Comentário Bíblico
Êxodo 19
Deus reiterou Sua aliança com Israel a Seu servo Moisés. E Moisés chamou os anciãos de Israel e repetiu as palavras de Deus para eles. Os anciãos então repetiram as palavras para o povo de Israel. Isso explica mais claramente como Moisés se comunicou com quase três milhões de pessoas. Agora chegamos ao ponto onde Deus estava planejando falar com Moisés junto com todo o povo. Contudo, o povo deveria seguir instruções específicas antes que pudesse se aproximar da sagrada presença de Deus. Então, foram estabelecidos limites para impedir que as pessoas tocassem no monte. A proibição de tocar no monte tinha o intuito de ensinar-lhes a temer e respeitar o Deus vivo — e também para demonstrar a necessidade de um mediador.
O povo deveria se limpar e lavar suas roupas. E no dia em que Deus apareceria a Moisés no monte, os casais deveriam renunciar às relações sexuais. Vestir roupas limpas e abster-se de relações maritais eram atos externos, que significavam sua santificação antes de Deus falar com eles. Isso não implica que as relações sexuais lícitas eram espiritualmente impuras. No Novo Testamento, Paulo sugeriu que era apropriado que, ocasionalmente, os casais se abstivessem de relações conjugais por um breve período para se dedicarem especialmente a Deus por meio da oração e do jejum (1 Coríntios 7:5). Após Moisés subir o monte, Deus teve que mandá-lo descer porque as pessoas estavam ficando muito curiosas, então, mais uma vez, Moisés advertiu o povo subiu novamente o monte com Arão.
O período de tudo isso é muito interessante. A tradição judaica afirma que a entrega da lei ocorreu na Festa das Primícias, ou Pentecostes, que pode ocorrer no mais tardar no dia 10 ou 11 do terceiro mês do calendário hebraico, Sivan. O primeiro versículo diz que foi no terceiro mês após a saída do Egito — mas alguns interpretam a frase "no mesmo dia" como significando o mesmo dia do mês em que os israelitas deixaram o Egito. Portanto, isso significaria que eles chegaram ao Monte Sinai no dia 15 de Sivan e a lei foi entregue no dia 17 (comparar versículos 10-11) — demasiado tarde para o Pentecostes. Entretanto, se a frase "no mesmo dia" for entendida como o mesmo dia em que Jetro partiu, conforme declarado no versículo anterior (18:27), então o Pentecostes pode se encaixar muito bem nessa ocasião. Também pode ser que o "mesmo dia" signifique o mesmo dia da semana em que os israelitas deixaram o Egito — o que, novamente, permitiria que os Dez Mandamentos fossem entregues no Pentecostes.
Na verdade, aqui encontramos temas claros sobre o Pentecostes: a consagração de Israel como povo escolhido, ou seja, "primícias"; o início da igreja no deserto do Antigo Testamento (Atos 7:38), sendo que o Pentecostes marcaria o início da Igreja do Novo Testamento (ver Atos 2); a entrega da lei, pois, mais tarde, no Pentecostes, o povo de Deus receberia o poder de guardar essa lei através do Espírito Santo (comparar Lucas 24:49; Romanos 8:7); Deus descendo sobre o monte com grande barulho e tremor e "em chamas de fogo" (Êxodo 19:18), sendo que, mais tarde, Sua presença desceria sobre os discípulos de Cristo com grande barulho e em línguas de fogo (Atos 2); o início da Antiga Aliança, pois o Pentecostes marcaria a entrega das "melhores promessas" da Nova Aliança, particularmente o dom do Espírito Santo (comparar Hebreus 8:6). Embora característico desse novo relacionamento que Deus deseja com Seu povo, a Antiga Aliança ainda envolvia a separação de Deus, como retrataram claramente os limites de aproximação. Para entender isso ainda mais, leia Hebreus 12:18-28.
O contraste entre a Antiga e a Nova Aliança é vividamente ilustrado pela comparação de duas escrituras: "E marcarás limites ao povo em redor" (Êxodo 19:12) e "cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé" (Hebreus 10:22). Hoje em dia, através do sacrifício e intercessão de Jesus Cristo como nosso Sumo Sacerdote, Deus nos concedeu a liberdade de virmos diante de Seu trono da graça (Hebreus 4:14-16).
Mapa do Êxodo