Comentário Bíblico: Êxodo 34

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Comentário Bíblico

Êxodo 34

Como Moisés havia destruído as tábuas dos Dez Mandamentos, Deus o instruiu a esculpir mais duas tábuas de pedra para que Ele pudesse escrever novamente Seus mandamentos, a base da relação pactual entre Ele e Seu povo. Esse foi um ato muito misericordioso da parte de Deus, pois, apesar da terrível desobediência dos israelitas, Ele estava disposto a renovar Seu relacionamento com eles.

Então, Deus passa diante de Moisés, mostrando-lhe parte de Sua glória. Ao fazer isso, Deus proclama a glória de Seu caráter — concentrando-se em Sua incomensurável misericórdia e graça, exatamente o que permite que esse relacionamento pactual seja renovado (versículos 5-7). Contudo, Ele ainda adverte que o pecado tem consequências (versículo 7). Ao ouvir isso, Moisés rapidamente busca o misericordioso perdão divino pelos pecados do povo, além de pedir novamente que Deus siga com eles (versículo 9).

Qual foi a resposta de Deus? Ele renova aquele relacionamento pactual. E Ele começa essa renovação com o maravilhoso anúncio de que “faria maravilhas" ao expulsar os habitantes de Canaã de diante do povo (versículos 10-12). Os israelitas não deveriam fazer acordos com os cananeus, evitando assim que fossem corrompidos por seus costumes e ideias pagãs. Certamente, eles não deveriam adotar os costumes de adoração pagã.

Deus considerou Seu relacionamento com Israel como um casamento (Jeremias 3:1-14). Portanto, seria uma espécie de infidelidade conjugal e adultério espiritual os israelitas "se prostituírem" com deuses pagãos (Êxodo 34:15-16) — adorá-los ou adotar seus ritos religiosos. Mas a frase também tinha uma aplicação literal, pois os rituais sexuais com prostitutas ou prostitutos do templo eram uma parte importante das repugnantes e degradantes religiões pagãs da terra em que os israelitas deveriam entrar. Assim como na reação de Deus ao incidente do bezerro de ouro no capítulo 32, vemos que as práticas religiosas pagãs são abomináveis e totalmente inaceitáveis para Ele — algo em que devemos ponderar sempre que examinarmos as origens das tradições e costumes religiosos populares da atualidade. Observe que nesse contexto Deus também adverte que o casamento misto com pessoas de fora da verdadeira fé é um caminho perigoso que pode levar ao abandono de Sua verdade.

Então, Deus repete alguns dos termos da aliança que Ele propôs nos capítulos 21-23. Êxodo 34:26 repete a proibição de Êxodo 23:19 sobre cozinhar um cabrito no leite da própria mãe. Em relação à passagem anterior, o comentário bíblico Jerome Biblical Commentary afirma: "A lei em 19b (e em Dt 14:21) confundiu os comentaristas por séculos, contudo, a descoberta e publicação da literatura de Ras Shamra (Ugaritic Manual, Cyrus H. Gordon, 1955, 52:14, "Birth of the Gods" [Nascimento dos Deuses]) resolveram esse enigma. Agora está claro que essa prática se refere a um tipo de culto dos vizinhos cananeus dos hebreus. Portanto, os israelitas deveriam afastar-se disso para não adotarem qualquer inferência desse culto cananeu”. E sobre mesma passagem, o comentário bíblico Matthew Henry's Commentary assevera: "Na festa da sega, como é chamada (Êxodo 23:16), eles [os israelitas] deviam dar graças a Deus pelas colheitas que receberam e por depender dEle para a próxima colheita, e nunca esperar receber algo através das superstições dos gentios, que, diz-se, no fim da colheita deles, ferviam um cabrito no leite e aspergiam aquele caldo de leite, como se fosse algo mágico, sobre seus jardins e campos para torná-los mais frutíferos para o próximo ano. E Israel deveria abominar esses costumes ridículos".

E como devemos evitar costumes que vieram de cultos pagãos, ainda parece ser uma atitude prudente abster-se de cozinhar intencionalmente um cabrito no leite da própria mãe. Contudo, com base nessa restrição em questão, os judeus ortodoxos não comem carne e laticínios juntos. Na verdade, esses alimentos precisam ser preparados em locais diferentes e com utensílios diferentes para serem considerados "kosher" por eles. Os judeus veem um princípio fundamental nessa passagem: o que foi dado para nutrir a vida (leite) não deve ser usado para destruí-la. Porém, obviamente essa não era a intenção de Deus. Abraão, que guardava os estatutos e as leis de Deus (Gênesis 26:5), pediu para Sara preparar carne e laticínios juntos para servir a Deus (Cristo pré-encarnado) e a dois anjos: "E [Abraão] tomou manteiga e leite e a vitela que tinha preparado e pôs tudo diante deles; e ele estava em pé junto a eles debaixo da árvore; e comeram" (Gênesis 18:8). Então, até o próprio Deus, enquanto manifestado em forma física, comeu carne junto com laticínio. Não obstante, alguns judeus, embora admitam que essa restrição é limitada, argumentarão contra o consumo de carne e laticínios juntos, baseando-se na remota possibilidade de um determinado produto lácteo ser derivado da mãe do animal que está sendo consumido. Mas, se aplicássemos possibilidades remotas em toda nossa dieta, nunca poderíamos comer nada, por medo de que uma partícula de algo impuro tivesse, de alguma forma, contaminado o alimento. Sem dúvida, não era isso o que Deus tinha em mente.

Dessa vez, após estar na presença de Deus, Moisés desceu da montanha com o rosto brilhando — um reflexo silente da glória que brilhara sobre ele enquanto estava na presença de Deus. E parece que doravante isso aconteceria toda vez que Moisés se encontrasse com Deus. E assim Moisés apareceria diante do povo — e todos saberiam que ele estava voltando de um encontro com Deus porque seu rosto estava brilhando. Então, como Paulo explicou mais tarde, ele usava um véu para ocultar o esmaecimento dessa glória transitória (2 Coríntios 3:7, 13). Podemos comparar esse brilho no rosto de Moisés como um reflexo da glória do caráter de Deus em nós. Quando as pessoas veem isso, elas perceberão que representamos Deus e estamos perto dEle. Porém, à medida que o tempo passa, após estarmos em contato com Ele, nosso poder espiritual e foco diminuem, assim como nosso exemplo — algo que não queremos que seja refletido. Então, vamos até Deus em busca de renovação para conseguir fazer com que nossa luz brilhe novamente diante dos outros.