Entendendo o Termo “Imundo” em Romanos 14

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Entendendo o Termo “Imundo” em Romanos 14

A afirmação de Paulo em Romanos 14:14 — "Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda" — significa que a Igreja primitiva não fazia distinção entre carnes limpas e imundas?

A compreensão da terminologia grega pode nos ajudar nisso.

É importante entender que os escritores do Novo Testamento se referiam a dois conceitos de impureza usando palavras gregas diferentes para transmitir as duas ideias. O termo imundo poderia se referir a animais que Deus proibiu de ser usado como alimento (listado em Levítico 11 e Deuteronômio 14) e também pode se referir à impureza cerimonial.

Em Romanos 14, Paulo usa a palavra koinos, que significa "comum" (Dicionário Expositivo Completo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento de Vine, 1985, "Imundo", p. 649). Além dos significados “comum” e “ordinário”, conforme usado em Atos 2:44; 4:32; Tito 1:4, e Judas 3, a palavra também se aplicava a coisas consideradas profanas (Hebreus 10:29) ou contaminadas. Essa palavra, junto com a forma verbal koinoo, é usada em Marcos 7:2, 15-23, onde se refere claramente à impureza cerimonial no incidente em que os discípulos comeram sem antes ter lavado as mãos.

Por meio de uma concordância da Bíblia, você pode verificar quando koinos e koinoo aparecem no Novo Testamento, referindo-se a esse tipo de impureza cerimonial. Algo poderia ser "comum" — cerimonialmente impuro — mesmo sendo considerado um alimento limpo.

Uma palavra completamente diferente, akathartos, é usada no Novo Testamento para animais que as Escrituras especificam como imundos. Na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento, amplamente usada nos dias de Paulo), akathartos é usado para designar as carnes imundas listadas em Levítico 11 e Deuteronômio 14.

Ambas as palavras, koinos e akathartos, são usadas em Atos 10 para descrever a visão de Pedro do lençol cheio de “todos os animais quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu” (versículo 12), ambos limpos e imundos. O próprio Pedro distinguiu os dois conceitos de impureza usando as duas palavras no versículo 14. Depois que uma voz disse a Pedro para “matar e comer”, ele respondeu: “Nunca comi coisa alguma comum [koinos] ou imunda [akathartos]”. As traduções da Bíblia distinguem os significados das duas palavras usadas aqui. Pedro usou a mesma terminologia no versículo 28 e Atos 11:8 ao relatar essa visão.

Quando Paulo disse em Romanos 14:14 que “nenhuma coisa é de si mesma imunda [koinos, ou 'comum']”, ele estava tocando no mesmo ponto que já havia explicado aos coríntios, conforme esclarecido no próximo capítulo deste guia de estudo: Ainda que uma carne limpa tenha sido utilizada na adoração de ídolos, não significa que ela seja intrinsecamente imprópria para consumo humano. Como visto no contexto, Paulo não estava discutindo restrições alimentícias bíblicas.

Em Romanos 14:20, Paulo continua afirmando que “todo alimento é puro” (NVI). (A palavra traduzida como “puro” é katharos, “livre de mistura impura, sem mancha ou defeito” (“Imáculo, Pureza, Limpeza, Purificação”, Vine), p. 103). Como o tema sobre carnes limpas não é abordado no Novo Testamento, então não temos um termo específico para descrevê-las. Katharos é usado para descrever tudo que se refere à limpeza e pureza, incluindo pratos limpos (Mateus 23:26), pessoas (João 13:10) e roupas (Apocalipse 15:6; 19:8, 14), religião "pura" (Tiago 1:27), ouro e vidro (Apocalipse 21:18).

É importante notar também que, em Romanos 14:14 e 20, a palavra carne ou comida não está no texto original. Nenhum objeto específico é mencionado em relação à limpeza ou impureza. O sentido desses versículos é somente que “nenhuma coisa é de si mesma imunda [koinos: comum ou profanado por cerimônias]” e “tudo é limpo [katharos: livre de mistura impura, sem defeito ou manchas]”.

O ponto de vista de Paulo é que se algum alimento tiver sido associado a qualquer atividade idólatra não determinava se ele era adequado ou não para comer.