então, três anos se passaram desde a morte de Sara. Abraão tem agora cento e quarenta anos; e Isaque tem quarenta anos. Sentindo o peso da idade e ciente de que seu tempo está acabando, Abraão inicia o processo de busca de uma esposa para seu filho. Os casamentos arranjados tornaram-se coisa do passado em praticamente todas as culturas modernas. Mas, nos dias de Abraão, um dos deveres de um pai era garantir que um cônjuge apropriado fosse escolhido para seus filhos e filhas, especialmente os filhos.
A escolha de uma esposa para um filho, especialmente o primogênito e herdeiro do cargo de chefe da família, era uma incumbência séria. Pois, era preciso encontrar a mulher certa para garantir a continuação da estabilidade e prosperidade da família. Em alguns casos o próprio pai negociava a aquisição de uma noiva, mas em outros casos se contratava o serviço de um intermediário (chamado de malach, anjo ou mensageiro, em hebraico). Então, como já era idoso, Abraão confiou a responsabilidade ao mordomo de sua casa, aqui identificado como o servo “mais velho da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía” (Gênesis 24:2).
Provavelmente, esse servo era Eliezer, mencionado por Abraão em Gênesis 15:2-3 como seu herdeiro antes de ter filhos — embora seja possível que, a essa altura, Eliezer já tivesse morrido. Em todo o caso, Abraão exige um juramento solene de seu servo, instruindo-o a viajar ao norte da Mesopotâmia, onde viviam seus parentes, para que dentre sua parentela escolhesse uma esposa para Isaque. Além disso, o servo foi expressamente proibido de levar Isaque junto.
Há muitos paralelos entre a escolha da esposa de Isaque e a escolha de uma esposa para Jesus Cristo, cuja esposa significa a Igreja (ver Efésios 5:22-33). Abraão pode ser visto como representando o Pai, pois, mais tarde, ele mesmo foi chamado de pai dos fiéis (Romanos 4:16). Isaque representaria Cristo, um filho nascido conforme a promessa, cujo nascimento foi anunciado de antemão e que teve uma concepção milagrosa. E o servo representaria o papel do Espírito Santo.
E, de fato, se esse servo era Eliezer, isso seria ainda mais impressionante, pois seu nome significa “Deus, sua ajuda” e o Espírito de Deus é chamado de Ajudador (termo que a palavra grega parakletos também pode ser traduzida em João 14-16). Evidentemente, todas as analogias falham em algum ponto — e aqui isso acontece pelo fato de que o Espírito Santo não é uma pessoa nem um agente independente capaz de tomar decisões por conta própria. (Para saber mais, leia nosso guia de estudo bíblico gratuito Quem é Deus?) Ainda assim, essa analogia parece válida até certo ponto, considerando que Jesus personificou o Espírito Santo quando se referiu a ele como um parakletos (em essência, um ajudante pessoal ou um advogado num tribunal).
Assim, temos o Pai enviando Seu Espírito para escolher e preparar uma Noiva para Seu Filho. Essa Noiva recebe presentes desse intermediário do Pai (Efésios 4:8, Romanos 11:29, 1 Coríntios 12), concorda em se casar com alguém que ela nunca viu (1 Pedro 1:8), empreende uma viagem com aquele representante (a jornada desta vida com a guia do Espírito) e é levada até o Filho (Apocalipse 19), passando a residir na tenda de Sara (cujo nome significa “Princesa”), onde o casamento é consumado (como um tipo de união espiritual — 1 Coríntios 6:16-17).
Ademais, é preciso mencionar que os ministros (servos) de Deus também desempenham o papel de trazer a noiva de Cristo até Ele. Como o apóstolo Paulo escreveu à Igreja: “Porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (2 Coríntios 11:2). E, através de Seu próprio ministério, Deus chama as pessoas para um relacionamento com Cristo, que, também por meio de Seu ministério, provê os dons de ajuda e instrução para aqueles que correspondem a esse chamado.