O Domingo Era o Dia de Adoração do Novo Testamento?
O Dia do Senhor?
Uma escritura habitualmente citada para justificar adoração no Domingo é Apocalipse 1:10, onde João diz: “Achei-me em espírito, no dia do Senhor . . .” (ARA). Há quem creia que isto quer dizer que João estava a adorar no Domingo e que teve a visão nesse dia. Mas, em nenhuma parte a Bíblia define “Dia do Senhor” como sendo o primeiro dia da semana. Na realidade, este é o único lugar em que esta expressão é usada na Bíblia. É razoável supor que o “dia do Senhor” haveria sido mencionado várias vezes se a Igreja estivesse a guardar o Domingo há anos, como há quem diga.
Se isto se estivesse a referir a um dia da semana, teríamos de concluir que João quis fazer referência ao sétimo dia, visto que Deus chamou ao Sábado “meu santo dia... santo dia do Senhor” (Isaías 58:13), e Jesus Cristo disse que era o “Senhor do Sábado” (Marcos 2:28), e não a qualquer outro dia da semana.
Porém, o contexto da visão de João mostra que ele não se estava a referir a um dia da semana, de forma alguma. Ao contrário, ele disse que a visão o transportou para um tempo futuro da Bíblia, algures chamado o “dia do Senhor”, o “dia do Senhor Jesus Cristo” ou o “dia de Cristo” (Jeremias 46:10; Atos 2:20; 1 Coríntios 1:8; 5:5; 2 Coríntios 1:14; 1 Tessalonicenses 5:2; 2 Tessalonicenses 2:2; 2 Pedro 3:10).
Estes termos não se estão a referir a um dia singelo e específico. Em lugar disso, eles referem-se aos acontecimentos do fim do tempo envolvendo o regresso de Jesus Cristo, quando Ele pessoal e directamente intervir nos assuntos humanos. Por isso, estas expressões indicam o fim da era da governação humana e o princípio da era do Reino de Deus sobre todas as nações por meio de Jesus Cristo. Este é o tema do livro do Apocalipse e do “Dia do Senhor” que João observou em visão.
O partir do pão no Domingo?
Outra escritura que alguns crêem que mostra que a Igreja do Novo Testamento observava o Domingo é Atos 20:7 (ACF): “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática [o discurso] até à meia-noite.”
Há quem pense que o “partir do pão” é uma referência ao pão e ao vinho da Páscoa do Novo Testamento e, por conseguinte, isto é um ato religioso no primeiro dia da semana. Todavia essa celebração é anual durante o festival da Páscoa (veja essa prova no nosso livro gratuito O Plano dos dias Santos de Deus: A promessa de esperança para toda a humanidade.) Além disso, partir o pão não se refere a uma cerimónia religiosa, mas ao repartir o pão durante uma refeição normal.
“Esta frase significa partilhar comida e é usada quando se come, tal como numa refeição . . .Os leitores [das cartas e manuscritos originais do Novo Testamento] não podiam ter tido outra idéia ou explicação em suas mentes” (Figures of Speech Used in the Bible [Figuras de Retórica Usadas na Bíblia] por E.W. Bullinger, 1991, pp. 839-840).
Isto é provado pelo fato de que, depois de Paulo ter acabado o sermão, eles partiram o pão outra vez e comeram (versículo 11). Partir o pão durante uma refeição também é mencionado em Lucas 24:30, 35 e em Atos 27:35.
A cronologia dos acontecimentos em Atos 20 confirma este entendimento ainda mais claramente. Os versículos 7-11 descrevem várias coisas que aconteceram nessa noite. Visto que a Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, conta o começo dos dias quando o sol se põe (ver “Quando é que deve guardar o Sábado?” na página 7), estas ocorrências começaram com uma refeição ao anoitecer de Sábado, após o pôr-do-sol, o que corresponderia à noite do “primeiro dia da semana”. A Bíblia na Linguagem de Hoje declara inequivocamente e corretamente, que isso se deu no que se chama hoje ‘sábado à noite’.
Paulo tinha a intenção de sair no dia seguinte para outra cidade, por isso permaneceu e falou por muito tempo durante a noite. À meia-noite um jovem na congregação adormeceu e caiu da janela onde se tinha sentado, morrendo com a queda. Paulo correu para o jovem que miraculosamente ressuscitou. Depois disso, os membros do grupo ‘partiram mais pão’ e comeram mais, continuando a conversar até quase ao amanhecer. Paulo partiu na sua viagem ao romper do dia.
Depois de discursar e conversar toda a noite, Paulo caminhou na manhã seguinte mais do que 30 Km (19,5 milhas) até Assôs para se encontrar com o resto das pessoas do seu grupo que tinham navegado para lá (versículos 11,13-14). Esta passagem, em vez de descrever uma cerimónia religiosa ao Domingo, relata que Paulo andou mais do que 30 Km a pé no primeiro dia da semana—longe de ser um dia de repouso e adoração para ele!
Coleta durante o culto no Domingo?
Algumas pessoas assumem que 1 Coríntios 16:1-2 se refere ao fazer uma coleta durante o serviço religioso de um Domingo. Mas um olhar mais atento mostra que isso não é o que Paulo diz. Conquanto a Bíblia diga que a coleta tomou lugar no primeiro dia da semana, de forma alguma ela diz que um culto de igreja estava a decorrer.
Isto foi um peditório especial “para os santos,” para os membros da igreja em Jerusalém (versículos 1 e 3). Foi parte de um esforço de auxílio envolvendo outros membros na Galácia (versículo 1), Macedónia e Acaia (Romanos 15:25-26), bem como os de Corinto a quem Paulo escreveu. Este efusivo apoio pode ter sido aquele descrito em Atos 11, quando uma fome inspirou membros a enviar “socorro aos irmãos que habitavam na Judéia . . . enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e de Saulo” (Atos 11:28-30)
Paulo não indica que este peditório fosse levado a efeito durante um serviço religioso. Pelo contrário, ele diz aos Coríntios para que cada um “ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as colectas quando eu chegar” (1 Coríntios 16:2). Estas contribuições eram para se “pôr de parte” e “ajuntar”, não para se trazer para um culto numa igreja e lá se levantar. Dizer que isto é um registo de uma coleta levada a efeito durante um culto religioso no Domingo é atribuir à Bíblia uma interpretação pessoal injustificável.
Não há outras escrituras que remotamente mencionem qualquer semelhança de serviço religioso no primeiro dia da semana. O Novo Testamento foi escrito ao longo de mais de 60 anos depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo e em nenhum lado sugere que o dia de descanso tenha sido mudado para o Domingo.