Comentário Bíblico: Deuteronômio 31:30-32:47

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Comentário Bíblico

Deuteronômio 31:30-32:47

Um Novo Cântico de Moisés

Como lemos em Deuteronômio 31, Deus disse a Moisés para registrar um cântico que prenunciasse a futura rebelião dos israelitas e, assim, servisse "como testemunho" contra eles — pois deveriam aprendê-lo e nunca se esquecer dele (versículos 19, 21-22). A letra desse "Cântico de Moisés", que seria uma espécie de hino nacional para a antiga Israel, está registrada em Deuteronômio 32. Então, ao incluí-lo nas páginas da Bíblia, Deus realmente garantiu que ele jamais fosse esquecido. (Esse Cântico de Moisés não deve ser confundido com outro cântico dele registrado em Êxodo 15).

O versículo 4 é o primeiro lugar nas Escrituras onde Deus é chamado de "Rocha". Esse termo é repetido mais quatro vezes nesse capítulo.

Nesse cântico em Deuteronômio, Israel é chamada de Jesurum, um apelido carinhoso que significa "Retidão". Entretanto, Deus prediz, através de Moisés, que os israelitas se corromperiam tanto que deixariam, temporariamente, de ser Seus filhos (Deuteronômio 32:5). Eles já haviam sacrificados aos demônios e fariam isso novamente (versículo 17; comparar Amós 5:25-26; 1 Coríntios 10:20). Mas Deus ainda era o Pai deles em virtude de tê-los criado tanto como seres humanos quanto como nação (Deuteronômio 32:6), então deveriam se comportar de maneira digna de serem descendentes de Deus. Aliás, na época de Adão, Deus predefiniu as heranças de todas as nações e estabeleceu suas fronteiras "conforme o número dos filhos de Israel" (versículo 8). Isso mostra que Deus havia predeterminado não apenas a existência de Israel, mas até mesmo o tamanho de sua população desde a criação do homem.

Os versículos 11-12 contêm alguns simbolismos interessantes: "Como a águia... se move sobre os seus filhos, estende as suas asas, toma-os e os leva sobre as suas asas...". Nesse trecho, a proteção de Deus ao Seu povo é comparada à de uma águia cuidando de seus filhotes. Qualquer um que tenha estudado os padrões comportamentais das águias pode confirmar a descrição apresentada nessas passagens. A águia dourada faz seu ninho no alto das rochas das montanhas do Sinai. E quando seus filhotes se sentem prontos para voar, eles saltam do ninho e abrem suas asas. Muitas vezes, eles não conseguem alçar voo nas primeiras tentativas, pois ficam muito ansiosos e não abrem as asas corretamente ou nem mesmo as abrem. Então, eles se lançam para baixo como um paraquedista que salta de um avião e não abre seu paraquedas.

Porém, os pais ficam em alerta. A mãe, que é maior que o pai, voa e se posiciona abaixo do filhote, pega-o e o carrega para um lugar seguro. Essa cena se repete duas ou três vezes, até que o filhote tenha aprendido a abrir suas asas e voar. À luz de Escrituras como Deuteronômio 32:11-12 e Êxodo 19:3-4, a passagem de Apocalipse 12:14 ("E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar") pode simplesmente estar descrevendo a intervenção sobrenatural de Deus para guiar Seu povo a um lugar de refúgio, em vez de se referir a algum meio físico específico para levá-lo até lá, como alguns teorizam que isso se refere a transporte por aviões. Obviamente, Deus não usou aeronaves para transportar a antiga Israel.

O versículo 15 é uma das diversas declarações em Deuteronômio sobre Israel abandonar a Deus assim que ficar materialmente rica. Isso corresponde a uma observação atribuída a Martinho Lutero: "Um estômago cheio não promove a piedade, pois se sente seguro e negligencia a Deus". Sem dúvida, isso tem sido verdade para os atuais descendentes da antiga Israel, pois os vemos vivendo um padrão de vida mais elevado do que qualquer nação jamais experimentou — ainda assim, estão cada vez mais presunçosos, autossatisfeitos e ingratos.