A Visão Bíblica do Inferno
Para responder, temos que compreender as quatro palavras hebraicas e gregas que foram traduzidas por “inferno” na maioria das versões bíblicas. Como veremos a seguir, a visão bíblica do inferno não tem nada a ver com um de tormento sem fim.
Duas palavras traduzidas como “inferno” referem-se à sepultura
Sheol é a palavra hebraica traduzida como “inferno” no Antigo Testamento. Refere-se ao “estado e local do morto; por conseguinte à sepultura na qual o corpo repousa . . .” (“Inferno”, p. 25, Estudos das Palavras do Antigo Testamento de Wilson, por William Wilson [Wilson’s Old Testament Word Studies]). O Dicionário Expositivo das Palavras da Bíblia explica: “Por conseguinte não há nenhuma referência a destino eterno, mas simplesmente à sepultura como local de repouso dos corpos das pessoas . . .” (Lawrence
Reflectindo o seu verdadeiro significado, muitas traduções mais recentes da Bíblia traduzem esta palavra simplesmente por “a sepultura” ou deixam-na no original Sheol.
Entre os que sabiam que iriam para sheol—para a sepultura e não para um inferno de fogo eterno—estavam homens de fé como Jacó (Gênesis 37:35), Jó (Jó 14:13), Davi (Salmos 88:3) e Ezequias (Isaías 38:10). Sem dúvida, sheol não se refere a um lugar de tormento eterno, mas sim à sepultura.
A palavra grega para sheol é hades, que também quer dizer sepultura. Apesar de o termo hades ser usado na mitologia grega para se referir a um deus do mundo subterrâneo onde os mortos tinham uma sombria consciência após a morte, este não é o uso Bíblico. Nos quatro versículos do Novo Testamento, que citam passagens do Antigo Testamento contendo sheol, a palavra hades é traduzida por sheol (Mateus 11:23; Lucas 10:15; Atos 2:27, 31). Nas traduções Bíblicas mais recentes, assim como a palavra sheol, hades também é traduzida para o português como “a sepultura” ou “morte” ou então é simplesmente deixada no original, hades.
Como no hebraico sheol, a palavra grega hades não se refere a um lugar de tormento no fogo, mas sim à sepultura. Na verdade, o apóstolo Pedro diz em Atos 2:27 e 31 que o Próprio Cristo esteve no “Hades”, ou no “inferno” (na versão Almeida Corrigida e Fiel), ou no “mundo dos mortos” (como é traduzido na Bíblia da Linguagem de Hoje), referindo-se ao tempo em que Cristo esteve na ‘sepultura’ até à Sua ressurreição. Uma vez mais, ambas as palavras simplesmente se referem à sepultura. E na sepultura não existe qualquer sentido de consciência (Eclesiastes 9:5; Salmos 6:5; 146:4, [ARC e ACF]).
Uma palavra concernente à prisão dos demônios
Outra palavra grega, que também é traduzida como “inferno” no Novo Testamento, é tartaroo. Esta palavra é usada apenas uma vez na Bíblia, em 2 Pedro 2:4, onde se refere ao lugar onde os anjos caídos, ou demônios, aguardam, em restrição, pelo seu julgamento. O Dicionário Expositivo de Termos Bíblicos explica que tartaroo significa “confinar-se a Tártaros” e que “Tártaros era o nome grego para o mitológico abismo onde os deuses rebeldes eram confinados” (Lawerence Richards, 1985, “Céu e Inferno”). Pedro faz esta referência à mitologia contemporânea para mostrar que os anjos que pecaram foram “entregues às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo”. Estes anjos caídos estão numa condição de confinamento aguardando o julgamento final de sua rebelião contra Deus e de sua influência destrutiva sobre a humanidade. O local onde eles estão restringidos é a Terra, aonde têm influência sobre as nações, e não num submundo escuro.
Além disso, Tartaroo aplica-se unicamente em relação a demônios. Nunca se refere a um inferno em chamas onde as pessoas são punidas depois da morte.
Uma palavra se refere a queimar—isto é, consumir pelo fogo
Apenas com a quarta palavra bíblica traduzida como “inferno”—a palavra grega gehena—é que podemos ver alguns elementos vulgarmente associados com a tradicional ideia de inferno. Contudo, esta palavra também tem diferenças significativas do conceito popular de inferno.
Gehena “é uma palavra derivada da expressão hebraica ga-Hinnom, isto é, Vale de Hinom . . . Religiosamente, este era um local de sacrifícios idólatras e humanos . . . Para pôr fim a estas abominações, Josias profanou-o com ossadas humanas e outras matérias decompostas O Dicionário Completo de Estudo de Palavras do Novo Testamento [The Complete Word Study Dictionary New Testament], 1992, p. 360).
Graças em grande parte à sua má reputação, este vale que rodeia Jerusalém veio a ser usado como lixeira da cidade. Nesse lugar, o lixo era queimado juntamente com os corpos dos animais mortos e de criminosos. O lixo era consumido dia e noite pelo fogo.
A palavra gehena é usada doze vezes na Bíblia e onze dessas vezes foi usada por Cristo. Quando Jesus falou de gehena, os seus ouvintes sabiam que este “inferno” era um fogo consumidor no qual lixo e corpos de pessoas más eram destruídos. Ele avisou abertamente que este fogo destruidor seria o destino dos malvados incorrigíveis (Mateus 5:22, 29-30; 23:15, 33; Lucas 12:5).
Mas quando vai acontecer isso? O livro de Malaquias revela que numa futura época vindoura os impios impenitentes serão incinerados em um inferno ardente e transformados em cinzas na Terra (Malaquias 4:1-3).
O livro de Apocalipse chama este inferno de “o lago de fogo”―e aqueles que serão lançados nele sofrerão “a segunda morte”, uma morte da qual não haverá ressurreição (Apocalipse 19:20; 20:10, 14-15; 21:8).
Na sequência dos acontecimentos revelados na Bíblia, isso virá depois dos mil anos de reinado de Cristo na Terra (Apocalipse 20:1-6) e também depois de uma ressurreição para a vida física de todos aqueles que nunca conheceram a Deus e aos Seus caminhos (versículos 5, 11-13). Todos que ressuscitarem para a vida física nessa ocasião terão a oportunidade de aprender os caminhos de Deus, de se arrependerem e de receberem o Seu dom da vida eterna. Infelizmente, alguns recusarão esse dom. A Bíblia registra o trágico epitáfio deles: “E aquele que não foi achado escrito no Livro da Vida, foi lançado no lago do fogo” (versículo 15).
As pessoas que consciente e voluntariamente escolherem rejeitar os caminhos de Deus não terão a permissão de continuar vivendo no infortúnio resultante de sua escolha. Elas morrerão e deixam de existir, e por isso não sofrerão eternamente.
Uma análise de todas as palavras traduzidas como “inferno” e dos conceitos semelhantes nas Escrituras mostram que a opinião popular de um lugar de tormento com fogo permanente, onde os ímpios são punidos eternamente, não se encontra na Bíblia.