Comentário Bíblico: Êxodo 32

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Comentário Bíblico

Êxodo 32

Após a ausência de Moisés por quase um mês e meio, os israelitas logo ficaram desorientados e pediram a Aarão que lhes desse outro símbolo divino para guiá-los. Curiosamente, parece que eles viam esse ídolo como uma representação do Eterno (versículos 4-5). Entretanto, Deus viu isso doutra forma, dizendo que eles se inclinaram e sacrificaram a um falso deus (versículo 8) em vez de adorá-Lo. E é impressionante como se esqueceram o que Deus havia feito por eles e tão rapidamente abandonaram Seus mandamentos — descartando Moisés como se ele fosse uma fraude. O apóstolo Paulo disse que isso serve de exemplo para nós e nos alerta para nunca imitarmos esse tipo de comportamento (1 Coríntios 10).

Outro aspecto incrível de todo esse caso é a atitude de Aarão. Impressiona o fato de ele ter consentido isso, ao que tudo indica, muito prontamente. Quando o povo se aproximou de Aarão com a sugestão de fazer um ídolo para adorar, foi ele quem disse para trazerem brincos de ouro. Então, foi Aarão quem idealizou e moldou o objeto idólatra. Talvez até mesmo Arão tenha começado a se perguntar o que havia acontecido com Moisés. Ademais, ele pode ter visto o "pedido" do povo como uma ameaça implícita — e talvez tenha sido — de que, se não concordasse com o queriam, as consequências seriam terríveis. Provavelmente, Aarão temia por sua segurança e a de sua família caso se opusesse a essa reivindicação. Ele deveria ter mostrado mais resistência e confiança em Deus, mas decidiu ceder. Além disso, em vez de assumir sua responsabilidade, ele contou a Moisés uma mentira ridícula (versículo 24). Contudo, sem dúvida, houve uma grave falha de liderança. Isso também deveria servir de lição para todos nós. Não importa quem somos ou o quanto Deus interveio em nossas vidas, qualquer um pode se desviar se não estiver sempre espiritualmente alerta.

Quanto ao objeto de idolatria escolhido pelos israelitas, o fato é que eles estavam bem familiarizados com o culto ao bezerro no Egito, como detalhado no estudo sobre as pragas. Portanto, não é surpreendente eles terem escolhido um bezerro como símbolo de adoração, porque isso era algo comum na cultura egípcia em que estiveram imersos por muitas gerações. Séculos depois, o rei israelita Jeroboão criaria ídolos semelhantes (1 Reis 12:28) após ser banido para o Egito (1 Reis 11:40), e esse tipo de adoração idólatra seria predominante durante a maior parte da existência do reino nortenho de Israel. Entre os cananeus, o touro também era visto como a personificação de Baal. Talvez a adoração generalizada de bois no paganismo, como ainda ocorre na Índia hoje em dia, tenha sido inspirada diretamente por Satanás, já que seu rosto principal — por ser um querubim — é o de um boi (comparar Ezequiel 1:10; 10:14; Êxodo 1:7-10) .

"O touro era reverenciado em todo o antigo Oriente Próximo como símbolo de fertilidade" (Moses: A Life [A Vida de Moisés, em tradução livre], Jonathan Kirsch, 1998, p. 264). Pode ter sido a conexão de fertilidade envolvida nessa adoração idólatra que estimulou alguns dos israelitas a se envolverem em “jogos sexuais” (versículo 6). O The Expositor's Bible Commentary (Comentário Bíblico do Expositor) diz o seguinte sobre o versículo 6: "O verbo sahaq significa embriaguez, orgias imorais e brincadeiras sexuais ('carícias conjugais')" (1990, Vol. 2, p. 478). Ao chegar a esse nível, provavelmente esse episódio impróprio tinha ido muito além do que Aarão havia concordado ou talvez até mesmo imaginado. Como já lemos, o apóstolo Paulo comparou o pecado ao fermento (1 Coríntios 5:8). Ele até usou um exemplo para mostrar que o pecado, assim como o fermento, pode se espalhar e afetar cada vez mais pessoas, a menos que seja imediatamente removido (versículos 1-7). O incidente com o bezerro de ouro parece um caso clássico de tolerância de qualquer porção de fermento que, em pouco tempo, se infiltra insidiosamente. Mas, não temos necessariamente que pensar que toda a congregação de Israel havia participado dessa imoralidade sexual desenfreada, mas isso foi tão abrangente que Deus disse a Moisés: "O teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido" (versículo 7) — dissociando-se assim dos israelitas.

Embora Deus tenha perdoado o pecado de Israel — inclusive o de Arão — eles pagaram caro por essa absurda violação de Sua lei. Moisés disse aos levitas que empunhassem suas espadas e começassem a matar o povo. Cerca de três mil pessoas foram mortas (versículo 28). Provavelmente, entre os mortos estavam os líderes ou aqueles que levaram essa situação ao extremo quando a festa começou. O versículo 35 afirma que Deus feriu o povo por causa do incidente do bezerro de ouro. Isso pode ser uma referência à morte daquelas três mil pessoas ou a mais uma punição não informada no texto. A lição clara de tudo isso é que o pecado sempre traz consequências. E não há exceção a esse princípio.