A Eternidade Em Foco
Há três mil anos, Davi, pastor e rei de Israel, proferiu duas magníficas declarações ao escrever o salmo mais conhecido e amado das Escrituras: o Salmo 23.
No primeiro versículo, ele começa proclamando: “O SENHOR é o Meu pastor. Ele me dá tudo de que eu preciso!” (Bíblia Viva). E, no último versículo, ele afirma confiantemente: “Certamente a Tua bondade e o Teu amor ficarão comigo enquanto eu viver”. E conclui: “E na Tua casa, ó SENHOR, morarei todos os dias da minha vida” (BLH).
Essa composição resume o que foi apresentado até agora na série desta coluna sobre a eternidade. Entre essas duas conclusões há muita experiência de vida, sejam "pastos verdes" ou "o vale da sombra da morte" (versículos 2, 4). Porém, essas palavras dão propósito ao que estamos passando nesta vida.
O que significa “morar na casa do SENHOR para sempre”? Vamos dar uma olhada nesse reino, explicado em dois artigos anteriores. O primeiro, "Fixando O Olhar Na Eternidade”, na edição de janeiro-fevereiro de 2020, discorreu sobre a busca do homem por significado e ofereceu soluções bíblicas muito além de nossa era de frustração e desespero humano. A segunda, “Quando Eu For e Vos Preparar Lugar”, na edição de março-abril de 2020, definiu a eternidade não apenas como um destino, mas como uma espécie de viagem em que entramos em um relacionamento próximo e profundo com Deus Pai e Jesus Cristo (João 17:1-3).
À medida que avançamos no assunto, precisamos observar que as Escrituras dão mais ênfase ao fato de que a eternidade é um presente de Deus para a humanidade do que o relato do significado dela. Deus nos dá flashes das escrituras, de acordo com o que podemos compreender humanamente, sobre essa existência infinita enquanto estamos em nossa esfera da vida humana.
Essas "olhadelas em direção à eternidade" podem ser muito motivadoras para nós que, no fim e pela graça de Deus, entraremos na "casa do SENHOR". Isso nos ajuda a aceitar o convite de Jesus para segui-Lo (ver Mateus 4:19; João 21:22). Agora vamos dar um passo à frente para vislumbrar essa eternidade em foco.
O lar onde deve estar o coração
Frequentemente, nos é dito que é nesse lar onde deve estar nosso coração. E essa é a chave da eternidade. O capítulo onze de Hebreus define os servos fiéis de Deus através dos tempos como aqueles que “morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram” (versículo 13, NVI).
Esses peregrinos espirituais nunca se acomodaram no ambiente dessa era rebelde, mas “buscavam uma pátria superior, um lar celestial. Por isso Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, pois lhes preparou uma cidade” (versículo 16, Nova Versão Internacional).
Lembra-se como Davi concluiu o Salmo 23? Ele concentrou tudo em morar na casa do Senhor para sempre. Mas como será isso?
Por ter crescido em Belém, Davi viveu nas habitações simples e rústicas do povo da sua época, mas aquilo era seu lar! Por quê? Por que o lar é onde estão seus entes queridos. Ele pode não estar cheio de móveis, mas está cheio de amor.
Além disso, ele estaria familiarizado com o tabernáculo de Gibeão onde estava o Santo dos Santos, que era visto como o lar terrestre do Deus de Israel. Ali era onde o céu tocava a Terra e então se tornavam um só. Um lugar que também demonstrava o desejo de Deus de se aproximar de Seu povo. Como Ele mesmo disse aos israelitas: "Eu vos tomarei por Meu povo, e serei vosso Deus" (Êxodo 6:7).
O ponto culminante e o critério da eternidade
Vemos a revelação desse desejo de Deus na imagem ampliada dessa eternidade nas palavras do apóstolo João: “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo [morada] de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o Seu Deus” (Apocalipse 21:1-3).
Aqui está o “lugar melhor” que as pessoas listadas no capítulo onze de Hebreus ansiavam. Aqui está a pátria celestial — um lar! Aqui está a cidade celestial descendo para a Terra.
Bem-vindo à eternidade! Não apenas podemos ler sobre esse evento épico ao buscar por encorajamento e conforto agora, mas um dia testemunharemos pessoalmente essa cena das escrituras que mostra a eternidade em foco, plenamente em foco como o ápice da realidade da qual Jesus nos disse para orar: “Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade, tanto na terra como no céu” (Mateus 6:10).
João capturou a essência íntima de entrar na eternidade em uma de suas epístolas, escrevendo: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não O conheceu a Ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é” (1 João 3:1-2, ARA).
Enfim, a promessa de que “os limpos de coração verão a Deus” se cumprirá (Mateus 5:8). E veremos muito mais do que o próprio Moisés teve permissão de ver quando o “EU SOU” disse-lhe: “Você não poderá ver a Minha face, porque ninguém poderá ver-Me e continuar vivo” (Êxodo 33:18-23, NVI).
Como é possível sermos capacitados para entrar nessa "luz inacessível" da presença de Deus? (ver 1 Timóteo 6:16). O apóstolo Paulo assinalou que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1 Coríntios 2:9).
Para ser franco, simplesmente não somos capazes, neste momento, de experimentar completamente essa eternidade em foco. Não temos o equipamento necessário, mas, obviamente, Deus tem! E Ele permitirá que aqueles que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12) passem por uma milagrosa transformação. Ademais, Paulo escreveu: “Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1 Coríntios 15:53).
Exatamente, entraremos na família de Deus como filhos imortais divinos, e esse é o ápice do propósito declarado de Deus para a humanidade. Como diz o velho ditado: "Tal pai, tal filho". O dom divino da imortalidade nos permitirá compartilhar as qualidades de Deus, como ressaltou João ao afirmar que “seremos semelhantes a Ele". O apóstolo Pedro disse ainda que devemos ser "participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4).
Contudo, isso não nos tornará iguais em autoridade ao Deus Pai incriado e a Jesus Cristo. Diferentemente dEles, fomos criados a partir do pó e, a princípio, recebemos a vida dentro do tempo e do espaço. Como revelam muitas promessas, nós reinaremos com Eles e sob a autoridade dEles, pois Eles serão para sempre supremos. No entanto, é um imenso privilégio fazer parte da família de Deus. Pelo amor e pela graça do Pai e de Cristo para conosco, eles abrem a eternidade e nos permitem entrar e, o mais importante, permanecer nela!
A eternidade se tornará um lar — não apenas um simples lugar de hospedagem ou de compartilhamento de tempo. Lembre-se que Davi confiava que permaneceria na "casa do SENHOR para sempre". Jesus declara a Seus seguidores de todas as era: “A quem vencer, Eu o farei coluna no templo do Meu Deus, e dele nunca sairá” (Apocalipse 3:12). Então, qual o ponto principal de tudo isso? Pela graça de Deus, entraremos, experimentaremos e permaneceremos na eternidade.
Um retorno ao Éden antes da maldição!
Uma lei da natureza bem conhecida é que toda causa tem um efeito correspondente, e a eternidade não está alheia a essa realidade. E isso faz com que todas as outras imagens dessa eternidade em foco mostrem a presença de Deus Pai e Jesus ressuscitado e exaltado (ver João 17:1-3).
À medida que progredimos nas imagens das escrituras de Apocalipse 21-22, reconhecemos que essa futura eternidade é, em grande medida, um retorno ao Éden antes de a humanidade ser amaldiçoada por seguir o pecado de Satanás, o definitivo reencontro de Deus e o homem em perfeita harmonia. Na verdade, Apocalipse 22:3 nos incentiva a mais uma vez visualizar Deus no meio de Sua criação, como o Pai e o Cordeiro, Jesus Cristo, sentados em Seus tronos no meio dessa eternidade em foco.
Assim como o tabernáculo no deserto e o templo em Jerusalém foram colocados no meio do povo da aliança de Deus, essa derradeira "casa do Senhor", esse reino sagrado, esse lar perpétuo, também estará no meio dos servos imortais de Deus, aqueles que fizeram aliança com Ele. E outro símbolo da justiça e das bênçãos de Deus no meio do Éden também estará ali — a árvore da vida (Apocalipse 22:4).
A presença de Deus Pai e do Cordeiro cria um ambiente incrível — descrito com o uso frequente da palavra "não". Como seres humanos, muitas vezes nos encolhemos diante do som da palavra "não", e ficamos chateados com a negação do que queremos. Mas Deus usa a palavra "não" nesse cenário com o intuito de nos dizer coisas maravilhosas e positivas sobre a eternidade.
Pois, não haverá mais morte, tristeza, pranto e dor. E isso apenas em Apocalipse 21:1-4. Deus continua usando o "não", pois não haverá porta fechada nem noite (versículo 25; 22:5). E, novamente, não haverá mais maldição (22:3), porque nunca haverá nada de errado que traga contaminação para aquele lugar (21:27).
E mais uma rodada positiva de “nãos” está em pleno foco à medida que se dissipa o último véu do reino físico, pois nada ficará entre nós e o Deus que nos ama, que também amamos: “E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse 21:22-23; comparar Apocalipse 22:5).
Em Sua última noite de vida humana, Jesus disse: “Vou preparar-vos lugar” (João 14:2). E aqui em Apocalipse vemos o cumprimento dessa promessa de Cristo — com Deus e Seu povo redimido e, enfim, juntos para sempre em alegria e bênção intermináveis.
Mas, por enquanto, temos algumas tarefas — na verdade, um trabalho árduo e intenso — ainda por cumprir, atendendo ao convite de seguir a Cristo. Até a próxima vez, após espiar essa eternidade em foco, vamos nos apegar a essa visão e permitir que ela nos motive a manter nossa mente em nosso próximo lar com Deus.