Os Anjos Tiveram Relações Com Mulheres e Geraram Gigantes?
Os dias anteriores ao dilúvio de Noé são descritos em Gênesis 6: "E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram...Havia, naqueles dias, gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de fama" (versículos 1-2, 4).
Alguns ensinaram que isso se refere a anjos caídos tendo relação sexual com mulheres e gerando gigantes meio-demoníacos. Mas há uma explicação mais racional para isso.
O Manual Bíblico de Halley, um recurso de estudo bastante popular, afirma que “os "filhos de Deus" (versículo 2) são considerados anjos caídos...ou líderes de famílias setitas [os filhos de Sete, descendentes de Adão] que se casaram com descendentes ímpios de Caim [filho de Adão]” (Halley’s Bible Handbook, 25ª ed., 2000, p. 96).
A primeira possibilidade mostrada aqui, na verdade, não é uma possibilidade, apesar de os anjos serem referidos como "filhos de Deus" em Jó 38:7, porque Deus é o seu "Pai" através da criação. Os anjos são seres espirituais (Hebreus 1:7), e não criaturas carnais. Eles nem se casam nem reproduzem sexualmente (Lucas 20:34-36). Além disso, essa explicação violaria o princípio apresentando em Gênesis 1 de que cada espécie deve viver e se reproduzir somente "de acordo com sua espécie". Além disso, Jesus ressuscitado explicou que os anjos caídos, ou demônios, não são capazes de manifestar-se materialmente como Ele e os anjos justos (Lucas 24:39; comparar versículos 40-43; Gênesis 18:1-8, 16; 19:1). Pelo contrário, vemos demônios nas Escrituras somente possuindo indivíduos ou se apresentando como aparições fantasmagóricas.
A segunda explicação da Halley é muito mais razoável. Gênesis 4 contém a história de Caim e Abel e segue com a descendência genealógica de Caim. Gênesis 5 é chamado "o livro da genealogia de Adão" (versículo 1). Tudo começa com Deus criando a Adão e como a linhagem de Adão continuou através de Sete. Assim como acontece com os anjos, Adão era um "filho de Deus" por criação — (comparar Lucas 3:38), ainda mais porque Adão foi feito à imagem de Deus (Gênesis 1:26; 5:1-3). Desta linhagem de família, através de Sete, afirma-se: "Então, se começou a invocar o nome do SENHOR" (Gênesis 4:26), que também poderia ser traduzido assim: "... começou a ser chamado segundo o nome do SENHOR”. Então, no capítulo seguinte, Gênesis 6, vemos que "os filhos de Deus" (homens da linhagem divina de Sete, segundo esta explicação) casaram-se com "as filhas dos homens" (mulheres da linhagem ímpia de Caim).
Há também outra maneira sensata de entender o que Gênesis 6 está descrevendo, onde a expressão "filhos de Deus" deveria ser traduzida como "filhos dos deuses", pois aqui a palavra hebraica elohim, uma forma plural, às vezes, pode se referir a falsos deuses em vez do verdadeiro Deus. Nessa explicação, os homens ímpios se referiam aos filhos dos deuses (adoradores pagãos ou talvez homens, supostamente, semideuses, que os antigos governantes frequentemente afirmavam ser) “tomando”, à força, mulheres inocentes como esposas — talvez um exemplo do comportamento vil daquela época.
De qualquer maneira, aqui está claro que o problema são os seres humanos — não os anjos. Deus diz nessas passagens de Gênesis 6: "Não contenderá o Meu Espírito para sempre com o homem" (versículo 3) e "destruirei, de sobre a face da terra, o homem que criei" (versículo 7). Assim, os "gigantes" mencionados tinham que ter sido humanos — descendentes de Adão e Eva (comparar Atos 17:26).
Ainda é possível que a palavra aqui traduzida como "gigantes", nefilim — que significa cair ou fazer cair — possa se referir a tiranos. Porém, mais tarde, essa palavra é usada por pessoas de estatura gigantesca em Números 13:33. Então, essas pessoas muito poderosas e, possivelmente, muito altas de Gênesis 6 foram destruídas no Dilúvio. Mas haveria outros gigantes depois do Dilúvio, que descenderam como todos os outros no mundo pós-diluviano de Noé — novamente, não eram anjos (comparar Deuteronômio 2:20-21; 3:11). Considere o caso de Golias, a quem Davi matou. Ele tinha quase três metros de altura (1 Samuel 17:4). Mesmo assim, ele ainda era apenas um homem (versículos 24-25, 33) — e não um tipo de ser híbrido, humano-demônio.