Do Império ao Exílio

Do Império ao Exílio

A vontade de Deus era que Israel fosse uma nação modelo e isso trazia consigo sérias responsabilidades. Deus não tinha intenção de permitir que Israel — nação que Ele criou para ser o modelo de retidão para o mundo — escapasse das consequências por abandonar Seus caminhos e descer ao nível das nações vizinhas.

Antes de entrarem na Terra Prometida, Deus havia avisado especificamente os Israelitas para não fazerem alianças com quaisquer nações que adorassem falsos deuses: "Não farás aliança alguma com eles ou com os seus deuses ... para que não te façam pecar contra mim; se servires aos seus deuses, certamente isso será um laço para ti” (Êxodo 23:32-33, ACF).

Pelas mesmas razões, Ele ordenou-lhes que não se casassem com pessoas das nações vizinhas: "nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós e depressa vos consumiria” (Deuteronômio 7:3-4).

Salomão ignorou ambas as ordens. Primeiro ele fez um pacto com o faraó do Egito, que ele selou ao aceitar a filha do Faraó em casamento (1 Reis 3:1). Também, "houve paz entre Hirão [rei de Tiro] e Salomão, e ambos fizeram aliança" (1 Reis 5:12).

No início de seu reinado, Salomão amou a Deus e simplesmente andou nos passos de seu pai Davi. Naquele tempo, Deus apareceu a Salomão em um sonho e disse: "Pede o que quiseres que te dê" (1 Reis 3:5).

Em seu sonho Salomão fez uma escolha sábia. Ele pediu um coração compreensivo para que pudesse cumprir corretamente sua responsabilidade real de retribuir ao seu povo com julgamento justo. Através de seu sonho Salomão percebeu que Deus estava contente com sua atitude humilde e desinteressada. Então, Deus prometeu não somente lhe dar o que havia pedido, mas também riquezas, honra e vida longa, contanto que Salomão continuasse a viver nos termos da aliança que Ele fizera com Israel.

Logo após Salomão ter completado e dedicado o templo, Deus apareceu-lhe em um sonho pela segunda vez. "E o SENHOR lhe disse: Ouvi a tua oração e a tua súplica que, suplicando, fizeste perante mim; santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome para sempre; e os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os dias" (1 Reis 9:3).

Em seguida, Deus prometeu a Salomão estabelecer condicionalmente o trono de sua dinastia sobre o povo de Israel para sempre, enquanto vivesse em sua Terra Prometida. Caso Salomão viesse a falhar em segui-Lo com integridade, Deus lhe explicou as consequências.

"Mas, se você ou os seus descendentes deixarem de me seguir, se desobedecerem às leis e aos mandamentos que eu lhes dei e se adorarem e servirem outros deuses, então eu arrancarei Israel, o meu povo, da terra que lhe dei. E também abandonarei este Templo que separei para ser o lugar onde devo ser adorado. Aí todos os povos vão desprezar e zombar de Israel” (versículos 6-7, NVI).

O mau exemplo de Salomão corrompe a nação

Deus não somente proibiu um rei de Israel de se casar com mulheres pagãs, como proibiu especificamente "multiplicar mulheres para si", como era costume entre os governantes gentios (Deuteronômio 17:17). Salomão cometeu este erro mortal.

"E o rei Salomão amou muitas mulheres estranhas, e isso além da filha de Faraó, moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, das nações de que o SENHOR tinha dito aos filhos de Israel: Não entrareis a elas, e elas não entrarão a vós; de outra maneira, perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor” (1 Reis 11:1-2).

"Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses; ... porque Salomão andou em seguimento de Astarote, deusa dos sidônios, e em seguimento de Milcom, a abominação dos amonitas ... edificou Salomão um alto a Quemos, a abominação dos moabitas ... e a Moloque, a abominação dos filhos de Amom. E assim fez para com todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses.

"Pelo que o SENHOR se indignou contra Salomão, porquanto desviara o coração do SENHOR, Deus de Israel, o qual duas vezes lhe aparecera ... Pelo que disse o SENHOR a Salomão: Visto que houve isso em ti, que não guardaste a minha aliança e os meus estatutos que te mandei, certamente, rasgarei de ti este reino e o darei a teu servo.

"Todavia, nos teus dias não o farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei; porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi e por amor de Jerusalém, que tenho elegido" (versículos 4-13).

Israel se divide em dois reinos

Deus foi fiel à Sua palavra. Na época em que Salomão morreu, por volta de 931 a.C., as tribos que ocupavam a parte norte da nação estavam descontentes com os pesados impostos de Salomão e as práticas de trabalho forçado (1 Reis 4:7, 22, 26-28; 5:13, 15). Quando seu filho Roboão assumiu o trono, as tribos do norte suplicaram ajuda.

Então, Roboão consultou os seus conselheiros. Os anciãos sugeriram que ele respondesse positivamente aos requerentes, aliviando o peso do tributo e tornando a vida melhor para os cidadãos comuns. Entretanto, os conselheiros mais jovens argumentaram que Roboão deveria exercer uma autoridade firme e uma monarquia absoluta sobre seu reino e que deveria demandar receitas tributárias ainda maiores. Insensatamente, Roboão decidiu seguir o conselho da geração mais jovem.

O resultado era previsível. As dez tribos do norte se separaram e empossaram Jeroboão, um antigo oficial graduado de Salomão, como seu rei, exatamente como o profeta Aías havia predito anos antes (1 Reis 11:28-40; 12:20).  Apenas as tribos de Judá e Benjamim permaneceram leais à casa de Davi.

A primeira reação de Roboão foi invadir as tribos do norte com um exército de cento e oitenta mil soldados para tentar ensinar uma lição às tribos do norte (1 Reis 12:21). Mas Deus enviou esta palavra ao governante de Judá: "Assim diz o SENHOR: Não subireis, nem pelejareis contra vossos irmãos, os filhos de Israel; volte cada um para a sua casa, porque eu é que fiz esta obra. E ouviram a palavra do SENHOR e voltaram segundo a palavra do SENHOR" (versículo 24). Eles cancelaram a invasão. Começara a era de um reino dividido.

A esta altura, mais de duzentos anos antes dos assírios conquistarem as dez tribos do norte, eles se separaram como reino ou casa de Israel. As tribos do sul de Judá, Benjamim e uma parte de Levi ficariam então conhecidas como o reino, ou casa, de Judá. A promessa soberana de um rei divino permaneceu com a tribo de Judá.

As tribos do norte mantiveram o nome de Jacó, ou Israel. Com eles estava a promessa do direito de primogenitura, de grandeza nacional, prosperidade e riqueza. Para eles foram, por direito de nascimento, as bênçãos materiais e a reputação nacional que Deus prometera a José.

Daquela separação significativa de Israel e Judá, a Bíblia registra uma sequência de duzentos anos em dez dinastias, presidida por não menos que dezenove monarcas governando o reino do norte.

A oferta de Deus a Jeroboão

Quando Deus enviou pela primeira vez o profeta Aías para informar a Jeroboão que ele se tornaria rei das tribos do norte, Ele ofereceu a Jeroboão Suas bênçãos e a promessa de uma dinastia duradoura. "E te tomarei, e reinarás sobre tudo o que desejar a tua alma e serás rei sobre Israel. E há de ser que, se ouvires tudo o que eu te mandar, e andares pelos meus caminhos, e fizeres o que é reto aos meus olhos, guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como fez Davi, meu servo, eu serei contigo, e te edificarei uma casa firme, como edifiquei a Davi, e te darei Israel” (1 Reis 11:37-38).

Com a ajuda de Deus, Jeroboão poderia ter mantido a parte do império confiada a ele. Mas a sua fé estava no que podia ver e não em Deus.

Para assegurar sua forte influência sobre a totalidade de seu novo reino, Jeroboão imediatamente construiu duas capitais para seu governo em lugares tradicionais e importantes de encontros tribais. Uma ficava em Siquém, próximo a Nablus, a qual hoje é chamada de região da Cisjordânia. A outra ficava em Peniel, a leste do Rio Jordão, atual Jordânia.

Então, Jeroboão dedicou-se ao que considerava o principal problema que poderia lhe tirar o reino. "Disse Jeroboão consigo: Agora, tornará o reino para a casa de Davi. Se este povo subir para fazer sacrifícios na Casa do SENHOR, em Jerusalém, o coração dele se tornará a seu senhor, a Roboão, rei de Judá; e me matarão e tornarão a ele, ao rei de Judá” (1 Reis 12:26-27).  

Jeroboão muda a religião de Israel

Para impedir que isso ocorresse, Jeroboão estabeleceu um sistema religioso concorrente. Por razões políticas—para manter sob controle as tribos do norte—ele mudou as formas de Israel adorar a Deus.

A idolatria já havia se tornado popular durante os últimos dias de Salomão, assim Jeroboão erigiu seus próprios ídolos. "Pelo que o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro, e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito. E pôs um em Betel e colocou o outro em Dã” (1 Reis 12:28-29).

Dã ficava no extremo norte de seu reino. Betel ficava no sul, logo acima da fronteira com Judá e bem na rota principal das pessoas que faziam a viagem para adorar em Jerusalém.

Ao acreditar que a observância dos mesmos festivais anuais dos judeus—as Santas Convocações de Deus (Levítico 23) — reacenderia um desejo pela unificação nacional, Jeroboão mudou também a época do grande festival de outono (Levítico 23:23-44), passando do sétimo para o oitavo mês (1 Reis 12:32-33).

Ele dispensou os sacerdotes de Aarão e Levitas (versículo 31; 1 Reis 13:33), homens separados pela própria vontade de Deus (Êxodo 40:15) para manter a integridade da vida religiosa da nação. Para Jeroboão o sacerdócio levítico era uma ameaçadora base de poder independente. Os levitas herdaram seu ofício, não deviam nada ao rei e estavam basicamente fora de seu controle.

Ao dispensar os sacerdotes levitas, Jeroboão estabeleceu o controle monárquico da vida religiosa da nação. Em consequência, muitos levitas se mudaram para Judá, onde eles podiam continuar a desempenhar suas funções divinamente designadas (2 Crônicas 11:13-15).

No lugar dos levitas, Jeroboão criou um novo sacerdócio das pessoas "mais baixas" e menos experientes do povo (1 Reis 12:31; 13:33), homens que deviam ao rei todas as suas posses e posições. Eles seriam nomeados ao bel-prazer do rei e teriam que agradá-lo para manter suas posições.

Jeroboão introduziu o sincretismo, uma fusão de sistemas diferenciados de crenças. Ele combinou aspectos da religião verdadeira de Deus com crenças pagãs e arrazoamento humano. Também ele pode ter adequado muitos aspectos de suas práticas religiosas, conforme os costumes do Egito e de Tiro—aliados de Israel por tratado — a fim de fortalecer seu relacionamento com estes dois principais parceiros comerciais e militares.

Desse momento em diante, o reino do norte surgiu no mundo exterior meramente como uma extensão das cidades costeiras poderosas do Império Fenício. Eles eram parceiros comerciais, compartilhavam uma língua e provavelmente mantinham visões religiosas similares.

A distinção que, no princípio, Deus tinha planejado existir entre Israel e as nações vizinhas logo desapareceu. Desta forma, não é de admirar que historiadores tenham dificuldade em detectar outro papel de Israel na região a não ser o de negociantes com as cidades fenícias costeiras. Israel foi reduzida aproximadamente ao mesmo status dos outros reinos. Lamentavelmente, ela abandonou seu papel como luz espiritual e exemplo para as outras nações.

A resposta de Deus aos pecados de Israel e Judá

Logo após a inauguração dos novos rituais religiosos e das práticas em Betel e Dã, o profeta Aías, o qual antes havia informado a Jeroboão que ele seria rei, recebeu outra mensagem de Deus:

“Vai e dize a Jeroboão: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Visto que te levantei do meio do povo, e te pus por chefe sobre o meu povo de Israel, e rasguei o reino da casa de Davi, e a ti to dei, e tu não foste como o meu servo Davi, que guardou os meus mandamentos e que andou após mim com todo o seu coração para fazer somente o que era reto aos meus olhos; antes, tu fizeste o mal, pior do que todos os que foram antes de ti, e foste, e fizeste outros deuses e imagens de fundição, para provocar-me à ira, e me lançaste para trás das tuas costas, portanto, eis que trarei mal sobre a casa de Jeroboão, e separarei de Jeroboão todo homem até ao menino, tanto o escravo como o livre em Israel, e lançarei fora os descendentes da casa de Jeroboão, como se lança fora o esterco, até que de todo se acabe” (1 Reis 14:7-10).

O reino de Jeroboão tomara rapidamente um mau caminho. Lamentavelmente, suas ações estavam apenas se adaptando aos tempos. No reino do Sul de Judá, o rei Roboão, cuja mãe era amonita, não fez nada para corrigir o exemplo idólatra que Salomão havia estabelecido na sua velhice. Muitas pessoas em Judá foram igualmente apanhadas em apostasia, deixando de adorar a Deus (1 Reis 14:22-24).

Não tardou para que os pecados de Judá e Israel começassem a enredá-los. No quinto ano do rei Roboão, o Faraó Shishak invadiu Judá com 1,2 mil carros, 60 mil cavaleiros e uma grande infantaria. Então, despreparado, após tantos anos contando com o aliado Egito, Roboão entrou em pânico. O profeta Semaías trouxe esta mensagem à corte de Roboão em Jerusalém: “Vós me deixastes a mim, pelo que eu também vos deixei nas mãos de Sisaque” (2 Crônicas 12:5). A Bíblia registra que os egípcios demandaram como tributo a maior parte dos tesouros de ouro que Salomão havia feito para o templo e para seu palácio.

O relato do próprio Shishak a respeito desta invasão está preservado nas paredes do templo que ele construiu com o despojo para honrar seu deus Amun-Re em Kamak. Ele se vangloria de tomar 150 cidades, a maioria na região do Negueve em Judá e ao norte de Israel. A era de ouro de Israel sob uma monarquia, e a maior parte dos tesouros de ouro do templo e do palácio do rei construídos durante esta época, desapareceram.

Entretanto, as Escrituras mencionam que os líderes de Judá admitiram sua culpa e se humilharam perante Deus. Tal arrependimento não foi visto nos governantes das dez tribos do norte. Consequentemente, o reino do norte foi o primeiro a ir para o cativeiro.

Devido à mudança no coração de Roboão Deus reduziu o impacto do desastre de Judá. "Vendo, pois, o SENHOR que se humilharam, veio a palavra do SENHOR a Semaías, dizendo: Humilharam-se, não os destruirei; antes, em breve lhes darei socorro, para que o meu furor não se derrame sobre Jerusalém, por intermédio de Sisaque. Porém serão seus servos, para que conheçam a diferença entre a minha servidão e a servidão dos reinos da terra” (2 Crônicas 12:7-8, ARA).

Eis aqui outra importante lição sobre como Deus lida com Seu povo. Mesmo que se arrependam, Ele não remove necessariamente todas as consequências de seus erros ou rebelião contra Ele. Mas, se o povo se humilhar sinceramente, Ele sempre é misericordioso para equilibrar o castigo e o alívio.

Deus não tem atitudes destemperadas; Ele não encobre impulsivamente os objetos de Sua ira. Suas ações têm propósito. Primeiro, Ele tenta lidar com o povo através do ensinamento de lições (Ezequiel 33:11). Como vemos em vários exemplos da história de Israel e Judá, o castigo é sempre Sua forma de tentar mudar as atitudes do povo.

Deus almeja o benefício a longo prazo daqueles com quem Ele está trabalhando (Hebreus 12:5-12). Naturalmente, Seu objetivo fundamental é levar cada um ao arrependimento (2 Timóteo 2:24-26; 2 Pedro 3:9) para que O conheçam e a prontamente escolham viver conforme Suas leis.

A iminente catástrofe

Tendo em vista que o reino do norte seguiu a direção de Jeroboão rumo à idolatria, Deus avisou os israelitas das consequências de sua rebelião: "Também o SENHOR ferirá a Israel para que se agite como a cana se agita nas águas; arrancará a Israel desta boa terra que dera a seus pais e o espalhará para além do Eufrates, porquanto fez os seus postes-ídolos, provocando o SENHOR à ira. Abandonará a Israel por causa dos pecados que Jeroboão cometeu e pelos que fez Israel cometer” (1 Reis 14:15-16, ARA).

Deus lidou pacientemente com Israel, dando ao povo inúmeras oportunidades para se arrepender. Mas ao longo dos dois séculos seguintes os pecados da casa de Israel e de seus reis foram aumentando. Os israelitas se afastaram mais e mais da aliança com seu Criador à qual eles haviam aceitado nos dias de Moisés.

Deus retirou, aos poucos, Suas bênçãos e proteção. "Naqueles dias, começou o SENHOR a diminuir os limites de Israel, que foi ferido por Hazael [rei Sírio] em todas as suas fronteiras, desde o Jordão para o nascente do sol, toda a terra de Gileade, os gaditas, os rubenitas e os manassitas, desde Aroer, que está junto ao vale de Arnom, a saber, Gileade e Basã” (2 Reis 10:32-33, ARA).

Durante o século oito a.C. os profetas de Deus continuaram avisando aos israelitas que eles, como os outros reinos da região, seriam vítimas de uma nova e poderosa potência militar. A expansão ocidental da Assíria logo começou a ameaçar seriamente a existência do reino de Israel.

Durante esse tempo da aproximação do desastre, os escritores de muitos livros, que se tornariam livros proféticos do Antigo Testamento, estavam trabalhando. Deus enviou profetas após profetas para exortar a casa de Israel e a casa de Judá para se arrependerem. Em algumas ocasiões os líderes de Judá ouviram e instituíram reformas que duravam pouco tempo. Mas o reino do norte nunca se arrependeu das práticas idólatras que Jeroboão introduziu. Seu povo se recusou a prestar atenção aos conselhos dos profetas.

Os profetas de Deus repetiram os mesmos temas básicos. Eles pediram o arrependimento imediato. Eles proclamaram a certeza de um cativeiro que viria se as pessoas se recusassem a se arrepender. Eles também sempre falaram do futuro do povo de Israel, especialmente sobre a redenção e a restauração de seus descendentes pelo Messias profetizado. (Para entender os conceitos fundamentais da profecia bíblica, não deixe de solicitar o livro Você pode entender a Profecia Bíblica. Uma cópia gratuita está disponível no endereço mais próximo de você ou através da biblioteca de literatura de nosso site em www.revistaboanova.org/literatura).

O fim do reino do norte

Logo após a morte do rei Jeroboão II (753 a.C.), o reino do norte mergulhou no caos político. "Guerra civil, assassinatos e lutas internas entre grupos que apoiavam políticas assírias ou resistiam a qualquer rendição atormentavam o Estado do Norte... As mortes de Jeroboão e Uzias... vieram no exato momento em que a Assíria recuperou seu poder e renovou sua investida no ocidente" (Lawrence Boadt, Lendo o Antigo Testamento [Reading the Old Testament], 1984, p. 312).

Em meio às suas próprias dificuldades nacionais e internas, os líderes israelitas tiveram de considerar as intromissões da Assíria em seus negócios. Na época de Tiglath-Pileser III da Assíria, o rei de Israel Menaem (aproximadamente 752-742 a.C.) teve de pagar enormes quantias de tributo — dinheiro de proteção em uma escala nacional — para induzir o monarca assírio a deixar ele e seu povo em paz (2 Reis 15:19-20).

Alguns anos mais tarde, o rei Peca (aproximadamente 740-732 a.C.) rebelou-se contra a Assíria, e logo foi forçado a se render e a pagar um enorme resgate para reter seu trono (2 Reis 15:19-20). A deslealdade de Peca pôs em movimento o primeiro passo na política assíria de lidar com povos desgovernados—tornando o reino ofensor em um Estado vassalo.

De acordo com a política externa assíria, aqueles que se rebelassem uma segunda vez, perderiam seu controle político e seriam substituídos por um rei vassalo, cuja lealdade o governo assírio poderia contar. Os assírios iriam também reduzir a quantidade de território que o Estado vassalo iria controlar e o monarca assírio instituiria seu governo diretamente sobre parte do reino original.

Uma segunda rebelião provocaria também a deportação de um número significante da população revoltosa. Encontrando-se entre estrangeiros, cuja língua eles não compreendiam (Jeremias 5:15) e cujas terra e cultura lhes eram desconhecidas, os deportados teriam pouca esperança de uma revolta bem-sucedida contra seus mestres assírios.

Tiglath-Pileser instituiu essa política contra o reino do norte em resposta à aliança do rei Peca com Damasco, em sua segunda tentativa de revolta (aproximadamente 734 a.C.). A primeira deportação dos israelitas (aproximadamente 733-732 a.C.), às vezes, referida como a escravidão galileia, levou parte da população—principalmente as tribos de Naftali, Rúbem, Gade e a porção de Manassés, vivendo a leste do Rio Jordão—para o norte da Síria e nordeste e para noroeste da Mesopotâmia (2 Reis 15:27-29; 1 Crônicas 5:26).

Tiglath-Pileser III também ocupou a maior parte da Galileia e de Gileade e dividiu o próprio território israelita em quatro novas províncias: Megido, Duru, Gileade e Samaria.

A última gota

Se um povo se rebelasse uma terceira vez, a resposta oficial assíria seria firme e decisiva: a nação deixaria de existir. O exército assírio levaria à força toda a população para o exílio. Os assírios espalhariam os deportados por todo seu império e repovoariam os territórios desabitados com povos de regiões distantes e espalhadas. Uma vez removidos de sua pátria, e com suas terras entregue a outros, os exilados dispersos teriam poucos meios ou motivação para se rebelarem contra o controle assírio.

Sendo pró-assírio, mas um vassalo israelita pouco confiável, o rei Oséias pôs em movimento os eventos que trouxeram a dissolução do reino do norte. Esperando receber ajuda crítica do Egito, no sul, Oséias traiu a confiança assíria por volta de 724 a.C. (2 Reis 18:9-10). Shalmaneser V respondeu com um cerco (aproximadamente 724-722 a.C.) que resultou na queda da cidade capital de Israel, Samaria. Nesse momento, o reino do norte deixou de existir como uma entidade política.

A história registra a queda de Samaria em 722 a.C. Tendo entrado com êxito na Terra Prometida de Israel por causa de vitória sobre o reino do norte, os assírios logo voltariam a atacar o reino do sul, Judá. Em 1701 a.C. O exército assírio, liderado por Senaqueribe dominou praticamente todas as cidades fortificadas de Judá (2 Reis 18:9, 13-14) e deportou milhares de judeus. Jerusalém, entretanto, não caiu nesta invasão, e o reino do sul se recuperou o suficiente para durar mais 115 anos antes de os exércitos babilônios conquistarem e destruírem Jerusalém em 586 a.C.

Os exilados desaparecem da história

Com a extinção do reino do norte como uma entidade política, seu povo foi dividido e disperso além do Rio Eufrates, nos territórios do leste da Assíria. Deus cumpriria agora Sua promessa de "sacudir a casa de Israel entre todas as nações" (Amós 9:9). Assim os Israelitas experimentariam o que era viver sob o governo de outras nações que eles tanto queriam imitar.

Deus havia lhes avisado: "O SENHOR vos espalhará entre todos os povos, de uma até à outra extremidade da terra. Servirás ali a outros deuses que não conheceste, nem tu, nem teus pais; servirás à madeira e à pedra. Nem ainda entre estas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso, porquanto o SENHOR ali te dará coração tremente, olhos mortiços e desmaio de alma. A tua vida estará suspensa como por um fio diante de ti; terás pavor de noite e de dia e não crerás na tua vida” (Deuteronômio 28:64-66).

Nesse momento eles desapareceram da história como povo de Israel. Os israelitas já haviam começado a "servir a outros deuses", tendo abandonado as práticas religiosas que obviamente os distinguia dos outros povos. Entre outras coisas, eles abandonaram o Sábado, o sétimo dia da semana. Deus proclamou o Sábado para Israel como "um sinal entre Mim e vós nas vossas gerações" (Êxodo 31:13, 16-17; comparar Ezequiel 20:12, 20).

Uma vez removidos de sua pátria por seus conquistadores, eles se tonaram simples refugiados—parte da grande massa de povos desalojados e exilados pelos assírios. Eles não possuíam mais as características visíveis que os diferenciavam facilmente dos outros povos ao seu redor. Seus evidentes sinais de identificação rapidamente desapareceram. Mas os resquícios de suas tribos, sua identidade e cultura não desapareceriam tão facilmente.

Então, como podemos encontrá-los? Precisamos olhar para a região geral onde eles foram exilados e ver se um povo apareceu repentinamente na região com características que os associem aos refugiados do reino do norte de Israel.

Ao fazer isso, o que encontramos é uma história surpreendente e de muitos séculos, na qual Deus guia os israelitas desalojados para uma região muito distante, ao noroeste de sua pátria, para onde Seus profetas haviam profetizado.