Comentário Bíblico
Levítico 17
Quando Deus tirou Israel do Egito, Ele os constituiu como uma nação e como Seu povo especial. Desde o início de Seu relacionamento com o povo de Israel, Deus deixou bem claro que Ele não era como os deuses das nações. O julgamento aterrorizante de Deus sobre o Egito mostraram essa indiscutível realidade e Sua suprema soberania sobre o mundo natural, a criação animal, os homens, as nações, os reis e os supostos deuses temidos e adorados pelos gentios. E de fato, a primeira lição que Deus imprimiu a Moisés, quando o chamou da sarça ardente, foi que Ele era santo (Êxodo 3:5).
A ideia fundamental por trás da santidade é a separação ou distinção. Em todo o Pentateuco, geralmente a santidade é mostrada quando Deus declara certas coisas como santas — ou seja, separadas de outras coisas por meios especiais e para propósitos especiais. Por exemplo, os Dias Santos, (ver Levítico 23), são declarados santos porque são separados de outros dias, imbuídos de significado especial e reservados para atividades especiais definidas por Deus. Similarmente, os móveis do tabernáculo eram santos porque eram separados para usos e tratamentos especiais ordenados por Deus. As vestimentas do sumo sacerdote eram santas (Êxodo 28:2) porque foram confeccionadas especialmente para eles e reservadas apenas para serem usadas durante o desempenho dos deveres de ofício deles. O óleo da unção também era santo (Êxodo 30:22) porque era separado para propósitos especiais e não poderia haver nenhum outro óleo semelhante (versículos 31-33). E, da mesma forma, o incenso feito para queimar no altar era santo e a mistura não deveria ser duplicada para uso comum. “O homem que fizer tal como este para cheirar será extirpado do seu povo” (Êxodo 30:37-38).
Porque Deus é santo — completamente único, separado de tudo o mais — Seu povo deve ser santo e Ele deve ser tratado de uma forma santa. Além disso, porque Ele estava no meio do acampamento de Israel (Números 5:3), o acampamento também deveria ser santo. Aqui Deus entrega instruções especiais sobre o sacrifício para garantir que ele seja feito em um determinado lugar, pois Israel não podia sacrificar em qualquer lugar do acampamento, mas apenas no tabernáculo. Todo aquele que fizesse um sacrifício deveria fazê-lo na porta do tabernáculo ou seria executado se não fizesse assim.
Por que isso era tão rigoroso? Por que havia uma penalidade tão severa? No versículo 7, Deus dá uma razão — a saber, para evitar que Israel caíssem na idolatria por ignorância. A inclinação natural do homem carnal é sincretizar — inovar na religião, combinando elementos pagãos com a religião verdadeira — e se render a uma idolatria perversa e profana. Israel, por causa de mais de duzentos anos de escravidão no Egito pagão, era propensa à idolatria. Lembra-se do bezerro de ouro? Para deter a idolatria, foi necessária uma punição severíssima. Então, para reduzir fortemente a tendência natural ao sincretismo, Deus decretou uma centralização do sacrifício. Aqui também há um princípio que percorre grande parte das Escrituras: Um certo grau de centralização traz segurança, proteção, estabilidade e unidade. Atualmente, na Igreja de Deus, essa lição não implica controle rígido em áreas periféricas — nem que todos os aspectos da obra de Deus devem ser realizados em um único local. Pois isso não é necessário nem prático. Em vez disso, devemos entender a necessidade de ter uma administração geral e a orientação e direção de uma autoridade centralizada, como um conselho ministerial administrativo.
Além disso, esse capítulo continua claramente desenvolvendo o tema da santidade. Essa santidade ritual fica evidente pelo fato de que 1) as instruções desse capítulo são direcionadas especificamente a Arão e a seus filhos como sacerdotes, e logo a todo o povo; 2) que as instruções têm a ver com o sacrifício e 3) que os dois últimos versículos desse capítulo são obviamente regulamentos para a pureza ritual.
Deus entregou a Israel instruções rigorosas sobre o sangue — Ele proibiu terminantemente seu consumo. Hoje, alguns tentam justificar a proibição do consumo de sangue por causa do perigo que isso traz à saúde. Por exemplo, o sangue se corrompe muito rapidamente, então, evitar consumi-lo previne doenças. Semelhantemente, a ciência moderna provou que muitas doenças virais são transportadas pelo sangue e que seu consumo pode transmitir essas doenças para quem se alimenta dele. Mas essa não é a razão que Deus dá para sua proibição. Deus declara que a vida de um animal está em seu sangue (versículos 11, 14). E isso é cientificamente preciso, pois o oxigênio inalado do ar é transportado para cada célula do corpo pela corrente sanguínea. Quando o sangue é derramado, a vida também é "derramada", por assim dizer. Neste sentido, Deus reserva o sangue para um propósito especial — a saber, fazer expiação pelo pecado sobre o altar, ou seja, dar a vida por outro. Então, essas são as razões específicas que Deus menciona para proibir o consumo de sangue.
Mas isso não quer dizer que evitar a ingestão de sangue não traga benefícios à saúde ao, pois traz. Mas talvez Deus também tivesse isso em mente. (Embora também seja possível que comer sangue seja prejudicial pelo fato de Deus ter determinado uma punição para aqueles que O desobedecessem dessa forma). Ademais, podemos aprender uma lição importante sobre isso: As leis de Deus muitas vezes têm múltiplos efeitos, até mesmo além do que está declarado na promulgação da lei. Conforme mencionado nos destaques sobre a lepra, os antigos israelitas não estavam em posição de determinar cientificamente que o sangue carrega doenças bacterianas e virais — a tecnologia necessária para confirmar isso estava a milhares de anos de distância. Contudo, aqueles que respeitavam a Deus e Seus mandamentos, eram abençoados, mesmo sem saberem, com uma boa saúde ao evitar o consumo de sangue, além de aprenderem lições espirituais sobre o uso do sangue nos sacrifícios. Sem dúvida, Deus é um legislador maravilhoso e misericordioso.