O Sábado: No Princípio

O Sábado

No Princípio

Quando pensamos no Sábado, geralmente pensamos nos Dez Mandamentos que Deus deu a Israel quando o povo deixou o Egito sob o comando de Moisés. Os acontecimentos desse período da história de Israel — o Êxodo — foram extraordinários. As pragas do Egito, a morte dos primogênitos egípcios, a abertura do Mar Vermelho, o maná vindo do céu e a entrega dos Dez Mandamentos a Moisés em tábuas de pedra. Todos foram eventos miraculosos.

Esses acontecimentos foram testemunhas dramáticas do nascimento de uma nova nação. Em meio a esse incrível começo Deus disse à Sua nova nação para se lembrar de certa coisa. “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” (Êxodo 20:8).

Ele apontou para a criação, recordando-lhes que “em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do Sábado e o santificou” (Êxodo 20:11).

O mandamento do Sábado tem um propósito espiritual importante: O Sábado indica ao povo de Deus que Ele é o Supremo Criador de tudo. O Sábado é uma lembrança semanal obrigatória de que um poder superior e uma autoridade absoluta está atuando em nossas vidas e na vida de toda a humanidade. Portanto, a intenção de Deus era que o Sábado fosse observado como lembrança desse fato.

Deus revelou o Sábado através de milagres

A importância do Sábado era evidente antes de Deus ordenar os Dez Mandamentos  a Israel. Por exemplo, algumas semanas antes, depois da travessia do Mar Vermelho, quando os Israelitas testemunharam a destruição do exército de faraó, Israel entrou na vasta região despovoada da Península do Sinai. Passados alguns dias, os víveres que os Israelitas trouxeram do Egito tinham acabado, então disseram a Moisés: “Porque nos tendes tirado para este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão” (Êxodo 16:3).

Contudo, Deus já tinha tudo planejado e prometeu enviar-lhes maná, uma substância miraculosa que iria sustentá-los enquanto estivessem no deserto (versículos 4, 15-18).

Mas Deus impôs uma condição. Ele lhes daria o maná somente durante seis dias da semana. E no sexto dia o fornecimento seria em dobro, mas nada seria providenciado no sétimo dia (versículos 5, 22). Moisés explicou ao povo o que Deus lhe disse: “Amanhã é repouso, o santo sábado do SENHOR . . . tudo o que sobejar ponde em guarda para vós até amanhã . . . Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o Sábado; nele não haverá” (Êxodo 16:23, 26). Mas alguns não acreditaram e “saíram para colher, mas não o acharam” (Êxodo 16:27).

Qual foi a reação de Deus? Ele disse: “Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis? Vede, visto que o SENHOR vos deu o Sábado, por isso ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique no seu lugar, que ninguém saia do seu lugar no sétimo dia” (Êxodo 16:28-29).

Vemos aqui que semanas antes da entrega dos Dez Mandamentos a Moisés no Monte Sinai, Deus disse que os Israelitas estavam se recusando a cumprir os Seus mandamentos e as Suas leis! E também disse: “O SENHOR vos deu o Sábado”. Ele não disse que “estava dando” ou que “daria”; Ele já lhes tinha dado o Sábado, para ser observado todo sétimo dia!

Quando Deus deu esta ordem a Israel: “Lembra-te do dia do Sábado, para o santificar” (Êxodo 20:8), e disse que os Israelitas estavam se recusando a guardar os Seus mandamentos e leis, violando o Sábado mesmo antes do Monte do Sinai (Êxodo 16:28), Ele estava lembrando ao povo que o Sábado já tinha sido santificado, assim Ele se referia à semana da criação.

Deus separou o Dia de Sábado

No livro de Gênesis, lemos como Deus criou a terra, enchendo-a de plantas e animais e fazendo-a uma bela moradia para o primeiro casal, Adão e Eva. Aqui lemos sobre a verdadeira origem do Sábado: “Havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera” (Gênesis 2:2-3).

Este dia era diferente dos outros dias da semana da criação. Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o. A palavra santificar significa “separar para um propósito santo”; Deus separou, especificamente, o sétimo dia como um dia sagrado. Esses dois versículos mencionam três vezes que Deus não trabalhou no sétimo dia. Enfatizando que aquele era o Seu dia de descanso. Era o Sábado de descanso de Deus.

Algumas pessoas não estão de acordo com essa interpretação, dizendo que essa não foi a origem do mandamento do dia de descanso, arguindo que a palavra Sábado não é mencionada aqui. No entanto, a palavra hebraica traduzida como “descanso” é shabath, que é a raiz da palavra Sábado. Shabath quer dizer cessar, ou descansar, e é daqui que Sábado obtém o significado de “dia de descanso”. Se parafrasearmos a descrição de Gênesis 2:2, usando a palavra ‘sábado’ como um verbo (tal como Shabath é usado no original hebraico), então nós leríamos o texto assim: “Deus sabadeou no sétimo dia de toda a Sua obra, que tinha feito”. A língua hebraica é clara e inequívoca em sua intenção.

Deus fez o Sábado para a humanidade

Por incrível que pareça, ainda há pessoas que argumentam que isso não prova que o Sábado existia desde a semana da criação, afirmando que ele não foi instituído antes de ter sido dado a Israel, no Monte Sinai e que era destinado somente à nação física de Israel — e apenas um tempo limitado.

Entretanto, o próprio Jesus Cristo refutou essa ideia. Ele explicou a alguns que tinham um entendimento completamente incorreto sobre a intenção e propósito do Sábado que “o Sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do Sábado” (Marcos 2:27).

Ele esclareceu o grande princípio subjacente ao dia de Sábado, que muitos não compreenderam durante séculos: O Sábado, longe de impor uma fastidiosa obrigação ou sancionar uma lista de atividades proibidas, é algo que Deus criou para o homem! Ele foi santificado — tornado sagrado — quando a humanidade foi criada, após criar Adão e Eva, no sexto dia da semana da criação, Deus criou o Sábado no dia seguinte, separando o Sábado dos outros dias (Gênesis 1:26-31; 2:1-3).

Para Jesus Cristo o Sábado era algo positivo e benéfico; não uma carga opressiva como alguns líderes religiosos tinham feito dele naquela época. Observe como Jesus escolheu as palavras. Ele disse que o Sábado não foi feito apenas para a nação de Israel, mas para o homem — para toda a humanidade — e observá-lo não se tratava de uma prática sem sentido e forçada que trazia dificuldades à vida das pessoas.

O sétimo dia foi feito para o homem, expressamente criado para benefício e bem-estar da humanidade! Várias outras traduções apoiam isto: “O sábado foi feito para servir as pessoas, e não as pessoas para servirem o sábado”, diz a Bíblia na Linguagem de Hoje.

Jesus compreendia o propósito da lei de Deus, incluindo o Sábado — o qual Deus determinara que fosse uma bênção e um benefício para toda a humanidade. Através de Moisés, Deus dissera anteriormente a Israel: “Eu te ordeno, hoje, que ames o SENHOR, Teu Deus, que andes nos Seus caminhos e que guardes os Seus mandamentos, e os Seus estatutos, e os Seus juízos...”.

Por quê? “... para que vivas, e te multipliques, e o SENHOR teu Deus te abençoe na terra a qual entras a possuir” (Deuteronômio 30:16, ACF).

Moisés, depois de conduzir Israel durante quarenta anos pelo deserto, resumiu as experiências dos Israelitas, imediatamente antes de entrarem na terra prometida, da seguinte maneira: “Eis que vos ensinei estatutos e preceitos, como o SENHOR meu Deus me ordenou... Guardai-os e observai-os, porque isso é a vossa sabedoria e o vosso entendimento à vista dos povos, que ouvirão todos estes, estatutos, e dirão: Esta grande nação é deveras povo sábio e entendido ... E que grande nação há que tenha estatutos e preceitos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?” (Deuteronômio 4:5-8). Ele compreendeu quão maravilhosa era a lei que tinham recebido de Deus, e como era realmente muito especial!

Uma benção para todos que escolham obedecer

Sem dúvida, Deus determinou que o Sábado fosse uma bênção para quem o observasse com o propósito que Deus lhe dera. As instruções que Deus deu a respeito do Sábado foram breves, mas dão um valoroso entendimento à sua intenção. Vejamos algumas dessas instruções.

“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou” (Êxodo 20:8-11).

Vemos que no Sábado todos os membros da casa deveriam descansar do trabalho — até mesmo os criados e os animais. Todos descansavam a cada sétimo dia da rotina normal de seu trabalho. Toda a família e demais entes da casa foram, especificamente, nomeados, incluindo pais, filhos, filhas, criados e hóspedes. Assim, livres das obrigações cotidianas, todos podiam passar grande parte do dia em família.

O mandamento para observar o Sábado em todos os lares é reforçado em Levítico 23, onde Deus lista as observações religiosas instituídas por Ele—Suas Festas ou festivais. Ele deixa bem claro que o Sábado é o Seu tempo santo e não o tempo santo de Moisés ou de Israel: “Depois, falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: As solenidades do SENHOR, que convocareis, serão santas convocações; estas são as minhas solenidades. Seis dias obra se fará, mas o sétimo dia será o sábado do descanso, santa convocação; nenhuma obra fareis; sábado do SENHOR é em todas as vossas habitações” (Levítico 23:2-3).

O Sábado não era somente uma cerimônia religiosa para o tabernáculo; mas era também uma observância para todos os lares da nação.

Uma lembrança da libertação da escravidão

Podemos encontrar mais detalhes das intenções de Deus quando os Dez Mandamentos são repetidos, em Deuteronômio 5:12-15: “Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o SENHOR, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado”.

Nesta menção dos Mandamentos, outro aspecto da observância do Sábado é acrescentado para o povo de Deus — que trazia a lembrança de sua escravidão no Egito e que “Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido”.

O Sábado era uma lembrança semanal das origens humildes de Israel como escravos no Egito e que Deus, por meio de poderosos milagres, libertou o Seu povo e estabeleceu-o como nação. Agora que Ele lhes dera descanso de sua escravidão, portanto, toda a nação descansava e se beneficiava do Sábado, e até mesmo os criados eram incluídos nesse mandamento. Além de ter dado descanso aos israelitas, Deus também lhes ordenou que permitissem que seus empregados descansassem; uma lembrança adicional de que a bênção do Sábado era para todos.

De maneira específica, os Israelitas foram instruídos a se lembrarem desses acontecimentos relacionados com o Sábado. Frequentemente, Deus, através de Moisés, lembrava-lhes como eles conseguiram tudo isso e como Ele, através de grandes milagres, intervira por eles em muitas ocasiões.

De igual modo, o Sábado é para os cristãos de hoje uma lembrança importante do nosso livramento e libertação. Pela misericórdia de Deus e pelo sacrifício de Cristo, os cristãos são libertados da escravidão espiritual, que conduz ao pecado e à morte, e agora estão livres para servir a Deus (Romanos 6:16-23; 2 Pedro 2:19).

Muitas vezes, Deus avisou a Seu povo para nunca esquecer o que Ele fez por eles: “Guarda-te a ti mesmo… que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos” (Deuteronômio  4:9). “Guarda-te e que te não esqueças do SENHOR, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão” (Deuteronômio  6:12). Toma cuidado que “se não eleve o teu coração, e te esqueças do SENHOR, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão” (Deuteronômio 8:14).

Um espaço de tempo alegre para aprender sobre Deus

Observe que Deus também disse aos Israelitas para ensinarem Suas leis e caminhos aos seus filhos. Imediatamente depois de repetir os Dez Mandamentos, em Deuteronômio 5, Deus instruiu aos Israelitas: “Estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás [ensinarás com dedicação] a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te” (Deuteronômio  6:6-7).

Portanto, o Sábado era um tempo para instrução religiosa e para ensinar e aprender os maravilhosos atos e leis de Deus. O trabalho cotidiano era proibido e os grandes milagres de Deus eram relembrados neste dia. “Assim, o espírito do Sábado significava o gozo, o refrigério e a misericórdia resultantes da lembrança da bondade de Deus como Criador e Libertador da escravidão… Neste dia o povo estava acostumado a… instruir seus filhos sobre essas verdades, que eram  trazidas à memória nesse dia, e essa ordem era repetidamente prescrita como obrigação dos pais; era o ‘Sábado de Jeová,’ não somente no santuário, mas ‘em todos os lares’” (A Bíblia Online, 1995, Smith’s Bible Dictionary, “Sabbath” [Dicionário da Bíblia, por Smith, “Sábado”]).

O Sábado, observado desse modo, era verdadeiramente uma bênção e um deleite segundo a intenção de Deus, sendo também um dia de comunhão com o Criador, de aprendizado, contemplação e prática de Suas leis e caminhos.