Comentário Bíblico: Levítico 4

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Comentário Bíblico

Levítico 4

Como já vimos, “no holocausto e em outras ofertas de cheiro suave, o ofertante vinha como um adorador para dar como oferta, representando a si mesmo, algo suave e agradável para [o Eterno]. Nas ofertas pelo pecado e pela culpa, que não eram de cheiro suave, o ofertante vinha como um pecador convicto, para receber por sua oferta, que representava a si mesmo, o devido julgamento pelo seu pecado ou transgressão... Nesse caso, a oferta era aceita para mostrar que o ofertante foi acolhido pelo Senhor; e o consumo total da oferta no altar demonstrava a aceitação e a satisfação de Deus com o ofertante. Em outro caso, a oferta era posta e queimada, não na mesa de Deus, o altar, mas no deserto, fora do acampamento, para mostrar que o ofertante aceitava o julgamento de Deus e era expulso de Sua presença como amaldiçoado... E ainda assim a oferta pelo pecado precisava ser 'sem mácula', tanto quanto o holocausto... na verdade, uma parte, ‘a gordura’, era queimada no altar, para demonstrar que a oferta, embora seja portadora do pecado, era em si perfeita... ‘A gordura’, como já vimos noutras ofertas, representava a saúde e energia de todo o corpo. O fato de ela ser queimada diante de Deus era prova de que a própria vítima oferecida pelo pecado todavia era aceitável” (Jukes, pp. 142-143, 146, 165).

Havia regulamentos diferentes para a oferta pelo pecado, dependendo de quem era o ofertante. Se o pecado expiado fosse o de toda a congregação ou do sacerdócio, o sangue de um touro sacrificial deveria ser levado para dentro do Lugar Santíssimo e aspergido no altar de incenso. Isto não era necessário no caso de um governante civil ou de uma pessoa comum. Um indivíduo culpado não perturbaria necessariamente toda a vida espiritual da nação. Mas isso acontecia quanto ao pecado entre todo o povo ou entre os sacerdotes. E, assim, o altar do incenso, que representava as orações do povo de Deus subindo ao Seu trono e, portanto, o seu contato com Ele, tinha que ser purificado da mácula do pecado. Ademais, quando o sacrifício não era para eles próprios, os sacerdotes deviam comer parte dele. Portanto, eles ficavam satisfeitos quando as exigências do julgamento divino eram atendidas e a vida espiritual da nação preservada. Mas quando um sacerdote expiava o seu próprio pecado, o animal inteiro deveria ser queimado fora do acampamento — pois ninguém tinha permissão de se beneficiar de seu próprio pecado.

Ofertas especiais pelo pecado para o sacerdote e a congregação eram sacrificadas no Dia da Expiação (ver Levítico 16:11-19, 27). As únicas diferenças eram que o animal sacrificado para toda a congregação tinha que ser um bode (as cabras também eram usadas como oferta pelo pecado para a congregação em outras circunstâncias especiais) e, apenas naquele dia, o sangue era levado além do altar do incenso, ou seja, para o Lugar Santíssimo.

Obviamente, Jesus Cristo cumpriu essa oferta pelo pecado ao morrer em nosso lugar. Mas, em certo sentido, essa oferta também se cumpre em nós — de uma forma secundária. Jukes explica: “Deus não permite engano nesse ponto, para que não se pensasse que o santo poderia expiar a si mesmo ou aos outros... Ainda assim, há um sentido e uma medida em que a oferta pelo pecado tem sua contrapartida em nós, como se tivesse relação com nosso autossacrifício: no sentido em que o cristão pode suportar o pecado e sofrer seu julgamento em sua carne mortal... A morte de Cristo na carne pelo pecado serve de exemplo para nós: pois, também devemos morrer com Ele... O santo, como se tivesse sido julgado na pessoa de Cristo, e sabendo que por ele Cristo levou a cruz, e ainda levando-a para julgar e mortificar tudo o que ainda é contrário ao seu Senhor.. A carne nele é contrária àquele Santo [comparar Romanos 7:18, 23]: a carne nele, portanto, deve morrer... A verdade de Deus, tão distante da 'carne' ou do ‘velho homem’ sendo salvo da morte pela cruz, é por esta dedicado à morte e à crucificação [Romanos 6:6; Gálatas 2:20]; e que a morte de Cristo, em vez de ser uma espécie de indulgência pelo pecado, ou um adiamento da vida na carne, a vida do velho homem, é para Seus membros o selo de que sua carne deve morrer, e que o pecado com suas concupiscências e afeições deve ser mortificado [Colossenses 3:5]” (Jukes, pp. 204-206).