Comentário Bíblico: Levítico 9-10

Você está aqui

Comentário Bíblico

Levítico 9-10

No capítulo 9, Moisés instrui Arão a prosseguir e oferecer as primeiras ofertas como sumo sacerdote de Deus. E o versículo 15 mostra que a oferta para o povo é um bode. Embora o animal especificado como oferta pelo pecado para a congregação em Levítico 4:14 fosse um touro, em algumas ocasiões um bode era usado para esse propósito (Levítico 16:9; 5:6; Números 28:15; 29:16; 15:22-26; 2 Crônicas 29:20-24; Esdras 6:17; 8:35).

Nessa inauguração dos sacrifícios, Arão pronuncia uma bênção sobre Israel (versículo 22). O texto específico dessa bênção sacerdotal que Deus ordenou que fosse concedida a Israel está em Números 6:23-26. E essa pode ser a bênção referida em Levítico 9:22.

Nos versículos 23-24 vemos um evento espetacular. "Os sacrifícios foram consumidos, não pelo fogo aceso por Arão, mas pelo fogo da presença do Senhor. Essa é a primeira das cinco vezes que o Antigo Testamento registra o fogo de Deus como um sinal de aceitação de um sacrifício (Juízes 6:21 ; 1 Reis 18:38; 1 Crônicas 21:26; 2 Crônicas 7:1). Visto que o fogo desse altar nunca se apagaria [ver Levítico 6:9, 12-13], todos os sacrifícios de Israel daquele momento em diante seria consumido pelo fogo que vinha de Deus" (Bíblia de Estudo Thomas Nelson, nota em 9:24). Embora plausível, não está absolutamente claro se esse foi o caso.

Depois que os filhos de Arão foram mortos por trazerem fogo profano diante do Senhor, Moisés explica a Arão por que Deus fez isso, e em seguida instrui os primos dele a remover os homens mortos do santuário. Então, Deus ordena que Arão e seus filhos não bebam álcool antes de entrar na tenda da congregação. Contudo, o relato se referia apenas ao fato de Nadabe e Abiú terem trazido fogo e incenso profanos diante de Deus — então, logo depois desse acontecimento, por que Arão recebeu essa peculiar instrução sobre bebida embriagante? Embora seja possível que Deus estivesse apenas relatando outra maneira pela qual alguém poderia demonstrar desrespeito a Ele durante esses rituais, esse texto também pode estar indicando que o uso inadequado de álcool desempenhou um papel crucial no discernimento e comportamento desses dois irmãos.

O castigo que Deus infligiu aos dois foi muito severo. Sabemos que em muitas ocasiões houve pessoas que “adoraram” a Deus de uma forma que Ele não reconhecia ou aceitava, mas elas não foram punidas com esse rigor. Entretanto, na época desse relato, Deus estava desempenhando um papel bastante visível na nação de Israel, além de que estava ensinando ao povo a magnitude da reverência que eles precisavam demonstrar por Ele: “Serei santificado naqueles que se cheguem a Mim e serei glorificado diante de todo o povo " (Levítico 10:3) — era fundamental que eles entendessem isso.

Os filhos de Arão não fizeram aquilo por ignorância, pois Deus já havia dado instruções claras, através de Moisés, sobre como Ele deveria ser reverenciado. Por isso, Nadabe e Abiú não poderiam ficar impunes por esse desrespeito e descaso — além de isso ter sido ofensivo a Deus também poderia fomentar entre o povo uma atitude desleixada em relação às Suas instruções. Quando Deus diz para considerá-lo santo, Ele está falando sério. A natureza instrutiva desse evento foi tão importante que Arão e o restante de seus filhos não foram autorizados a demonstrar qualquer sinal exterior de luto — eles foram obrigados a manter a compostura e a continuar os seus deveres sacerdotais para ilustrar a justiça e a retidão da ira de Deus.

A Bíblia de Estudo NVI observa o seguinte sobre a morte de Nadabe e Abiú: "Geralmente eles são lembrados como aqueles que morreram diante do Senhor e não tiveram filhos. A morte deles foi trágica e aparentemente severa, mas não mais do que a de Ananias e Safira (Atos 5:1-11). Em ambos os casos, uma nova era estava sendo inaugurada... A nova comunidade tinha que ser conscientizada de que existia para Deus, e não vice-versa".

O fato de Moisés indicar que o bode da oferta pelo pecado (Levítico 10:16) não deveria ser queimado, mas comido pelos sacerdotes, demonstra que essa oferta pelo pecado específica não era para toda a congregação ou todo o sacerdócio (ver Levítico 4). Tratava-se, portanto, de uma oferta posterior àquela referida em Levítico 9:15. Após a morte de seus sobrinhos, Moisés ficou bastante preocupado em fazer tudo exatamente conforme às instruções divinas. E no versículo 18, ele não está repreendendo os filhos de Arão por não terem trazido o sangue para o santuário, mas salientando que, como o sangue não foi trazido, a oferta deveria ser comida, não queimada. (ver Levítico 6:29-30).

Arão explica que nem ele comeu da oferta porque temia que Deus não a aceitasse. Comer da oferta pelo pecado era um ato de adoração que simbolizava a satisfação com a justiça de Deus, e Arão entendeu a necessidade de estar em um estado de espírito adequado e reverente. Todavia, ele e seus filhos estavam extremamente tristes e distraídos com o que havia acontecido — talvez até mesmo desencorajados e insatisfeitos com o julgamento de Deus naquela ocasião.

"Arão não comeu a carne do sacrifício porque tinha medo do que mais Deus poderia fazer. Ele não estava sendo rebelde, como seus filhos que foram mortos ao queimarem aquele incenso. Arão estava argumentando que, por conta daquelas circunstâncias que ele enfrentou naquele dia, talvez Deus preferisse que o sacerdote errasse por cautela em vez de presunção... A rebelião surge de um coração que não é reto para com Deus. Moisés reconheceu que a falha de Arão não foi uma rebelião e que seu argumento fazia sentido, assim ele poderia ser perdoado" (Bíblia de Estudo Thomas Nelson, notas sobre os versículos 19-20).