Até o Último Homem
A História de uma Classe Diferente de Guerreiros
O filme Até o Último Homem é um dos principais concorrentes a vários prêmios da indústria do entretenimento. Ele conta a incrível história de Desmond Doss, um soldado do Exército dos Estados Unidos que, apesar de ter sido ridicularizado no início, tornou-se um exemplo e, por fim, foi recompensado pelos seus atos.
O que podemos aprender através do exemplo dele?
Aquele sulista de voz meiga se ofereceu para servir nas forças armadas durante a Segunda Guerra Mundial, porém se recusou a carregar uma arma. Por mais de dois anos, seus comandantes e o exército tentaram expulsá-lo do serviço militar, mas no final da guerra uma nação agradecida concedeu a esse improvável herói sua mais alta condecoração militar, a Medalha de Honra — juntamente com duas Estrelas de Bronze, por coragem, e três Corações Roxos, por ter sido ferido em combate.
Exatamente isso — esse homem ganhou seis medalhas por heroísmo e por serviço exemplar. Esse herói desarmado travou um tipo diferente de batalha. Conheça Desmond Doss.
Mas eu não quero que você o conheça apenas como mais um veterano experiente de um antigo conflito, porque, na verdade, você não pode. Ele morreu em 2006. Mas também não quero que você o vislumbre prontamente em uma trincheira de um passado muito distante. Não, vamos voltar aos eventos e aos valores que fizeram o cabo Desmond se tornar digno de nosso relato.
Como é possível um irmão matar outro?
Desmond cresceu em uma típica família da era da Depressão. Uma de suas primeiras lembranças era um quadro ilustrado dos Dez Mandamentos pendurado na parede da sala. Uma cena que se destacava vividamente em sua mente era a de Caim atacando Abel ao lado da inscrição do Sexto Mandamento: "Não matarás".
Ainda muito jovem, ele ficou assustado pelo fato de um irmão querer matar o outro. Os membros da família se lembram de como o garoto estendeu a mão e tocou naquele quadro. Essas imagens simples na parede de uma casa de campo moldaram e definiram sua personalidade ainda muito distante dos eventos dos anos à frente.
Em sua juventude, uma ocasião específica solidificou sua opinião a respeito das armas de fogo. Seu pai e seu tio tiveram uma briga e alguém sacou uma arma. Sua mãe ficou entre seu pai e seu irmão para separar a briga.
Os dois homens recuaram, pois não queriam feri-la. Mas o que os olhos de Doss viam era uma vívida reconstituição da imagem de Caim atacando Abel. Sua mãe pegou a arma e lhe entregou, pedindo para que a guardasse. Após esse evento, Desmond jurou nunca mais tocar em uma arma outra vez.
Podem me chamar de "cooperador consciente"
Quando começou a Segunda Guerra Mundial, ele decidiu se tornar um médico combatente. Mesmo tendo um emprego em um estaleiro, o qual lhe dava o direito de servir apenas em último caso, Desmond achava que não deveria ser poupado enquanto outros arriscavam ou davam a vida por seu país.
Quando se alistou, ele tornou sua posição muito calara e conhecida. Ele não usaria uma arma como a maioria dos médicos. Ele recusou-se a ser chamado de objetor consciente. Ele preferiu ser chamado de "cooperador consciente". No entanto, desde o início ele recebeu uma mensagem clara: "Agora você está no exército. Nós lhe diremos o que fazer e não você mesmo!”.
Os oficiais tentaram anular sua moral e puseram num regimento de infantaria. Acreditando que ali ele sucumbiria à pressão dos colegas ou seria considerado uma praga e abandonaria o serviço militar por não suportar as chacotas dos companheiros.
A maioria simplesmente não "engolia" essa pessoa de fala suave e calma, que tinha crenças estranhas. Ele foi relegado ao ostracismo. Um de seus companheiros o ameaçou, dizendo: "Se eu entrar em combate junto contigo, eu atiro em você". Infelizmente, a maioria de seus companheiros soldados não percebeu que ele tinha escolhido servir como um médico para salvar vidas — a deles!
Honrando o dia de sábado
Durante o treinamento em Fort Pickens, outra crença de Desmond se tornaria um problema. Ele guardava o sábado do sétimo dia. Ele não trabalharia no sábado. Ele orava e meditava no dia de sábado, além de participar de cultos na igreja. À noite ele estudava a Bíblia de bolso que sua esposa lhe dera.
Seus companheiros o ofendiam e jogavam suas botinas nele quando ele se ajoelhava para orar. Pois, para eles, parecia apenas que ele tinha muitos privilégios — apesar de ele trabalhar 24 horas por dia no domingo e receber tarefas muito sombrias, que visava baixar sua moral.
Sua situação piorou em um campo de treinamento do Arizona. Um oficial comandante ordenou a Desmond que recebesse a arma que ele está lhe entregando e ameaçou levá-lo à corte marcial, embora, especificamente, sua função não exigia o porte de arma. O oficial lhe deu duas chances. Ele recusou todas. Ele sabia que estaria em apuros caso se comprometesse uma única vez, porque aquele comandante continuaria fazendo isso.
O oficial rasgou sua licença de folga, que ele usaria para visitar sua esposa e irmão. Esse foi um momento desanimador para ele. Finalmente, seus oficiais foram avisados sobre um ato do Congresso que determinava respeitar os direitos dos objetores conscientes.
O homem que eles tentavam expulsar do serviço militar, alegando "instabilidade mental" era o mesmo "cooperador consciente" que, repetidamente, dissera a seus oficiais: "Não duvidem de minha coragem. Estarei ao lado de vocês, que tiram vidas, salvando vidas. Serei tão bom soldado quanto vocês”.
E essas palavras estavam prestes a se tornar realidade quando sua unidade foi enviada para o Teatro do Pacífico Asiático no verão de 1944 para participar da brutal operação aeronaval contra o Japão.
O início do legado
De Guam às Filipinas e á Okinawa, esta raça diferente de guerreiros se desenvolveria, dia a dia e pessoa a pessoa, um legado incrível. Os homens da 77ª Divisão de infantaria lutaram uma batalha após outra, conquistando ilha por ilha, Desmond Doss estava bem ao lado deles e, muitas vezes, à frente deles.
Logo no início, ele foi alertado sobre o perigo de não carregar uma arma de fogo. O inimigo escolhiam intencionalmente os médicos, que eram facilmente identificados por executarem seu trabalho corajoso, com intuito de desmoralizar as tropas.
De qualquer maneira, ele estaria no campo uma e outra vez, buscando os feridos. Ele fazia a maior parte de seu trabalho à noite, rastejando de um soldado a outro naquela enlameada paisagem tropical. Em certa batalha em Guam, quando Desmond avançou sem nenhuma arma de fogo com as tropas, e o mesmo oficial que tinha ameaçado levá-lo à corte marcial fugiu do campo de batalha.
Em última análise, a 77ª divisão de infantaria recebeu ordens para substituir a 96ª divisão, que foi dizimada em Okinawa. Antes, a tarefa deles era tomar Hacksaw Ridge em um despenhadeiro de 400 metros de altura. Depois de sete dias e nove tentativas as tropas foram expulsas daquele despenhadeiro. E, em 36 horas, oito comandantes sucumbiram!
Por fim, chegou a ordem: "Conquistar Hacksaw Ridge ou morrer tentando!". Então, solicitaram voluntários para colocar uma rede de carga no topo do desfiladeiro para que os homens pudessem ser rapidamente aprovisionados. Eram necessários três voluntários. E Desmond foi um deles. Uma fotografia mostra sua imagem solitária na parte superior do cume, e rede da carga posta. Aquela foi a última imagem registrada, pois os fotógrafos não poderiam avançar mais por causa da ferocidade da batalha.
Em 30 de abril de 1945, Desmond pediu para orar por seus companheiros antes do próximo ataque. Nesse dia, nenhum homem morreu na Companhia B.
"Senhor, ajude-me a conseguir salvar mais um"
No terceiro assalto ao desfiladeiro, os japoneses lançaram uma grande contraofensiva. As tropas norte-americanas estavam sendo fuziladas enquanto fugiam pela rede. Mas muitos soldados permaneceram no topo, porque não conseguiram fugir. E Desmond estava lá entre eles para salvar vidas. Ele sabia que o inimigo torturaria e mataria os feridos, então ele se recusou a fugir.
Durante as próximas doze horas, ele arrastaria os feridos, um por um e, às vezes, dois a dois, sustentando-os em seus braços por centenas de metros até a borda do penhasco. E de lá, através da corda, ele desceria um a um, foram setenta e cinco ao todo, em um penhasco de setenta metros.
Toda vez que ele voltava para buscar outro companheiro, ele simplesmente orava: "Senhor, ajude-me a conseguir salvar mais um!". Mais tarde, um veterano japonês durante uma entrevista declarou: "Acredito que aquele homem estava em minha mira, mas a cada vez que eu atirava, a arma emperrava".
O ataque final a Hacksaw Ridge foi planejado alguns dias mais tarde. No entanto, a data caiu em um sábado. Exatamente, num sábado! Todos estavam prontos para ir, exceto uma pessoa — Desmond! Ele era o único médico mais próximo.
Então, outro comandante, que também tinha tentado desmotivar Desmond, suspendeu ofensiva naquele dia. Pois, até agora, Desmond tinha se tornado o "cobertor de segurança" da 77ª divisão de infantaria.
Perdido sem a sua Bíblia
Mais tarde, naquela batalha mortal, Desmond e vários outros se refugiaram à noite em uma trincheira. De repente, uma granada japonesa caiu dentro da trincheira. Os outros correram, mas ele, instintivamente, colocou a bota em cima da granada. Ela explodiu e o lançou para fora da trincheira, deixando sua perna com um ferimento profundo e ensanguentada por causa das inúmeras lesões.
Ao invés de chamar outro médico, que significaria um risco de vida, para ajudá-lo, Desmond enfaixou sua própria perna e esperou cinco horas até amanhecer. Pela manhã, os maqueiros chegaram e iniciaram sua remoção, mas ao passar por outro soldado, que graves ferimentos, ele pediu para dar-lhe prioridade. Desmond disse-lhes para tirá-lo da maca e levar o outro homem em seu lugar.
Então, Desmond se juntou a outro soldado ferido para tentar buscar um caminho seguro. Mas, quando faziam isso, uma bala atingiu o pulso de Desmond e se alojou em seu braço. Se aquele projetil não tivesse acertado seu braço, provavelmente teria atingido o pescoço de seu companheiro e o mataria. Desmond apoiou seu braço inutilizado em um rifle e, juntos, eles conseguiram rastejar até a um local seguro.
Quando estava sendo levado para um navio hospital, ele percebeu que algo precioso tinha sido perdido no campo de batalha. Sua Bíblia tinha ficado lá! Ele estava sem sua fonte de força, e sem ela se sentia perdido. Ele escreveu para os homens da Companhia B e perguntou-lhes se poderiam ajudá-lo. Alguns dos homens que haviam zombado dele e atirado suas botas nele, tornando sua vida miserável, foram ao campo de batalha e encontraram sua "espada", a Palavra de Deus (Hebreus 4:12), e enviou-a de volta a ele.
Os cirurgiões removeram dezessete estilhaços da perna de Desmond e engessaram seu braço. Sua guerra acabara ali. A sua maneira, ele lutou sua própria boa batalha, e nunca comprometeu suas convicções. Ao retornar aos Estados Unidos, o presidente Harry Truman concedeu pessoalmente a esse "herói desarmado" as mais altas honras militares do país. Quando o presidente estava de frente a esse corajoso cabo, ele disse: "Eu preferiria ter essa medalha de que ser o presidente". Ele então pendurou aquela Medalha de Honra no pescoço dessa classe muito diferente de guerreiro.
"Desmond fez isso todos os dias!"
Mas as boas ações de Desmond tiveram um custo. Seus ferimentos o deixariam totalmente incapacitado. E as doses erradas do tratamento para a tuberculose contraída nas ilhas o deixariam quase surdo.
Em um documentário intitulado O Objetor Consciente, um dos companheiros de batalha de Desmond Doss disse muito sobre essa classe diferente de guerreiro. Ele disse que alguns homens são laureados com a Medalha de Honra por um momento no tempo em que realizaram um ato incrível de ousadia e coragem em nome de seus semelhantes. No entanto, ele acrescentou notavelmente: "Desmond fez isso todos os dias!".
A saga desse cabo lembra o tempo em que José, o patriarca israelita, foi elevado, graças a Deus, aos níveis mais altos do governo egípcio, e disse a seus irmãos, que o tinham vendido como escravo alguns anos antes: “Não temais; acaso estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida" (Gênesis 50:19-20).
A determinação de Desmond diante de um possível e severo castigo faz ecoar as palavras de três homens na Babilônia, que não se renderam à adoração falsa mesmo sob pena de morte: "Ó Nabucodonosor, não necessitamos de te responder sobre este negócio. Eis que o nosso Deus a quem nós servimos pode nos livrar da fornalha de fogo ardente; e ele nos livrará da tua mão, ó rei. Mas se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste" (Daniel 3:16-18).
Nossas batalhas espirituais
Os atos de Desmond estavam alicerçados em suas sinceras convicções. Suas ações e convicções servem como exemplo de como suportar os “sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus" (2 Timóteo 2:3, NVI), que nos confrontam a cada dia. A luz desse homem e o teor de suas convicções (comparar Mateus 5:13-14) lentamente transformaram a ira de seus camaradas em admiração, até ao ponto de não poderem avançar sem ele.
Isso nos traz à mente a futura realidade profética de Zacarias 8:23, que fala de um tempo em que "dez homens, de nações de todas as línguas, pegarão na orla das vestes de um judeu, dizendo: Iremos convosco, porque temos ouvido que Deus está convosco".
Desmond Doss viveu sua fé no crisol da guerra. Os cristãos são chamados para lutar numa guerra diferente das guerras deste mundo. Nosso chamado é para defender Aquele que disse: "Minha intenção é dar vida eterna — vida completa" (João 10:10, Bíblia Viva) e nos nos conduzir como o Capitão de nossa salvação.
O apóstolo Paulo muitas vezes apontou como exemplos aqueles que estavam num caminho perigoso para solidificar e estimular nossa própria caminhada cristã. É com esse espírito e intenção que podemos aprender com essa "classe diferente de guerreiro" a lição de que "este é o caminho, andai nele" (Isaías 30:21).
E foi da boca de alguém que já o havia desprezado uma vez que essa lição de Isaías ecoou e pôde ser ouvida. Alguns homens recebem uma Medalha de Honra por um ato incrível de ousadia e coragem, mas "Desmond fez isso todos os dias!". BN