O Surgimento de um Falso Cristianismo
Cristo deu uma advertência nefasta―de que muitos viriam em Seu nome, ensinariam uma mensagem diferente e enganarão a muitos. Eles iriam criar uma imitação do verdadeiro Cristianismo, iniciando uma religião que em grande parte suplantaria a verdadeira Igreja.
Jesus Cristo disse para Seus apóstolos fazerem discípulos em todas as nações, batizando-os em Seu nome. A maioria das pessoas que está familiarizada com a Bíblia percebe que os apóstolos abraçaram zelosamente essa missão. Seus convertidos foram, pela primeira vez, chamados de cristãos na cidade de Antioquia (Atos 11:26). Ao longo dos séculos, um grande número de pessoas nasceram, ou se converteram, dentro das centenas de denominações que viriam a ser conhecidas, coletivamente, como “Cristianismo”—a ponto que se tornar, e continua sendo, uma das religiões mais populares e dominantes do mundo.
As pessoas presumem que todos, ou pelo menos quase todos, que carregam o nome de cristãos sigam as crenças, ensinamentos e práticas de Jesus Cristo. Mas a Bíblia nos diz que nem todo mundo que aceita o nome de Cristo é realmente um cristão!
Jesus predisse que alguns clamariam Seu nome, mas O negariam por suas ações. Ele disse que O chamaria de “Senhor, Senhor”, mas não fariam o que Ele manda (Lucas 6:46).
Cristo e seus apóstolos falavam sobre os falsos profetas, falsos apóstolos e falsos irmãos. Eles revelaram que duas religiões opostas iriam surgir; ambas reivindicando cristãs. Uma—a verdadeira Igreja fundada por Jesus—seria guiada pelo Espírito de Deus e permaneceria fiel aos Seus ensinamentos. A outra—guiada e influenciada por um espírito diferente—aceitaria o nome de Cristo, mas iria distorcer Seus ensinamentos para criar uma falsificação convincente da verdadeira Igreja de Deus.
Ambas usariam o nome de Cristo e reivindicariam Sua autoridade. Ambas iriam realizar obras que realmente pareceriam boas e corretas. E, ambas clamariam seguir os ensinamentos verdadeiros de Cristo. Mas apenas uma poderia representar fielmente o Seu fundador, Jesus Cristo. A outra cativaria as mentes e corações dos seres humanos, associando o nome de Cristo a costumes religiosos e doutrinas, sem base bíblica, que Jesus e seus apóstolos nunca praticaram nem aprovaram.
Várias vezes, os apóstolos alertaram para que os seguidores de Jesus tivessem cuidado com os falsos mestres que iriam introduzir falsas crenças cristãs. O próprio Jesus advertiu: “Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome . . . e enganarão a muitos” (Mateus 24:4-5).
O Novo Testamento apresenta um esboço conciso das raízes históricas dessas duas religiões que professam ser cristãs—uma verdadeira e a outra falsa. Os apóstolos de Cristo descreveram a origem e as características fundamentais de cada uma.
Nós já examinamos a descrição dos apóstolos sobre a Igreja fundada por Jesus. Agora vamos analisar o registro deixado por outra religião supostamente cristã—a qual iria deturpar e corromper a verdade e se desenvolveria até se tornar muito mais poderosa e influente que a pequena Igreja que Jesus havia prometido nunca morrer.
Ensinando as tradições dos homens
Qual é a origem dos ensinamentos e práticas da maioria das igrejas? A maioria de seus membros presume que se originam da Bíblia ou do próprio Jesus Cristo. Mas será que é mesmo?
Jesus ordenou aos Seus apóstolos que ensinassem aos outros exatamente o que Ele tinha ensinado—“ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mateus 28:20, NVI). Ele condenou a substituição dos mandamentos de Deus pela tradição e arrazoamento humano. Ao falar aos fariseus, líderes religiosos judeus de Seus dias, Ele disse: “Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens . . . Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição” (Marcos 7:8-9).
Jesus ensinou que a Sua Igreja deve guardar os mandamentos de Deus: “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mateus 19:17). Ele advertiu: “muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos [pregamos] nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:22-23). Ele sabia que falsos mestres se levantariam para rejeitar os mandamentos de Deus com um evangelho distorcido e sem lei—de iniquidade!
Como Jesus, os apóstolos enfaticamente ensinaram a obedecer a Deus. Pedro e os outros apóstolos arriscaram suas vidas para deixar claro que “importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29). Paulo expressou o mesmo compromisso que compartilhava com os outros apóstolos—de uma vida de obediência. “Por meio dele [Cristo] e por causa do seu nome, recebemos graça e apostolado para chamar dentre todas as nações um povo para a obediência que vem pela fé” (Romanos 1:5, NVI).
Paulo mais tarde alertou aos membros da congregação em Colossos para conservar o que ele lhes havia ensinado: “Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai nele, arraigados e edificados nele e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, crescendo em ação de graças” (Colossenses 2:6-7).
Seguindo o exemplo de Cristo, Paulo advertiu aos colossenses para não aceitar as tradições como substitutos dos mandamentos de Deus: “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8; comparar Marcos 7:8-9, 13).
Por que Jesus Cristo e os apóstolos emitiram esses avisos urgentes de evitar as tradições dos homens?
A rebeldia de dentro da Igreja
Enquanto os apóstolos ainda se esforçavam para estabelecer mais congregações de crentes entre as nações, surgiu um fenômeno, que, eventualmente, produziria uma religião cristã alternativa e superficial—mas seria uma muito diferente da Igreja que Jesus e seus apóstolos estabeleceram.
As novas e diferentes doutrinas foram introduzidas sutilmente. Alguns começaram a subverter a Igreja, desafiando e contradizendo os ensinamentos dos apóstolos de Cristo. Paulo advertiu: “Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância” (Tito 1:10-11).
Para contrapor a esta tendência, Paulo instruiu ao companheiro e presbítero Tito a analisar cuidadosamente o conhecimento e o caráter de alguém antes de considerar sua ordenação: “Por ser encarregado da obra de Deus, é necessário que o bispo seja irrepreensível . . . e apegue-se firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela” (versículos 7, 9, NVI).
Cada vez mais, “falsos apóstolos” começaram a contradizer e minar os ensinamentos dos verdadeiros apóstolos de Cristo. Paulo advertiu a igreja em Roma: “Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles. Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos ingênuos. Todos têm ouvido falar da obediência de vocês, por isso estou muito alegre; mas quero que sejam sábios em relação ao que é bom, e sem malícia em relação ao que é mau” (Romanos 16:17-19, NVI).
Os líderes religiosos oponentes, disfarçados como se fossem ministros de Cristo, começaram a ensinar suas próprias doutrinas falsas “em oposição aos” apóstolos de Cristo e outros de Seus servos fiéis. No início, eles eram predominantemente de origem judaica. Mas então surgiram os falsos mestres de pessoas de outras origens no seio da Igreja. As doutrinas subversivas que viriam a ser as mais influentes eram uma mistura equivocada de filosofias judaicas e pagãs sintetizada com o misticismo popular da época.
Simão Mago foi um desses falsos mestres mencionados no início das Escrituras. Depois de seu batismo por Filipe, Simão tentou comprar o ofício de apóstolo de Pedro, na esperança de conseguir o poder de conceder às pessoas o Espírito Santo. Motivado pela ganância de poder e influência, ele forjou sua própria conversão e conseguiu ser batizado para parecer cristão (Atos 8:9-23). Mais tarde, fontes históricas indicam que ele havia mesclado vários elementos do paganismo e misticismo em uma filosofia cristã falsa.
Uma tendência perigosa havia sido estabelecida. Em breve “falsos apóstolos”, “falsos mestres” e “falsos irmãos” surgiriam em abundância.
Um falso cristianismo havia nascido. E seguiria crescendo. Em suas palavras de despedida aos anciãos da igreja de Éfeso, Paulo declarou: “Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós” (Atos 20:29-31).
Outro evangelho ganha espaço
O impacto dos ensinamentos distorcidos devastou a Igreja primitiva. Por exemplo, os cristãos na província romana da Galácia se voltaram em massa dos ensinamentos do apóstolo Paulo para um evangelho corrompido e falsificado, engenhosamente inventado e fomentado por esses falsos apóstolos.
Paulo descreveu a abordagem que eles usavam e o efeito que esses falsos mestres causaram aos cristãos da Galácia: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gálatas 1:6-7, ARA).
Os irmãos nessa área estavam sendo arrastados para uma das muitas seitas que compunham esse emergente e falso Cristianismo. Paulo teve de lidar com conflitos religiosos gerados por elementos judaicos e gentios nas congregações da Galácia.
Esses enganadores astutos não rejeitavam completamente o evangelho ensinado por Paulo. Eles simplesmente deturpavam alguns aspectos dele. Em seguida, eles seduziam os cristãos da Galácia a aceitar seu evangelho— uma mistura fatal de verdade e engano. Pois, ele continha verdade suficiente para parecer justo e cristão, mas também continha engano suficiente para impedir que qualquer um que o aceitasse recebesse a salvação.
Observe a efusiva condenação de Paulo a esse “outro” evangelho: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo: se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (versículos 8-9).
Um evangelho sem lei
Jesus advertiu Seus apóstolos que isso aconteceria: “E surgirão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará” (Mateus 24:11-12). Jesus explicou que a falta de lei [a iniquidade], elemento chave na mensagem dos falsos mestres, tornaria suas ideias atraentes e populares. O desrespeito à lei de Deus finalmente se tornaria a base de um Cristianismo falsificado, popular e bem sucedido.
Os falsos profetas transmitiriam sua mensagem e doutrinas reconhecendo verbalmente a Jesus como “Senhor” enquanto se recusavam a obedecê-Lo (Lucas 6:46). O próprio Jesus advertiu sobre essa prática astuta e enganosa: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mateus 7:15).
Jesus deixou claro que os mestres da iniquidade [sem lei], por fora realmente pareceriam como ovelhas inocentes realizando atos religiosos devotos, mas não são Seus apóstolos ou servos: “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:22-23).
A lei de Deus: O campo da batalha religiosa
A controvérsia sobre a lei de Deus irrompeu no seio da Igreja, logo que os primeiros gentios se converteram. Certos crentes judeus queriam forçar a circuncisão e outras exigências físicas sobre os gentios. Eles exigiam que os gentios convertidos fossem fisicamente circuncidados para receberem a salvação (Atos 15:1).
Em uma grande conferência em Jerusalém, os apóstolos e os anciãos determinaram que a circuncisão não deve ser considerada um requisito para a salvação dos gentios (Atos 15:2, 5-10). Pedro salientou que Deus havia recentemente dado o Espírito Santo a vários gentios incircuncisos, o que demonstra a Sua vontade sobre o assunto (versículo 8, Atos 11:1-4, 15-18).
Os mesmos judeus também exigiram que os gentios observassem as cerimônias do templo e os rituais, que apontavam para as grandes verdades espirituais, como o sacrifício de Cristo. Os apóstolos insistiram que o sacrifício de Cristo foi suficiente para o perdão dos pecados pela graça de Deus (Hebreus 7:26-27).
Os sacrifícios e rituais no templo eram apenas instituições temporárias, até o sacrifício do verdadeiro “Cordeiro de Deus” (João 1:29) e Sua obra na vida dos crentes. Os apóstolos ensinaram que isso não era mais necessário (Atos 15:11, Hebreus 9:1-15) porque eles passavam “de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma” (Hebreus 9:10, ARA).
Mas os apóstolos nunca consideraram as leis espirituais de Deus, resumidas nos Dez Mandamentos, como sendo da mesma categoria de “ordenanças da carne”. Eles sempre apoiaram a obediência aos mandamentos de Deus. Paulo deixou isso bem claro: “A circuncisão é nada, e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus” (1 Coríntios 7:19). E concluiu: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei” (Romanos 3:31).
A visão distorcida da graça de Deus
Assim como Jesus havia predito, mestres inescrupulosos se lançaram sobre os ensinamentos de Paulo e dos outros apóstolos para distorcer seu significado (2 Pedro 3:15-16). Ao distorcer palavras dos apóstolos, primeiro sobre a graça e, em seguida, sobre essas “ordenanças da carne” que não eram mais necessárias, eles encontraram uma forma de justificar seu comportamento contrário à lei: “Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem [comportamento vergonhoso] a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (Judas 4, ARA).
Para eles, a graça justificava o pecado—a transgressão da lei de Deus— permitindo-lhes desconsiderar os ensinamentos bíblicos que não apreciavam. Eles distorciam a explicação de Paulo, de que não podemos ganhar a salvação com nossas próprias “obras”, e a usavam como desculpa para não fazerem nenhum esforço para obedecer a Deus.
Pedro identificou o real problema deles. Eles “menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores” (2 Pedro 2:10, ARA). A característica dominante desses enganadores era sua ânsia de atacar verbalmente e questionar os apóstolos e os anciãos que eram os verdadeiros pastores do rebanho de Deus.
Como conseqüência, disse Pedro, eles estavam “abandonando o reto caminho, se extraviaram . . . porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção” (versículos 15, 18-19, ARA).
Agora, um problema ainda mais sinistro se disseminava entre as congregações espalhadas do povo de Deus. Os falsos mestres, ao invés de tentar impor mais leis sobre os gentios, começaram a explorar a misericórdia de Deus―a graça de Deus―ao defender a ideia de que os cristãos foram liberados da lei e não precisam mais obedecê-la. No entanto, Deus diz que transgredir Sua lei é pecado (1 João 3:4).
Esses mestres apresentavam a lei de Deus de forma inapropriada, como um fardo desnecessário. João respondeu: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (1 João 5:3, ARA).
Contrário à ideia de ser liberado da lei, Tiago chama os mandamentos de Deus de “a lei real” e “lei da liberdade” (Tiago 2:8-12). Deus projetou a Sua lei para garantir a liberdade das consequências de males como o adultério, assassinato, roubo, fraude e cobiça.
É o pecado, não a lei de Deus, que nos escraviza (Romanos 6:6). Tornamos-nos livres da escravidão do pecado ao obedecer a Deus (versículo 17). Paulo explica que a obediência e a justiça são inseparáveis. “Porque não são os que ouvem a Lei que são justos aos olhos de Deus; mas os que obedecem à Lei, estes serão declarados justos” (Romanos 2:13, NVI).
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Satanás, o diabo: O mestre enganador
A Escritura revela que aqueles que promoveram esses princípios sem lei foram influenciados por um poder espiritual invisível, Satanás, o diabo. Paulo disse: “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (2 Coríntios 11:13-15).
Satanás odeia a lei de Deus. Ele é um mestre enganador. Naturalmente, ele não poupará esforços para se infiltrar na Igreja fundada por Cristo.
Para cumprir o seu propósito, Satanás usa pessoas para enganar outras pessoas. É fácil para ele influenciar os seres humanos que desejam ensinar aos outros quando esses estão motivados pela ambição pessoal. Isto é especialmente verdade quando lhes falta uma compreensão adequada das Escrituras. Satanás simplesmente se aproveita do desejo deles de serem mestres espirituais. Ele seduz as pessoas suscetíveis a prestarem homenagem a Cristo só com palavras enquanto inventam seu próprio conjunto de novas crenças e ignoram ou desobedecem a partes das leis de Deus.
Paulo disse a Timóteo para advertir “a alguns que não ensinem outra doutrina” e que tenham um “coração puro”, “uma boa consciência” e “uma fé não fingida . . . Do que desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas, querendo ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1 Timóteo 1:3, 5-7).
Líderes religiosos sinceros, mas equivocados, podem aceitar e aceitam doutrinas que, na mente deles, lhes permite ignorar alguns dos mandamentos de Deus. Em seguida, eles persuadem aos outros a acreditar como eles acreditam. Infelizmente, por influência do diabo, eles se convencem de que seus conceitos equivocados são justos―que Deus está satisfeito com eles. Eles acreditam nas falsas doutrinas que ensinam. Embora sinceros, eles estão sinceramente equivocados.
Paulo diz: “Ora, o aparecimento do iníquo [um futuro mestre que irá defender doutrinas contrárias às leis de Deus] é segundo a eficácia de Satanás . . . com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira” (2 Tessalonicenses 2:9-11). Provavelmente nenhum desses mestres enganados percebe que na realidade estão defendendo o ponto de vista de Satanás.
No entanto, ao criar uma falsa religião cristã―uma que não é totalmente diferente da verdadeira Igreja, mas que rejeita alguns dos ensinamentos bíblicos essenciais que conduzem à vida eterna―Satanás está tentando frustrar o plano de Deus para a salvação da humanidade. Lembre-se, Jesus disse: “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mateus 19:17). E é exatamente isso que o diabo quer evitar. Ele difunde um Cristianismo sem lei que ensina que podemos obedecer seletivamente―ou mesmo ignorar―os mandamentos de Deus.
A iniquidade [transgressão da lei] em graus variados é o ponto central das doutrinas falsificadas de Satanás. O propósito de Satanás é convencer as pessoas de que estão servindo a Cristo, enquanto ele impede essas mesmas pessoas a se salvarem porque confunde seu entendimento do que é o pecado ―assim praticarão pelo menos um certo grau de inquidade [transgridem a lei].
Para cumprir o seu propósito, Satanás explora a natureza humana. Ele manipula as pessoas para que acreditem em seus enganos (1 João 5:19, Apocalipse 12:9). Satanás mantém apenas o suficiente da verdade em suas doutrinas para convencer as pessoas que estão seguindo a Cristo. Mas ele introduz erro suficiente para impedi-las de viver da maneira que Deus exige, como condição para herdarem a vida eterna.
Por que a desobediência é atraente para a natureza humana?
Satanás está tendo sucesso em enganar a humanidade por uma boa razão. O apóstolo Paulo explica que a mente natural do homem―a mente que não é guiada pelo Espírito de Deus―quase sempre não consegue ver o propósito por trás das leis de Deus. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14).
A maioria das pessoas não é abertamente hostil a muitas das leis de Deus. Geralmente, elas reconhecem que atos como assassinato e roubo são errados. No entanto, elas são hostis―talvez sem conseguir reconhecer essa hostilidade arraigada―às leis que desafiam a sua própria forma pessoal e natural de pensar. Nesse sentido, a ausência de lei [iniquidade] atrai as pessoas.
Paulo explica porque a desobediência pode ser atraente aos nossos mais básicos instintos: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Romanos 8:7). A mente carnal, ou natural, não só carece de discernimento espiritual como também se ofende com a autoridade que Deus expressa em Suas leis. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz assim esse versículo: “As pessoas que têm a mente controlada pela natureza humana se tornam inimigas de Deus, pois não obedecem à lei de Deus e, de fato, não podem obedecer a ela”.
Nós chamamos esta tendência pecaminosa de natureza humana―uma combinação da fraqueza humana e atitudes adquiridas da influência de Satanás sobre a pessoa. Satanás explora a natureza humana. Ele usa seus falsos mestres para convencer outras pessoas que estão “liberados” das leis de Deus, assim justificando a sua tendência de serem hostis para com as leis de Deus. Então, ao invés de abandonar uma vida de iniquidade [transgredindo a lei], aqueles que são desviados por esse engano continuam pecando. E acreditando que suas ações desobedientes são permitidas por Deus, eles não conseguem enxergar, pelo menos em algumas de suas crenças e comportamentos, a seriedade de suas ações pecaminosas.
Porém, o apóstolo Tiago deixa claro que essa visão e atitude em relação à lei real de Deus são completamente errôneas: “Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto tornou-se culpado de todos” (Tiago 2:10). O contexto mostra que Tiago está falando dos Dez Mandamentos (versículos 8-9, 11). A Lei fundamental de Deus é composta de dez pontos, e Ele requer que todos sejam observados―na letra e no espírito.
A apostasia da verdade começa
Cristo elogiou a igreja em Éfeso por se recusar a seguir os falsos apóstolos que tentavam tirar proveito de sua natureza humana e seduzi-los: “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são e tu os achaste mentirosos” (Apocalipse 2:2).
Mas nem todos em todas as congregações seguiram o exemplo da igreja em Éfeso. Muitas aceitaram os ensinamentos dos falsos apóstolos e voltaram a pecar. É por isso que Pedro escreveu: “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2 Pedro 2:20-21).
As pessoas começaram a afastar-se dos ensinamentos dos verdadeiros apóstolos de Cristo. Elas aceitaram as filosofias dos falsos mestres. Pedro havia advertido explicitamente que isso ocorreria. Ele disse que falsos mestres se levantariam “entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade” (2 Pedro 2:1-2, ARA).
Pedro antecipou que não apenas alguns―mas muitos―cristãos se desviariam da verdade para seguir doutrinas que eram mais atraentes para a mente carnal. Mais tarde João confirma que isso foi, de fato, o que aconteceu: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 João 2:19).
Barnabé e Paulo encontraram um falso profeta determinado a afastar as pessoas da verdade. “E, havendo atravessado a ilha até Pafos, acharam um certo judeu, mágico, falso profeta, chamado Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo . . . Mas resistia-lhes Elimas, o encantador (porque assim se interpreta o seu nome), procurando apartar da fé o procônsul” (Atos 13:6-8).
Em outras ocasiões, o problema estava com os falsos irmãos (Gálatas 2:4). Paulo se refere a suas provações “em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos” (2 Coríntios 11:26).
Esses falsos cristãos não haviam se tornado apenas uma verdadeira ameaça para a segurança e eficácia de Paulo, mas também haviam se tornado parte significativa da visível comunidade cristã. Alguns podem até ter finalmente saído do povo especial de Deus, mas continuaram chamando-se cristãos. Outros se tornaram membros de seitas novas e supostamente libertadas, que mantinham o nome de cristãos. Provavelmente, outros ainda permaneceram na comunhão dos fiéis e com o tempo corromperam as congregações com suas próprias doutrinas heréticas.
Um falso cristianismo estava começando a se estabelecer firmemente.
Os verdadeiros cristãos são forçados a sair das congregações
Como os ensinamentos dos falsos ministros ganharam popularidade, seus seguidores cresceram gradualmente até se tornar maioria em algumas congregações. O apóstolo João registra um exemplo trágico: “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe. Pelo que, se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da igreja” (3 João 9-10).
Por incrível que pareça, aqueles que eram fiéis ao ensinamento dos apóstolos foram expulsos desta congregação! Haviam se tornado minoria. A maioria havia escolhido seguir Diótrefes, que, em sua própria cobiça pelo poder e influência, acusava falsamente o apóstolo João. Satanás havia conseguido colocar seu ministro sobre esta congregação, expulsando os servos fiéis de Jesus Cristo.
Lembre-se, Jesus já havia advertido a seus verdadeiros servos que isso iria acontecer: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mateus 7:13-15).
Ele também disse que, como anteriormente citado: “Bem profetizou Isaías acerca de vocês, hipócritas; como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’. Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam às tradições dos homens” (Marcos 7:6-8, NVI).
Agora podemos entender porque Paulo explicou, aos cristãos em Roma, como dar a resposta apropriada para aqueles que incitavam a divisão dentro da Igreja: “Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles” (Romanos 16:17, NVI).
O falso Cristianismo tornar-se dominante
Até o final do terceiro século os verdadeiros servos de Deus se tornaram uma distinta minoria entre aqueles que se diziam cristãos. O falso Cristianismo tinha alcançado a maioria.
Os falsos mestres, exitosamente, conseguiram muitos mais seguidores do que os ministros fiéis de Deus. No entanto, a história mostra as seitas falsas não eram coesas em suas crenças. Existiam muitas facções entre elas.
Embora, dividido e inconverso, esse novo tipo de Cristianismo se expandiu rapidamente em números de membros e se tornou a igreja Cristã visível. Reivindicando oferecer a salvação, sem a necessidade de arrependimento real, ela mantinha apenas parte suficiente da verdade para atrair as massas.
Apesar de suas falhas, ela parecia oferecer uma esperança inigualável frente a qualquer religião pagã daquela época. Nenhuma das religiões pagãs oferecia para as pessoas uma maneira crível de receber o perdão dos pecados e alcançar a vida eterna. Esta nova religião parecia oferecer exatamente isso. Mal sabiam ou percebiam seus seguidores que suas promessas, sem verdadeiro arrependimento, eram em vão.
Ao final do terceiro século, este falso cristianismo era uma religião cheia de conflitos e amargamente dividida. Mas no início do quarto século, duas coisas aconteceram que abruptamente alteraram o curso da história cristã. Primeiro, o imperador romano Diocleciano intensificou a política de muitos imperadores romanos anteriores, a de perseguir os cristãos e ordenar que todos os manuscritos cristãos fossem queimados. E isso drasticamente trouxe de volta o clima de medo em toda a comunidade cristã.
Dez anos mais tarde, outro imperador, Constantino, chegou ao poder. Ele havia derrotado outro poderoso rival para ter o direito de substituir Diocleciano como imperador, mas ele ainda tinha muitos inimigos, e sua posição política estava insegura. Em todo o império, somente os cristãos eram desligados da política. Constantino imediatamente viu uma oportunidade de usar este corpo religioso, outrora perseguido e politicamente alienado, para fortalecer seu poder sobre o império.
Primeiro, ele legalizou o cristianismo. Então, apenas dois anos mais tarde, ele chamou todos os grupos divididos que professavam o cristianismo para elaborar conjuntamente um sistema unificado de crenças. Ele queria um corpo religioso unido e politicamente comprometido com ele.
Para conseguir isso, Constantino presidiu as deliberações doutrinárias e ditou as declarações de crença, sempre que as divergências não podiam ser resolvidas amigavelmente. Exitosamente, ele logo formou um grupo conflitante de falsos cristãos que estavam dispostos a aceitar o controle do Estado em um grupo vassalo forte e unificado do Império Romano.
Williston Walker, ex-professor de história eclesiástica da Universidade de Yale, nos diz que, no ano 323, “Constantino finalmente se tornou o único governante do mundo romano. A igreja em todo o mundo romano estava livre de perseguições... Mas, com a conquista dessa liberdade de seus inimigos, se tornou em grande parte sob o controle do ocupante do trono imperial romano. Uma união fatal com o Estado tinha começado” (A História da Igreja Cristã, 1946, pág. 111).
A religião transformada através do sincretismo
Conforme essa nova religião—agora apoiada pelos imperadores romanos—cresceu em poder e influência, esforçou-se para se tornar uma igreja verdadeiramente universal. Na sua ambição de angariar mais membros, muitos novos convertidos—e muitas novas práticas—foram acolhidos no seu seio.
Charles Guignebert, professor de história do Cristianismo da Universidade de Paris, descreveu o processo: “Agora no início do quarto século, os ignorantes e os semi-cristãos afluíam à Igreja em grande número . . . Eles não tinham esquecido nenhum de seus costumes pagãos... Os bispos desse período tiveram de se contentar com a retificação, da melhor maneira que podia ser, e de modo experimental, das chocantes má-formações da fé cristã, as quais eles observavam em torno deles . . .
“[Instruir corretamente os convertidos] estava fora de questão, pois eles tiveram que se contentar em ensiná-los não mais do que o simbolismo do batismo e, em seguida, batizavam-nos em massa, deixando para uma data posterior a tarefa de erradicar suas superstições, que eles ainda mantinham intactas . . . Essa ‘data posterior’ nunca chegou, e a Igreja adaptava a si mesma, do melhor jeito que podia, a eles e seus costumes e crenças. Por sua vez, eles estavam satisfeitos em mascarar seu paganismo em um manto cristão” (A História do Cristianismo, 1927, págs. 208-210).
Qual foi o resultado? Esse Cristianismo dominado pelo Estado tornou-se uma síntese bizarra de crenças, práticas e costumes de várias fontes.
Como o professor Guignebert explicou: “Às vezes é muito difícil dizer exatamente de qual rito pagão é que um específico rito cristão é derivado, mas continua sendo certo que o espírito do ritualismo pagão ficou impresso no Cristianismo, a tal ponto que, finalmente, todos os ritos pagãos podem ser encontrados nas cerimônias cristãs” (pág. 121).
Naqueles primeiros séculos, o cristianismo falso que os apóstolos de Jesus Cristo haviam lutado muito para conter, cresceu em tamanho e popularidade. Séculos mais tarde, essa religião seria fragmentada, repetidas vezes, em denominações rivais. Tragicamente, no entanto, nenhuma retornou completamente às práticas e ensinamentos originais de Jesus Cristo e dos apóstolos. Este fato é reconhecido por muitos estudiosos modernos da Bíblia (ver “Mudanças na Perspectiva de Estudiosos Cristãos sobre a Lei de Deus”).
Enquanto isso, aqueles que, por muitos séculos, continuaram fielmente desenvolvendo sua vida em obediência sincera a Deus e às Suas leis ainda eram, comparativamente falando, apenas um “pequeno rebanho” em um mundo confuso.