Comentário Bíblico
Levítico 8
A impressionante misericórdia de Deus é demonstrada na nomeação de Arão como líder eclesiástico de Israel. Afinal, ele esteve à frente da idolatria de Israel com o bezerro de ouro. Entretanto, após perdoá-lo, Deus lhe dá outra chance — dessa vez para servir como sumo sacerdote de Deus e seus filhos como sacerdotes. Na verdade, a partir de então, o sacerdócio seria perpetuado através de sua família.
Isso também serve como um lembrete de que quando Deus perdoa, Ele perdoa completamente. Em Salmos 103:12, o rei Davi proclama que Deus afasta nossas transgressões “assim como está longe o oriente do ocidente”. As passagens de Isaías 43:25 e Jeremias 31:34 nos dizem que Ele não se lembra mais de nossos pecados. Em Isaías 1:18 Deus diz que nossos pecados, antes como a escarlata, “se tornarão brancos como a neve”. A misericórdia e o perdão de Deus para com Aarão são provas de que Ele é igualmente misericordioso para conosco, perdoando e esquecendo-se de nossos pecados. Isso é possível porque, embora Ele tenha uma perfeita memória do passado, enquanto continuarmos no processo de arrependimento e superação, Deus olha para essa nova pessoa que Ele está formando e moldando como algo distinto da natureza pecaminosa contra a qual lutamos (ver Romanos 7:17). Nosso velho eu pecaminoso um dia será extinto em nossa transformação à incorrupção imortal (ver 1 Coríntios 15) e assim permanecerá apenas o novo eu imaculado. Mas, felizmente, não precisamos esperar para sermos considerados perdoados e sem pecado, pois, quando nos arrependemos, Deus nos perdoa imediato e totalmente.
E Levítico 8 registra a consagração ou separação de Arão e Seus filhos para uma importante responsabilidade. A nação inteira compareceu para testemunhar esse grande evento. Como profeta e principal servo de Deus na Terra, Moisés era o único qualificado para ordenar Arão e seus filhos para essas funções. Arão, como sumo sacerdote, foi ungido ao ser derramado óleo sobre sua cabeça (Levítico 8:12) — que é um símbolo de uma dispensação especial do Espírito Santo de Deus (comparar Atos 10:38). Na antiga Israel, os sumos sacerdotes e os reis eram ungidos. Curiosamente, ambos os detentores desses cargos aguardavam ansiosamente a vinda de um “Ungido” — que é o significado de Mashiach (ou Messias) em hebraico e Christos (ou Cristo) em grego. E, de fato, agora Jesus Cristo ocupa essas duas posições, a de rei e a de sumo sacerdote.
Embora os filhos de Arão não tenham sido ungidos da mesma maneira que ele, eles também foram aspergidos com óleo de unção e sangue (Levítico 8:30; comparar Levítico 10:7). Além disso, Arão e seus filhos foram todos consagrados especialmente pelo sangue de um carneiro aplicado na orelha direita, no polegar direito e no dedão do pé direito de cada um deles. Alguns especularam que essa unção de suas extremidades, de cima a baixo, representava ser coberto totalmente pelo sangue sacrificial. Mas também pode significar outra coisa. Geralmente, a orelha representa a audição — assim talvez signifique que sua disposição de ouvir e seguir as instruções de Deus estivesse sendo santificada. Afinal, a frase “isto é o que o SENHOR ordenou”, ou palavras semelhantes, aparece dez vezes nesse capítulo (versículos 4, 5, 9, 13, 17, 21, 29, 34, 35, 36). O polegar direito é a parte da mão direita que permite seu funcionamento — e a mão direita costuma simbolizar na Bíblia as ações de uma pessoa. As ações do sacerdote tinham que ser santas. E quanto ao dedão do pé, ele permite ter equilíbrio ao andar e ficar em pé — que muitas vezes representa nas Escrituras o andar com Deus, ou seja, levar uma vida piedosa e permanecer firme na fé, respectivamente. Estas são qualidades importantes para os sacerdotes de Deus — qualidades que também devemos ter, pois agora somos o santo sacerdócio escolhido por Deus (1 Pedro 2:5, 9).
Também devemos tomar nota da lavagem de Arão e de seus filhos. O The Keil & Delitzsch Commentary afirma sobre Levítico 8:6 que Moisés “os instruiu a se lavarem completamente e não apenas as mãos e os pés. Essa purificação da impureza corporal era um símbolo da eliminação da imundície do pecado; a lavagem do corpo, portanto, era um símbolo da limpeza espiritual, sem a qual ninguém poderia aproximar-se de Deus, e muito menos aqueles que deveriam cumprir os deveres de reconciliação” (Vol. 1, p. 544). Muitos dos rituais de lavagem do Antigo Testamento prefiguravam o batismo do Novo Testamento e, nesse caso, isso parece ser verdade. Novamente, a Igreja do Novo Testamento é um sacerdócio santo, cada indivíduo sendo purificado simbolicamente através da lavagem de água quando batizado — embora seja, na verdade, a graça de Deus através do "sangue de Jesus Cristo" que "nos purifica de todo pecado" (1 João 1:7).