Comentário Bíblico
Êxodo 33
Após o incidente com o bezerro de ouro, Deus disse a Moisés para seguir em frente e conduzir o povo à Terra Prometida, e que Seu anjo iria adiante deles (Êxodo 32:34; comparar com Êxodo 23:20-23) — uma declaração que Ele repete neste capítulo (Êxodo 33:1-2). Não está claro se esse "anjo" (do hebraico malach, "mensageiro") se refere ao Cristo pré-encarnado (pois, às vezes, Ele transmitia as palavras do Pai) ou a um anjo como Miguel, que atua como sentinela de Israel (comparar Daniel 12:1). A favor deste último está a declaração de Deus de que Ele mesmo não acompanharia Israel (Êxodo 33:3) e a reclamação de Moisés a Deus: "Não me fazes saber a quem hás de enviar comigo" (versículo 12). Compreensivelmente, o povo ficou triste com essa "má notícia" (versículo 4) de ter que ir para a Terra Prometida sem a presença de Deus. Contudo, se era isso que Ele queria dizer, Deus muda de ideia e concorda em acompanhar o povo depois da intercessão de Moisés (versículos 12-17).
Entretanto, talvez haja outra explicação — a de que Deus pretendia acompanhá-los o tempo todo. Vemos que o Senhor informa a Moisés que Sua presença estaria com ele (versículo 14). E como Moisés estava liderando o povo, a presença de Deus necessariamente estaria também com eles. A chave para essa explicação é a declaração de Deus de que Ele não subiria à Terra Prometida no meio do povo. A coluna de nuvem e fogo os guiaria, mas não desceria diretamente no acampamento. Em vez disso, o Senhor descia na coluna de nuvem para encontrar Moisés fora do acampamento. Por isso é que Moisés montou sua própria tenda fora do acampamento (versículo 7) — nessa ocasião, Deus não se encontraria com a nação. Moisés intercedeu porque cria que não bastava que somente ele tivesse a presença de Deus, pois todo o povo precisava dela (versículos 15-16). Então, Deus respondeu que atenderia o pedido de Moisés. Assim, mais tarde vemos que o tenda do santuário é estabelecido bem no meio do povo — a "tenda da congregação" (Êxodo 40:2; Números 2:17) em que Deus, de certo modo, reunia-se com toda a nação. Obviamente, a promessa de Deus de que Sua Presença estaria no meio de Seu povo enfim foi cumprida na vinda de Jesus Cristo como ser humano e depois habitando em Seu povo através do Espírito Santo — para um dia trazer-lhe um descanso definitivo em Seu Reino.
Aliás, Moisés, como intercessor, representava o papel de Jesus Cristo. Neste capítulo vemos claramente a relação excepcional que se desenvolveu entre esse homem e o Eterno. Deus, o Jesus pré-encarnado, falou com Moisés face a face como a um amigo (versículo 11). Talvez isso tenha sido semelhante à maneira como Cristo se manifestou a Abraão. Mas foi permitido a Moisés ver ainda mais de Deus do que está registrado na experiência de Abraão. Quando Moisés pediu para ver a glória de Deus, Ele lhe explicou que nenhum ser humano poderia ver o brilho da glória de Seu rosto e sobreviver — então permitiu que Moisés visse Suas costas, o que confirma que Deus tem forma e aspecto mesmo sendo um Ser espiritual. E, de fato, mais tarde Deus diz: "Ouvi, agora, as Minhas palavras; se entre vós há profeta, Eu, o SENHOR, em visão a ele, Me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com o Meu servo Moisés, que é fiel em toda a Minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR" (Números 12:6-8, ARA).