Comentário Bíblico
Levítico 2
Ofertas de Manjares
Essa palavra “manjares” significa simplesmente "comida" e, às vezes, apenas "refeições", que consistiam em grãos. Tudo isso faz sentido quando consideramos que a fonte de alimento constante do homem desde tempos imemoriais era o pão. Nesse simbolismo, é possível observar que a oferta de cereal simbolizava a adoração a Deus através do que era provido ao próximo. Cristo fez isso perfeitamente como o "pão da vida" que desceu do céu, o qual devemos comer como nosso alimento (ver João 6:22-40; Mateus 4:4). Na verdade, a maior parte da comida dos sacerdotes de Deus advinha dessa oferta. Ela não era totalmente queimada no altar como holocausto. Pois, em vez de simbolizar a total dedicação a Deus, novamente incluía o serviço ao próximo como parte dessa devoção. Embora não fosse inteiramente queimada, ela era toda consumida — pelo fogo de Deus e pelos sacerdotes — sem deixar nada para o ofertante. Pois, assim como no holocausto, o ofertante deveria se entregar completamente.
Examinemos, então, alguns dos ingredientes dessa oferta de cereal. Primeiro, o trigo. "O trigo é esmiuçado" (Isaías 28:28) — ou "moído", como diz na Nova Versão Internacional. “Cristo, nosso provedor da vida, é representado aqui como Aquele ferido. Esse simbolismo, do [grão] moído, representa um dos sofrimentos mais insuportáveis... A ideia implícita é a de machucar e moer; de pressionar e julgar. Jesus não foi apenas provado pelo 'fogo', pois a santidade de Deus não foi a única coisa que O consumiu. Ao atender às necessidades do homem, a alma pura dEle foi constantemente abatida, oprimida e ferida. E esse ferimento foi causado por aqueles a quem Ele ministrava [a Palavra] e se entregava diariamente” (The Law of the Offerings [A Lei das Ofertas, em tradução livre]), Andrew Jukes, p. 80). E, obviamente, havia os ferimentos físicos dEle a favor da humanidade”. E aqui há uma grande lição para o crédulo que deseja se entregar a serviço de seus irmãos! (Como uma oferta de alimentos!). Essa Escritura, como também outras Escrituras, testifica que servir denota autoentrega e autossacrifício. Cristo, para satisfazer os outros, foi partido: E esse pão [grão] ainda devia ser esmigalhado. E quanto mais nosso ministério se aproxima do Seu ministério — mesmo sendo muito inferior ao dEle — mais nos pareceremos com o Jesus, ferido, oprimido e afligido” (p. 83). Andrew Jukes também destaca o fato de que a trigo moído, como deveria ser, não tem desigualdade — assim como aconteceu com Cristo, que foi coerente e inteiramente piedoso em todos os sentidos.
Então, Andrew Jukes passa a explicar sobre o óleo na oferta de cereal como símbolo do Espírito Santo de Deus, que, no holocausto, era representado pela água (Levítico 1:9). “O terceiro ingrediente da oferta [de cereais] é o incenso — porá o incenso sobre ela’ (Levítico 2:1); porém, em contraste, é ordenado que ‘de mel algum oferecereis oferta queimada ao SENHOR’ (Levítico 2:11). Esses símbolos, como todos os outros, são ao mesmo tempo simples e significativos. O incenso (olíbano ou franquincenso) é o mais precioso dos perfumes de fragrância duradoura e deliciosa: símbolo adequado de doçura e aroma da oferta de nosso bendito Senhor. Por outro lado, o mel, embora doce, é corruptível e, quando fermentado, logo azeda. E no incenso, toda sua fragrância não pode ser extraída sem que seja submetido à ação do fogo. Mas no mel é exatamente o contrário; o calor pode fermentá-lo e estragá-lo... A influência disso na oferta de Jesus é muito óbvia e dispensa comentários. O fogo da santidade de Deus O provou, mas tudo resultou numa preciosa fragrância. A santidade de Deus trouxe a graça, que teria escapado ao nosso conhecimento se Ele nunca tivesse sofrido. Certamente, a preciosidade da oferta dEle foi o resultado de Sua ardente provação" (p. 88).
O quarto e último ingrediente da oferta de cereal era o sal — em contraste com o fermento, que era proibido ser oferecido no altar. "A importância desses símbolos é óbvia: um positivamente e o outro negativamente... o 'sal', conhecido como conservante contra a corrupção, é símbolo da perpetuidade e da incorrupção; enquanto o 'fermento', por outro lado, composto de massa azeda e corruptora, é reconhecido como símbolo da corrupção" (pp. 89-90). Um caso em que o fermento poderia ser oferecido era o da "oferta das primícias" (Levítico 2:12) — ou seja, nos pães fermentados oferecidos no Pentecostes (Levítico 23:15-21). Mas não podiam ser queimados no altar como aroma agradável (Levítico 2:12). Esses pães fermentados representavam a Igreja, ainda atormentada pelo pecado (comparar 1 João 1:8-10), que era aceita por meio do sacrifício de Cristo e Sua vida em seus membros. Assim como Cristo, também devemos nos oferecer como alimento ao mundo que nos rodeia — servindo a nosso próximo como uma oferta a Deus (comparar Mateus 25:31-46).
Além disso, o sacrifício mencionado em Levítico 7:13, chamado de “sacrifício de louvores da sua oferta pacífica”, era feito com fermento. Novamente aqui, esse sacrifício não era queimado no altar.