Foi o Sábado Mudado No Novo Testamento?
Vimos que Jesus Cristo não mudou o dia do Sábado de Deus. Pelo contrário, ao longo do Seu ministério Ele mostrou o verdadeiro propósito e intenção do Sábado. Jesus Cristo mostrou freqüentemente que o Sábado, e particularmente com os Seus ensinos e acções, representa a era Messiânica que está para vir—o Reino de Deus—como um tempo de cura, liberdade e restauração para toda a humanidade.
Jesus guardava o Sábado. Na ocasião da Sua morte, é óbviamente claro que os Seus seguidores mais íntimos guardaram o Sábado, visto que esperavam que o Sábado passasse para depois preparar o Seu corpo para o funeral (Mateus 28:1; Marcos 16:1-2; Lucas 23:56; 24:1). Cinquenta dias depois da ressurreição, juntaram-se muitas pessoas para o Dia de Pentecostes, um dos sete Sábados ou festas anuais de Deus (Levítico 23:1-44) observados conjuntamente com o Sábado semanal, e foi nesse dia que a Igreja do Novo Testamento foi fundada pela vinda do Espírito Santo (Atos 2:1-4).
A Bíblia não demonstra evidência de qualquer mudança dos Sábados de Deus durante a ocasião da morte e da ressurreição de Cristo. Observamos a continuação pelos Seus seguidores a guardarem os Sábados do mesmo modo que Cristo guardou—apesar das declarações contrarias de alguns.
Paulo aboliu o Sábado?
Se o Sábado ou qualquer parte da lei de Deus fosse abolido, ou mudado na Igreja primitiva do Novo Testamento, teria de haver evidência clara de tal alteração tão dramática, nos registos do Novo Testamento. Afinal, os livros do Novo Testamento foram escritos no primeiro século, ao longo de um período de décadas que terminou nos anos 90. Mais de 60 anos depois da morte e ressurreição de Jesus.
Muitos dos que argumentam que o Sábado foi abolido no Novo Testamento apontam para os registos do apóstolo Paulo para justificar a sua opinião. Mas está isso certo? Eles geralmente citam três passagens para suportar essa afirmação—Romanos 14:5-6, Colossenses 2:16-17 e Gálatas 4:9-10.
Para se compreender corretamente a Bíblia temos de analisar cada um dos versículos em contexto com o assunto a que eles se referem e no mais lato contexto social e histórico que influenciava o autor e os seus ouvintes naquela época. Também temos de ter cuidado em não nos deixarmos levar pelas nossas noções antecipadamente formadas sobre o texto. Examinemos cada um destes versículos em contexto e vejamos se Paulo anulou realmente ou aboliu a observância do Sábado.
Primeiro, observemos as afirmações do próprio Paulo acerca da lei de Deus. Passados mais de 25 anos depois da morte de Jesus Cristo, ele escreveu em Romanos 7:12: “Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom”. Em Romanos 2:13 ele afirma: “Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” Em Romanos 7:22 diz: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus.”
Muitos assumem que, uma vez que se tenha fé em Jesus Cristo, não há mais necessidade em guardar a lei. O próprio Paulo abordou este conceito em Romanos 3:31: “Anulamos [do Grego katargeo, significando ‘destruir’ ou ‘abolir’], pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos [do Grego histemi, significando ‘erigir’ ou ‘manter de pé] a lei.” A fé não abole a lei, disse Paulo; a fé estabelece e sustenta a lei.
Em Atos 24 ele defendeu-se perante o governador Romano Félix contra acusações de dissenção e de sedição feitas por chefes religiosos Judeus. Respondendo às acusações contra ele, ele disse: “… sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na Lei e nos Profetas” (versículo14).
Dois anos mais tarde ele defendeu-se contra tais acusações, desta vez perante o governador Romano Festo, respondendo a tais acusações: “Eu não pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César” (Atos 25:8).
Aqui, alguns 25 ou 30 anos depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, Paulo disse abertamente que cria em “tudo quanto estava escrito na Lei e nos Profetas” (termos usados quando se referiam aos livros do Antigo Testamento) e que não tinha feito nada contra a lei!
À luz destes depoimentos seguros, deveriamos esperar encontrar instruções igualmente firmes, relativamente à abolição do Sábado, se isso tinha sido o entendimento e intenção de Paulo. Mas encontramos essas instruções?
Romanos 14:5-6: Os dias de adoração são todos iguais?
Paulo escreveu em Romanos 14:5-6 (ACF): “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus.”
A partir desta declaração, pode parecer a alguns que Paulo está dizendo que qualquer dia que se escolha para descanso e adoração é irrelevante conquanto se esteja “inteiramente seguro em sua própria mente” e que “aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz.” Quer isto dizer que o Sábado não é nada diferente de qualquer outro dia ou que somos livres de escolher um dia qualquer para guardar o Sábado?
Para se chegar a esta conclusão, tem-se de atribuir um sentido não explícito a esta passagem, porque o Sábado aqui não é mencionado. Na realidade, a palavra Sábado ou referências a guardar-se o Sábado não se encontram em parte alguma do livro de Romanos. A referência aqui é feita simplesmente a “dias”, não ao Sábado ou a quaisquer outros dias de descanso e culto ordenados por Deus.
Conservemos em mente que Paulo, anteriormente nesta mesma epístola, tinha escrito que “a lei é santa; e o mandamento santo, justo e bom” (Romanos 7:12), que “os que praticam a lei hão de ser justificados” (Romanos 2:13), e que ele tinha “prazer na lei de Deus” (Romanos 7:22). Se ele estava a dizer em Romanos 14 que a observância do Sábado é irrelevante, tal asserção seria totalmente inconsistente com as suas outras afirmações nesta mesma carta.
Quais são os “dias” que Paulo estava a mencionar?
Quais são os dias que Paulo menciona aqui? Temos de olhar para o contexto para saber.
A passagem em questão acerca de dias está em Romanos 14:5-6, imediatamente entre referências a comer carne e a vegetarianismo, em versículos 2, 3 e 6. Não há ligação bíblica entre observância do Sábado e vegetarianismo; logo estes versículos têm de ser retirados do contexto para se assumir que Paulo estava a referir-se ao Sábado.
Na obra de Everett Harrison, The Expositor’s Bible Commentary [Comentário Expositor Bíblico], 1976, Vol. 10, p. 146 podemos ler: “A associação contextual rigorosa com comer sugere que Paulo tinha em mente um dia especial reservado para observância de ocasião festiva ou como ocasião para jejum.” É visível que Paulo não estava a tratar de Sábado, mas aliás de outros dias durante os quais eram praticadas festas, jejuns ou abstinências de certas comidas.
Paulo estava a escrever a uma congregação em Roma com crentes judaicos e gentios (Romanos 1:13; 2:17). Práticas de comer e de jejuar, que não eram abordadas nas Escrituras tinham-se tornado um ponto de controvérsia.
O Talmude regista que muitos judeus desse periodo jejuavam às Segundas e Quinta-Feiras. Eles também tinham outros dias tradicionais de jejum (compare Zacarias 7:3-5). Visto que alguns dos cristãos judaicos em Roma criticavam outros arrogantemente (Romanos 2:17-24), talvez se tivessem tornado como os fariseus que se gabavam “jejuo duas vezes na semana” (Lucas 18:12), e se estabeleceram como pessoas mais justas que outros que não jejuavam nesses dias.
Possívelmente certos membros da igreja em Roma estavam a tentar impor noutros cristãos o jejum em certos dias, o que incitou Paulo a perguntar severamente, “Quem és tu, que julgas o servo alheio?” (Romanos 14:4). Paulo parece estar a endireitar as coisas quando realça que o jejum é um exercício de adoração voluntário que não é limitado a dias específicos. Por isso o jejum duma pessoa num certo dia, enquanto outro come, não faz essa pessoa mais justa que o outro.
Por que alguns evitavam certas carnes?
Em Romanos 14:2-3 Paulo referiu-se ao vegetarianismo (“outro, que é fraco, come legumes”) e continuou este tema no versículo 6 (“o que come . . . e o que não come”).
O contexto mostra-nos enquanto alguns membros da congregação estavam lá a comer carne, outros se abstinham de comê-la. Provavelmente os membros vegetarianos eram os que “receavam comer carne (por não saber de onde ela vinha) pois podia ter sido oferecida a ídolos ou ser cerimonialmente impura (o que podia facilmente acontecer num lugar como Roma), de forma que se abstinham totalmente de comer carne” (da obra de W.J. Conybeare e J.S. Howson, The Life and Epistles of St. Paul [A Vida e Epístolas de São Paulo], 1974, à p. 530).
Em 1 Coríntios 8, Paulo abordou o assunto de se comer carne que pudesse ter sido sacrificada a ídolos e conseqüentemente poder ser vista por alguns membros como imprópria para se comer. A questão de Paulo nesse capítulo era que qualquer associação de comida com actividade idólatra não fazia com que essa comida fosse imprópria para alimento.
Paulo estava evidentemente a referir-se à mesma questão em Romanos e em Coríntios, questão esta que dizia, os membros deveriam evitar carnes que podessem ter estado associadas com adorações idólatras. Isto é indicado pela referência de Paulo a carnes “impuras” em Romanos 14:14. Em vez de usar a palavra Grega habitual para descrever as comidas imundas ou proibidas no Antigo Testamento, ele usou uma palavra significando comum ou suja, a qual seria apropriada para descrever carne que tivesse sido sacrificada a ídolos.
O conselho de Paulo em 1 Coríntios 8 foi o mesmo que a sua conclusão em Romanos 14:15: Devem ser especialmente cautelosos em não ofenderem um irmão, fazendo com que ele tropece ou perca fé por causa da questão de carnes.
Isto não estava de forma alguma relacionado com o cumprimento da lei do Sábado, visto que o Sábado não é associado em Escritura alguma com o assunto de se abster de comer carne ou de comer qualquer comida. Na carta aos Romanos, o Sábado não é mencionado em lado algum! Pura e simplesmente, o Sábado não era a questão.
Aqueles que usam a carta de Paulo aos Romanos como justificação do ponto de vista que Paulo repele as leis do Antigo Testamento, e que o propósito de Paulo era de demonstrar que as leis tinham sido abolidas, então têm a dificuldade adicional de explicar por quê Paulo fez em excesso de 80 citações do Antigo Testamento nesta epístola como prova do seu ensinamento. Este simples ponto, por si só, confirma a posição de Paulo que “a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom” (Romanos 7:12).
Gálatas 4:9-10: O Sábado é uma escravidão?
A passagem de Gálatas 4:9-10 é uma outra das epístolas de Paulo que alguns vêem como condenando a observância do Sábado. Nesses versículos Paulo escreveu: “Mas agora, conhecendo a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.”
Quem argumente contra o guardar o Sábado, vê a referência de Paulo a “dias, e meses, e tempos, e anos” como apontando para o Sábado, para os festivais, para anos sabáticos, e para o ano do jubileu, que foram dados no Antigo Testamento (Levítico 23 e 25). Tais vêem estas observâncias, dadas por Deus, como “os rudimentos fracos e pobres” para os quais os Gálatas “de novo queriam servir” ou “se tornar escravos deles outra vez?” (versículo 9, BLH).
É esta a intenção de Paulo? Há um problema óbvio com o ponto de vista que estes versículos sejam uma crítica do Sábado. Tal como em Romanos 14, o Sábado nem é tão pouco aqui mencionado. Os termos “Sábado”, “Sábados” ou quaisquer palavras relacionadas não aparecem em parte alguma desta epístola.
Uma vez mais, para argumentar contra o guardar o Sábado, alguns assumem que os “anos” referidos em Gálatas 4:10 são os anos sabáticos e os anos do jubileu descritos em Levítico 25. Mas, o ano do jubileu não era observado em parte alguma durante a era de Paulo, e o ano sabático não era observado em áreas fora da Palestina (Encyclopaedia Judaica, Vol. 14, p. 582, e Jewish Encyclopedia [Enciclopédia Judía], p. 666, “Sabbatical Year and Jubilee”). O fato da Galácia estar na Ásia Menor, muito distante da terra de Israel, torna ilógico concluir que Paulo, aqui, podia ter estado a referir-se aos anos sabáticos e do jubileu.
As palavras Gregas que Paulo usou para “dias, e meses, e tempos, e anos” são usadas ao longo de todo o Novo Testamento para descrever períodos de tempo civil normais. São totalmente diferentes dos termos precisos que Paulo usou em Colossenses 2:16 especificando as celebrações dos Sábados, festivais e luas novas dados na Bíblia. Ele usou terminologia exacta para observâncias bíblicas em Colossenses, mas, em Gálatas, usou palavras Gregas diferentíssimas—sinal de que estava a abordar assuntos completamente diferentes.
Para compreendermos o que Paulo quis dizer, temos de examinar cuidadosamente a situação história da área e o contexto imediato destes versículos.
Os Gálatas não podiam tornar a observar de novo o que numca tinham observado
É verdade que existia uma facção judaizante, os quais estavam a introduzir os Gálatas à necessidade de serem circumcizados e de abraçarem o sistema ritual completo da lei Mosaica—ao que Paulo fortemente se opôs. Mas esta influência era algo novo para esse povo. Isto é, porque as congregações da Galácia eram na maioria compostas por membros de cultura gentílica e não Judaica. Paulo esclarece isso dizendo que eles eram fisicamente não circuncisos (Gálatas 5:2; 6:12-13), e por isso não podiam ter sido Judeus.
Este pano de fundo cultural é importante para podermos compreender esta controversa escritura. Em Gálatas 4:9-10, Paulo disse que os Gálatas estavam a “tornar outra vez a esses rudimentos fracos e pobres” os quais incluíam “dias, e meses, e tempos, e anos.” Visto que os leitores da carta de Paulo eram de uma cultura gentílica, é difícil ver como é que os “dias, e meses, e tempos, e anos” a que eles estavam a tornar a observar outra vez podiam ser o Sábado e outros festivais bíblicos, posto que não poderiam tornar outra vez a algo que previamente não tinham observado.
Isto fica mais claro ainda através do contexto imediato. No versículo 8 Paulo diz: “quando não conhecíeis a Deus, servíeis aos que por natureza não são deuses.” Com isto Paulo referia-se “claramente aos ídolos do paganismo, aos quais, no idioma típico Judaico, Paulo designou por ‘não deuses’” (The Expositor’s Bible Commentary por James Montgomery Boice, 1976, Vol. 10, p. 475).
Paulo não se refere a práticas bíblicas
É possível que estes “rudimentos fracos e pobres” a que estavam a tornar outra vez (versículo 9) fossem as leis de Deus, os Sábados e os festivais? A palavra aqui traduzida por “rudimentos” é a palavra Grega stoicheia, a mesma, também traduzida préviamente por “rudimentos” no versículo 3. Aí, Paulo descreve os seus leitores como tendo estado em “servidão, debaixo dos rudimentos do mundo.” Para isto se referir à lei de Deus no versículo 9, também se teria de referir à Sua lei no versículo 3, posto que é usada a mesma palavra.
E, dizer que o versículo 3 se refere à lei bíblica é insuportável, porque os Gálatas eram gentios, e não judaicos, e por isso não tinham nenhuma história de observarem as leis bíblicas. Igualmente, “não explica por quê ou como Paulo aplicou a expressão ‘do mundo’ à palavra stoicheia, porque o pensamento Judeu enfatizaria o carácter espiritual da lei de Deus, completamente diferente do caráter mundano, devido à sua origem divina” (Boice, p. 472).
É muito mais lógico entender que os “rudimentos do mundo” designavam princípios fundamentais de religião falsa humana, ou o conceito pagão de espíritos dos elementos controlando as forças naturais. O The Expositor’s Bible Commentary continua: “Parece que no tempo de Paulo este ponto de vista extremamente precoce e primitivo se tinha expandido até ao ponto em que stoicheia também se referia ao sol, lua, estrela e planetas―todos eles associados com deuses ou deusas e, porque regulavam o progresso do calendário, também estavam associados aos grandes festivais pagãos honrando os deuses. No parecer de Paulo estes deuses eram demónios. Por conseguinte, ele estaria pensando numa servidão demoníaca, sob a qual os Gálatas estiveram na verdade sujeitos até ao tempo antes da proclamação do evangelho.
“Nos versículos que se seguem, Paulo prossegue para falar, em sucessão rápida, destes três assuntos cruciais: 1) ‘dos que por natureza não são deuses’, presumivelmente falsos deuses ou demónios; 2) ‘dos rudimentos fracos e pobres’, novamente a palavra stoicheia (versículo 9); e 3) ‘dias, e meses, e estações, e anos’ (versículo 10, BLH). Sem dúvida Paulo pensaria destes demónios duma maneira inteiramente diferente da anterior forma de pensar dos Gálatas . . . Por isso, todo este assunto toma um significado cósmico e espiritual. O contraste extremo à liberdade em Cristo, é a servidão a Satanás e aos maus espíritos” (Boice, p. 472).
De qualquer maneira, a astrologia era provávelmente uma parte principal disto. Em Deuteronómio 18:10, Deus chama videntes pagãos “prognosticadores” (‘observadores de tempos’—versão do Rei James). Enquanto Deus deu-nos os corpos celestes “para sinais, para estações, para dias e anos” (Génesis 1:14), as nações pagãs não resistiram atribuir poder e influência a estes objetos e aos tempos que marcavam. Deus avisou: “Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis com os sinais dos céus, porque com eles os gentios se atemorizam” (Jeremias 10:2, ARA).
Práticas supersticiosas de dias e estações dos Gálatas
É neste contexto que os Gálatas estavam guardando “dias, e meses, e estações, e anos” (BLH). Então vejamos aquilo a que Paulo se estava realmente a referir em Gálatas 4:10.
Na cronografia greco-romana [sistema de medição de tempo], a menor unidade maior do que um único dia é um grupo de nove ou dez dias. Na maioria dos sistemas, estes são os dez dias, respectivamente, da lua crescente, lua cheia e da lua minguante. Estes três grupos de dez dias abrangem um mês de 30 dias. Três meses fazem uma das quatro estações e quatro estações fazem um ano. Os anos são então agrupados em Olimpíadas de quatro anos ou épocas de tamanhos variados. Quando Paulo refere-se a dias, meses, estações e anos em Gálatas 4:10, ele está a descrever um método pagão de medição de tempo” (By Philosophy and Empty Deceit: Colossians as Response to a Cynic Critique [Por Filosofia e Vã Subtileza: Colossenses como Resposta a uma Crítica Cínica] por Troy Martin, 1996, pp. 129-130).
A facção judaizante evidentemente conseguiu fazer com que muitos na Galácia acreditassem que era necessário abraçar o sistema ritual judeu para ser cristão. Isso resultou em duas posições extremistas.
Alguns totalmente aceitaram o sistema ritual judeu. Mas outros, não quiseram abraçar o que eles entendiam como exigências excessivas do cristianismo, e parece que voltaram para o extremo oposto, alguns tornando a observar aspectos do paganismo. Paulo está repreendendo-os sobre isto. Ele diz-lhes: “Receio de vós que haja eu trabalhado em vão para convosco” (Gálatas 4:11). Ele estava tentando impedi-los que de novo se tornassem enredados nas suas práticas pagãs anteriores.
A partir do contexto, vemos que não é lógico concluir que Paulo estava a criticar a prática do Sábado e festas bíblicas, visto que nem mesmo são mencionados. O contexto demonstra que ele estava a falar de práticas pagãs, o que é algo completamente diferente.
Colossenses 2:16-17: É o Sábado obsoleto?
Uma terceira passagem dos escritos de Paulo, Colossenses 2:16-17, também é usada para apoio à pretensão de que guardar o Sábado já não é mais necessário. Aqui, Paulo escreveu, “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.
Um vez mais, examinemos o contexto e cenário histórico destes versículos para vermos se eles suportam esse ponto de vista.
Quis Paulo dizer que se aboliu o Sábado? Se assim foi, encontramos alguns problemas imediatos com esta interpretação. Para se aceitar esta posição, é difícil explicar como Paulo podia deixar o assunto tão confuso, ao não afirmar que estas práticas eram desnecessárias, quando estes versículos indicam que os Colossenses estavam, de fato, a observá-las. Para mais, a igreja Colossense era principalmente gentia (Colossenses 1:27; 2:13), por isso Paulo podia ter-se servido desta epístola para esclarecer que estas práticas não eram obrigatórias aos Cristãos gentios ou judaicos.
Todavia, Paulo não disse isso em parte alguma. No que respeita à prática de festivais, luas novas e Sábados, ele somente disse “ninguém vos julgue”, o que é muito diferente de se dizer que estas práticas são desnecessárias e obsoletas.
Paulo não estava discutindo práticas bíblicas
Aqui, uma questão mais básica a pôr-se, é se as práticas do Antigo Testamento estavam mesmo no centro da questão que Paulo estava a tratar. Estava Paulo a discutir precisamente se os Cristãos deviam guardar as leis relativas a carnes limpas e imundas, a festas bíblicas, ao Sábado semanal ou qualquer outra lei do Antigo Testamento?
Muitas pessoas assumem que “a cédula . . . cravada . . . na cruz” (Colossenses 2:14) era a lei de Deus e as condições que Ele deu no Antigo Testamento. Mas isto não é o que Paulo quis dizer. A palavra Grega traduzida por “cédula” é cheirographon, e este é o único lugar em que ela é usada na Bíblia. Ela significa um registo de escrito de dívida, ou o que nós hoje dizemos ser uma Nota de Débito. Na literatura apocalíptica contemporânea, esta palavra era usada para designar um “livro de registo de pecados”, isto é, uma contabilização escrita dos nossos pecados (visto que o pagamento de uma multa é devida por um pecado, como uma dívida).
Paulo não estava dizendo que a lei de Deus fora pregada na cruz. O que fora pregado lá, disse ele, foi o registo de todos os nossos pecados. Porque a lei de Deus exige a pena da morte pelo pecado (Romanos 6:23), este registo é o “que era contra nós nas suas ordenanças” (Colossenses 2:14), não a lei em si mesma.
A edição da Bíblia na Linguagem de Hoje torna esta passagem mais clara ao traduzir os versículos 13 e 14 assim: “Deus perdoou todos os nossos pecados e anulou a conta da nossa dívida, com os seus regulamentos que nós éramos obrigados a obedecer. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz” (Colossenses 2:13-14, BLH).
Como diz, não foi a lei, mas sim a conta da nossa dívida que era contra nós, que foi pregada na cruz, possibilitando-nos assim o perdão.
Isto torna-se claro quando lemos o resto deste capítulo: É evidente que outros assuntos estavam envolvidos, nada tendo a ver com as leis de Deus dadas no Antigo Testamento. Entre eles “principados e potestades” (versículo 15), “pretexto de humildade e culto dos anjos” (versículo 18), proibição de “não toques, não proves, não manuseies” (versículo 21) e “modo duro de tratar o corpo” (versículo 23, BLH).
Mais ainda, Paulo referiu-se aos ensinamentos falsos em Colossos como enraizados em “palavras persuasivas” (versículo 4), “filosofias e vãs subtilezas” e “tradição dos homens” (versículo 8). Também se referiu à submissão de “ordenanças” deste mundo (versículo 20) e aos “preceitos e doutrinas dos homens” (versículo 22).
Poderia Paulo, que em Romanos 7:12 disse que a lei é “santa e justa e boa”, possivelmente estar a referir-se, aqui, à mesma lei ou está ele a referir-se a um assunto inteiramente diferente?
Os Colossenses estavam sendo afetados pela infiltração do gnosticismo
Tomando em consideração o contexto histórico, a resposta torna-se clara. À medida que a Igreja cresceu e se propagou da Terra Santa para áreas pagãs, como a Ásia Menor, Itália e Grécia, ela teve de lidar com a infiltração progressiva do gnosticismo. A influência deste pensamento e prática é particularmente notada no Novo Testamento nos escritos de Paulo, Pedro e João.
O gnosticismo “era essencialmente uma atitude religiosa-filosófica, e não um sistema bem definido” (The Expositor’s Bible Commentary [Comentário Expositor da Bíblia] por Curtis Vaughan, 1978, Vol. 11, p. 166). Como tal, não era uma religião competitiva, mas antes uma ‘abordagem às crenças existentes’ de uma pessoa. O tema central do gnosticismo era que o conhecimento secreto (gnosis é a palavra Grega para “conhecimento”, daí o termo gnosticismo) podia melhorar ou aperfeiçoar a religião de uma pessoa.
“O seu ensinamento central era que o espírito é inteiramente bom, e a matéria é inteiramente má. A partir deste dualismo não-bíblico seguiam-se . . . erros fundamentais” (Zondervan NIV Study Bible, introdução a 1 João). Entre esses erros estavam as crenças de que “o corpo do homem, o qual é matéria, é por conseguinte mau. Ele deve ser contrastado com Deus, que é inteiramente espírito e por conseguinte bom”; a salvação “é a fuga do corpo, alcançada não pela fé em Cristo mas por conhecimento especial”; e, “posto que o corpo era mau, ele devia ser tratado com dureza. Esta forma ascética de gnosticismo é o pano de fundo de uma parte da epístola aos Colossenses.”
Além dessas crenças “o gnosticismo, em todas as suas formas, era caracterizado pela crença . . . em seres mediadores”. Mais, “o conhecimento do qual os gnósticos falavam . . . era um conhecimento adquirido através da experiência mística, não por apreensão intelectual. Era um conhecimento do oculto, permeado por superstições da astrologia e magia. Além disso era um conhecimento esotérico, aberto somente a quem tivesse sido iniciado nos mistérios do sistema gnóstico” (Expositor’s, p. 167).
Referências a ensinos gnósticos na carta de Paulo aos Colossenses
Todos estes elementos são vistos como tendo estado a influenciar a congregação em Colossos. É claro que Paulo estava a combater o conhecimento supostamente especial invocado pelos gnósticos, reclamando que estava a dar a conhecer aos Colossenses o mais alto conhecimento salvador de Deus Pai e de Jesus Cristo (Colossenses 1:9, 25-29; 2:2-3).
Paulo escreveu-lhes “que ninguém vos engane com palavras persuasivas” (versículo 4). Ele chamou a este conhecimento secreto nada mais que “filosofias e vãs subtilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (versículo 8). O conhecimento mais importante, escreveu Paulo, era o de Deus e de Cristo, “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (versículo 3).
Os defensores das heresias gnósticas incluíam pessoas que advogavam reverência a anjos e a outros poderes espirituais. Paulo avisou os Colossenses dos que se deleitavam em “culto dos anjos” (versículo 18). Ele disse que à luz do sacrifício reconciliador de Cristo, estes supostos “principados e potestades” espirituais eram inúteis como meios de acesso a Deus (versículos 10 e 15).
Paulo dirige a palavra ao mal orientado rigor ascético
Baseados na crença de que o espírito era bom e a carne má, estes mestres ensinavam ascetismo rigoroso, negando-se a qualquer prazer físico. Através da “disciplina do corpo” (Colossenses 2:23 [“rigor ascético”, ARA]), eles esperavam alcançar maior espiritualidade. Paulo descreveu as suas normas como “não toques, não proves, não manuseies” (versículo 21). Estas regras referiam-se somente a “coisas que perecem com o uso . . .”, escreveu ele, porque são baseadas “. . . segundo os preceitos e doutrinas dos homens” (versículo 22), em vez dos ensinamentos de Deus.
Devido à menção de anjos e hierarquias espirituais, este ascetismo gnóstico primitivo provavelmente integrou conceitos gentílicos com elementos de Judaísmo—possívelmente também incluindo a circuncisão (versículo 11). “É pois provável que a heresia Colossense fosse uma mistura de uma forma judaica extrema e de uma fase inicial de gnosticismo” (Zondervan NIV Study Bible, introdução a Colossenses).
Considerando ensinamentos específicos que Paulo abordou, parece que um ou mais ramos do judaísmo foram influenciados pelo gnosticismo e infiltraram a congregação de Colossos, ensinando uma forma extrema de Judaísmo ascético misturado com crenças gnósticas. A orientação ascética defendida por esses falsos mestres levou-os a condenar aqueles cujas observâncias religiosas não estivessem ao nível dos seus padrões ascéticos espirituais. Daí o cuidado de Paulo ao prevenir os Colossenses: “portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber . . .” (versículo 16).
Os Colossenses estavam a ser julgados como―e não se―guardavam o Sábado
Notem que enquanto a versão Almeida Revista e Corrigida [ARC] diz “pelo comer, ou pelo beber” no versículo 16, a Nova Versão Internacional [NVI] diz “pelo que vocês comem ou bebem”, e a Almeida Revista e Atualizada [ARA] diz “por causa de comida e bebida”. Isto está ligado aos festivais e Sábados mencionados a seguir.
Na verdade, os Colossenses não estavam sendo julgados por judeus por não observarem festivais, luas novas e Sábados, tal como muitos presumem hoje em dia. Ao contrário, eles estavam sendo julgados por gnósticos de rigor ascético pelo fato de que eles estavam observando essas ocasiões—e, em especial pela forma como os observavam, aparentemente comendo e bebendo de um modo alegre e festivo.
Os Colossenses, sabendo que estes dias eram festivais de Deus —ocasiões festivas e felizes—comemoravam estes dias de uma forma que era totalmente contrária à metodologia ascética de abnegação. Eles também entendiam que os Sábados e os festivais anuais são claramente ordenados no Antigo Testamento. (As luas novas, deve notar-se, eram usadas como marcadores bíblicos do tempo, mas nunca foram declaradas como Sábados sagrados, nem são mencionadas entre os festivais anuais sagrados.)
O gnosticismo também estava interessado com as estrelas e planetas, mencionados por Paulo como “princípios elementares deste mundo” (versículo 8, NVI). Isto provavelmente também teria influenciado a observância dos gnósticos das festas, luas novas e Sábados, visto que o calendário a governar esses dias era determinado pelos movimentos dos corpos celestes.
Paulo, ao precaucionar os membros Colossenses a não se deixarem julgar pela maneira como observavam as celebrações das festas, luas novas e Sábados, não pôs em dúvida se eles deveriam ou não ser guardados. A implicação óbvia destes versículos é de que estes Cristãos gentios estavam realmente a celebrar estes dias, e Paulo não lhes disse de forma alguma que desistissem.
O assunto em questão é o que os Cristãos não devem ser criticados por observar estes dias de um modo festivo. Paulo avisava esses membros para se não deixarem julgar por outros com esses padrões ascéticos enganosos no que comiam ou bebiam ou como observavam os Sábados ou festas (versículo 16).
O contexto mais amplo de Colossenses 2:16 é o ascetismo crescendo do gnosticismo primitivo, e não uma discussão de quais leis são obrigatórias para os Cristãos.
Os dias de adoração de Deus “são sombras de coisas futuras”
O que Paulo quiz dizer com a afirmação em Colossenses 2:17, como traduzida pela Nova Versão Internacional, que o Sábado e as festas bíblicas “são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo”? Estava Paulo a referir-se que eram irrelevantes e obsoletos porque Jesus Cristo era “a realidade” do que estes dias prefiguravam?
Na realidade, Paulo disse “são sombras de coisas futuras” (“daquilo que virá”, BLH), indicando que elas têm uma realização futura. A palavra grega traduzida por “futuras” (ou “que virá”) é mello, querendo dizer “estar prestes a fazer ou sofrer alguma coisa, estar a ponto de, estar prestes de” (The Complete Word Study Dictionary: New Testament [O Dicionário Completo de Estudo de Palavras: Novo Testamento] por Spiros Zodhiates, 1992, p. 956).
O Vine’s Expository Dictionary of Biblical Words [Dicionário Expositório de Palavras Bíblicas] por Vine, semelhantemente define mello como “estar prestes (a fazer alguma coisa), muitas vezes indicando a necessidade e por conseguinte a certeza do que está por acontecer” (W.E. Vine, “Come, Came” [“Vem, Veio”], p. 109).
Paulo usa a mesma construção fraseológica em Efésios 1:21, declarando que Jesus Cristo está “sobre todos os governos celestiais, autoridades, forças e poderes. Ele tem um título que está acima de todos os títulos das autoridades que existem neste mundo e no mundo que há de vir” (BLH). Ele contrapõe a era presente [este mundo, ou este século] com uma outra “para vir” [Gr: mello], mostrando que há claramente uma realização futura.
Esta realização futura também é clara em Colossenses 2:17 ao expressar que estas coisas “são sombras”. A palavra grega esti aqui traduzida como “são”, está no presente ativo do indicativo e quer dizer “ser” ou “é” (Zodhiates, p. 660). Para Paulo querer dizer que o Sábado e as festas foram cumpridas e se tornaram obsoletas em Jesus Cristo, era necessário que ele dissesse “foram sombras” e tivesse usado expressão completamente diferente.
A escolha da expressão que Paulo usa torna claro que o Sábado e as festas “são sombras” de coisas que estão ainda por acontecer e não “foram sombras” de coisas realizadas e tornadas obsoletas por Jesus Cristo.
Deus deu-nos atos físicos para ensinar lições espirituais
Há quem suponha que certos atos físicos relacionados com adoração—porque são representações ou símbolos de maior verdade espiritual—foram “cumpridos por Cristo” no Novo Testamento e são, por conseguinte, obsoletos e desnecessários. Tais pessoas incluem nesta categoria, o Sábado e outras festividades bíblicas, baseadas na explicação de Paulo de que tais coisas “são sombras de coisas futuras”.
Mas este raciocínio é defeituoso. Só porque alguma coisa é uma sombra, uma representação ou símbolo, tal não quer dizer que a sua importância esteja diminuída. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamentos estão cheios de símbolos e acções simbólicas ordenados por Deus para nos ensinarem lições espirituais importantes.
O batismo é um ato simbólico representando uma grande verdade espiritual, o funeral do nosso velho eu, e viver uma vida nova (Romanos 6:3-4), no entanto é-nos ordenado que sejamos batizados (Atos 2:38). O pão e vinho da Páscoa são símbolos da relação espiritual vital que temos com Jesus Cristo, todavia somos claramente instruídos a tomar parte da cerimónia (1 Coríntios 10:16).
A imposição das mãos (Hebreus 6:2), a unção com azeite (Tiago 5:14), o lava-pés (João13:14), o tomar parte do pão ázimo (1 Coríntios 5:6-8) e outras acções físicas são comandadas a serem observadas no Novo Testamento, não por causa de serem maiores que as coisas que simbolizam, mas para reforçar e realçar o nosso entendimento espiritual quando as praticamos. Ao fim e ao cabo, nós somos seres humanos físicos à procura de compreensão espiritual. Deus deu-nos atos físicos e símbolos para nos ajudar a melhor entender as lições espirituais.
Estes exemplos mostram que símbolos e acções simbólicas não são estritamente limitados à adoração física no Antigo Testamento, mas são claramente ordenados no Novo Testamento como elementos importantes da nossa adoração. São lembranças vitais de importantes verdades espirituais, como Paulo reconheceu (1 Coríntios 11:23-26). O mesmo é verdade do Sábado. Jesus Cristo, através das Sua acções e ensinamentos no Sábado, mostrou que o descanso do Sábado é um tipo—uma antecipação—da vinda da grande era messiânica de paz, descanso, liberdade e cura.
O ponto de Paulo em Colossenses 2:16-17, em dizer que as festas e os sábados são sombras de coisas futuras, era que os cristãos não deveriam deixar que alguém os levasse a concentrar a atenção excessivamente em minúcias de regulamentação e de rigor na observação destes dias, ao ponto que eles percam o foco do maravilhoso significado destes dias—o plano de Deus que eles representam.
Quanto à frase específica no versículo 17 “a realidade, porém, encontra-se em Cristo” (NVI) ou “a realidade é Cristo” (BLH), não há nemhuma palavra no original texto grego para a palavra “encontra-se” (NVI) ou “é” (BLH), e por isso a revisão Almeida Revista e Corrigida tem a palavra “é” em tipografia itálica, significando que foi adicionada pelos tradutores. Adicionalmente, a palavra grega que foi traduzida como “realidade” neste versículo é a palavra soma, que é traduzida corretamente como “corpo” pela revisão Almeida Revista e Corrigida, assim como pela Almeida Revista e Atualizada. Também é traduzida corretamente como “corpo” no versículo 19. Assim, esta frase literalmente diz “. . . mas o corpo de Cristo.” Este significado está relacionado com o versículo 19, o qual critica os gnósticos de “não (estarem) ligado(s) à cabeça, da qual todo o corpo . . . vai crescendo em aumento de Deus.” A referência aqui é claramente a Cristo “a cabeça do corpo da igreja” (Colossenses 1:18).
Tomem nota que Paulo tinha começado a sua declaração com “ninguém vos julgue . . .” como devem celebrar os festivais. Ele conclui o mesmo pensamento com “. . . mas o corpo de Cristo.” Em outras palavras, não permitam que essas outras pessoas julguem a vossa forma de observar esses dias, mas, aliás, deixem a Igreja de Deus, da qual Cristo é a Cabeça vivente, julgar a este respeito.
Em Colossenses 2:16-17, Paulo não está discutindo de forma alguma a permanência ou transitoriedade do Sábado. Na realidade, Paulo nem cita o Antigo Testamento em parte alguma de Colossenses. Ele usa a palavra Grega nomos, para “lei”, dezenas de vezes em outras epístolas, mas nem uma só vez em Colossenses. Por quê? Porque o Antigo Testamento e a lei de Deus simplesmente não eram a questão.
Longe de negar a observância do Sábado, a instrução de Paulo aos Colossenses, escrita cerca de 62 EC (Era Comum), na realidade afirma que os Cristãos gentios estavam de fato a observar o Sábado mais de 30 anos depois da morte de Cristo e que o Sábado é uma importante lembrança de verdades espirituais que são vitais para nós ainda nos dias de hoje.
O que o registo histórico no livro dos Atos demonstra?
De todos os escritos de Paulo, as três passagens examinadas antes neste capítulo são as que vulgarmente são usadas para provar que ele acabou com o guardar do Sábado. Contudo, como vimos, duas delas nem mesmo mencionam o Sábado, e, a terceira, confirma que os crentes gentios na verdade guardavam o Sábado, posto que Paulo lhes diz para não se deixarem julgar em como o guardar.
Mas, para além das palavras de Paulo, as suas acções mostraram que ele nunca pensou em abolir ou mudar o Sábado e que ele próprio o guardou.
O livro de Atos 13 regista que, 10 a 15 anos depois de Paulo ser miraculosamente convertido, ele e os seus companheiros viajaram para Antioquia, na Ásia Menor, onde entraram “na sinagoga, num dia de Sábado” (versículo 14). Depois, sendo convidado para falar à congregação, ele dirigiu-se a prosélitos Judeus e a gentios (versículo 16), descrevendo como a vinda de Jesus Cristo fora profetizada através das Escrituras do Antigo Testamento.
A sua mensagem foi recebida tão entusiasticamente que, “saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas” (versículo 42). Note-se que os gentios na audiência queriam que Paulo os ensinasse mais acerca de Cristo no Sábado seguinte. Por quê? Porque estes gentios já claramente estavam guardando o Sábado com os Judeus na sinagoga!
Qual foi a resposta de Paulo ao pedido dos gentios? “No sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (versículo 44). Se Paulo não acreditasse no Sábado, podia facilmente ter-lhes dito para virem no dia seguinte ou em outro qualquer dia e ele ensiná-los-ia. Porém, ele esperou até ao Sábado seguinte, quando se “ajuntou quase toda a cidade”, igualmente Judeus e gentios, para ouvir a sua mensagem!
Os gentios da cidade, ouvindo que Paulo tinha sido encarregado de pregar o evangelho aos gentios, “. . . alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” (versículos 45-48). O Sábado, ordenado por Deus, era o dia normal de descanso, assembleia e instrução no modo de viver de Deus.
Cerca de 5 anos mais tarde, na área que é hoje conhecida por Grécia, Paulo e Silas “chegaram a Tessalónica, onde havia uma sinagoga de judeus. E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dos mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo” (Atos 17:1-3). Aqui, alguns 20 anos depois da morte e ressurreição de Jesus, o costume de Paulo era ainda ir no Sábado à sinagoga, para lá discutir as Escrituras e ensinar acerca de Jesus Cristo!
Ele continuou a ensinar judeus e gentios: “E alguns deles creram e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos [gentios] religiosos e não poucas mulheres distintas” (Atos 17:4). Paulo, que fora especificamente encarregado de pregar o evangelho aos gentios (Atos 9:15; 13:47), ensinou os gentios nas sinagogas no Sábado!
Vários anos depois ele foi à cidade grega de Corinto, onde “todos os sábados disputava na sinagoga e convencia a judeus e gregos” (Atos 18:4). Mais tarde, ele foi a Éfeso, na Ásia Menor, onde “entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus” (Atos 19:8).
O livro dos Atos dos Apóstolos foi escrito à volta de 63 EC, por Lucas, pouco tempo antes da execução de Paulo em Roma, e cobre a história de mais de 30 anos da Igreja do Novo Testamento. Este livro mostra que, durante um período de muitos anos, Paulo repetidamente ensinou Judeus e gentios no Sábado. Conquanto ele fosse o apóstolo para os gentios, ele nunca lhes sugeriu que o Sábado era obsoleto ou desnecessário.
Para alguém dizer que o apóstolo Paulo defendeu a abolição ou anulação do Sábado, não só é necessário distorcer as palavras de Paulo fora do seu contexto para directamente contradizer as suas outras afirmações, como também é necessário ignorar ou distorcer o depoimento de Lucas, uma testemunha ocular, acerca da história da Igreja durante esse tempo. O livro de Atos não contém evidência de que o Sábado fosse abolido ou alterado durante tal tempo.
Em acção judicial contra ele, Paulo assegurou a quantos o ouviram que ele creu na lei e nada fez contra ela (Atos 24:14; 25:8). Ele disse que a lei de Deus não é anulada ou abolida pela fé, mas, “antes estabelecemos a lei” (Romanos 3:31).
Ele concluiu, “A circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus” (1 Coríntios 7:19). Essa é a sua declaração inequívoca: Obedecer os Mandamentos de Deus é importante. Eles são de vital importância para o nosso relacionamento com Deus.
Paulo, ao observar o Sábado, estava somente a fazer o que ele dizia que outros fizessem: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (1 Coríntios 11:1). Ele observava o Sábado tal como o seu Mestre fizera.
Paulo tinha prazer na lei de Deus
O próprio Paulo disse, “tenho prazer na lei de Deus” (Romanos 7:22), e não disse que a estava a abolir. Ele afirmou: “A lei é santa; e o mandamento santo, justo e bom” (Romanos 7:12).
Ele não viu o Novo Testamento a substituir o Antigo. Afinal de contas, no seu tempo, não havia escrituras do Novo Testamento—elas não foram compiladas até várias décadas depois da sua morte. Paulo citou do que chamamos Antigo Testamento dezenas de vezes nos seus escritos, aceitando-o completamente e usando-o como uma autoridade e guia para viver (Romanos 15:4; 2 Timóteo 3:15).
A Igreja do Novo Testamento simplesmente continuou com as