‘Resta ainda um Descanso Sabático para o Povo de Deus’
A lealdade de Moisés e de Cristo é referida nos primeiros seis versículos do 3º capítulo de Hebreus. Começando no versículo 7, o Salmo 95 é citado para documentar o fracasso da primeira geração de Israel como lição para o povo de Deus hoje em dia. Disobediência por causa de incredulidade foi a causa principal do fracasso que os levou a não entrarem no descanso a eles prometido (Hebreus 3:18-19).
O 4º [quarto] capítulo começa com uma admoestação à fé e à obediência como pré requisito para se receber o descanso que ainda está ao alcance do povo de Deus. Ainda ninguém entrou no descanso, não porque Deus não o tenha pronto; de fato está pronto desde a fundação do mundo (Hebreus 4:3). Que Deus descansou de todo o Seu labor no sétimo dia indica isso mesmo (versículo 4).
David (no Salmo 95), falou da promessa de descanso muito depois de Josué ter conduzido a segunda geração de Israel ao descanso na terra prometida. Isto demonstra que o descanso cumprido no tempo de Josué foi somente um protótipo de um muito maior descanso por vir (Hebreus 4:6-8).
Descanso para o povo de Deus
Chegamos agora à controversa declaração de Hebreus 4:9: “Portanto, resta ainda um repouso [descanso Sabático] para o povo de Deus.”
A palavra Grega traduzida por “repouso” [ou “descanso”] em todos os outros versículos nos capítulos 3 e 4, é katapausis. Mas a palavra para “repouso” [ou “descanso”] em Hebreus 4:9 é sabbatismos. Esta é a única ocorrência desta palavra no Novo Testamento, e o seu significado é fundamental para a compreensão deste versículo central, o qual é a conclusão de tudo previamente dito acerca de “repouso” [ou “descanso”] desde Hebreus 3:7.
O The Anchor Bible Dictionary [Dicionário Bíblico Anchor] expõe acerca do significado de sabbatismos: “As palavras ‘descanso Sabático’ são uma tradução do substantivo Grego sabbatismos, que é uma palavra usada só uma vez no Novo Testamento. Este termo também aparece em Plutarco [historiador Grego] . . . descrevendo a observância do dia de Sábado, e em quatro escritos Cristãos pós-canônicos . . . falando da ‘celebração do Sábado’ do sétimo dia” (p. 855, grifo adicionado).
O mesmo recurso continua com uma explicação do contexto: “O autor de Hebreus afirma em Hebreus 4:3-11, pela ligação das citações de Génesis 2:2 e de Salmos 95:7, que o prometido ‘descanso Sabático’ ainda antevê uma realização completa, futura, ‘para o povo de Deus’ na . . . época do fim, a qual foi inaugurada com o aparecimento de Jesus [Hebreus] 1:1-3 . . .
A experiência do ‘descanso Sabático’ aponta para a realidade de um ‘descanso’ presente (katapausis) no qual ‘nós, os que temos crido, entramos’ (4:3) e aponta para a realidade de um ‘descanso’ futuro no qual ‘procuremos, pois, entrar’ (4:11). A guarda do dia de Sábado pelos crentes do Novo Testamento, como afirmado pelo ‘descanso Sabático’, personifica a cessação de ‘obras’ (4:10) em comemoração do descanso de Deus na criação (4:4 = Génesis 2:2) e manifesta fé na salvação concedida por Cristo.
“Hebreus 4:3-11 afirma que a guarda do dia de ‘descanso Sabático’ (sabbatismos) é a manifestação externa semanal da íntima experiência do descanso espiritual (katapausis) no qual o . . . descanso final é . . . experimentado já ‘hoje’ (4:7). Assim, o ‘descanso Sabático’ combina em si próprio a comemoração da criação, a experiência da salvação, e a antecipação da época do fim (eschaton) enquanto a comunidade da fé avança até à consumação final de restauração completa e descanso total” (pp. 855-856).
Resumindo, o The Anchor Bible Dictionary [Dicionário Bíblico Anchor] conclui decisiva e corretamente que sabbatismos quer dizer guardar o Sábado do sétimo dia. Por conseguinte, Hebreus 4:9 realça a necessidade de continuar a guardar o Sábado num contexto da Nova Aliança, embora o dia também inclua todo o significado da Antiga Aliança.
Significado adicionado ao Sábado
A epístola aos Hebreus dirigese a Judeus convertidos para explicar a transição da Antiga Aliança para a Nova Aliança. O Sábado e a circuncisão, por há muito tempo, eram considerados duas doutrinas cardiais do Judaísmo, identificando os Judeus como “o povo de Deus”. Contudo, durante o tempo de Cristo, o significado de Sábado já ficara sepultado sob uma montanha do que se pode e não se pode fazer.
O Sábado tinha-se tornado um fardo pesado, pois o guardar do Sábado degenerou-se em servidão do legalismo, perpetuado pelos tacanhos escribas e Fariseus. Jesus Cristo condenou estas tradições humanas e deu o exemplo de como guardar o Sábado como uma dádiva de Deus à humanidade (Marcos 2:27-28).
Elevação do Sábado
Que mais apropriado podia haver para a epístola aos Hebreus que a elevação do Sábado ao seu completo significado e intento no plano de Deus?
Por isso, o Sábado mantém o seu significado da Antiga Aliança que identifica o povo especialmente santificado por Deus (“o povo de Deus”) e recorda-lhes continuamente que Deus é o Criador. Acima disso tem o significado adicional da Nova Aliança de entrar num outro descanso, através de Cristo, o qual é cumprido em protótipo pelo descanso dado a Israel, durante o tempo de Josué (Hebreus 4:8).
Este descanso espiritual começa agora nesta vida e alcança a sua consumação na ressurreição à vida eterna aquando do regresso de Cristo (Apocalipse 20:6). O Seu regresso também assinala o começo do descanso durante o milénio profetizado no Antigo Testamento.
A epístola aos Hebreus tece inteligentemente três temas de descanso—o descanso prometido a Israel dos seus inimigos; o descanso físico do dia do Sábado semanal; e o descanso espiritual através de Cristo. A conclusão é que o guardar do Sábado ainda é necessário para o povo de Deus, a Igreja do Novo Testamento.
Como afirma Hebreus 4:9-11, todos temos de nos esforçarmos para entrar no descanso espiritual e continuar a guardar o Sábado semanal, como um ato de obediência a Deus, e, por aquilo que o Sábado representa no grande plano mestre de Deus.